CONCLUSÃO Nesta data, faço estes autos conclusos a(o) MM (a). Juiz(a) da 7ª Vara Federal Criminal/RJ. Rio de Janeiro/RJ, 17 de maio de 2017
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- Terezinha Aveiro Sanches
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1 Processo nº ( ) Autor: MINISTERIO PUBLICO FEDERAL Réu: NAO IDENTIFICADO Fls 1139 Processo vinculado: CONCLUSÃO Nesta data, faço estes autos conclusos a(o) MM (a). Juiz(a) da 7ª Vara Federal Criminal/RJ. Rio de Janeiro/RJ, 17 de maio de 2017 FERNANDO ANTONIO SERRO POMBAL Diretor(a) de Secretaria (Sigla usuário da movimentação: JRJQWA) DECISÃO Trata-se de representação do MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL às fls. 3/73, objetivando o deferimento da PRISÃO PREVENTIVA de Marco Antonio de Luca. Instruem os autos os documentos de fls. 74/1138. O Ministério Público Federal afirma que com o desenrolar das investigações no âmbito das Operações Calicute e Eficiência foi possível desbaratar uma gigantesca Organização Criminosa-ORCRIM responsável por desvio milionário de dinheiro dos cofres públicos dinheiro público do Governo do Estado do Rio de Janeiro, cuja liderança é atribuída ao ex-governador Sérgio Cabral dos Santos Filho. Em decorrência das investigações realizadas foram realizadas operações que atingiram diversas áreas do Governo do Estado, como a Secretaria de Obras, a Secretaria de Transportes e, por último, a Secretaria de Saúde. Neste momento, a partir do depoimento prestado em sede de interrogatório por Luiz Carlos Bezerra, réu na ação penal nº , foi possível descobrir mais um braço do esquema criminoso que teria atingido outro setor do Governo do Estado, o de fornecimento de alimentação e prestação de serviços especializados. Assim, o órgão ministerial entende ser necessário decretar a prisão preventiva de Marco Antônio de Luca por haver indícios de ser ele o grande 1
2 corruptor da iniciativa privada na área da alimentação e serviços especializados no Estado do Rio de Janeiro. Aduz o MPF que o investigado teria se associado aos integrantes da Organização Criminosa, através da entrega valores em espécie diretamente ou por intermédio de Luiz Carlos Bezerra. É o relatório. DECIDO. Com efeito, trata-se da continuidade de investigações e processos criminais em curso neste Juízo Federal especializado quanto à prática de diversos crimes por uma mesma ORCRIM que teria atuado por vários anos no Governo do Estado do Rio de Janeiro, no seio da Secretaria de Obras, Secretaria de Transportes, Secretaria de Saúde e, como agora se vê, no setor de alimentação e serviços especializados, razão pela qual considero interessante reiterar algumas impressões que tenho lançado ao decidir sobre medidas cautelares semelhantes. O aprofundamento de investigações sobre crimes revelados em diversos acordos celebrados pela Procuradoria-Geral da República com as empreiteiras ANDRADE GUTIERREZ, CARIOCA ENGENHARIA e seus executivos, envolvidos em esquemas de corrupção na execução de obras públicas, ensejou a instauração das investigações Operação Calicute e Eficiência, no bojo das quais se evidenciou a existência de esquema de cartelização de empreiteiras com relação a importantes obras executadas pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, com o pagamento propinas a funcionários públicos, sendo que várias dessas obras foram custeadas com recursos federais, a exemplo do conhecido Programa (federal) de Aceleração do Crescimento PAC. A referida ORCRIM teria atuado desde 2007 até os dias atuais na intimidade do Governo do Estado do Rio de Janeiro e, após as práticas de inúmeros atos de corrupção, teria cometido outros tantos ilícitos com o objetivo de atribuir falsamente características de legitimidade aos recursos criminosamente auferidos. Tenho consignado que, como qualquer outra organização profissional, a ORCRIM demanda uma estrutura profissional que conte com alguns agentes que sejam de confiança do líder. Nestes casos, não se trata de prática criminosa individual, mas sim de múltiplos atos ilícitos cometidos por um conglomerado sofisticado de pessoas naturais e jurídicas, com tarefas divididas entre os diversos membros. Fls
3 Para o Órgão ministerial o esquema de corrupção engendrado no âmbito do Governo do Estado encontra-se organizado a partir de quatro núcleos básicos de agentes, a saber: o núcleo econômico, formado pelos executivos das empreiteiras organizadas em cartel, o núcleo administrativo, composto por gestores públicos do Governo do Estado, os quais solicitaram/receberam propinas das empreiteiras, o núcleo financeiro operacional, cuja principal função era promover a lavagem do dinheiro desviado dos cofres públicos, e o núcleo político, integrado pelo líder da organização Sergio de Oliveira Cabral Santos Filho. Reitero o que tenho afirmado quanto à importância de não tratar os casos de corrupção como crimes menores, reporto-me especialmente aos autos dos processos nº (na fase inicial da denominada Operação Calicute), nº (na fase inicial da denominada Operação Eficiência), (na fase inicial da denominada Operação Tolypeutes), (na fase inicial da denominada Operação Fatura Exposta), já que os crimes ora apontados estariam intimamente relacionados aos ali descritos e, em tese, teriam sido praticados pelo mesmo grupo criminoso apontado. Entendo que casos de corrupção não podem ser tratados como crimes menores, pois a gravidade de ilícitos penais não deve ser medida apenas sob o enfoque da violência física imediata. Reafirmo que os casos que envolvem corrupção de agentes públicos têm enorme potencial para atingir, com severidade, um número infinitamente maior de pessoas. Basta considerar que os recursos públicos que são desviados por práticas corruptas deixam de ser utilizados em serviços públicos essenciais, como saúde e segurança públicas. Note-se ainda que, com a corrosão dos orçamentos públicos, depreciados pelo custo-corrupção, toda a sociedade vem a ser chamada a cobrir seguidos rombos orçamentários. Aliás, essa a razão que levou o governador do Estado do Rio de Janeiro a decretar recentemente o estado de calamidade pública devido à crise financeira. E esta situação não se dá apenas neste Estado, mas também em vários outros entes desta Federação. A própria União revelou que o resultado orçamentário do ano de 2016 foi deficitário em mais de 170 bilhões de reais. Fls
4 O mal da corrupção está sempre relacionado aos maiores problemas hoje opostos à nossa sociedade, sobretudo quando se trata da corrupção em larga escala e com desvios de gigantescas somas de dinheiro público, sem prejuízo do malefício que representa a perpetuação da cultura da desonestidade entre os agentes públicos. Se determinada pessoa ou empresa corruptora não cumpre norma a todos imposta na atividade profissional ou empresarial, por exemplo, acaba por dispor ilicitamente de vantagens em relação aos demais atores socioeconômicos, criando estímulos para que outros sigam seu mau exemplo. Vista a situação por outro ângulo, um agente público corrompido é, de igual modo, uma má influência para os demais integrantes do serviço público. Por isso a sociedade internacional, reunida na 58ª Assembleia Geral da ONU, pactuou a Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção, promulgada no Direito brasileiro através do Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro de Já em seu preâmbulo é declarada a preocupação mundial com a gravidade dos problemas e com as ameaças decorrentes da corrupção, para a estabilidade e a segurança das sociedades, ao enfraquecer as instituições e os valores da democracia, da ética e da justiça e ao comprometer o desenvolvimento sustentável e o Estado de Direito. No mesmo sentido, a Convenção Interamericana Contra a Corrupção, aqui promulgada pelo Decreto nº 4.410, de 7 de outubro de 2002, deixa claro o entendimento comum dos Países de nosso continente de que a corrupção solapa a legitimidade das instituições públicas e atenta contra a sociedade, a ordem moral e a justiça, bem como contra o desenvolvimento integral dos povos. Cabem mais algumas considerações que considero pertinentes a partir dos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil. De fato, uma vez ratificadas pela República Federativa do Brasil, as Convenções internacionais assumem o mesmo status das demais leis federais (Resp /PR-STJ, Rel. Min Teori Zavaski, DJ 25/08/2004) 1. Em sendo assim, é de rigor a observância das referidas Convenções Contra a Corrupção, bem como da Convenção Fls De acordo com o Min. Gilmar Mendes, os tratados internacionais possuem valor de norma supralegal, quando internalizadas no ordenamento jurídico brasileiro através da promulgação de sua ratificação (RE SP). 4
5 da ONU contra o Crime Organizado Transnacional (Convenção Palermo Decreto 5.015/2004), que trazem disposições específicas sobre a prisão cautelar no curso de processos criminais relativos a esses temas. Dispõe o artigo 30, item 5, da Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção: Fls Cada Estado Parte terá em conta a gravidade dos delitos pertinentes ao considerar a eventualidade de conceder a liberdade antecipada ou a liberdade condicional a pessoas que tenham sido declaradas culpadas desses delitos (grifei). Repare que o instrumento normativo internacional, cujo texto genérico se explica pela possibilidade de ser observado por muitos e distintos sistemas jurídicos ao redor do mundo, permite também sua incidência a um momento processual anterior a eventual condenação. Ou seja, o que a norma convencional estatui é que, em caso de processo por crimes de corrupção e outros relacionados, o reconhecimento da gravidade do caso deve dificultar a concessão de liberdade provisória, consideradas sua lesividade extraordinária para a sociedade. Note-se que liberdade antecipada e liberdade condicional não são institutos similares. O primeiro (liberdade antecipada, pois se antecipa o mérito ainda em discussão) pressupõe estar em curso a ação penal correspondente, enquanto o segundo (liberdade condicionada, pois representa a substituição condicionada de uma prisão já imposta pela liberdade do condenado) pressupõe a existência de declaração de culpa, ou seja, o julgamento da causa penal. É certo que não há, por ora, um decreto condenatório em desfavor de nenhum dos investigados, e a análise a ser feita adiante sobre o comportamento de cada um dos requeridos é ainda superficial, mas o fato é que os crimes de corrupção e outros relacionados, como os tratados neste processo, numa análise ainda superficial, hão de observar o regramento compatível com a sua gravidade, além da necessidade de estancar imediatamente a atividade criminosa. Os relatos da representação demonstram, em análise inicial e provisória, a existência de núcleos organizados para o fim da prática reiterada de crimes contra 5
6 a Administração Pública (Organização Criminosa), núcleos estes que, interrelacionados, formariam uma organização criminosa para o mesmo fim, qual seja a lesão ao erário com a subsequente lavagem, ocultação e divisão do produto ilícito entre agentes públicos corruptos e pessoas e empresas particulares voltados a práticas empresariais corruptas. Assim sendo, deve-se voltar os olhos para os termos do artigo 2º item a da Convenção da ONU contra o Crime Organizado Transnacional, com força de lei federal após sua promulgação pelo Decreto nº de 12/03/2004, ao definir o que se deve entender por organização criminosa: Fls 1144 a) Grupo criminoso organizado - grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na presente Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material; Da mesma forma, este importante instrumento internacional, hoje parte integrante de nosso ordenamento jurídico (Decreto nº /2004), é cristalino em seu artigo 11, item 4, ao determinar que: 4) Cada Estado Parte providenciará para que os seus tribunais ou outras autoridades competentes tenham presente a gravidade das infrações previstas na presente Convenção quando considerarem a possibilidade de uma libertação antecipada ou condicional de pessoas reconhecidas como culpadas dessas infrações; (grifei) Tal como se disse linhas atrás, claro que não há, por ora, um decreto condenatório contra o investigado, e a análise a ser feita em seguida sobre o seu comportamento é ainda provisória, mas o fato é que o crime de organização criminosa, como o narrado representação, deve ser tratado com a gravidade legalmente determinada. Em outras palavras: a repressão à organização criminosa que teria se instalado no Governo do Estado do Rio de Janeiro há de receber deste Juízo Federal o rigor previsto no Ordenamento Jurídico nacional e internacional, sem esquecer-se da necessária e urgente atuação tanto para a cessação de atividades criminosas que estejam sendo praticadas (ocultação e branqueamento de valores obtidos criminosamente, por 6
7 exemplo) como para a recuperação dos valores desviados das fazendas públicas estadual e federal. Pois bem, além do que acima se disse com relação ao caso específico dos crimes que envolvem corrupção de agentes públicos, o ordenamento jurídico estabelece genericamente que, para a concessão da prisão cautelar, de natureza processual, faz-se necessária a presença de pressupostos e requisitos legais, que uma vez presentes permitem a formação da convicção do julgador quanto à prática de determinado do delito por aquela pessoa cuja prisão se requer. À luz da garantia constitucional da não presunção de culpabilidade, nenhuma medida cautelar deve ser decretada sem que estejam presentes os pressupostos do fumus comissi delicti e do periculum libertatis. Entende-se por fumus comissi delicti a comprovação da existência de crime e de indícios suficientes de sua autoria e por periculum libertatis, o efetivo risco que o agente em liberdade pode criar à garantia da ordem pública, da ordem econômica, da conveniência da instrução criminal e à aplicação da lei penal (artigo 312 do Código de Processo Penal). No que toca especialmente ao fundamento da garantia da ordem pública, o Supremo Tribunal Federal já assentou que esta envolve, em linhas gerais: a) necessidade de resguardar a integridade física ou psíquica do preso ou de terceiros; b) necessidade de assegurar a credibilidade das instituições públicas, em especial o Poder Judiciário, no sentido da adoção tempestiva de medidas adequadas, eficazes e fundamentadas quanto à visibilidade e transparência da implementação de políticas públicas de persecução criminal; e c) objetivo de impedir a reiteração das práticas criminosas, desde que lastreado em elementos concretos expostos fundamentadamente. Como já dito linhas acima, e reiterando decisões cautelares anteriores, em se confirmando as suspeitas inicialmente apresentadas, as quais seriam suportadas pelo conjunto probatório apresentado em justificação para as graves medidas cautelares requeridas, estaremos diante de um gravíssimo caso de traição eleitoral por parte daquele que, segundo o MPF, seria o líder da organização ora apontada, o já acusado Sergio Cabral. De fato, pelos indicativos ora apontados na petição inicial cautelar, a credibilidade do Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro teria sido seriamente vilipendiada, posto que um de seus titulares mais influentes na história recente, o então Fls
8 Governador de Estado Sergio Cabral, teria sido o responsável pelo desvio de muitos milhões de reais dos cofres públicos do Estado e da União. Mais do que isso, avaliando os elementos de prova trazidos aos autos, em cognição sumária, considero que a gravidade da prática criminosa liderada por pessoa no exercício do cargo de Chefe do Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro (governador de Estado), e que durante muitos anos no Poder Legislativo do Estado do Rio de Janeiro (deputado estadual) e no Poder Legislativo da União (Senador) foi portador dos votos de confiança de muitos milhões de cidadãos neste Estado, não poderá jamais ser tratada com o mesmo rigor dirigido à prática criminosa comum. A crença na própria instituição do sufrágio universal (artigo 14 da CF), a confiança do povo brasileiro nos Partidos Políticos (artigo 17 da CF) e nos mandatários do Poder, os Governantes, são seriamente abaladas com a prática de atos ilícitos como os que são descritos pelo Ministério Público Federal, os quais ora são superficialmente analisados em harmonia com os elementos de prova apresentados. Parece, mais uma vez, conveniente recordar o disposto na Convenção Interamericana Contra a Corrupção (promulgada pelo Decreto nº 4.410, de 7 de outubro de 2002), ao afirmar que a corrupção solapa a legitimidade das instituições públicas e atenta contra a sociedade, a ordem moral e a justiça, bem como contra o desenvolvimento integral dos povos (grifei). Por óbvio, ao se falar em crimes de corrupção, se por um lado chama nossa atenção a figura do agente público que se deixa corromper, por outro lado não se deve olvidar da figura do particular, pessoa ou empresa corruptora, que promove ou consente em contribuir para o desvio de conduta do agente público, como aparenta ser o caso dos autos. Na fase atual da investigação, o MPF apresenta elementos de prova que dão conta do possível envolvimento de outras pessoas e empresas que teriam atuado corrompendo agentes públicos, como adiante se verá. Convém assegurar que os relatos dos colaboradores adiante mencionados serão submetidos novamente à apreciação judicial e ao necessário contraditório, sendo de rigor a avaliação da possível atuação de cada uma das pessoas investigadas, apontadas na representação ministerial. Por razões óbvias, em se tratando de investigações complexas, em que normalmente as práticas criminosas se passam na Fls
9 intimidade de escritórios e gabinetes, cujos documentos ilicitamente produzidos e os proveitos espúrios auferidos podem ser rápida e efetivamente destruídos e ocultados, é razoável sua apreciação in limine, diferindo-se para momento posterior a observância do contraditório e da ampla defesa. Estamos, portanto, no campo do processo cautelar, no qual as ilações trazidas na petição inicial não se submeterão a juízo de condenação, que é próprio do processo de conhecimento (ação penal). Fls 1147 Com o aprofundamento das investigações relacionadas à Organização Criminosa que aparentemente atua de forma reiterada em diversas áreas do Governo do Rio de Janeiro, vem ao conhecimento deste Juízo, em sede de depoimento prestado em interrogatório, informações em que se relata mais um setor atingido pelos atos perpetrados pela referida ORCRIM, a área de fornecimento de alimentação e serviços especializados. No seu interrogatório, Luiz Carlos Bezerra, réu na ação penal nº , admitiu que as anotações feitas nas suas agendas apreendidas ( ) tratam de espécie de contabilidade paralela da ORCRIM, sendo que os codinomes "Louco" ou "De Louco" referem-se a Marco Antonio de Luca, e os valores referem-se a pagamentos efetuados por Marco Antonio à organização criminosa. De acordo com o próprio Bezerra, a sua função era recolher o dinheiro em espécie e levar a locais determinados por outros membros da organização. Em sede de medida cautelar de quebra de sigilo de dados telemáticos ( ), foram encontrados s na caixa postal de Luiz Carlos Bezerra em que há menção ao codinome "de louco", data, local e valores, a indicar possíveis encontros para o recolhimento de propina bem como entrega de numerários pelo investigado à organização criminosa (fl. 7). Apurou o MPF que Luiz Carlos Bezerra utiliza o aplicativo WICKR, programa que tem a finalidade de autodestruir as mensagens após a leitura, a demonstrar a intenção da organização criminosa em evitar a visualização das mensagens por 9
10 terceiros. Neste aplicativo o investigado Marco Antonio de Luca utiliza o codinome "Josefino". Em depoimento prestado perante a Força Tarefa do MPF, Luiz Carlos Bezerra esclareceu o significado de algumas de suas anotações (fls. 75/77): Fls 1148 Que MARCO ANTONIO DE LUCA também era conhecido por CRAZY, DE LOUCO, LOUCO ; Que já recolheu dinheiro com MARCO DE LUCA em sua residência em Ipanema, localizada ao lado do Hotel Fasano; Que já recolheu recursos na antiga residência de DE LUCA em um condomínio, localizado na Av. Niemeyer; Que, por fim, já recolheu também recursos no escritório de DE LUCA, localizado na Av. Ataulfo de Paiva, nº 1079, sala 903; Que perna significa R$ ,00; Que DUQUE significa R$ ,00; Que OROZIMBA significa euro; GALO significa R$ ,00; Que QUEEN significa Libra Esterlina; Que ZIDANE significa euro; Em uma das anotações de Luiz Bezerra, há menção ao endereço "Ataulfo 1079/903", sede da empresa Boa Aquicultura e Orgânicos Ltda, cujos sócios são MDL Participações e Negócios EIRELI (95% do capital social) e Jeferson de Carvalho Januário (5% do capital social). Esclareça-se que Marco Antonio de Luca é sócioadministrador da MDL Participações Eireli. A Polícia Federal, no Relatório de Análise de Material Apreendido n. 8/2017 (fl. 16), consolidou os valores de entrada e saída descritos nas anotações de Luiz Carlos Bezerra, no período de outubro de 2013 a novembro de 2016, apurando um total de R$ ,00 (trinta e sete milhões, seiscentos e quarenta e dois mil e quinhentos reais) movimentados somente pelo operador financeiro Luiz Bezerra. Especificamente em relação ao investigado Marco Antonio de Luca, o MPF consolidou os valores encontrados nas anotações manuscritas de Luiz Bezerra e identificou um total de R$ ,00 (doze milhões quinhentos e noventa e cinco mil e setecentos reais) que teriam sido entregues por Marco Antonio de Luca à organização criminosa. 10
11 A corroborar a relação de proximidade entre o investigado e membros da organização criminosa, foram identificadas diversas ligações entre Marco Antonio de Luca e outros integrantes, como Hudson Braga (4 ligações recebidas), Luiz Carlos Bezerra (41 ligações recebidas e 51 realizadas), Sérgio Cabral (35 ligações recebidas e 9 realizadas) e Wilson Carlos (6 ligações recebidas e 4 realizadas), o que revela o intenso contato do investigado com os membros da ORCRIM. Apura o MPF a relação de proximidade entre o investigado Marco Antonio de Luca e Sérgio Cabral, líder da organização criminosa, notadamente pelo teor dos e- mails trocados entre eles, em que combinam um encontro em que afirmam que "os vinhos já estão separados" (fl. 51). Ressalte-se ainda que o Relatório de Inteligência Financeira do COAF aponta 27 operações financeiras suspeitas e/ou em espécie, no valor total de R$ ,00, entre junho de 2006 a março de 2015, principalmente por meio da empresa Masan Serviços Especializados Ltda, da qual Marco Antonio foi sócio até O requerido juntamente com sua família possui diversas empresas que celebram contratos com o Governo do Estado, formando uma complexa estrutura societária, conforme quadro apresentado pelo MPF à fl. 53. Dentre as empresas da família De Luca, figura principalmente a MASAN Serviços Especializados Ltda, que, de acordo com dados obtidos pelo MPF no sítio eletrônico da Transparência do Estado do Rio de Janeiro, teria recebido o total de R$ ,81 (cinco bilhões quatrocentos e vinte e cinco milhões novecentos e noventa e dois mil novecentos e nove reais e oitenta e um centavos), no período de 2011 a 2017, em contratos firmados com o Estado do Rio de Janeiro. Dentre os contratos, figuram o Fundo Estadual da Saúde, a Polícia Civil do Rio de Janeiro, o Fundo Especial da Polícia Militar do ERJ, o Departamento geral de ações socioeducativas, a Secretaria de Educação, a Administração Central, e outros. Outra empresa gerida por Marco Antonio, a Comercial Milano Brasil Ltda, também firmou dezenas de contratos com o Estado do Rio de Janeiro de 2011 a 2017, no total de R$ ,20 (um bilhão seiscentos e quatro milhões Fls
12 novecentos e vinte e nove milhões novecentos e dezoito reais e vinte centavos), conforme apurado pelo MPF. Ressalte-se que, conforme apurado pelo MPF, as referidas empresas tiveram crescimento patrimonial abrupto, notadamente a partir do primeiro ano do mandato de Sérgio Cabral. Narra o MPF que, com a vinda dos Jogos Olímpicos para o Rio de Janeiro no ano 2016, alargou-se o campo de atuação das empresas de Marco Antonio de Luca, as quais firmaram diversos contratos com o Comitê Olímpico - CO- Rio/2016, com a possível influência de Sérgio Cabral, em contrapartida ao pagamento de valores em espécie pelo investigado, conforme apurado nas anotações de Luiz Bezerra. Os contratos de prestação de serviços firmados pela Masan Serviços Especializados Ltda com o CO-Rio/2016 foram listados pelo MPF às fls. 57/58. Diante do exposto, ao que parece, o investigado é sócio de diversas empresas que prestam serviços e fornecem alimentos ao Governo do Estado do Rio de Janeiro, tendo firmado centenas de contratos e recebidos valores na cifra dos bilhões de reais. Fls 1150 Vale frisar que tais contratos encontram-se vigentes e os pagamentos ainda estão sendo efetuados no presente momento. Além do que, o mesmo grupo político que atua perante a organização criminosa permanece na gestão do Governo do Estado do Rio de Janeiro, o que impõe medidas ainda mais enérgicas a fim de desbaratar o suposto esquema criminoso. Segundo dados colhidos pelo MPF perante a Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro, em setembro de 2015, Marco Antonio de Luca repassou todas as suas cotas da empresa Masan Serviços Especializados para a empresa Sepasa Serviços Especializados Ltda, sócia da empresa Comercial Milano Brasil Ltda; e em junho de 2016 repassou todas as ações da Sepasa para a empresa DL4 Participações. Tal reestruturação societário, segundo o MPF, indicaria a tentativa de ocultação de provas e alteração do contexto fático-criminoso. 12
13 Nesse contexto, tenho por evidenciados os pressupostos para o deferimento da medida cautelar extrema contra o requerido, consubstanciados na presença do fumus comissi delicti, ante a suficiente demonstração da materialidade delitiva e de fortes indícios que apontam para a autoria de vários crimes como por exemplo corrupção ativa, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Encontra-se também presente o segundo pressuposto necessário à decretação da cautelar, qual seja, o periculum libertatis, nestes autos representado pelo risco efetivo que o requerido em liberdade pode criar à garantia da ordem pública, da ordem econômica, da conveniência da instrução criminal e à aplicação da lei penal (artigo 312 do Código de Processo Penal). Seja pela atuação que visa demover a colaboração de investigados na apuração dos ilícitos narrados (oferecendo-se para custear despesas de advogado), seja pela demonstração de que estaria ocultando valores e bens ilicitamente auferidos, até mesmo no exterior, prevenindo-se à esperada ordem de prisão preventiva. Portanto, reafirmo a necessidade da prisão preventiva, que não é atendida por nenhuma outra medida cautelar alternativa, mesmo as estipuladas no art. 319 do CPP. Não se olvide, ademais, que tão importante quanto investigar a fundo a atuação ilícita da ORCRIM descrita, com a consequente punição dos agentes criminosos, é a recuperação do resultado financeiro criminosamente auferido. Nesse sentido, deve-se ter em mente que no atual estágio da modernidade em que vivemos, uma simples ligação telefônica ou uma mensagem instantânea pela internet são suficientes para permitir a ocultação de grandes somas de dinheiro, como as que parecem ter sido pagas em propinas no caso ora sob investigação e que, inclusive, como dito, estariam sendo ocultadas através de contas bancárias em outros países. Nesse contexto, a prisão preventiva de Marco Antonio de Luca, tal como requerida na representação inicial, é medida que se impõe, seja para garantir a ordem pública, como por conveniência da instrução criminal, nos termos do art. 312 do CPP. Fls
14 Diante de todo o exposto, presentes os pressupostos e as circunstâncias autorizadoras, DECRETO a PRISÃO PREVENTIVA de MARCO ANTONIO DE LUCA e assim o faço para garantia da ordem pública e para assegurar a aplicação da lei penal, com fundamento nos artigos 312, caput e 313, I, ambos do CPP. Fls 1152 AUTORIZO a realização simultânea das diligências a serem efetuadas com o auxílio de autoridades policiais de outros Estados, peritos e de outros agentes públicos, incluindo agentes da Receita Federal e membros do MPF. Encaminhe-se cópia desta decisão, em caráter sigiloso, à autoridade policial responsável a fim de que sejam efetuadas as diligências policiais cabíveis, inclusive levantamento de campo complementares, para a ratificação ou retificação dos endereços mencionados. Cumpridas as diligências, remetam-se os autos ao Setor de Distribuição para a correção do procedimento vinculado, retirando o vínculo com o processo nº e vinculando a ação penal operação. Mantenho o SEGREDO ABSOLUTO DE JUSTIÇA enquanto perdurar a Exauridas as diligências, levante-se o segredo de justiça destes autos uma vez que não há causa determinante que justifique a inobservância da regra constitucional de publicidade dos atos judiciais, sobretudo por se tratar de possíveis malfeitos relacionados à aplicação de dinheiro público e envolver a atuação de agentes públicos, casos em que com maior razão há de se garantir o direito ínsito a todos os cidadãos brasileiros de conhecer e acompanhar as conclusões e o trabalho do Poder Judiciário nacional. Cumpridas as medidas, levante-se o segredo absoluto, cadastrando-se, quanto aos procedimentos vinculados o SEGREDO DE JUSTIÇA NO SISTEMA, admitido o acesso do requerido e dos seus advogados, que devem estar cadastrados no site da Justiça Federal do Rio de Janeiro e fornecer, por petição, seu CPF e indicar as folhas em que a(o) procuração/substabelecimento foi juntada(o). 14
15 Desde já informo às defesas dos investigados que as mídias estão disponíveis em Secretaria para gravação, mediante requerimento por petição eletrônica nos autos, indicando as folhas do termo de acautelamento em que se encontra a mídia desejada, devendo ser fornecida mídia nova e lacrada, tendo a Secretaria o prazo mínimo de 24 horas para a sua entrega. Fls 1153 Rio de Janeiro/RJ, 22 de maio de (assinado eletronicamente) MARCELO DA COSTA BRETAS Juiz Federal Titular 7ª Vara Federal Criminal 15
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CONCLUSÃO Nesta data, faço estes autos conclusos a(o) MM (a). Juiz(a) da 7ª Vara Federal Criminal/RJ. Rio de Janeiro/RJ, 26 de julho de 2018 DECISÃO
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CONCLUSÃO Nesta data, faço estes autos conclusos a(o) MM (a). Juiz(a) da 7ª Vara Federal Criminal/RJ. Rio de Janeiro/RJ, 18 de agosto de 2017
Processo nº 0506262-41.2017.4.02.5101 (2017.51.01.506262-2) Autor: JUSTICA PUBLICA Réu: NAO IDENTIFICADO Fls 207 CONCLUSÃO Nesta data, faço estes autos conclusos a(o) MM (a). Juiz(a) da 7ª Vara Federal
Vistos e examinados os autos.
CONCLUSÃO Em 08 de fevereiro de 2013, faço estes autos conclusos à MMª. Juíza Federal Titular da 3ª Vara Federal de Sorocaba, Drª SYLVIA MARLENE DE CASTRO FIGUEIREDO. Técnico Judiciário RF 5448 PROCESSO
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