Conteúdo: Inviolabilidades Constitucionais: Inviolabilidade do Domicílio; Inquérito Policial: Conceito; Natureza Jurídica; Características.

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1 Turma e Ano: Flex A (2014) Matéria / Aula: Processo Penal / Aula 03 Professor: Elisa Pittaro Conteúdo: Inviolabilidades Constitucionais: Inviolabilidade do Domicílio; Inquérito Policial: Conceito; Natureza Jurídica; Características. - INVIOLABILIDADES CONSTITUCIONAIS (cont.)- 2. INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO: O que significa a expressão "flagrante delito" mencionada no art. 5º, XI da CF? 1) Minoritário (Geraldo Prado) - A expressão flagrante mencionada pela CF exige o contato visual com a prática do crime, o que só existe no flagrante próprio previsto no art. 302, I e II do CPP. 2) Majoritária - A CF não fez qualquer restrição, ou seja, qualquer possibilidade de flagrante prevista no art. 302 do CPP permite o ingresso no domicílio sem ordem judicial. É possível uma ordem de busca e apreensão genérica em comunidades? Em regra, a ordem judicial deve ser o mais precisa possível em relação ao local da diligência, como também aquilo que será apreendido, sob pena de esvaziarmos a garantia constitucional. Porém, em situações excepcionais, quando a medida tiver por objetivo proteger os moradores de determinada comunidade entregues ao crime organizado, a ordem deve ser concedida. É possível com a mesma ordem de busca e apreensão apreendermos outros objetos que não estavam descritos no mandado? 1) Geraldo Prado (posição extremamente garantista) - Não pode. A diligência deve ser cumprida nos exatos limites do mandado, sem prejuízo da autoridade providenciar outra ordem de busca e apreensão. 2) Pacelli - Devemos verificar se a diligência transcorreu de forma regular para que a apreensão seja ou não válida.

2 3) STF - Se a garantia constitucional já foi validamente violada, não faz sentido ignorarmos essa prova, ou seja, é possível a apreensão. - INQUÉRITO POLICIAL - 1. Conceito: Inquérito é o conjunto de diligências realizados pela polícia judiciária para apurar autoria e materialidade delitivas. 2. Natureza Jurídica: Procedimento administrativo, ou seja, nele não há incidência de nenhum princípio ou garantia típica da instrução criminal (não tem contraditório e ampla defesa). O juiz pode condenar alguém com base nos elementos do inquérito? Em regra, não, existindo as seguintes exceções (parte final do art. 155 do CPP): 1) Provas não repetíveis - são as provas periciais. Essas provas se submetem a um contraditório diferido ou retardado, ou seja, ele ocorre durante a ação penal. 2) Provas cautelares - busca e apreensão, interceptação telefônica, etc. Essas provas também se submetem a um contraditório diferido ou retardado. 3) Prova antecipada - ela está prevista em vários dispositivos do CPP, como por exemplo no art Apesar de ser uma espécie de prova cautelar, nela o contraditório não é diferido, ocorrendo durante a realização da diligência. Por esse motivo, a prova antecipada foi disposta no art. 155 separada das outras provas cautelares.

3 3. Características: 1) Inquisitivo - Possui dois sentidos: o inquérito não se subordina ao contraditório, bem como não existe um rito predeterminado, pois o delegado conduz discricionariamente as investigações (Prova Polícia Civil). 2) Sigiloso: Externo: Pessoas alheias à investigação não podem ter acesso aos autos do inquérito. Interno: É aquele voltado para os sujeitos processuais, ou seja, juiz, MP e advogado. É possível negar acesso dos autos do inquérito ao advogado? De acordo com a Súmula Vinculante 14 do STF, não será possível negar o acesso ao advogado desde que: Já exista alguém indiciado ou que seja certa a pessoa que está sendo investigada, já que a súmula existe para preservar a ampla defesa do agente. É necessário que a diligência tenha sido realizada e que esteja documentada nos autos do inquérito, pois se houver diligência em andamento será possível negar o acesso. 3) Indisponível (voltada para o delegado) - o delegado não pode dispor do inquérito policial, qualquer providência relacionada ao arquivamento exige pedido do MP e decisão judicial. 4) Dispensável (voltada para o MP) - o MP pode dispensar total ou parcialmente o inquérito, desde que possua justa causa. Justa Causa: O que é justa causa? 1) Afrânio Silva Jardim - Justa causa é o suporte probatório mínimo sobre autoria e materialidade delitiva, possui natureza jurídica de uma 4ª condição da ação.

4 2) Polastri - não é uma 4ª condição da ação, mas sim algo inerente a toda ação penal, tratando-se de um requisito especial para o oferecimento da denúncia. 3) Tourinho - Justa causa é o legítimo interesse na demanda, ou seja, ela não tem existência autônoma estando dentro do interesse de agir. Outras formas de obter justa causa (além do inquérito policial): a) Através do Inquérito Policial Militar (IPM) instaurado para apurar crime militar; b) Através do Inquérito Parlamentar instaurado no âmbito das CPIs - art. 58, 3º da CF; CPI: CPI pode determinar, sem ordem judicial, uma interceptação telefônica? Não é possível pois o art. 5º, XII da CF protege esse sigilo com a cláusula de "reserva de jurisdição" - expressão utilizada por Canotilho sinalizando que determinadas garantias individuais só podem ser violadas com ordem judicial. CPI pode quebrar o sigilo de dados telefônicos? Nesse caso, é possível pois não existe cláusula de reserva de jurisdição. CPI municipal pode quebrar o sigilo de dados telefônicos sem ordem judicial? Existem duas orientações dentro do STF: 1) É possível pois o poder de investigar é inerente ao de legislar, sem contar que ela está representando o Legislativo Municipal. 2) Como não existe Poder Judiciário Municipal para fazer a equiparação exigida pelo art. 58, 3º da CF, a CPI municipal sempre deverá recorrer ao Poder Judiciário.

5 CPI pode quebrar sigilo bancário ou fiscal? Em relação à CPI federal, o STF entende que esse poder está no art. 58, 3º da CF. Quando a CPI for estadual, a questão se torna polêmica. No julgamento da ACO 470, por 6 a 5 foi admitido esse poder pelas CPIs estaduais. Atualmente, tramita no STF a ACO 1271, que ainda não foi julgada, sendo possível uma mudança na posição do STF. c) Através da investigação direta promovida pelo Ministério Público. Argumentos Contrários: O art. 144, 1º, IV deu exclusividade à Polícia para conduzir investigações. O MP é parte e como parte não conduziria uma investigação de forma isenta. O CPP não deu ao MP poderes para presidir inquérito, sendo esta função exclusiva do delegado Desde o projeto do CPP Sérgio Raó, o legislador vem tentando dar ao MP esse poder investigatório, o que vem sendo vetado em clara opção legal de negar essa investigação pelo MP. Argumentos favoráveis: O art. 144 da CF é voltado para as polícias, ou seja, entre todas as polícias a única que pode exercer a função de polícia judiciária da União é a Polícia Federal. O MP é uma parte multiforme no processo penal, ou seja, ele é parte e fiscal da lei, e na qualidade de custus legis, ele pode conduzir uma investigação de forma isenta. O art. 129, VI da CF deu ao MP poderes para expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, onde se enquadraria a investigação direta. Obs: Há uma Resolução do CNMP que regulamenta a investigação direta pelo MP.

6 5) Unidirecional - Findas as investigações, o delegado se limita a elaborar um relatório, sem emitir juízo de valor, sob pena de ingressar em uma esfera de atribuição exclusiva do MP. O delegado pode no relatório fazer menção à atipicidade material ou excludente de ilicitude? O delegado também possui a sua opinio, ainda que ela seja provisória e que possa ser superada pela opinio do MP. Em relação às excludentes de ilicitude, o próprio CPP permite que o delegado lavre o Auto de Resistência ao invés do APF quando constatar indícios da excludente. 6) Escrito - O inquérito é escrito pois ele não tem um fim em si mesmo, ou seja, ele se presta a viabilizar o oferecimento da denúncia.