9.3 Acesso à educação
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- Ana Campelo Câmara
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1 9.3 Acesso à educação A educação constitui um dos elementos-chave do processo de integração dos refugiados nas sociedades de acolhimento. Os refugiados e os requerentes de asilo, em particular os mais jovens, encontram um vasto leque de dificuldades sócio-educativas 1 : Educação interrompida no país de origem; Quebra do nível de vida, ou outras grandes alterações na sua vida pessoal; Perda do cuidado e apoio dos pais ou das pessoas habituais; Coabitação com pessoas que não estão devidamente informadas sobre os seus direitos; Pouca assistência social; Habitação precária; Dificuldade de domínio da língua do país de acolhimento; Vítimas de isolamento na escola; Dificuldade de prossecução dos estudos (subsistência vs educação). Disposições legais gerais 1. Os Estados Contratantes concederão, aos refugiados, o mesmo tratamento que aos nacionais em matéria de ensino primário. 2. Os Estados Contratantes concederão, aos refugiados, um tratamento tão favorável quanto possível, e de qualquer modo, não menos favorável que o concedido aos estrangeiros, em geral, nas mesmas circunstâncias, quanto às categorias de ensino, que não o primário, e, em particular, no que se refere ao acesso aos estudos, ao reconhecimento de certificados de estudos, diplomas e títulos universitários passados no estrangeiro, ao pagamento de direitos e taxas e à atribuição de bolsas de estudo. Artº 22º da Convenção de Genebra relativa ao Estatuto dos Refugiados Rev. 20.NOV.12 - Pág. 1
2 1. Os filhos menores de requerentes de asilo ou de protecção subsidiária e os requerentes de asilo ou de protecção subsidiária têm acesso ao sistema de ensino nas mesmas condições dos cidadãos nacionais e demais cidadãos para quem a língua portuguesa não constitui língua materna. 2. À possibilidade de continuação dos estudos secundários não pode ser negada com fundamento no facto de o menor ter atingido a maioridade. Artº 53º (Acesso ao Ensino) da Lei de Asilo 27/2008 de 30 de Junho. Os requerentes de asilo têm acesso à escolaridade obrigatória a partir do momento em que lhes é emitida uma Autorização de Residência Provisória (ARP). O acesso ao ensino será feito consoante os anos de escolaridade realizados pelo candidato antes da sua chegada a Portugal. Para que seja atribuída uma equivalência escolar, o Ministério da Educação poderá requerer ao candidato que efectue provas de conhecimentos em determinadas áreas do conhecimento. 1. Os Estados Partes reconhecem o direito da criança à educação e tendo, nomeadamente, em vista assegurar progressivamente o exercício desse direito na base da igualdade de oportunidades: a) Tornam o ensino primário obrigatório e gratuito para todos; b) Encorajam a organização de diferentes sistemas de ensino secundário, geral e profissional, tornam estes públicos e acessíveis a todas as crianças e tomam medidas adequadas, tais como a introdução da gratuitidade do ensino e a oferta de auxílio financeiro em caso de necessidade; c) Tornam o ensino superior acessível a todos, em função das capacidades de cada um, por todos os meios adequados; d) Tornam a informação e a orientação escolar e profissional públicas acessíveis a todas as crianças; e) Tomam medidas para encorajar a frequência escolar regular e a redução das taxas de abandono escolar Rev. 20NOV.12 - Pág. 2
3 2. Os Estados Partes tomam as medidas adequadas para velar por que a disciplina escolar seja assegurada de forma compatível com a dignidade humana da criança e nos termos da presente Convenção. 3. Os Estados Partes promovem e encorajam a cooperação internacional no domínio da educação, nomeadamente de forma a contribuir para a eliminação da ignorância e do analfabetismo no mundo e a facilitar o acesso aos conhecimentos científicos e técnicos e aos modernos métodos de ensino. A este respeito atender-se-á de forma particular às necessidades dos países em desenvolvimento. Artº 28º da Convenção sobre os Direitos da Criança, de 1989 Ensino básico e secundário Para integrar o sistema educativo português, o candidato deverá requerer a e- quivalência e o reconhecimento das habilitações. Enquanto decorre o procedimento de equivalência deve ser efectuada uma matrícula condicional na escola da área de residência. O pedido de equivalência para ingresso no ensino é feito por meio de requerimento (existe um modelo impresso da Imprensa Nacional Casa da Moeda), acompanhado do documento comprovativo das habilitações autenticado pela Embaixada ou Consulado de Portugal no país de origem, pela Embaixada ou Consulado do país estrangeiro em Portugal, ou com a apostilha para os países que aderiram à Convenção da Haia de 5 de Outubro de A tradução autenticada desse documento poderá, também, ser exigida. O requerimento deve ser dirigido ao Director Regional de Educação, no caso de equivalência relativa ao 1º ciclo do ensino básico. Para concessão da equivalência destinada ao prosseguimento de estudos no 2 e 3 ciclo do ensino básico ou no ensino secundário o requerimento deve ser dirigido ao Presidente do Conselho Directivo, Director executivo ou Director pedagógico da escola em que o requerente pretende ingressar (em princípio, a da área de residência), conforme o caso Rev. 20NOV.12 - Pág. 3
4 A equivalência será concedida de acordo com os anos de escolaridade do sistema educativo de origem. As equivalências de diplomas constam de tabelas apresentadas nas Portarias nº 224/2006, de 8 de Março e nº 699/2006, de 12 de Julho. Se os pedidos de equivalência não estiverem abrangidos por nenhuma das portarias, então, de acordo com o artigo 6º do Decreto-Lei 227/2005 de 28 de Dezembro 2, serão remetidos, pelo estabelecimento de ensino, para o Director-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular. Como proceder quando o requerente não apresenta qualquer documento comprovativo das suas habilitações literárias? Excepcionalmente, por motivos de força maior devidamente reconhecidos (como no caso dos requerentes de asilo), o documento comprovativo das habilitações literárias poderá ser substituído por uma declaração escrita do encarregado de educação, de quem o substitua, ou do próprio requerente, no caso de ser maior, que, sob compromisso de honra, indique a habilitação concluída (artigo 10 do DL nº 227/2005 de 28 de Dezembro). Os requerentes serão, ainda de acordo com o mesmo Decreto-Lei, submetidos a testes para identificação do ano de escolaridade em que devem ser integrados (no caso de novo ingresso) ou testes de avaliação (no caso de reconhecimento de habilitações de nível básico ou secundário). Ensino superior Para poder ingressar no ensino superior em Portugal, o candidato deve: Ser titular de um curso de ensino secundário ou de uma habilitação equivalente; Fazer prova de capacidade para a sua frequência através das provas de ingresso; Em determinados estabelecimentos/curso, são ainda exigidos prérequisitos (condições de natureza física, funcional ou vocacional). Dada a existência de um número de vagas limitado (numerus clausus) por cada instituição, o acesso aos estabelecimentos de ensino superior é feito por concurso nacional, organizado pela Direcção-Geral do Ensino Superior Rev. 20NOV.12 - Pág. 4
5 Em matéria de ingresso no ensino superior, não existe nenhuma disposição específica para candidatos com o estatuto de refugiado em Portugal ou beneficiários de protecção humanitária. O ingresso desta população no sistema de ensino superior efectua-se de acordo com a legislação geral aplicada aos nacionais e com as disposições previstas para os estrangeiros em situações específicas. Os estudantes oriundos de sistemas de ensino superior estrangeiros que desejam ingressar no ensino superior em Portugal são submetidos a concursos especiais, estando previstas, por cada estabelecimento/curso, vagas específicas para os candidatos abrangidos por estes concursos. Pedido de equivalência de diplomas de estabelecimentos de ensino superior estrangeiros As universidades e demais estabelecimentos de ensino superior beneficiam de autonomia total, em matéria de equivalência de diplomas e de reconhecimento de habilitações literárias. A equivalência ao grau de licenciado ou bacharel é requerida ao Conselho científico da escola ou unidade de ensino que confira o referido grau ou diploma. A equivalência ao grau de mestre ou doutor é requerida ao Reitor da Universidade. Para tal, deve ser apresentado um requerimento de equivalência. Existem impressos normalizados da Imprensa Nacional para todos os tipos de equivalências possíveis, disponíveis em formato electrónico na página electrónica da Imprensa Nacional (modelos 437, 526, 527, 766, 768, 769): O requerimento deverá mencionar, obrigatoriamente, o grau ou diploma estrangeiro de que é requerida a equivalência e o estabelecimento de ensino onde foi obtido e o grau, ou diploma português, de que é requerida a equivalência. Apenas poderá constar, em cada requerimento, um pedido de equivalência. É necessário juntar, ao requerimento, os seguintes documentos: Diploma comprovativo da titularidade do grau, ou diploma de que é requerida a equivalência (autenticado); Documento (autenticado), emitido pelas entidades competentes da universidade estrangeira, onde constem as disciplinas em que obteve a Rev. 20NOV.12 - Pág. 5
6 9.3 - Acesso à educação provação em curso que constitua parte integrante das condições para obtenção do grau de que requer equivalência; Dois exemplares de cada dissertação considerada autonomamente no plano de estudos e de outros trabalhos que tenham sido apresentados para a concessão do grau de que é requerida a equivalência; Para a equivalência ao grau de doutor, deverão, ainda, ser apresentados dois exemplares do Curriculum Vitae até obtenção do grau de doutor; Para a equivalência ao grau de mestre, deverá, ainda, ser junto o Regulamento fixando as condições de admissão e concessão do grau estrangeiro de que é requerida a equivalência; Para a equivalência ao grau de licenciado, bacharel e a cursos de ensino superior não conferentes de grau, poderão ainda ser solicitados elementos necessários. Documento de identificação (fotocópia). Em casos justificados, poderá ser exigida a tradução de documentos e trabalhos cujos originais estejam escritos em língua estrangeira. São cobrados emolumentos, cujo valor é fixado nas tabelas de cada instituição de ensino superior. Apoios sócio-educativos Nos termos da Lei de bases educativa, no âmbito da educação pré-escolar e da educação escolar, são desenvolvidos serviços de acção social escolar, concretizados através da aplicação de critérios de discriminação positiva que visem a compensação social e educativa dos alunos economicamente mais carenciados. Acção social no ensino básico e secundário Podem beneficiar dos apoios sócio-educativos os alunos nacionais e estrangeiros nacionais de países com os quais Portugal tenha celebrado acordos de reciprocidade. Ressalvando os casos em que existem acordos de reciprocidade, trata-se de um regime discriminatório relativamente aos alunos estrangeiros. Na sequência de uma Recomendação do Provedor de Justiça, um Despacho escrito do Secretário de Estado da Administração Educativa, de 14 de Dezembro de 2003, veio reco Rev. 20NOV.12 - Pág. 6
7 nhecer o direito à acção social escolar aos alunos (ensino básico e secundário) oriundos dos países da Europa do Leste, ainda que não se enquadrem numa situação de reciprocidade. Na região de Lisboa, a Direcção Regional Educativa de Lisboa (DREL) emitiu ainda uma circular juntos dos estabelecimentos de ensino da Região, a 22 de Janeiro de 2004, para divulgar o teor do referido despacho. Na prática, porém, determinados Serviços de Acção Social Escolar (SASE) aplicam as mesmas regras a todos os alunos, dependendo das suas disponibilidades orçamentais. Relativamente aos refugiados, convém lembrar que o artigo 57 da Lei 15/98 de 26 de Março garante o acesso às estruturas públicas de escolaridade obrigatória (a partir da emissão de uma Autorização de Residência Provisória), nas mesmas condições que os cidadãos nacionais. Por força desta disposição, os alunos do ensino básico refugiados deverão beneficiar do apoio escolar nos mesmos moldes que os alunos portugueses, o que na prática nem sempre se verifica. Presentemente os requerentes de asilo que só têm declaração comprovativa do pedido de asilo, não podem solicitar o abono de família, por esta declaração não constituir documento de identificação, e consecutivamente ver-lhes reconhecido o acesso ao SASE, inibindo assim refeições na escola e apoio para aquisição de material e de manuais escolares. Acção social no ensino superior A acção social no ensino superior abrange: Cidadãos portugueses e cidadãos dos Estados membros da União Europeia; Apátridas ou beneficiários do estatuto de refugiado; Cidadãos estrangeiros provenientes de países com os quais hajam sido celebrados acordos de cooperação prevendo a aplicação de tais benefícios ou de Estados cuja lei, em igualdade de circunstâncias, conceda igual tratamento aos cidadãos portugueses. Os benefícios sociais são atribuídos em função das condições económicas apresentadas pelo agregado familiar dos estudantes. Os critérios de atribuição dos apoios sociais são, nomeadamente, os seguintes: Rev. 20NOV.12 - Pág. 7
8 Insuficiência de meios económicos por parte do estudante e do respectivo agregado familiar; Distância entre a instituição de ensino superior que o estudante frequenta e o local de residência habitual; Aproveitamento escolar. Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC) O processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC) permite, aos maiores de 18 anos sem escolaridade básica (4, 6 ou 9 anos) ou secundária (12º ano), verem reconhecidas, validadas e certificadas as competências e conhecimentos resultantes da sua experiência (de vida, de trabalho e de formações não certificadas). Com a certificação concluída, ficarão com um certificado escolar equivalente ao 1º, 2º e 3º ciclos do Ensino Básico, ou ao Secundário (12º ano). É um programa que se baseia na experiência de vida dos participantes ( história de vida ) e validação das suas competências em 4 áreas principais: Matemática para a Vida, Língua Portuguesa e Comunicação; Tecnologias de Informação e Comunicação e Empregabilidade e Cidadania. O processo concretiza-se nos Centros de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (CRVCC), actualmente designados Centros Novas Oportunidades 3 (CNOs), e que são entidades, públicas ou privadas, devidamente acreditadas. Actualmente, também está em funcionamento o dispositivo RVCC-PRO, que tem, como objectivo, reconhecer, validar e certificar as competências adquiridas pelos profissionais, através da acumulação de experiência de trabalho e de vida, através da atribuição de um Certificado de Formação Profissional+. Tem, como principais objectivos, aumentar o nível de qualificação e a empregabilidade dos adultos activos e incentivar a formação ao longo da vida, através da valorização de todas as aprendizagens realizadas, em diferentes situações, pelos profissionais. Destinase a activos empregados e desempregados, com mais de 18 anos, que adquiriram saberes e competências através da experiência de trabalho, ou noutros contextos, e pretendam vê-los reconhecidos, através de uma certificação formal Rev. 20NOV.12 - Pág. 8
9 Para os refugiados que não conseguem obter equivalência das suas habilitações escolares e/ou profissionais, este programa é uma oportunidade de obterem uma qualificação de base em Portugal (4º, 6º, 9º ou 12º ano), podendo, posteriormente, aceder à formação profissional (actualmente, a grande maioria dos cursos de formação exige uma habilitação mínima de acesso). No que se refere aos públicos mais jovens (até aos 25 anos), e de acordo com a Agência Nacional para a Qualificação ( existem vários tipos de cursos: Educação Formação; Profissionais; Aprendizagem; Ensino Artístico Especializado; Especialização Tecnológica; Vias de Conclusão do Nível Secundário. Por último, e fora destas medidas, existe ainda o PIEF - Programa Integrado de Educação e Formação, que é uma medida do PETI Programa para Prevenção e Eliminação da Exploração do Trabalho Infantil criado pela Resolução do Conselho de Ministros nº 37/2004 de 20 de Março, que sucede ao Plano para Eliminação da Exploração do Trabalho Infantil (PEETI). O PIEF é o Programa Integrado de Educação e Formação, medida de excepção que se apresenta como alternativa quando tudo o mais falhou, e à qual os jovens e suas famílias efectivamente aderem (depois de terem recusado outras medidas existentes, quer no sistema educativo quer na formação profissional, ou de terem sido rejeitados ver ). Fontes Principais: Guia de Acolhimento e Integração dos Refugiados em Portugal 2004 (Capítulo Educação ), Conselho Português para os Refugiados CPR, em Agência Nacional para a Qualificação, Rev. 20NOV.12 - Pág. 9
10 1 Guias de Boas Práticas sobre a Integração de Refugiados na União Europeia - Educação, ECRE Task Force on Integration, 2000, em 2 Decreto-Lei nº 227/2005 de 28 de Dezembro, que define o regime de concessão de equivalência de habilitações de sistemas educativos estrangeiros a habilitações do sistema educativo português ao nível dos ensinos básicos e secundário 3 Ver Aprender Compensa em ACD3-7F D89/0/Apres_Novas_Oportunidades_Balanco1.pdf Rev. 20NOV.12 - Pág. 10
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