Consumo Consciente do Dinheiro e do Crédito Desenvolvido em parceria com o Instituto Akatu

Transcrição

1 Consumo consciente - afinal o que é consumir? O que é consumo? Consumir faz parte do nosso cotidiano. Consumimos, ao longo do dia, água, energia, alimentos, combustível etc. No entanto, geralmente, o ato de consumir é associado unicamente ao ato de comprar, que é, na realidade, apenas uma parte do conceito de consumo. Como já mencionado na Introdução deste caderno, associar consumo a compras não está errado. A compra, porém, é apenas uma das etapas do consumo, que envolve, na verdade, seis outras fases relativas aos seguintes questionamentos: 1) Por que comprar? 2) O que comprar? 3) De quem comprar? 4) Como comprar? 5) Como usar? 6) Como descartar? É importante ressaltar que o consumo não se refere apenas à compra de um produto ou serviço, mas também ao seu uso e descarte. Existe, ainda, uma dimensão do consumo, que pode ser definida como poder do consumidor. Ela permeia todas as etapas já mencionadas, e ressalta a capacidade que temos de intervir na construção da realidade por meio das nossas escolhas cotidianas de consumo. O que é consumo consciente? As perguntas referentes a cada etapa de consumo produzem reflexos no uso de serviços e recursos financeiros pelo consumidor, na medida em que, ao respondê-las, ele poderá avaliar o impacto do seu consumo no orçamento de sua família, refletir sobre suas reais necessidades e sobre as consequências de seus atos de consumo sobre a sociedade e sobre o planeta. Em suma, ao responder às perguntas em cada etapa, o consumidor estará sendo um protagonista da construção da sustentabilidade, da qualidade de vida de sua família e do mundo em que quer viver, desde que, nesse processo, busque maximizar os impactos positivos de suas decisões de consumo, transformando-as em decisões de consumo consciente. Consumir conscientemente é tomar decisões buscando o equilíbrio entre a satisfação pessoal e a sustentabilidade da sociedade e do planeta, de maneira a que se possa maximizar as consequências positivas do ato de consumo sem prejuízo às relações sociais, à economia e à natureza. 1 de 7

2 O consumo consciente pode ser praticado no dia a dia por meio de gestos simples que levem em conta os impactos da compra, o uso ou descarte de produtos e do usufruto de serviços, e a escolha por comprar de empresas que mantenham um compromisso com o desenvolvimento socioambiental. O consumo consciente é uma contribuição voluntária, cotidiana e solidária para a construção da sustentabilidade da vida no planeta. E existem diversas formas de o consumidor contribuir para a sustentabilidade, por exemplo: optar por produtos verdes, demandar mudanças na maneira como os produtos são fabricados, usá-los até o final de sua vida útil, ou evitar comprar mercadorias que sejam fruto do trabalho escravo, infantil ou de salários miseráveis. Se, ao fazermos compras, buscarmos produtos nos quais confiamos, que sejam produzidos por empresas que têm valores éticos e uma consciência clara da importância do impacto de suas ações no coletivo, nossas escolhas cotidianas estarão construindo um mundo social e ambientalmente mais sustentável. Praticar o consumo consciente e estimular nossas próprias famílias e amigos a fazerem o mesmo condiz com a mensagem do poema Tecendo a manhã, de João Cabral de Melo Neto: Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. O tecer das manhãs do mundo é uma obra coletiva, assim como o consumo consciente, que construirá um novo mundo, mais sustentável, pelas mãos de todos. As seis etapas do consumo consciente Por que comprar Todo mundo sabe que ganha dinheiro em troca do trabalho. Mas às vezes não percebemos que, com o dinheiro recebido, compramos produtos e serviços produzidos com o trabalho de outros. Ou seja, dinheiro é o elemento de troca, que possibilita o estabelecimento dessas relações de trabalho. O trabalho consome nosso tempo e, por isso, ao usarmos nosso dinheiro, entregamos parte de nossa vida em troca de parte da vida de outras pessoas. Tempo é dinheiro. Mas dinheiro também é tempo, o tempo que cada um gasta trabalhando para ganhá-lo. As pessoas têm desejos de consumo e consomem aquilo que tem valor para elas. Mas quem compra conscientemente usa seus recursos financeiros apenas para aquilo de que realmente necessita, analisando as suas reais possibilidades financeiras e a real necessidade do objeto a ser adquirido. Dessa forma, conclui se o objeto de desejo realmente vale ser comprado. O consumidor consciente também se esforça para contribuir com o círculo virtuoso da economia. Quem compra por impulso, sem analisar suas prioridades e seu orçamento, corre um alto risco de contrair dívidas e de não conseguir pagá-las, tornando-se inadimplente. 2 de 7

3 A inadimplência no pagamento das dívidas pelos consumidores faz crescer a insegurança no mercado, tendo como resultado o aumento das taxas de juros dos financiamentos, dado que as instituições financeiras buscarão, no aumento das taxas, compensar as suas perdas com a inadimplência. Com taxas de juros mais altas, o risco de tomar um empréstimo aumenta, já que o risco de não honrá-las é maior. A alta dos juros torna mais difícil para o consumidor fazer novas aquisições e arcar com as velhas dívidas. A economia se retrai, em um círculo vicioso decorrente do impacto negativo da inadimplência no mercado. As compras planejadas, ao contrário, levam a um aumento da segurança do mercado, dado que os consumidores honrarão o pagamento de suas dívidas. Com isso, as taxas de juros caem, possibilitando maior facilidade na tomada de novos empréstimos e no pagamento de antigos débitos. A economia cresce em um círculo virtuoso, decorrente do impacto positivo do pagamento pontual dos empréstimos. O que comprar O consumidor consciente é um comprador atento a si e ao mundo. Ao comprar, não se pauta apenas pelo preço e pela qualidade dos produtos ou dos serviços que escolhe. Baseia sua escolha nas características do produto ou do serviço em termos do impacto causado sobre a sociedade e sobre o meio ambiente: (a) pelo processo de produção; (b) pelo uso e (c) pelas consequências do descarte. Esse cuidado na escolha do que comprar permite que o consumidor sinta-se bem com a compra do produto ou do serviço e, ao mesmo tempo, que seu gesto de compra contribua para a construção do desenvolvimento sustentável. Assim, o consumidor valoriza seus recursos financeiros e os utiliza para melhorar sua vida e a da sociedade. Ele escolhe o que comprar sabendo que o futuro é consequência das suas escolhas presentes. De quem comprar A velocidade com que circulam as informações sobre as ações e as omissões das empresas fornecedoras de bens de consumo, juntamente com o aumento da importância das empresas como agentes sociais de grande impacto, fez com que o consumidor alterasse a sua relação com as empresas fornecedoras de bens de consumo. Cada vez mais, o consumidor brasileiro, com sua sensibilidade mais aguçada pelas características do mundo em que vivemos, valoriza as empresas que atuam com responsabilidade social e ambiental, que respeitam os empregados, que pagam seus impostos, que investem em sua comunidade, que cuidam do meio ambiente em todo o seu ciclo de produção. Em pesquisa do Instituto Akatu em conjunto com o Instituto Ethos sobre a percepção do consumidor em relaçãoà responsabilidade social empresarial, foi revelado que: 85% dos consumidores esperam que as empresas façam mais do que só cumprir as leis; 3 de 7

4 63% dos consumidores concordam com a ideia de que o governo deve obrigar as empresas a tornar a sociedade um lugar melhor para todos; 62% dos brasileiros acreditam que é importante que o consumidor pressione as empresas para que evitem danos ao meio ambiente. Um ponto favorável do consumo consciente é que os consumidores veem um papel para si nesse processo: juntamente com o governo e a legislação, a população faz pressão para que as empresas atuem de forma mais responsável. FONTE: Pesquisa Akatu - Ethos 2010: O Consumidor Brasileiro e a Sustentabilidade: Atitudes e Comportamentos frente ao Consumo Consciente, Percepções e Expectativas sobre a RSE Como comprar O crédito é um meio de antecipar uma compra sem que se tenha que esperar o tempo necessário para juntar o dinheiro e fazer a compra à vista. No entanto, ao comprar a crédito, é preciso pagar juros, o que acaba encarecendo o preço final do produto. A decisão do consumidor sobre como comprar envolve a reflexão sobre a tomada ou não de um empréstimo para antecipar a compra de um produto ou serviço que, sem esse empréstimo, o mesmo não poderia ser obtido até que o consumidor juntasse o dinheiro necessário para a compra. Nesse processo, o consumidor consciente: (a) considera se a compra é realmente necessária naquele momento; (b) no caso de a compra ser necessária de imediato e de não haver disponibilidade financeira para tal, avalia alternativas de financiamento oferecidas pelo mercado e reflete sobre o tipo de empréstimo a tomar; (c) uma vez decidido o tipo de empréstimo a tomar, analisa sua real possibilidade de pagar pelo empréstimo sem atrasos; (d) só então toma o empréstimo e efetua a compra. Caso a compra não seja necessária de maneira imediata, o consumidor consciente fará um planejamento financeiro para guardar os recursos em uma poupança e comprará o produto ou serviço à vista em uma data futura, sem a necessidade de pagar os juros do financiamento que encareceriam o produto. Por outro lado, o crédito permite que um número maior de compradores tenha acesso à compra de bens e serviços, o que impulsiona o crescimento econômico, acelerando a realização de sonhos e projetos de vida. Possibilita fazer hoje o que, sem a existência do crédito, só se poderia fazer no futuro. Assim, é claro que existem situações em que o financiamento pode ser adequado, por exemplo, no caso da obtenção de crédito para a formação de patrimônio, como o financiamento imobiliário, ou em casos de compras essenciais para as quais o consumidor não possui disponibilidade de recursos no momento necessário. Mas, certamente, o consumidor deve fazer uma reflexão sobre como 4 de 7

5 Nesse processo, o consumidor consciente: (a) considera se a compra é realmente necessária naquele momento; (b) no caso de a compra ser necessária de imediato e de não haver disponibilidade financeira para tal, avalia alternativas de financiamento oferecidas pelo mercado e reflete sobre o tipo de empréstimo a tomar; (c) uma vez decidido o tipo de empréstimo a tomar, analisa sua real possibilidade de pagar pelo empréstimo sem atrasos; (d) só então toma o empréstimo e efetua a compra. Caso a compra não seja necessária de maneira imediata, o consumidor consciente fará um planejamento financeiro para guardar os recursos em uma poupança e comprará o produto ou serviço à vista em uma data futura, sem a necessidade de pagar os juros do financiamento que encareceriam o produto. Por outro lado, o crédito permite que um número maior de compradores tenha acesso à compra de bens e serviços, o que impulsiona o crescimento econômico, acelerando a realização de sonhos e projetos de vida. Possibilita fazer hoje o que, sem a existência do crédito, só se poderia fazer no futuro. Assim, é claro que existem situações em que o financiamento pode ser adequado, por exemplo, no caso da obtenção de crédito para a formação de patrimônio, como o financiamento imobiliário, ou em casos de compras essenciais para as quais o consumidor não possui disponibilidade de recursos no momento necessário. Mas, certamente, o consumidor deve fazer uma reflexão sobre como comprar, de modo a adequar o financiamento às suas próprias condições financeiras. Só assim a compra financiada poderá, de fato, levar a uma maior qualidade de vida do consumidor. Como usar e como descartar Esta fase envolve a reflexão sobre como usar e como descartar os produtos ou serviços comprados. Também nessas etapas há impactos sobre a sociedade e sobre o meio ambiente, o que demanda uma reflexão do consumidor sobre a forma de usar e de descartar produtos e serviços. Use os produtos até o fim da sua vida útil Você já deve ter escutado que, ao economizar papel, por exemplo, usando os dois lados da folha, você estará colaborando com o meio ambiente, pois evita a produção de resíduos e a derrubada de árvores. Isso é verdade, ainda que a produção de papel no Brasil seja feita com árvores especialmente plantadas para esse fim, e não por meiodo corte de árvores nativas. Além disso, ao adotar essa prática, você estará economizando água, dado que para se produzir um quilo de papel são necessários 540 litros de água no processo produtivo. Assim, uma empresa que consuma em média 50 mil folhas de papel por mês (cem pacotes de 500 folhas), o que é razoável para uma empresa que tenha de 50 a 100 funcionários, estará também gastando, indiretamente, 8 mil litros de água mensalmente. Se todas as folhas de papel fossem usadas dos dois lados (frente e verso), isso reduziria pela metade o papel utilizado, resultando 5 de 7

6 em uma compra proporcionalmente menor e na redução do uso de água utilizada em sua fabricação também na mesma proporção. Usar os dois lados de uma folha de papel é um exemplo de como usar um produto até o final de sua vida útil, aproveitando-o ao máximo. Vale refletir sobre cada um dos diversos produtos que compramos para avaliar se os utilizamos até o final de sua vida útil. É importante lembrar que a maneira como alguém gasta seu dinheiro equivale ao respeito que tem pela própria vida, dado que, para ganharmos dinheiro,dedicamosparte do nosso precioso tempo de vidaao trabalho. Não é preciso enfatizar que o nosso tempo de vida é finito, não estocável (não é possível guardar o tempo para gastar mais tarde) e totalmente perecível (o modo como usamos o nosso tempo, a cada momento, é definitivo, pois não se pode voltar atrás). Sendo assim, é fundamental lembrar que, ao comprarmos algo com o produto do nosso trabalho, investimos naquela compra uma parte de nosso tempo de vida. O que poderia ser mais precioso? Tendo isso em vista, melhor será se aproveitarmos o produto comprado o máximo possível, até o final de sua vida útil. Comprar somente o que é necessário e garantir o aproveitamento máximo de todas as coisas compradas é um ato de respeito pela nossa própria vida, sendo uma das atitudes de consumo consciente. Reutilize produtos e embalagens Uma forma de prolongar a vida útil de um produto é evitar comprar o que pode ser consertado, transformado e, dessa forma, reutilizado. Um bom exemplo de como fazer isso é não jogar fora as sobras de alimentos, e sim aprender a reaproveitá-las e transformá-las. Por exemplo, do feijão, pode-se fazer uma sopa; do arroz, cenouras cozidas, carne assada ou o que restou da bacalhoada, é possível preparar deliciosos bolinhos; as frutas azedas ou maduras demais podem ser transformadas em compotas, geleias e recheios para bolo. Uma outra boa forma de prolongar a vida útil dos produtos é doar o que não tem mais utilidade para você. Roupas, livros, móveis, brinquedos e outros objetos sem uso não devem ser jogados fora. Doe o que está sobrando em sua casa para entidades beneficentes, venda para lojas de produtos usados, como brechós e sebos, ou doe para alguém que possa usá-los. Recicle, sempre que possível Separar do lixo materiais que podem ser reciclados traz benefícios à sociedade e ao meio ambiente. O Brasil produz atualmente 140 mil toneladas de lixo domiciliar por dia. Cerca de 30% de todo esse lixo é composto de materiais recicláveis como papel, vidro, plástico e latas. Separar esses materiais para reciclagem permite economizar recursos naturais e energia. Considere o exemplo de uma lata de alumínio: se uma única lata for reciclada, há economia de energia elétrica, em relação à produção de uma lata a partir da matéria-prima virgem, suficiente para manter uma lâmpada de 60 watts acesa por 4 horas. 6 de 7

7 A coleta seletiva também diminui o volume de lixo que vai para os aterros sanitários, aumentando a vida útil dos aterros e evitando que as prefeituras tenham de investir na construção de novos. Outro ganho para a sociedade advindo da reciclagem acontece quando a coleta ou a triagem dos materiais recicláveis é feita por cooperativas de catadores, gerando trabalho para essas comunidades, que, de outra forma, teriam grande dificuldade para se sustentar. No próximo capítulo, veremos de perto algumas armadilhas do consumo em nosso dia a dia e dicas de como fugir delas. 7 de 7