Aroldo Vieira de Moraes Filho 1 (UEG Morrinhos) & Débora de Jesus Pires 2 (UEG- Morrinhos)
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- Giuliana Domingues da Conceição
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1 AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO E DESENVOLVIMENTO DE CARTILHA EDUCATIVA SOBRE Introdução SEXUALIDADE NA ADOLESCÊNCIA PARA ALUNOS DO ENSINO MÉDIO Aroldo Vieira de Moraes Filho 1 (UEG Morrinhos) & Débora de Jesus Pires 2 (UEG- Morrinhos) *dejbo@hotmail.com A sexualidade refere-se ao elemento integral da vida individual e social que inclui às relações entre pessoas, grupos, comunidades, sociedades, culturas e Deus, ou seja, a sexualidade representa relações bem maiores do que os atos e atitudes que fornecem o prazer erótico, porque lida com questões de identidade e ser e, portanto, não está limitada às questões éticas e morais da sociedade (FARRIS, 1992). Durante a adolescência, os jovens procuram inserir-se em um ciclo social diferente do familiar. Neste novo ciclo social, os jovens participam por possuírem afinidades, então, esse novo grupo de pares começa a ter uma significância elevada na vida do adolescente e ele acaba preferindo por conversar diversos assuntos, inclusive sexualidade, com os amigos do que com os familiares (TONATTO & SAPIRO, 2002). Afonso (2001) desenvolveu uma pesquisa sobre adolescência e sexualidade onde entrevistas com adolescentes revelaram que, no que diz respeito a fontes de informação sobre sexualidade, as três utilizadas com maior freqüência pelos jovens são: livros, amigos e revistas. Tal dado revela a representatividade dos meios de comunicação diante da transmissão de informações sobre sexualidade aos adolescentes. Cabe ressaltar que ao mesmo tempo em que informam, os veículos midiáticos constituem sujeitos através de seu discurso, sua ideologia, seus interesses e valores (MIGUEL & TONELI, 2007). Apesar de todo crescimento sociocultural e tecnológico ocorrido no século XX, informações relacionadas ao desenvolvimento biopsicossocial e sexual ainda não são transmitidas corretamente para a maioria dos adolescentes, ocasionando alto índice de desinformação sob diferentes aspectos (GOMES et al., 2002). Foram realizados alguns estudos no Brasil e no Chile que comprovaram a falta de conhecimento da população sobre o funcionamento do corpo, a puberdade, a reprodução e a sexualidade, demonstrando a necessidade de orientação sexual adequada no país. No entanto, o país não possui centros de saúde específicos para atender às necessidades dos adolescentes, dificultando a obtenção de informações e ao desenvolvimento de ações que protejam a saúde destes jovens (CARVACHO et al., 2008). Por isso, ainda existem muitas crenças, mitos e tabus sobre sexualidade, identificados no contexto familiar de adolescentes e, esses fatores, influenciam significativamente no comportamento sexual deles (SOUSA et al., 2006). A escola é importante pólo integrador e organizador da sociedade, portanto, exerce um papel relevante na formação e informação dos adolescentes (DRUCKER, 1996). Quando questionados em relação ao local apropriado para discussões acerca da sexualidade, adolescentes apontam a escola como o principal meio de obtenção de conhecimentos e orientação (REIS, 1993). Portanto, torna-se importante que a Orientação Sexual na escola seja desenvolvida através de trabalho sistemático e sistematizado, pois auxilia na promoção da saúde das crianças e dos adolescentes, contribuindo para o bem-estar dos mesmos na vivência de sua 1 Bolsista do PBIC/UEG - Programa de Bolsas de Iniciação Científica da UEG; 2 Profa. Dra. Orientadora. 1
2 sexualidade atual e futura, tendo em vista suas dimensões biológica, psíquica e sociocultural. É necessário o desenvolvimento de projetos interdisciplinares que proporcionam as possibilidades individuais e de sua interação com o meio e a cultura dentro da instituição escolar, exigindo planejamento e propondo uma intervenção por parte de todos os profissionais da educação (BRASIL, 1998). Cartilhas são documentos destinados a informar a população sobre direitos, deveres, formas de prevenção de doenças, acidentes e assuntos diversos. Podem mesclar textos informativos e/ou didáticos com narrativas em quadrinho, podendo compor parte do material de campanhas publicitárias institucionais (MENDONÇA, 2004). O uso de cartilhas costuma ser tratado como um ícone a respeito do assunto abordado. Elas são tomadas como referência, porque são lidas como materiais muito confiáveis. Por isso, as mesmas devem ser didáticas, facilmente lidas e ter ampla circulação, mas ao mesmo tempo elas devem ser levadas a sério como fontes de verdades sobre os assuntos que tratam (VIANNA, 2008). Além disso, as cartilhas podem dar suporte para que professores, por exemplo, possam usá-las, em sala de aula, de forma dinâmica, facilitando a aprendizagem sobre o assunto abordado através, também de ilustrações. Objetivos Avaliação do conhecimento e a elaboração de uma cartilha educativa, sobre sexualidade, para sanar as principais dúvidas dos adolescentes de Ensino Médio das Escolas Estaduais de Morrinhos GO. Sanar dúvidas com relação aos fatores genéticos, biológicos, psicológicos, comportamentais e religiosos da sexualidade; Conscientizar os adolescentes sobre os fatores de riscos, em relação às práticas sexuais sem proteção e responsabilidade; Auxiliar pais e professores na compreensão sobre os aspectos relacionados à sexualidade na adolescência. Buscar a valorização da dimensão sexualidade no espaço de convívio coletivo, enriquecendo as relações educativas com mediações que busquem suprir as necessidades dos adolescentes, mediante as suas problemáticas, hipóteses e dúvidas. Metodologia Foram aplicados questionários para coletar dados sobre as principais dúvidas dos adolescentes. Os participantes da pesquisa foram alunos de 1º, 2º e 3º anos de duas Escolas Estaduais do Município de Morrinhos GO, que foram autorizados pelos pais a participarem voluntariamente da pesquisa, de acordo com a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido conforme a resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 196/96. Para complementar os dados da pesquisa, palestras e filmes foram utilizados para abordagem dos temas relacionados à sexualidade. Antes e após cada palestra e filme, questionários foram aplicados para verificar o seu efeito, que auxiliou na elaboração da cartilha através da seleção dos conteúdos mais questionados pelos adolescentes durante as palestras. As palestras foram mensais durante um trimestre. Cada uma abordava um tema específico relacionado à sexualidade: Religião e Sexualidade (Prof. Pós-Doutor André Luis Caes); Doenças Sexualmente Transmissíveis (Profa. Dra. Lílian Carla Carneiro); Comportamento Animal e Sexo (Prof. Dr. Jonas Byk); Sistema Genital Masculino e Feminino (Profa. Esp. Genaína Fernandes Guerra); Fatores psicológicos da sexualidade na adolescência (Profa. Esp. Ilka Mendes 2
3 Ferreira); Análise de textos sob o olhar da Análise de Discurso de linha francesa: contribuições ao processo de ensino-aprendizagem para alunos do ensino médio (Profa. Ms. Maria Aparecida Mendes Borges); Determinação Genética do Sexo (Profa. Dra. Débora de Jesus Pires); Homossexualidade (Profa. Dra. Débora de Jesus Pires) e Métodos Contraceptivos (Aroldo Vieira de Moraes Filho). Além das palestras, os alunos assistiram três filmes: O milagre do amor, O Segredo do Sexo e O corpo humano da larva à borboleta, todos da British Broadcasting Corporation (BBC). Os dados foram analisados quantitativamente e qualitativamente, desenvolvendo tabelas e gráficos, estas etapas a cartilha foi confeccionada. Resultados e Discussão De acordo com os dados do questionário socioeconômico, poucos pais possuem Ensino Superior. Na Escola 1, apenas 16,99% dos pais e 17,32% das mães, enquanto que na Escola 2 este número é de 12,38% para pais e 21,90% para mães. Como os pais, em geral, possuem baixa escolaridade, isso pode ser um dos fatores que dificulta o diálogo sobre sexualidade em casa e, consequentemente, faz com que os adolescentes não sanem as suas dúvidas, por vergonha ou desinformação dos pais, pratiquem o sexo sem o uso de métodos contraceptivos, ficando expostos aos distúrbios sexuais. Antes da palestra, 72,22% dos participantes do sexo masculino e 77,78% do sexo feminino da Escola 1 e 55,56% do sexo masculino mais 52,27% do sexo feminino da Escola 2 afirmaram saber que o preservativo masculino é o método contraceptivo mais eficaz e o número de acerto não diminuiu em nenhuma Escola e em nenhum sexo. O efetivo conhecimento sobre os métodos contraceptivos auxilia na escolha do método mais adequado para o seu comportamento sexual (VIEIRA et al., 2002). Além disso, é a escolha do método que indica a proteção que o jovem quer ter naquele momento, pois o jovem que opta por preservativo protege-se da gravidez e de DST s, mas o jovem que opta por fazer uso somente da pílula, protege-se apenas da gravidez, ficando exposto às doenças (ALENCAR, 2007). Porém, se não houver esse conhecimento adequado, os adolescentes podem praticar o sexo sem proteção e ter conseqüências desagradáveis (gravidez em alguns casos pode levar ao aborto, por exemplo) no seu desenvolvimento biopsicossocial e sexualidade (BOGGESS, BRADNER, 2000). Quando indagados sobre o significado de da sigla SIDA, apenas 27,78% dos adolescentes do sexo masculino e 23,33% do sexo feminino na Escola 1 demonstraram o conhecimento da sigla e na Escola 2, apenas 17,24% dos homens e e 11,43% da mulheres responderam corretamente à questão. Porém, o número de conhecedores aumentou somente entre os homens da Escola 2. Os alunos pesquisados demonstram pouco conhecimento sobre as Doenças Sexualmente Transmissíveis e Berten e Rossem (2009) afirmam que é a informação sobre os riscos das DST s que auxiliam na redução de infecções por essas doenças, mas o conhecimento sobre o HIV/AIDS está correlacionado com o comportamento sexual dos jovens, pois os adolescentes que são sexualmente ativos são os que mais conhecem as Doenças Sexualmente Transmissíveis. Ao se tratar de Genética, novamente os adolescentes demonstram-se desinformados sobre mais uma das questões que envolvem à sua sexualidade, como por exemplo, apenas 33,33% dos homens da Escola 1 e 12,90% das mulheres sabiam que o cromossomo Y é responsável pela determinação do sexo masculino. E, na Escola 2, apenas 20,59% dos respondentes do sexo masculino e 20,75% do sexo feminino acertaram essa questão. Em se tratando de aparelhos reprodutores masculinos e femininos, assim como na pesquisa de Faustini et al. (2010), os conhecimentos tiveram aumento, em porcentagem, nas duas Escolas após a palestra. Na presente pesquisa, ao citar os hormônios ligados ao processo reprodutivo, apenas 38,89% 3
4 dos homens e 20,59% das mulheres antes da palestra citaram a testosterona ou estrogênio na Escola 1, enquanto que na Escola 2, apenas 20,59% dos respondentes do sexo masculino e 11,63% do sexo feminino citaram um destes hormônios. Após a palestra, esse número aumentou para 50% entre os homens e 47,06% entre as mulheres na Escola 1 e 26,47% dos homens e 25,59% das mulheres citaram os hormônios corretamente na Escola 2. Foram citados como hormônios, nomes como: Lestoperma, Glândulas, Testoscana, Testosterocênio, Espermatozóide, Útero, Vagina, Testículo, Óvulo e Canal deferente. Ao responder sobre o preconceito contra os homossexuais, o número de pessoas que afirmam não ter preconceito é bem menor do que as pessoas que dizem possuir amizades homossexuais, mostrando que o preconceito existe até entre os amigos. Além disso, foram citados como causadores da homossexualidade: falta de vergonha, vontade de Deus, pecado e Espíritos. Ao serem indagados em relação à definição de sexualidade a maioria dos adolescentes responderam que não sabiam ou deixaram em branco. Entre as respostas definiram a sexualidade como: varia de acordo com a pessoa, ato sexual, defini-se na adolescência, masculino ou feminino, extinto animal e ciclo vital, órgãos genitais, entre outros. Para Giffin (1994), a sexualidade envolve a relação do corpo/mente e as relações com outras pessoas. Nessa visão, a resposta mais satisfatória foi: Vários fatores (emoções, sentimento, opção e ato sexual). Segundo Bulbarelli (2007), quando Freud separou seu conceito de sexualidade dos fundamentos biológicos, modificou a sexologia dominante da época para uma visão mais psíquica, que tem como base a libido, a pulsão e a operação de recalcamento, a resposta que mais corroborou com essa linha de pesquisa foi: Pensamento, forma de vestir e pensar. A propaganda tem como objetivo chamar à atenção do consumidor para o produto e a sexualidade desperta a curiosidade das pessoas, por isso para vender, utiliza-se muitos métodos que remetem a esta temática (COSTA, 2010). E ao responderem a respeito do possível objetivo do texto que foi analisado durante a palestra, a maioria dos adolescentes afirmou que não sabiam ou deixaram em branco. Além dessas foram obtidas também como respostas: prevenção, ironia, dar várias interpretações, entre outros. Com base nos dados obtidos nas palestras, desenvolveu-se uma cartilha educativa sobre sexualidade na adolescência para sanar as dúvidas dos participantes. Os temas escolhidos para comporem a cartilha foram: sistema genital masculino e feminino, hormônios, determinação genética do sexo, definição de sexualidade, métodos contraceptivos e gravidez na adolescência. Considerações Finais Os adolescentes, antes das palestras e filmes, possuíam muitas dúvidas em relação aos fatores genéticos, biológicos, psicológicos e comportamentais da sexualidade. No entanto, ao comparar as respostas obtidas antes e depois das palestras e dos filmes, percebe-se que, de forma geral, eles compreenderam os assuntos abordados, confirmando a importância de metodologias diferenciadas para auxiliar no processo de ensino-aprendizagem. Porém, os adolescentes também não procuram as informações, na literatura apropriada, fora da escola, restringindo seus conhecimentos apenas aos conteúdos escolares. Portanto, a escola precisa trabalhar a temática de forma interdisciplinar e contínua para orientá-los na formação do conhecimento adequado através de projetos de intervenção que possuam estratégias educativas (cartilha, por exemplo) para estimular o interesse dos mesmos, auxiliando na saúde sexual deles, visto que os participantes demonstraram interesse em aprender a respeito de assuntos que envolvem a sexualidade. 4
5 Referências AFONSO, L. A polêmica sobre adolescência e sexualidade. Belo Horizonte: Campo Social, ALENCAR, R. A. Pesquisa-ação sobre sexualidade e vulnerabilidade às IST/AIDS com alunos de graduação em enfermagem. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Psiquiátrica. Ribeirão Preto: USP, BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos: apresentação dos temas transversais. Brasília: MECSEF, BERTEN, H., ROSSEM, R. V. Doing worse but knowing better: an exploration o the relationshipbetween HIV/AIDS knowledge and sexual behavior among adolescents in Flemish secondary schools. Journal of Adolescence. v. 32, p., BOGGES, S., BRADNER, C. Trends in adolescent males abortion attitudes, : differences by race and ethnicity. Family Planning Perspectives. v. 32, n. 3, BULBARELLI, K. A entrada da criança na leitura e na escrita: laços entre linguagem e sexualidade. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Educação. São Paulo: USP, CARVACHO, I. E.; SILVA, J. L. P. & MELLO, M. B. Conhecimento de Adolescentes grávidas sobre anatomia e fisiologia da reprodução. Rev. Assoc. Med. Bras. v. 54. n p., COSTA, P. M.; O masculino na propaganda: homens que sabem fazer amor.[entre 2005 e 2010]. Disponível em: < Acesso em: 18/10/2010. DRUCKER, P. F. Sociedade pós-capitalista. 6. ed. São Paulo: Pioneira, FARRIS, J. Sexualidade fiel: reflexões sobre a sexualidade e uma teologia de ser. Disponível em: < Acesso em: 16 de junho de 2009 às 20:32h. FAUSTINI, D. M. T.; NOVO, N. F.; CURY, M. C. F. S., JULIANO, Y.; Programa de orientação desenvolvido com adolescentes em centro de saúde: conhecimentos adquiridos sobre os temas abordados por uma equipe multidisciplinar. Cien. Saúde Colet., v. 8, n. 3, p., GIFFIN, K. Violência de Gênero, Sexualidade e Saúde. Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, v. 10, p., GOMES, W. A.; COSTA, M. C. O.; SOBRINHO, C. L. N.; SANTOS, C. A. S. T. & BACELAR, E. B. Nível de informação sobre adolescência, puberdade e sexualidade entre adolescentes. Jornal de Pediatria. V. 78. n p. Rio de Janeiro, MENDONÇA, M. R. S. Diz-me com que(m) andas e te direi quem és: a relação entre as histórias em quadrinhos e seus suportes.in: Anais do II Encontro Nacional de Ciências da Linguagem Aplicadas ao Ensino, João Pessoa: Idéia, p., MIGUEL, R.B. P. & TONELI, M. J. F. Adolescência, sexualidade e mídia: uma breve revisão da literatura nacional e internacional. Psicologia em Estudo. v. 12. n p. Maringá, REIS, A. O. A.; O discurso de saúde pública sobre adolescentes grávidas f. Tese (Doutorado) - Universidade de São Paulo, São Paulo, SOUSA, L. B. de, FERNANDES, J. F. P. & BARROSO, M. G. T. Sexualidade na adolescência: análise da influência de fatores culturais presentes no contexto familiar. Acta Paul Enferm, v. 19, n.4, p , TONATTO, S. & SAPIRO, C. M. Os Novos Parâmetros Curriculares das Escolas Brasileiras e Educação Sexual: uma proposta de intervenção em Ciências. Psicologia & Sociedade, v.14, n.2, p , VIANNA, T. F. A sexualidade em cartilhas educativas oficiais: uma análise cultural. Trabalho 5
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