JULGAMENTO COLEGIADO DE CRIMES PRATICADOS POR ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS
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- Maria de Belem Alcântara Coimbra
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1 1 JULGAMENTO COLEGIADO DE CRIMES PRATICADOS POR ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS No ano de 2012, foi publicada a Lei nº , a qual trata sobre o processo e o julgamento colegiado em 1º grau de jurisdição de crimes praticados por organizações criminosas. A Lei possui o objetivo de conferir maior segurança aos juízes que atuam de forma direta com processos que envolvam membros de organizações criminosas, e foi criada, principalmente, após o assassinato da juíza Patrícia Acioli. O juízo colegiado poderá ser formado em qualquer tipo de processo ou procedimento relacionado à prática desses crimes seja antes, durante ou após a ação penal pelo próprio magistrado competente para julgar a causa, o qual deverá indicar motivos e as circunstâncias que acarretam risco à sua integridade física em decisão fundamentada, da qual será dado conhecimento ao órgão correicional. O art. 1º traz alguns exemplos de atos processuais nos quais poderão ser formados o colegiado, portanto, esse rol não é taxativo, consoante segue: I - decretação de prisão ou de medidas assecuratórias; II - concessão de liberdade provisória ou revogação de prisão; III - sentença; IV - progressão ou regressão de regime de cumprimento de pena; V - concessão de liberdade condicional; VI - transferência de preso para estabelecimento prisional de segurança máxima; e VII - inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado. O colegiado será formado pelo juiz do processo e por 2 outros juízes com competência criminal em 1º grau de jurisdição, escolhidos por sorteio eletrônico. Consta na Lei que a competência do colegiado limita-se ao ato para o qual foi convocado (art. 1º, 3º) Uma 1ª corrente entende que a formação do colegiado deva ser feita para cada ato processual específico. De acordo com esse entendimento, o juiz deve, a cada ato processual, fundamentar a necessidade de criação do colegiado.
2 2 Já uma 2ª corrente adota a tese de que a instauração do colegiado possa se dar para toda a instrução processual penal que apure a prática de crimes praticados por organizações criminosas, não havendo a necessidade, portanto, da sua formação para cada ato processual. Ou seja, uma vez formado o colegiado, este continua competente para a prática de qualquer ato relacionado ao processo para o qual foi criado. Em provas objetivas, o melhor é seguir o texto da Lei; em uma prova subjetiva, é importante discorrer acerca desses dois entendimentos. O 4º do art. 1º dispõe que as reuniões poderão ser sigilosas sempre que houver risco de que a publicidade resulte em prejuízo à eficácia da decisão judicial. O 5º disciplina que as decisões do colegiado deverão ser fundamentadas e firmadas por todos os seus integrantes, e que deverão ser publicadas sem qualquer referência a voto divergente de qualquer membro. Essa preocupação em não se publicar o voto divergente se deve ao próprio espírito da criação da Lei, qual seja, o de proteger o magistrado que esteja participando do processo envolvendo membros de organizações criminosas, tornando-se difusa a responsabilidade das decisões. O art. 9º menciona que se as autoridades judiciais ou membros do Ministério Público e de seus familiares estiverem em situação de risco, decorrente do exercício da função, o fato será comunicado à polícia judiciária, que avaliará a necessidade, o alcance e os parâmetros da proteção pessoal. A proteção pessoal será prestada de acordo com a avaliação realizada pela polícia judiciária e após a comunicação à autoridade judicial ou ao membro do Ministério Público, conforme o caso: I - pela própria polícia judiciária; II - pelos órgãos de segurança institucional; III - por outras forças policiais; IV - de forma conjunta pelos citados nos incisos I, II e III. Será prestada proteção pessoal imediata nos casos urgentes, sem prejuízo da adequação da medida. A prestação de proteção pessoal será comunicada ao Conselho Nacional de Justiça ou ao Conselho Nacional do Ministério Público, conforme o caso.
3 3 Verificado o descumprimento dos procedimentos de segurança definidos pela polícia judiciária, esta encaminhará relatório ao CNJ ou ao CNMP. Conceito de Organização Criminosa: A Lei nº /12, em seu art. 2º, traz um conceito de organização criminosa, qual seja: associação, de 3 (três) ou mais pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4 (quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional. No ano de 2013, foi publicada a Lei nº , definindo organização criminosa e dispondo sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado. Dessa forma, resta claro que o conceito disposto na Lei nº 12/694/12 (Lei do Julgamento Colegiado) foi tacitamente revogado pela Lei nº /13, a qual trouxe no 1º de seu art. 1º a seguinte definição de organização criminosa: Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional. Julgamento Colegiado X Juiz sem Rosto: O julgamento colegiado em nada se assemelha com a figura do juiz sem rosto, uma vez que por meio deste instituto o magistrado não tem o seu nome divulgado, não se sabe nada sobre a sua identidade, somente que é juiz; já no juízo colegiado, os três magistrados assinam as decisões, porém não são divulgadas eventuais divergências entre eles. Jurisprudência atinente à matéria: No ano de 2012, o Plenário do STF julgou a ADI nº 4.414, que questionava a criação, em Alagoas, de uma vara criminal na capital com competência exclusiva para processar e julgar delitos praticados pelo crime organizado.
4 4 O STF entendeu pela constitucionalidade da criação da 17ª Vara Criminal da Capital, que lhe atribuía competência exclusiva para processar e julgar infrações penais cometidas por organizações criminosas naquele Estado. De acordo com o Supremo, é válida Lei Estadual que verse sobre matéria relacionada à organização judiciária, desde que se respeite as competências previstas na CF/88. No que se refere à conceituação de organização criminosa, descrita pela Lei Estadual, o STF entendeu pela inconstitucionalidade do dispositivo legal, já que se trata de matéria exclusiva de Lei Federal, o que violaria o princípio da reserva legal. Já com relação ao dispositivo que dispunha que a Vara Especializada teria titularidade coletiva, cuja composição seria de 5 juízes de 1º grau, o STF decidiu pela sua constitucionalidade, tendo em vista que a composição de órgão jurisdicional se insere competência legislativa concorrente para versar sobre procedimentos em matéria processual. QUESTÕES DE CONCURSOS: 1) Em matéria de julgamento colegiado em primeiro grau de jurisdição de crimes praticados por organizações criminosas, assinale a afirmativa INCORRETA. (MPE-MT. Promotor de Justiça. 2014) a) O colegiado será formado pelo juiz do processo e por 2 (dois) outros juízes escolhidos por sorteio eletrônico dentre aqueles de competência criminal em exercício no primeiro grau de jurisdição. b) O juiz poderá decidir pela formação do colegiado para a prática de qualquer ato processual, exceto para a concessão de liberdade condicional. c) As reuniões poderão ser sigilosas sempre que houver risco de que a publicidade resulte em prejuízo à eficácia da decisão judicial. d) As decisões do colegiado, devidamente fundamentadas e firmadas, sem exceção, por todos os seus integrantes, serão publicadas sem qualquer referência a voto divergente de qualquer membro. e) Os tribunais, no âmbito de suas competências, expedirão normas regulamentando a composição do colegiado e os procedimentos a serem adotados para o seu funcionamento.
5 5 2) Em relação à lei que dispõe sobre o processo e o julgamento colegiado em primeiro grau de jurisdição de crimes praticados por organizações criminosas (Lei nº /2012), é correto afirmar que: (MPE-GO. Promotor de Justiça. 2013) a) a instauração do colegiado deverá ser comunicada ao órgão correicional; b) o colegiado será formado pelo juiz do processo e por dois outros juízes tabelares; c) o Tribunal de Justiça poderá instaurar o colegiado, indicando os motivos e as circunstâncias de risco à integridade física; d) as reuniões deverão ser sigilosas sempre que houver risco para a eficácia da medida processual a ser decretada; e) a competência do colegiado inicia-se no ato para o qual foi convocado, estendendo-se até a prolação da sentença. 3) Prevê a Lei n /2012 que, nos processos ou procedimentos que tenham por objeto crimes praticados por organizações criminosas, o juiz poderá decidir pela formação de colegiado para a prática de qualquer ato processual. Neste caso, o juiz poderá instaurar o colegiado, indicando os motivos e as circunstâncias que acarretam risco à sua integridade física em decisão fundamentada, da qual será dado conhecimento ao órgão correcional. O colegiado será formado pelo juiz do processo e por 3 (três) outros juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, escolhidos por sorteio eletrônico. (MP-SC. Promotor de Justiça. 2014) (V) ou (F) 4) Em relação à lei que dispõe sobre o processo e o julgamento colegiado em primeiro grau de jurisdição de crimes praticados por organizações criminosas (Lei nº /2012), é correto afirmar que: (TJ-PI. Analista Jurídico. 2015) a) a instauração do colegiado deverá ser comunicada ao órgão correicional; b) o colegiado será formado pelo juiz do processo e por dois outros juízes tabelares; c) o Tribunal de Justiça poderá instaurar o colegiado, indicando os motivos e as circunstâncias de risco à integridade física; d) as reuniões deverão ser sigilosas sempre que houver risco para a eficácia da medida processual a ser decretada; e) a competência do colegiado inicia-se no ato para o qual foi convocado, estendendo-se até a prolação da sentença.
6 6 5) Quanto aos processos ou procedimentos que tenham por objeto crimes praticados por organizações criminosas, o Juiz poderá decidir: (PC-ES. Delegado de Polícia. 2013) I. Pela formação de colegiado para a prática de qualquer ato processual, especialmente decretação de pr isão ou de medidas assecuratórias, concessão de liberdade provisória ou revogação de prisão. II. Pela formação de colegiado para a prática de qualquer ato processual, especialmente sentença, progressão ou regressão de regime de cumprimento de pena, concessão de liberdade condicional. III. Pela formação de colegiado para a prática de qualquer ato processual, especialmente transferência de preso para estabelecimento prisional de segurança máxima. IV. Pela formação de colegiado para a prática de qualquer ato processual, especialmente inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado. Indique a opção que contempla a(s) assertiva(s) correta(s). a) I, II, III e IV. b) II, III e IV, apenas. c) III e IV, apenas. d) I e IV, apenas. e) I, apenas. 6) Na forma da Lei n /12, em processos ou procedimentos que tenham por objeto crimes praticados por organizações criminosas, o juiz poderá decidir pela formação de colegiado para a prática de qualquer ato processual, especialmente, a inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado, a prolação da sentença, a progressão ou regressão de regime de cumprimento de pena, a concessão de liberdade condicional, a transferência de preso para estabelecimento prisional de segurança máxima, entre outros. (MP-SC. Promotor de Justiça. 2016) (V) ou (F) 7) Em relação à competência legislativa conferida, pela Constituição da República, aos Estados-membros, segundo a jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal, é correto afirmar que: (MP-GO. Promotor de Justiça. 2014) a) Viola a competência legislativa outorgada pela Constituição da República, a definição, por lei estadual, do conceito de crime organizado, para fins de criação de Varas especializadas em delitos praticados por organizações criminosas.
7 7 b) Não cabe à lei estadual conferir competência jurisdicional a varas especializadas para julgamento de delitos cometidos por organizações criminosas, porquanto o tema é de natureza predominantemente processual, de competência legislativa privativa da União. c) Em vista do princípio do duplo grau de jurisdição, do qual se infere a norma segundo a qual os órgãos jurisdicionais de instância singela devem ser monocráticos, e à falta de disciplina legal federal específica, não compete à lei estadual instituir, para julgamento de crimes praticados por organizações criminosas, órgão jurisdicional colegiado de competência não recursal. d) Viola o princípio da territorialidade e o pacto federativo a atribuição, à Vara especializada, por lei estadual, de competência territorial que abranja todo o território do Estado-membro. GABARITO 1. B 2. B 3. F 4. A 5. A 6. V 7. A
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