OFICINA DE ORIENTAÇÃO SEXUAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA
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- Samuel Ávila da Fonseca
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1 1 OFICINA DE ORIENTAÇÃO SEXUAL: RELATO DE EXPERIÊNCIA Flávia Alves Moreira 1 Leiliane Martins Ângelo 1 Lorena D Oliveira Gusmão 2 RESUMO A experiência descrita no presente texto refere-se ao projeto de educação em saúde intitulado Oficina de Educação Sexual que desenvolveu um trabalho de orientação para jovens de 12 a 18 anos no que tange a sexualidade com objetivo de promover o desenvolvimento pessoal e social do (a) adolescente através de reflexão, com revisão e ampliação dos conceitos e condutas sobre sexualidade. Dividiram-se as ações do projeto em três etapas: Estudo bibliográfico, Preparação da comunidade e Execução das oficinas. Estabeleceu-se parceria com a equipe de enfermagem da Unidade Básica de Saúde da Família do Monte Pascoal. A necessidade deste projeto se deu pela observação do elevado quantitativo de atendimentos a mães adolescentes no programa de puericultura na Unidade de Saúde do Monte Pascoal. Justifica-se, pois representa uma experiência de crescimento pessoal e aprendizagem para autores e, sobretudo por proporcionar aos envolvidos aprendizado sobre sexualidade e demais abordagens que decorrem desse tema, por meio de informações adequadas, atitudes preventivas apropriadas e especificas. Considerando a reflexão dos autores sobre sua própria sexualidade, a escuta detalhada das vicissitudes da sexualidade do (a) adolescente e as ponderações sobre os temas abordados durante as atividades das oficinas, a proposta de trabalho estabelecida resultou em estreitamento da relação entre educadores e jovens que possibilitou maior cumplicidade, favorecendo a troca de experiências e conhecimentos, além da constatação da necessidade urgente de uma política de atenção e acompanhamento ao jovem/adolescente nas unidades de saúde para ampliar o acesso à informação sobre sexualidade e demais questões que envolvem a saúde do adolescente como um todo. Palavras - chave: educação sexual; sexualidade; adolescente e sexualidade 1 Acadêmicos do curso de Bacharelado em Enfermagem da Universidade do Estado da Bahia UNEB DEDC XII. Brasil. 2 Enfermeira especialista em Terapia Intensiva /IBPEX. Professora auxiliar do departamento de Educação campus XII da Universidade do Estado da Bahia - UNEB. Brasil. INTRODUÇÃO No contexto da saúde pública a saúde do adolescente vem estimulando a produção de estudos devido a destacada importância social que tem sido dada a essa fase descrita como etapa de desenvolvimento biológico e, entendida como um fenômeno das sociedades modernas. Segundo Fossa (2003) estes estudos caracterizaram a adolescência como uma fase da vida onde se destaca a puberdade, transformações e preparação para o ingresso social na vida adulta. Retomando o contexto da saúde pública, considera-se um
2 período com riscos relativos à formação de hábitos, exposição à violência, substâncias psicoativas e à iniciação sexual. Fossa (2003) determina que estes riscos devem ser enfrentados prioritariamente pelo poder público e toda a sociedade e indica a escola como local mais propício para reflexão e abordagem continuada de temas como sexualidade, gravidez e as doenças sexualmente transmissíveis, tendo como objetivo a orientação sexual. É cabível ressaltar que o conhecimento dos adolescentes sobre a vida e a sexualidade não é construído espontaneamente e está vinculado também ao convívio social, portanto a escola não pode limitar as fronteiras para essa abordagem devendo transpor as relações de professor - aluno. O processo educativo como aponta Ruiz et al (2004) deve ser amplo, envolvendo uma comunicação bilateral, com base no contexto de vida das pessoas e seu propósito deve versar a libertação das pessoas para que sejam sujeitos sociais capazes de fazer opções construtivas para suas vidas e para a sociedade. No contato diário com várias situações e histórias de adolescentes, durante atividades acadêmicas de prática supervisionada nos serviços de saúde, percebemos os desafios encontrados por eles nas relações com os parceiros/parceiras, diante de uma gravidez não planejada ou doença sexualmente transmissível (DST), nos desafios para assumir as próprias decisões e principalmente nos conflitos intensificados pela concepção distorcida da sexualidade que lhes fora apresentada em algum momento da vida, portanto não há como negar que os adolescentes têm cada vez mais acesso a informação, porém muitos tabus e preconceitos não foram vencidos constatando que muitas vezes a informação disponível é destituída de um processo de reflexão, atropelando seus valores e sua história, o que causa angústias e dificulta a tomada de decisões. Dentro desse contexto de observação o projeto Oficina de Orientação Sexual começou a ser delineado com o intuito de abordar a Educação Sexual na unidade básica de saúde rompendo os limites da escola e dividindo com esta a responsabilidade de promover orientação aos adolescentes sobre sexualidade. 2 O CENÁRIO E SUJEITOS DO PROJETO As unidades Básicas de Saúde da Família seguem as diretrizes da portaria n 648 de 28 de março de 2006 constituindo estratégia prioritária para reorganização da atenção básica caracterizada por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo,
3 que abrangem a promoção, proteção, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação e manutenção da saúde. A unidade de Saúde da Família do Monte Pascoal na qual se desenvolveu o projeto está em funcionamento desde 09 de outubro de 1999 e atualmente possui uma equipe multiprofissional composta por médico, enfermeiro, cirurgião dentista, auxiliar de consultório dentário, técnico de enfermagem e agente comunitário de saúde, entre outros funcionários administrativos; com (00) famílias cadastradas. A assistência organiza-se em ações específicas do Ministério da Saúde, abrangendo a saúde do adulto, idoso, mulher, criança e adolescente. Para atendimento dos adolescentes a unidade não conta com uma rotina específica para esse público, partindo da enfermeira do setor a idéia de formar parceria com a Universidade para instituir práticas voltadas aos jovens com o objetivo de aproximá-los à UBSF do bairro. 3 O PROJETO HISTÓRICO E SUA FORMAÇÃO Durante as atividades acadêmicas de prática supervisionada nos serviços de saúde sob orientação da enfermeira docente da Universidade do Estado da Bahia observou-se um elevado quantitativo de atendimentos a mães adolescentes no Programa de Humanização do Pré Natal - PHPN na Unidade de Saúde do Monte Pascoal, revelando freqüente ocorrência de maternidade/paternidade entre jovens do bairro. A falta de informação acerca da sexualidade, numa visão ampla, livre de tabus, foi percebida nessa população, pelo desconhecimento sobre os métodos contraceptivos e seu uso correto ou Doença Sexualmente Transmissível (DST), além de igualarem o significado de sexualidade e sexo, deixando refletir acerca do funcionamento e necessidades do próprio corpo, desconsiderando seus próprios valores para adotar um perfil de comportamento que é comum ao grupo social que pertencem. Diante do acima exposto surgiu a idéia de estruturar um grupo aberto de jovens com idade entre 12 e 18 anos para discutir questões acerca da sexualidade privilegiando informações sobre o corpo humano e suas necessidades básicas, como relacionamento afetivo embasado em troca e compartilhamento e não apenas em doação unilateral, convívio social, enfrentamento de dilemas como gravidez indesejada ou mesmo contaminação por DST e possível discriminação advinda dessas situações. Além de conhecimentos sobre Gravidez, Gestação e Aborto, Diagnóstico e Tratamento de DSTs, métodos contraceptivos e seu uso correto.
4 Essa idéia foi planejada sob a forma de um projeto de extensão universitária vinculado ao Núcleo de Pesquisa e Extensão NUPEX da Universidade do Estado da Bahia, Campus XII, intitulado Oficina de Educação Sexual. As atividades em campo desenvolveram-se por meio de seis oficinas temáticas, com duração de 2 a 3 horas, nas quais os monitores eram direcionadores do grupo. A execução desenvolveu-se em três etapas distintas, a saber, etapa de estudo bibliográfico para o preparo do orientador e monitores através de leituras aprofundadas e discussão de todo o conteúdo programado para as atividades das oficinas, seguido de envolvimento dos pais, por meio de uma reunião com as famílias para apresentar o projeto e defender a necessidade de promover a Educação sexual para os adolescentes. Ainda nessa etapa foram feitas divulgação no bairro através de cartazes informativos e convites individuais aos jovens para participarem voluntariamente do projeto. A segunda etapa constituiu o preparo e execução das oficinas de educação sexual com os temas predeterminados, que seguiram uma seqüência preestabelecida realizadas no período de 17 e maio a 26 de julho de Por fim, a terceira etapa constituiu o encerramento das atividades das oficinas com posterior reunião com orientador e monitores para explanação dos resultados obtidos. 4 RELATO DE EXPERIÊNCIA As execuções das oficinas ocorreram em seis momentos distintos. A oficina 1 abordou o tema Puberdade e mudanças físicas. Foi preparada uma apresentação em slides com imagens explicativas para discutir com os envolvidos as questões acerca da Imagem corporal, Mudança comportamental (psicológica), Transição da infância para adolescência e convívio social, religioso e familiar. Os adolescentes participaram expondo suas vivências e medos, principalmente em relação ao futuro profissional, e afetivo, demonstrando preocupação com suas expectativas para o futuro. A oficina 2 teve como tema principal o aparelho reprodutor masculino e feminino, porém em virtude dos tabus, as discussões com o grupo tomaram rumos diferenciados não atrapalhando o objetivo principal da atividade de realizar uma abordagem morfofuncional, higiene e cuidados com a genitália masculina e feminina, além de menarca e menstruação. A troca de conhecimentos entre o grupo foi enriquecedora, pois demonstrou as diferentes experiências vividas por eles no início da puberdade e a dificuldade em lidar com essas mudanças. Peças anatômicas do aparelho
5 reprodutor masculino e feminino foram utilizadas juntamente com apresentação de slides, imagens e vídeos para enriquecer a dinâmica da oficina. Os temas Fecundação, Gestação e Parto foram discutidos na oficina 3 em forma de palestra com utilização de vídeos e imagens e como o grupo não continha gestantes as discussões giraram em torno de relato de casos na família e conhecidos. O encontro seguinte para realização da oficina 4 teve como objeto Gravidez na adolescência discutindo-se as formas de prevenção, métodos anticoncepcionais e aborto, bem como os riscos de uma gestação precoce para a saúde do adolescente. Ocorreram demonstrações sobre o uso correto de todos os métodos disponíveis no Sistema Único de Saúde com distribuição de preservativo feminino e masculino e orientações quanto a aquisição dos demais. Ao longo da execução do projeto percebemos que o grupo cresceu e passou a contar com a presença do sexo masculino contribuindo para aprimorar as discussões dos temas abordados fato que foi nitidamente percebido durante a oficina 5 que tratou do tema Doenças Sexualmente Transmissíveis, HIV/AIDS, formas de prevenção e tratamento. Para execução das atividades foi solicitado ao Centro de Testagem e Aconselhamento de DST/AIDS CTA, empréstimo do álbum seriado de DSTs e das próteses dos órgãos genitais femininos e masculinos que foram utilizados para promover a prática do uso correto dos preservativos (feminino e masculino), pois constitui o único método que previne DSTs e Gravidez. A última oficina teve como objetivo promover orientação sobre violência sexual, definindo seu conceito e discutindo que o fato de praticar sexo ou qualquer outro ato contra sua vontade constitui violência e quando submetida a essa situação a mulher tem amparo legal da justiça. O resultado do projeto demonstrou que os indivíduos envolvidos acumularam conhecimento sobre os temas das oficinas observado através dos questionamentos feitos ao final de cada oficina. Outro fato que nos despertou a atenção foi a ampliação do grupo envolvido, pois inicialmente era composto por quatro adolescentes e ao final estendeu para dez componentes freqüentes. Foi possível desenvolver uma relação de confiança entre o grupo e a equipe de monitoras que favoreceu a troca de conhecimentos. Durante as primeiras oficinas houve resistência da participação da comunidade, mas com o desenvolvimento do trabalho e captação dos adolescentes no bairro as oficinas foram aceitas e eles passaram a participar efetivamente das atividades propostas. 5
6 REFERENCIAS 6 FOSSA, AM. Educação sexual na escola: um estudo junto a adolescentes [tese de mestrado]. Piracicaba-SP: Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Metodista De Piracicaba;2003 RUIZ,VR; LIMA, AR; MACHADO, AL. Educação em saúde para portadores de doença mental: relato de experiência*.rev Esc Enferm USP: 2004; 38(2):190-6, 2003
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