UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS CÂMPUS DE BOTUCATU
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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS CÂMPUS DE BOTUCATU EFEITO RESIDUAL DA APLICAÇÃO SUPERFICIAL DE CALCÁRIO E GESSO NAS CULTURAS DE SOJA, AVEIA-PRETA E SORGO GRANÍFERO CLAUDIO HIDEO MARTINS DA COSTA Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Agronômicas da UNESP - Câmpus de Botucatu, para obtenção do título de Mestre em Agronomia (Agricultura) BOTUCATU SP Julho de 2011
2 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS CÂMPUS DE BOTUCATU EFEITO RESIDUAL DA APLICAÇÃO SUPERFICIAL DE CALCÁRIO E GESSO NAS CULTURAS DE SOJA, AVEIA-PRETA E SORGO GRANÍFERO CLAUDIO HIDEO MARTINS DA COSTA Orientador: Prof. Dr. Carlos Alexandre Costa Crusciol Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Agronômicas da UNESP - Câmpus de Botucatu, para obtenção do título de Mestre em Agronomia (Agricultura) BOTUCATU SP Julho de 2011
3 FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO TÉCNICA DE AQUISIÇÃO E TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO SERVIÇO TÉCNICO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - UNESP FCA - LAGEADO BOTUCATU (SP) C837e Costa, Claudio Hideo Martins da, Efeito residual da aplicação superficial de calcário e gesso nas culturas de soja, aveia-preta e sorgo granífero / Claudio Hideo Martins da Costa. Botucatu : [s.n.], 2011 viii, 80 f. : gráfs., tabs. Dissertação (Mestrado) Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agronômicas, Botucatu, 2011 Orientador: Carlos Alexandre Costa Crusciol Inclui bibliografia 1. Cereais - Cultivo. 2. Cultivos extensivos. 3. Plantas - Nutrição. 4. Plantio direto. 5. Produtividade agrícola. 6. Solos - Acidez. I. Crusciol, Carlos Alexandre Costa. II. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Campus de Botucatu). Faculdade de Ciências Agronômicas. III. Título.
4 II
5 III Aos meus amados pais, Afonso e Mizue Aos meus irmãos, Ivan, Ivo e Jeniffer DEDICO À toda minha família, e a todos meu amigos. OFEREÇO
6 IV AGRADECIMENTOS A Deus. Ao Prof. Dr. Carlos Alexandre Costa Crusciol, pela orientação, amizade e exemplo. À Faculdade de Ciências Agronômicas, pela oportunidade e suporte para a realização do mestrado. À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pela concessão da bolsa de estudos. Aos membros da banca examinadora, Prof. Dr. Eduardo Fávero Caires e Prof. Dr. José Salvador Simoneti Foloni, pela disponibilidade e valiosa contribuição. À coordenação do curso de Pós-Graduação em Agronomia (Agricultura), pela dedicação e qualidade de ensino. Aos professores e funcionários do Departamento de Produção Vegetal Setor Agricultura. Aos funcionários da biblioteca e da seção de Pós Graduação, pela atenção e serviços prestados. Aos meus amigos de Pós Graduação, pelo companheirismo de sempre. Aos estagiários Aline C. Frasca, Amanda Silva, Daniele D. Becero, Dênis E. Bôa, Juliana Moretto, Lucas A. Rozas, Luiz E. Ricardo, Manoela Carvalho, Mariana Damha, Rafael Soares, Tamires Ferreira, Yuri Kacuta e Fabio H.R. Barão, pela essencial ajuda na condução deste trabalho e pela amizade que se iniciou. Aos meus amigos Gustavo S. A. Castro e Jayme Ferrari Neto pela ajuda na realização deste trabalho. À Família Rep Tents, pela amizade. Aos meus pais e irmãos, pelo amor incondicional e apoio em todos os momentos. À minha namorada Fernanda, pelo amor, alegria e companheirismo. A todos aqueles que, de alguma maneira, contribuíram para a realização desta pesquisa.
7 V SUMÁRIO LISTA DE TABELAS... VI LISTA DE FIGURAS... VII 1 RESUMO SUMMARY INTRODUÇÃO REVISÃO DE LITERATURA Sistema plantio direto Calagem no sistema plantio direto Fatores que afetam a correção da acidez do solo em aplicações superficiais Gessagem no sistema plantio direto Culturas: soja, aveia-preta e sorgo MATERIAL E MÉTODOS Localização e caracterização climática da área experimental Histórico da área experimental e caracterização do solo Delineamento experimental e tratamentos Características do calcário dolomítico e do gesso agrícola Condução do experimento Cultivo da soja (2008/09 e 2009/10) Cultivo da aveia preta (2009) Cultivo do sorgo granífero (2010) Amostragens e avaliações realizadas Características químicas do solo Produção de matéria seca e diagnose foliar das culturas Componentes da produção e produtividade de grãos Análise estatística RESULTADOS E DISCUSSÃO Características químicas do solo Características da cultura da soja Diagnose foliar Produção de matéria seca, população de plantas, componentes da produção e produtividade de grãos Características da aveia preta Produção de matéria seca e acúmulo de nutrientes Características do sorgo granífero Diagnose foliar Panículas por m 2, componentes da produção e produtividade de grãos CONCLUSÕES REFERÊNCIAS... 66
8 VI LISTA DE TABELAS Tabela 1. Atributos químicos do solo da área antes da instalação do experimento Tabela 2. Características granulométricas do solo da área antes da instalação do experimento Tabela 3. Características químicas e físicas do calcário e gesso utilizado Tabela 4. Esquema de aplicação de defensivos agrícolas, utilizados na cultura da soja, safra 2008/09 e 2009/ Tabela 5. Esquema de aplicação de defensivos agrícolas, utilizados na cultura do sorgo granífero, safrinha Tabela 6. Esquema de análise da variância para as características químicas do solo, corretivos remanescente e características das culturas da soja, aveia-preta e sorgo granífero Tabela 7. Resumo da análise da variância para os atributos químicos do solo nas camadas 0-0,05, 0,05-0,10, 0,10-0,20, 0,20-0,40, 0,40-0,60 m de profundidade, aos 48 e 60 meses após a aplicação de calcário e gesso em superfície
9 VII LISTA DE FIGURAS Figura 1. Precipitação pluvial ( ), temperaturas máxima ( ) e mínima ( ), registradas durante a condução do experimento, nos anos agrícolas de 2008/2009 e 2009/ Figura 2. Valores de ph (CaCl 2 ) do solo, em função da aplicação de doses de calcário, sem e com gesso (2.100 kg ha -1 ) em superfície, em duas épocas de amostragem após a aplicação. ( ) 0; ( ) 1.000; ( ) e ( ) kg ha -1 de calcário Figura 3. Teores de H + Al (mmol c dm -3 ) no solo, em função da aplicação de doses de calcário, sem e com gesso (2.100 kg ha -1 ) em superfície, em duas épocas de amostragem após a aplicação. ( ) 0; ( ) 1.000; ( ) e ( ) kg ha -1 de calcário Figura 4. Teores de Al trocável (mmol c dm -3 ) no solo, em função da aplicação de doses de calcário, sem e com gesso (2.100 kg ha -1 ) em superfície, em duas épocas de amostragem após a aplicação. ( ) 0; ( ) 1.000; ( ) e ( ) kg ha -1 de calcário Figura 5. Teores de S-SO 4-2 (mg dm -3 ) no solo, em função da aplicação de doses de calcário, sem e com gesso (2.100 kg ha -1 ) em superfície, em duas épocas de amostragem após a aplicação. ( ) 0; ( ) 1.000; ( ) e ( ) kg ha -1 de calcário Figura 6. Teores de P resina (mg dm -3 ) no solo, em função da aplicação de doses de calcário, sem e com gesso (2.100 kg ha -1 ) em superfície, em duas épocas de amostragem após a aplicação. ( ) 0; ( ) 1.000; ( ) e ( ) kg ha -1 de calcário Figura 7. Teores de K trocável (mmol c dm -3 ) no solo, em função da aplicação de doses de calcário, sem e com gesso (2.100 kg ha -1 ) em superfície, em duas épocas de amostragem após a aplicação. ( ) 0; ( ) 1.000; ( ) e ( ) kg ha -1 de calcário Figura 8. Teores de Ca trocável (mmol c dm -3 ) no solo, em função da aplicação de doses de calcário, sem e com gesso (2.100 kg ha -1 ) em superfície, em duas épocas de amostragem após a aplicação. ( ) 0; ( ) 1.000; ( ) e ( ) kg ha -1 de calcário Figura 9. Teores de Mg trocável (mmol c dm -3 ) no solo, em função da aplicação de doses de calcário, sem e com gesso (2.100 kg ha -1 ) em superfície, em duas épocas de amostragem após a aplicação. ( ) 0; ( ) 1.000; ( ) e ( ) kg ha -1 de calcário Figura 10. Valores de saturação por bases (%) no solo, em função da aplicação de doses de calcário, sem e com gesso (2.100 kg ha -1 ) em superfície, em duas épocas de amostragem após a aplicação. ( ) 0; ( ) 1.000; ( ) e ( ) kg ha -1 de calcário Figura 11. Teores de matéria orgânica (g dm -3 ) no solo, em função da aplicação de doses de calcário, sem e com gesso (2.100 kg ha -1 ) em superfície, em duas épocas de amostragem após a aplicação. ( ) 0; ( ) 1.000; ( ) e ( ) kg ha -1 de calcário
10 VIII Figura 12. Teores de N, P e K nas folhas de soja em função da aplicação de calcário e gesso em superfície, em duas safras agrícolas. * e são significativos a 5% e 1% de probabilidade pelo teste t, respectivamente. ( ) sem gesso e ( ) com gesso. Barras verticais indicam o DMS (P=0,10). CV 1 = Coeficiente de variação das parcelas; CV 2 = Coeficiente de variação das subparcelas Figura 13. Teores de Ca, Mg e S nas folhas de soja em função da aplicação de calcário e gesso em superfície, em duas safras agrícolas. é significativo a 1% de probabilidade pelo teste t, respectivamente. ( ) sem gesso e ( ) com gesso. Barras verticais indicam o DMS (P=0,10). CV 1 = Coeficiente de variação das parcelas; CV 2 = Coeficiente de variação das subparcelas Figura 14. Produção de matéria seca, população de plantas e número de vagens por planta da soja em função da aplicação de calcário e gesso em superfície. * e são significativos a 5% e 1% de probabilidade pelo teste t, respectivamente. ( ) sem gesso e ( ) com gesso. Barras verticais indicam o DMS (P=0,10). CV 1 = Coeficiente de variação das parcelas; CV 2 = Coeficiente de variação das subparcelas Figura 15. Número de grãos por vagem, massa de 100 grãos e produtividade de grãos da soja em função da aplicação de calcário e gesso em superfície. * e são significativos a 5% e 1% de probabilidade pelo teste t, respectivamente. ( ) sem gesso e ( ) com gesso. Barras verticais indicam o DMS (P=0,10). CV 1 = Coeficiente de variação das parcelas; CV 2 = Coeficiente de variação das subparcelas Figura 16. Produção de matéria seca e quantidade acumulada de N, P, K, Ca, Mg e S de aveia-preta em função da aplicação de calcário e gesso em superfície. * e são significativos a 5% e 1% de probabilidade pelo teste t, respectivamente. ( ) sem gesso e ( ) com gesso Botucatu, SP, Barras verticais indicam o DMS (P=0,10). CV 1 = Coeficiente de variação das parcelas; CV 2 = Coeficiente de variação das subparcelas Figura 17. Teores de N, P, K, Ca, Mg e S do sorgo granífero em função da aplicação de calcário e gesso em superfície. * e são significativos a 5% e 1% de probabilidade pelo teste t, respectivamente. ( ) sem gesso e ( ) com gesso. Botucatu, SP, Barras verticais indicam o DMS (P=0,10). CV 1 = Coeficiente de variação das parcelas; CV 2 = Coeficiente de variação das subparcelas Figura 18. Produção de matéria seca, número de panículas por metro quadrado, número de grãos por panícula, massa de mil grãos e produtividade de grãos de sorgo granífero em função da aplicação de calcário e gesso em superfície. é significativo a 1% de probabilidade pelo teste t. ( ) sem gesso e ( ) com gesso. Botucatu, SP, Barras verticais indicam o DMS (P=0,10). CV 1 = Coeficiente de variação das parcelas; CV 2 = Coeficiente de variação das subparcelas... 62
11 1 1 RESUMO No sistema plantio direto praticamente não há revolvimento do solo e o consequente acúmulo de fertilizantes na superfície acelera o processo de acidificação, contínuo e acentuado que ocorre naturalmente em solos de regiões úmidas, onde, geralmente, é observada baixa disponibilidade de nutrientes e elevados teores de alumínio. Assim, da mesma forma que no sistema de cultivo convencional, no sistema plantio direto também existe a necessidade de aplicação de insumos em superfície, especialmente, materiais corretivos de acidez. Dentro deste enfoque, o trabalho foi desenvolvido na Fazenda Experimental Lageado, pertencente à Faculdade de Ciências Agronômicas UNESP, Campus de Botucatu (SP), dando continuidade a um projeto de pesquisa que vem sendo conduzido desde 2002, com o objetivo de avaliar o efeito residual da aplicação superficial de corretivos na correção da acidez do solo, bem como na nutrição, na produtividade das culturas da soja e do sorgo e na produção de matéria seca e acúmulo de nutrientes da aveia-preta em região de inverno seco. O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados em parcelas subdivididas, com 4 repetições. As parcelas foram constituídas por quatro doses de calcário (0, 1000, 2000 e 4000 kg ha -1 ) e as subparcelas por duas doses de gesso agrícola (0 e 2100 kg ha -1 ), aplicado em novembro Como cultura de verão foi utilizada a cultura da soja e na entressafra as culturas da aveia-preta e sorgo granífero. A aplicação de calcário em superfície promoveu diminuição da acidez e elevação nos teores de fósforo, cálcio, magnésio e matéria orgânica, em praticamente todo perfil do solo. A aplicação de gesso agrícola promoveu aumentos nos
12 2 teores de Ca trocável e S-SO 2-4, e diminuição no teor de Al trocável no solo, contribuindo com os efeitos da calagem superficial nas características químicas do solo, principalmente na camada superficial (0-0,20 m). A saturação por bases na camada de 0-0,20 m de profundidade encontravam-se abaixo do valor estimado pelo método da elevação da saturação por bases, mesmo com a aplicação de gesso agrícola. A calagem em superfície incrementou, na cultura da soja, os teores foliares de N, P, Ca, Mg e S, na safra 2008/09, e os teores de N, Ca e Mg, na safra 2009/10. Na presença do gesso houve aumento, na safra 2008/09, nos teores de N e Ca. A calagem em superfície aumentou os teores foliares de N e Ca do sorgo granífero em safrinha sob deficiência hídrica, com efeito mais pronunciado na presença do gesso. A calagem em superfície incrementou o acúmulo de P, Ca e Mg da aveia-preta. A calagem em superfície aumentou a produtividade de grãos de soja nas duas safras e do sorgo granífero. Na presença de gesso o efeito foi mais pronunciado para a cultura da soja na safra 2008/09 e do sorgo granífero. A calagem em superfície incrementou a produção de matéria seca da aveia-preta. Palavras-chave: sistema plantio direto, culturas anuais, produtividade de grãos, nutrição de plantas, acidez do solo, correção do solo.
13 3 LONG TERM EFFECTS OF LIME AND PHOSPHOGYPSUM SURFACE APPLICATION IN SOYBEAN, OATS AND GRAIN SORGHUM. Botucatu, 2011, p. Dissertação (Mestrado em Agronomia/Agricultura) Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista. Author: Claudio Hideo Martins da Costa Adviser: Carlos Alexandre Costa Crusciol 2 SUMMARY In no tillage system the absence of soil mobilization consequently decreases places fertilizers on surface, affecting the acidification process. Like in conventional system, in no tillage it is also necessary input application, especially materials for acidity correction. The experiment was carried out in an experimental area, in the city of Botucatu (SP, Brazil), continuing a research project that has been conducted since 2002, to evaluate the long-term effects of surface application of lime and gypsum on acidity correction, nutrition, yield of soybean and sorghum, and dry matter production and nutrients accumulation on black oat in a dry winter region. The experimental design was the completely randomized with subdivided plots and four replications. The mains plots consisted of four dolomite limestone levels (0, 1000, 2000 e 4000 kg ha -1 ) and the subplots consisted areas with and without gypsum (0 and 2100 kg ha -1 ), applied in November Soybean was the summer crops and the off-season crops are black oat and grain sorghum Lime surface application reduced soil acidity and increased phosphorus, calcium, magnesium and organic matter, practically all the soil profile. 2- Phosphogypsum application promoted increasing exchangeable Ca and S-SO 4 contents, and decreased exchangeable Al in the soil, favoring the effects of surface liming on soil properties, mainly the surface layer ( m). Base saturation values obtained at a depth of m with liming were lower than those estimated by BS method, even with phosphogypsum application. Liming increased, on soybeans, foliar contents of N, P, Ca, Mg and S in 2008/09, and N, Ca and Mg, in 2009/10. In the presence of phosphogypsum increased the levels of N
14 4 and Ca in 2008/09. Liming increased foliar concentrations of N and Ca of sorghum in late season under water deficit, with more pronounced effect in the presence of gypsum. The liming increased the accumulation of P, Ca and Mg of black oats. The surface liming increased grain yield of soybean in both seasons and grain sorghum. In the presence of gypsum the effect was more pronounced for soybean crop in 2008/09 season and grain sorghum. Liming increased dry matter production of black oat. Keywords: no tillage, annual crop, crop yield, plant nutrition, soil acidity, soil correction.
15 5 3 INTRODUÇÃO O sistema plantio direto (SPD) vem trazendo benefícios em vários setores da atividade agrícola nacional, principalmente na conservação dos recursos ambientais, como água e solo, sendo considerado o grande responsável pela continuidade da exploração agrícola dos solos brasileiros que, em geral, são altamente intemperizados e de baixa fertilidade. Para a exploração agrícola sustentável em SPD é preconizado o mínimo revolvimento do solo, basicamente nos sulcos de semeadura, e a rotação de culturas, devendo incluir plantas para proporcionar a manutenção permanente de quantidade mínima de palhada na superfície do solo. O reduzido revolvimento do solo no SPD e o conseqüente acúmulo de resíduos vegetais e fertilizantes na superfície aceleram o processo de acidificação, contínuo e acentuado que ocorre naturalmente em solos de regiões tropicais, onde, geralmente, é observada deficiência generalizada de bases trocáveis, níveis tóxicos de alumínio e, às vezes, de manganês. Assim, da mesma forma que no sistema de preparo convencional, nos sistemas em que não é utilizado preparo do solo, existe também a necessidade de aplicação de insumos, especialmente, materiais corretivos de acidez. A calagem é uma prática essencial para a garantia do sucesso da produtividade das culturas, tendo como benefício a neutralização da acidez do solo, o fornecimento de cálcio e magnésio e a redução da toxidez de alumínio. A maior eficiência da calagem é obtida com a aplicação antecipada, distribuição uniforme e maior profundidade de
16 6 incorporação. Contudo, a técnica tradicional de correção de acidez, mediante incorporação de calcário ao solo, com aração e gradagem, se contrapõe aos fundamentos do plantio direto, podendo interferir negativamente nos benefícios proporcionados pela supressão de mobilizações do solo. Dessa forma, no SPD, a calagem tem sido realizada mediante a aplicação do calcário na superfície do solo, sem incorporação. Porém, esse método de calagem, ainda é bastante questionado, pois se sabe que o calcário é um produto que possui baixa solubilidade em água. Outro problema relacionado à aplicação de calcário em superfície, em SPD, é a correção da acidez do subsolo, que limita, em muitos casos, o crescimento radicular e a absorção de água e nutrientes pelas culturas. Isso porque a calagem não corrige a acidez e a deficiência de cálcio em subsuperfície em tempo razoável, para evitar que o agricultor corra grande risco com a ocorrência de veranicos na safra imediatamente após a aplicação do produto. Entretanto, há relatos na literatura de que há movimentação do cálcio e magnésio no perfil do solo através de ânions resultantes da reação de corretivos ou da decomposição dos resíduos orgânicos ou da existência de outros ânions presentes na solução do solo. Dessa forma, os ácidos orgânicos e os íons nitrato, cloretos, sulfatos, carbonatos e bicarbonatos, que mediante a ligação com o cálcio e magnésio, fazem com que estes sejam levados para as camadas subsuperficiais. Mas a intensidade com que esse fenômeno ocorre, assim como suas condicionantes, ainda não é bem conhecida. Considerando que a calagem em superfície pode ter ação limitada às camadas superficiais, principalmente nos primeiros anos de cultivo, a aplicação de gesso agrícola em superfície é apontada como uma alternativa para a melhoria do ambiente radicular, compensando o reduzido efeito do calcário no subsolo, nos primeiros anos de cultivo, sem necessidade de incorporação prévia do calcário. O interesse pelo uso de gesso agrícola para melhorar as condições químicas do subsolo é decorrente da sua maior solubilidade. O gesso agrícola aplicado na superfície do solo movimenta-se ao longo do perfil sob a influência da percolação de água. Como consequência, obtém-se aumento no suprimento de cálcio e redução da toxidez de alumínio no subsolo. Na região Sul do Brasil, há diversos relatos da ausência de resposta das culturas à aplicação de corretivos da acidez em SPD. A explicação para tais constatações tem sido atribuída ao maior acúmulo de matéria orgânica e nutrientes na superfície que
17 7 reduzem a atividade do Al e, consequentemente, sua toxicidade, pela formação de complexo Al-orgânicos e pela maior força iônica da solução do solo. O maior acúmulo de matéria orgânica, constatada nessa região, é devido, principalmente, às precipitações pluviais bem distribuídas ao longo do ano, que proporcionam o elevado aporte de palhada o ano todo. Hipoteticamente, é provável que na grande maioria do território do Estado de São Paulo e na maior parte do Brasil Central, haverá incrementos na produtividade de grãos e de fibra com a calagem e gessagem no SPD, mesmo em superfície, diferentemente do que tem sido constatado na região Sul. Isso porque, nessas regiões a grande maioria das áreas cultivadas possui baixos teores de matéria orgânica e baixas quantidades de palhada na superfície, acarretando, respectivamente, em menor armazenamento e maior evaporação da água do solo. Assim, a provável correção da acidez, a redução dos teores de alumínio e a elevação da saturação por bases, notadamente de cálcio, no perfil do solo, em tempo relativamente curto em razão dos mecanismos que tem promovido à movimentação dos compostos resultantes da dissociação do calcário e do gesso, proporcionarão maior desenvolvimento do sistema radicular em profundidade. Isso aumentará a tolerância das plantas à deficiência hídrica causada pela ocorrência de veranicos, principalmente, no cultivo de safrinha. O conhecimento da dinâmica da correção da acidez a partir da superfície do solo no SPD, bem como dos benefícios da aplicação conjunta de calcário e gesso, em experimentos de longa duração, são ainda pouco investigados, principalmente nas condições do Estado de São Paulo. Contudo, são extremamente necessários e importantes para o estabelecimento de ajustes nas recomendações de calagem e gessagem para culturas graníferas anuais em SPD. Em função do exposto, o objetivo do presente trabalho foi avaliar a influência da calagem e da gessagem em superfície, aos 48 e 60 meses da aplicação dos corretivos, nas características químicas do solo, bem como na nutrição, na produtividade de grãos das culturas de soja e sorgo e produção de matéria seca da aveia preta.
18 8 4 REVISÃO DE LITERATURA 4.1 Sistema plantio direto A introdução do SPD, a partir da década de 70 (LOPES et al., 2004) no sul do Brasil, foi um dos maiores avanços no processo produtivo da agricultura brasileira. Desde então, a área cultivada sob esse sistema tem aumentado de forma expressiva, tanto que, para a cultura da soja aproximadamente 97% das propriedades rurais utilizam o SPD (BASTOS et al., 2007). O progresso da área cultivada sob SPD traz reflexo positivo em vários setores da atividade agrícola nacional, principalmente na conservação dos recursos ambientais, como água e solo, sendo considerado o grande responsável pela continuidade da exploração agrícola dos solos brasileiros que, em geral, são altamente intemperizados. Para a exploração agrícola sustentável em SPD é preconizado o não revolvimento do solo, exceto nos sulcos de semeadura (AMARAL et al., 2004a). Somado a isso, é necessária a manutenção dos restos culturais sobre a superfície durante o ano, o que promove maior proteção contra o impacto direto das gotas da chuva, favorece a infiltração, reduz as perdas de água, por escoamento superficial, as perdas de solo e de nutrientes por erosão (WUTKE et al., 1993; HERNANI et al., 1999), bem como diminui a amplitude de variação das temperaturas do solo ao longo do dia e da noite.
19 9 Um dos maiores problemas dos solos tropicais brasileiros é a acidez, tanto em superfície quanto em subsuperfície, e as recomendações de correção da acidez e o manejo da fertilidade no SPD têm sido realizados a partir dos conhecimentos obtidos no sistema convencional de preparo do solo (SPC). No entanto, segundo Caires et al. (1999), os conhecimentos relacionados à fertilidade do solo no SPD nem sempre são os mesmos aplicados no SPC, uma vez que neste há a incorporação dos corretivos de solo, adubos e resíduos vegetais. Porém, as informações sobre o manejo das culturas e a fertilidade do solo ainda não estão bem definidas para o SPD. Portanto, há a necessidade de estudos que satisfaçam todos os questionamentos relacionados à correção da acidez do perfil do solo, partindo de uma aplicação superficial. Além disso, existe grande interesse na busca de alternativas para a implantação e manutenção do SPD, sem incorporação prévia do corretivo, não havendo necessidade de promover o revolvimento inicial do solo por meio de preparo convencional, realizando-se a calagem superficial desde o estabelecimento do sistema (CAIRES et al., 2000, PETRERE; ANGHINONI, 2001; SORATTO; CRUSCIOL, 2008a; 2008b; 2008c; 2008d; 2008e). Isso ganha maior importância quando da implantação da integração lavoura-pecuária em SPD, notadamente em pastagens não degradadas fisicamente, ou seja, sem impedimentos físicos, como trieiros e camadas compactadas, para a adequada implantação das culturas. 4.2 Calagem no sistema plantio direto A calagem é uma das práticas mais comumente utilizadas para correção da acidez do solo e, quando realizada de modo adequado, eleva o ph e a saturação por bases, além de fornecer Ca e Mg. A elevação do ph tem influência direta na redução da toxidez por Al, podendo alterar a disponibilidade de nutrientes para as plantas (AZEVEDO et al., 1996; MIRANDA; MIRANDA, 2000). Segundo Hunter et al. (1995), a baixa fertilidade de um solo ácido pode ser corrigida tanto pela calagem quanto pela adição de adubo verde, especialmente em solos com cargas dependentes do ph. Para Fageria e Zimmermann (1998), o ph (H 2 O) ( ideal para as culturas de soja, feijão, milho e trigo está em torno de 6,0, ficando clara a necessidade de correção dos solos das regiões que se caracterizam pela acidez elevada. Porém, como os
20 10 materiais corretivos utilizados são pouco solúveis e os produtos da reação do calcário têm mobilidade limitada, a ação da calagem normalmente fica restrita às camadas superficiais do solo, conforme observado por Ritchey et al. (1982) e Caires et al. (1998). Por outro lado, alguns pesquisadores têm demonstrado que os benefícios acima citados podem ocorrer na subsuperfície do solo, mesmo com aplicação superficial de calcário (OLIVEIRA; PAVAN, 1996; CAIRES et al., 1996, 1998, 1999; RHEINHEIMER et al., 2000; CORRÊA et al., 2007, SORATTO; CRUSCIOL, 2008a). A mínima movimentação do solo no SPD promove modificações químicas no solo em função do acúmulo de resíduos vegetais, corretivos e fertilizantes na sua superfície e, segundo Sidiras e Pavan (1985) e Rheinheimer et al. (1998), estas modificações ocorrem de forma gradual e progressiva, a partir da superfície do solo, e afetam tanto a disponibilidade de nutrientes quanto o processo de acidificação do solo. Caires et al. (1998) e Pöttker e Ben (1998) enfatizam que o calcário em superfície corrige a acidez, aumentando o ph e elevando os teores de Ca e Mg trocáveis do solo até à profundidade de 0,05m e, em menor grau, na camada de 0,05 0,10 m. Do mesmo modo, Corrêa et al. (2007) estudando o efeito de diferentes corretivos da acidez do solo, verificou que, aos três e quinze meses após a aplicação superficial, o calcário elevou o ph apenas nos primeiros 0,05 m e 0,10 m, respectivamente. Mello et al. (2003) destacam que em apenas 12 meses, os atributos químicos do solo (ph, H+Al, Ca e Mg) podem ser alterados positivamente na camada de 0,00 0,10 m. Por outro lado, Oliveira e Pavan (1996) constataram a diminuição do alumínio trocável e o aumento do ph do solo em maiores profundidades, observando efeito até 0,40 m de profundidade, 32 meses após aplicação de calcário na superfície em um Latossolo Vermelho, na região de Ponta Grossa (PR), em SPD já estabelecido. Caires et al. (1999; 2006a) constataram que a aplicação superficial de calcário, em sistema plantio direto, apresentou eficiência na correção da acidez das camadas superficiais e subsuperficiais do solo. Soratto e Crusciol (2008a), avaliando doses de calcário em um Latossolo Vermelho Distroférrico na região de Botucatu (SP), observaram elevação do ph do solo até a camada de 0,20-0,40 m aos 12 meses após aplicação do calcário, e elevação dos teores de Ca e Mg nas camadas de até 0,20-0,40 m aos 12 e 18 meses após a aplicação inicial do corretivo. Caires et
21 11 al. (2011) avaliaram o efeito da calagem em superfície, após 8 anos da aplicação, e observaram redução da acidez até 0,60 m de profundidade. A dissolução do calcário, em solos ácidos, promove a liberação de ânions (OH - e HCO - 3 ), os quais reagem com os cátions de reações ácidas da solução do solo (H +, Al 3+, Fe 2+, Mn 2+ ), havendo posteriormente a formação e a migração de Ca(HCO 3 ) 2 e Mg(HCO 3 ) 2 para camadas mais profundas do solo (OLIVEIRA; PAVAN, 1996; RHEINHEIMER et. al., 2000). Costa (2000), em estudos com calagem em SPD, verificou aumento nos teores de Mg na solução do solo, em todo perfil do solo, indicando a movimentação para as camadas subsuperficiais do Mg oriundo da reação de hidrólise do calcário dolomítico aplicado em superfície. Os resultados confirmaram a hipótese, estabelecida por Oliveira e Pavan (1996), de formação de pares iônicos entre o bicarbonato e o cálcio e o magnésio, facilitando sua movimentação no perfil do solo. Quando o ph (em H 2 O) da solução do solo alcança valores superiores - à 5,5, a espécie HCO 3 passa a estar presente como forma estável na solução e sua concentração aumenta até atingir valores máximos na faixa de ph 8,0 e 8,5 (BOHN et. al., 1979). Nessas condições, o HCO - 3 pode migrar com o Ca 2+ e o Mg 2+, corrigindo a acidez do solo além do local de aplicação do calcário (OLIVEIRA; PAVAN, 1996; COSTA, 2000). No entanto, enquanto existirem cátions ácidos, a reação de neutralização da acidez ficará limitada à camada superfícial, retardando o efeito em subsuperfície (RHEINHEIMER et. al., 2000). Assim, para que a neutralização da acidez ocorra em subsuperfície, os produtos da dissolução do calcário devem primeiro corrigir a camada superficial do solo para depois serem lixiviados para camadas inferiores. O critério e as recomendações de calagem para o estabelecimento do SPD permanecem os mesmos indicados para o sistema convencional, e os grandes questionamentos surgem por ocasião da aplicação do calcário no SPD estabelecido, quando a acidez do solo estiver limitando as produtividades das culturas. O conhecimento da dinâmica da correção da acidez a partir da superfície do solo no SPD, ao longo do tempo, é necessário para que possam ser estabelecidos ajustes na recomendação da calagem (doses e frequência) (AMARAL; ANGHIONI, 2001; CAIRES et al., 2005).
22 12 superficiais Fatores que afetam a correção da acidez do solo em aplicações É possível que ocorra movimentação física do calcário aplicado na superfície para maiores profundidades, sendo atribuída a diversos fatores. O mais conhecido é o deslocamento físico de partículas do corretivo através de canais formados por raízes mortas, mantidos intactos em razão da ausência de preparo do solo (OLIVEIRA; PAVAN, 1996; PETRERE; ANGHINONI, 2001; AMARAL et al., 2004b). Há também, a formação de planos de fraqueza no solo que permitem o deslocamento físico de finas partículas de calcário através do movimento descendente da água (PETRERE; ANGHINONI, 2001; AMARAL et al., 2004b). Porém, esse mecanismo, sozinho, provavelmente não justifica os expressivos efeitos da calagem superficial em profundidade observados em diversos experimentos, principalmente quando a área encontra-se recém implantada no SPD. A lixiviação de partículas finas do calcário é pouco provável, visto que uma partícula muito fina (por exemplo, com diâmetro de 0,001 mm) é vezes maior que um íon Ca 2+ hidratado (ALCARDE, 1992). Dessa forma, a maior parte do efeito da calagem em profundidade é devido à movimentação de íons (TEDESCO; GIANELLO, 2000). Assim, a água que percola no solo, normalmente encontrase enriquecida com os produtos da dissolução do calcário, responsáveis pela neutralização da acidez e aumento dos cátions de reação básica, permitindo maior atuação em profundidade (RHEINHEIMER et al., 2000). Também, pode ocorrer arrasto de calcário pela água de infiltração nas galerias de organismos do solo e macrocanais biológicos (RHEINHEIMER et al., 2000), formados pela mesofauna do solo (ácaros e colêmbolas) e macrofauna (minhocas, besouros, cupins, formigas, centopéias, aranhas, lesmas e caracóis). A incorporação biológica do calcário pela ação dos microrganismos é efetiva, pois são responsáveis por mais de 95% da decomposição ocorrida no solo, sendo que os outros 5% da fauna participam com o rearranjo dos detritos e sua desintegração, havendo com isto a incorporação dos resíduos vegetais da superfície juntamente com o calcário aplicado (HOLTZ; SÁ, 1995). A pequena mobilização do solo que ocorre somente na linha de semeadura no SPD, também contribui com a movimentação física do calcário em função da
23 13 incorporação ocorrida nesta região, e, com os repetidos ciclos de semeadura, auxilia no caminhamento em profundidade das partículas do corretivo (RHEINHEIMER et al., 2000). Para Caires et al. (1999), a ausência de efeito da calagem superficial sobre o ph nas camadas intermediárias de solo, voltando a atuar em profundidade, é um forte indício de que não deve ocorrer acentuado deslocamento físico do calcário, devendo a elevação do ph em camadas mais profundas do solo ser atribuída a outros mecanismos. A dissolução do calcário, em solos ácidos, promove a liberação de ânions (OH - e HCO - 3 ), os quais reagem com os cátions de reações ácidas da solução do solo (H +, Al 3+, Fe 2+, Mn 2+ ), havendo posteriormente a formação e a migração de Ca(HCO 3 ) 2 e Mg(HCO 3 ) 2 para camadas mais profundas do solo (OLIVEIRA; PAVAN, 1996; RHEINHEIMER et al., 2000). Costa (2000), em estudo com calagem superficial no SPD, verificou aumento nos teores de Mg na solução do solo, em todo o perfil do solo, indicando movimentação para as camadas subsuperficais do Mg oriundo da reação de hidrólise do calcário dolomítico aplicado em superfície. Os resultados confirmaram a hipótese estabelecida por Oliveira e Pavan (1996), de formação de pares iônicos entre o bicarbonato, cálcio e magnésio facilitando o seu movimento no perfil do solo. No entanto, enquanto existirem cátions ácidos a reação de neutralização da acidez ficará limitada à camada superficial, retardando o efeito em subsuperfície (RHEINHEIMER et al., 2000). Assim, para que a neutralização da acidez ocorra em subsuperfície, os produtos da dissolução do calcário devem ser arrastados para camadas inferiores (LIMA, 2004). É provável que os ânions, como nitratos, sulfatos e cloretos, originados da decomposição dos resíduos vegetais ou da adição de fertilizantes, contribuam para o caminhamento do Ca e Mg e, em menor grau, de outros cátions (CAIRES et al., 1998; SILVA; VALE, 2000). Existem muitos exemplos na literatura demonstrando a correção da acidez do subsolo pela adição de calcário e fertilizantes nitrogenados (PEARSON et al., 1962; ADAMS et al., 1967; CRUSCIOL et al., 2003). A redução da acidez, nesse caso, pode ser motivada pela absorção de nitratos, devida à chamada absorção alcalina (RAIJ et al., 1988). No SPD grande quantidade de NO - 3 é observada no solo, seja devido ao acúmulo de matéria orgânica, que ocorre em função das sucessões e rotações de culturas, ou pelas elevadas doses de adubos nitrogenados, que são utilizadas para obtenção de altas produtividades (CAIRES et al., 1998). Silva e Vale (2000) constataram que a movimentação de Ca em profundidade no
24 14 perfil do solo foi mais dependente da fertilização nitrogenada do que dos resíduos vegetais. Crusciol et al. (2003) constataram que a aplicação de N-inorgânico, na cultura do arroz de terras altas, promoveu lixiviação de bases e correção da acidez no perfil do solo em área que recebeu calagem superficial. A elevação do ph no subsolo decorrente da aplicação de N- inorgânico pode ser atribuída à exsudação de OH - ou HCO - 3 pela raízes da gramínea, para - manter o equilíbrio iônico nas células, devido à elevada absorção de NO 3 das camadas mais profundas do solo, o que resultou em elevação do ph na rizosfera (QUAGGIO, 2000). A eficiência da calagem superficial sobre a elevação do ph, movimentação de Ca e Mg trocáveis e redução da acidez potencial (H+Al), nas camadas subsuperficiais, tem sido associada ao manejo de resíduos orgânicos (MIYAZAWA et al., 1996; OLIVEIRA; PAVAN, 1996; FRANCHINI et al., 2001; MEDA et al., 2001; MEDA et al., 2002; MIYAZAWA et al., 2000; MIYAZAWA et al., 2002; ZIGLIO et al., 1999). Segundo Miyazawa et al. (2000), a permanência de resíduos vegetais na superfície e a ausência de revolvimento do solo reduzem a taxa de decomposição dos ligantes orgânicos por microrganismos, sendo que com a disponibilidade de água, os compostos orgânicos podem ser solubilizados e lixiviados. Tal fato, somado ao constante aporte de resíduos, possibilita a produção contínua desses compostos orgânicos, podendo resultar em sua perenização no solo (AMARAL et al., 2004a). De acordo com Miyazawa et al. (1996) e Franchini et al. (2001), o provável mecanismo de lixiviação de bases trocáveis em áreas de cultivo sem preparo do solo está relacionado à formação de complexos orgânicos hidrossolúveis presentes nos restos das plantas, sendo esses ácidos orgânicos responsáveis por promoverem as maiores alterações químicas até camada subsuperficial dos solos. No entanto, o efeito do resíduo vegetal na mobilidade dos produtos da dissolução do calcário no solo varia com a espécie de planta, com as variedades de uma mesma espécie (MEDA et al., 2002) e com o estádio em que a planta é manejada (FRANCHINI et al., 2003). A espécie de planta utilizada para produção de palha no SPD, por si só, pode interferir no processo de acidificação do solo. Algumas espécies têm a capacidade de aumentar o ph da rizosfera e, conseqüentemente, do solo. O exemplo mais marcante é a aveiapreta, que absorve mais ânions do que cátions, havendo assim, excesso de cargas negativas que deve ser compensado pelo metabolismo da planta para manter o equilíbrio elétrico no
25 15 citoplasma das células. As plantas conseguem esse equilíbrio mediante a exsudação de ânions como OH - ou HCO - pelas raízes o que resulta em elevação do ph da rizosfera (QUAGGIO, 2000). Algumas características intrínsecas aos solos, principalmente aquelas relacionadas com o tamponamento, também afetam a profundidade de atuação das reações de correção do solo provocadas pela calagem (ERNANI et al., 2001). O poder tampão de um solo está ligado à sua capacidade de resistir à aplicações de ácidos, ou bases, sem ocorrer grandes alterações em seu ph. Esta capacidade encontra-se associada aos constituintes do solo. Assim, solos argilosos ou com elevados teores de matéria orgânica, geralmente apresentam maior poder tampão, pois os pontos de troca dos colóides orgânicos e minerais, funcionam como receptores e fornecedores de H +, mantendo o ph do solo sem grandes alterações (LUCHESE, et al. 2001). Pöttker e Ben (1998) observaram que em um solo de textura média, houve maior efeito da calagem aplicada em superfície na correção da acidez em profundidade, quando comparado com um solo de textura argilosa. A qualidade do corretivo utilizado também pode ter influência na velocidade de correção do solo. Porém, são escassos os trabalhos relacionados com a utilização de diferentes tipos de corretivos em aplicações superficiais. Em linhas gerais Verlengia e Gargantini (1972) e Souza e Neptune (1979) afirmam que quanto menor a granulometria do calcário, mais rápida é a sua reação de neutralização. Calcário com granulometria mais fina apresenta maior reatividade que calcário com granulometria mais grosseira no SPD (MELLO, 2001, GONÇALVES, 2003). No entanto, a velocidade de reação do corretivo e o efeito residual são duas grandezas inversas, que se contrapõem. Os materiais finamente moídos reagem rapidamente no solo, mas seu efeito é mantido por um período mais curto do que materiais mais grosseiros (TISDALE;NELSON, 1985). O efeito residual de um corretivo é fator primordial no manejo dos solos ácidos, devendo ser considerado, principalmente, na avaliação da economicidade da calagem (RAIJ; QUAGGIO, 1984). 4.3 Gessagem no sistema plantio direto Outro problema comum, principalmente em regiões de bioma de Cerrado, é a deficiência de cálcio na subsuperfície do solo, associada ou não à toxidez de alumínio. As limitações causadas pela acidez no subsolo à produtividade agrícola, devido à
26 16 restrição ao crescimento radicular e à absorção de água e nutrientes pelas culturas, têm sido amplamente relatadas na literatura (PAVAN et al., 1982; RITCHEY et al., 1982; SUMNER et al., 1986; QUAGGIO, 2000). A melhoria das condições do solo abaixo das camadas superficiais pode ser um fator de aumento de produtividade das culturas, especialmente quando há ocorrência de veranicos, comuns nas regiões de Cerrado. O gesso agrícola é constituído principalmente por sulfato de cálcio (CaSO 4.2H 2 O), um subproduto da indústria do ácido fosfórico, que ocorre de forma similar também em jazidas (SUMNER, 1995; SOUSA et al., 1996), sendo largamente disponível em muitas regiões do mundo. No Brasil, o gesso originário da indústria do ácido fosfórico é o mais utilizado na agricultura, já que são produzidas cerca de 4,8 milhões de toneladas anualmente (LYRA SOBRINHO et al., 2002). O gesso agrícola tem sido utilizado em solos ácidos como um produto complementar ao calcário (BRAGA et al., 1995; SILVA et al., 1998). A alta mobilidade do gesso tem sido atribuída a sua maior solubilidade e à presença de um ânion estável (SO 2-4 ). Este ânion forma um par iônico neutro com o íon Ca 2+, e com isto leva o cálcio até a 2- subsuperfície do solo. O íon SO 4 pode ainda formar Al(SO 4 ) +, que é menos disponível (PAVAN et al., 1982; 1984). A liberação de OH - pelo SO 2-4, mediante troca de ligantes, com a formação de estruturas hidroxiladas de alumínio, mecanismo chamado por REEVE & SUMNER (1972) de autocalagem e a precipitação de alumínio, com formação de minerais (ADAMS & RAWAYFIH, 1977), também tem sido indicadas. Isto demonstra que o gesso pode reduzir a atividade do alumínio em solução, e também aumentar os teores de Ca e os valores de ph na subsuperfície do solo, em conseqüência do seu uso (SUMNER et al., 1986; FARINA; CHANNON, 1988). A eficiência do gesso na redução dos efeitos da acidez no subsolo tem sido demonstrada por vários autores (RAIJ et al., 1998; CAIRES et al., 2003; 2004; SORATTO; CRUSCIOL, 2008a; 2008b; MARQUES, 2008). O subsolo, possuindo condições químicas ideais, promove maior proliferação de raízes em profundidade, resultando em maior aproveitamento de água e de nutrientes pelas plantas (RITCHEY et al., 1980; FARINA; CHANNON, 1988). A aplicação superficial de gesso agrícola no SPD tem reduzido o Al trocável e aumentado os teores Ca trocável e do sulfato, bem como, em alguns casos, elevado de forma indireta os valores de ph (CAIRES et al., 1998; 1999; 2011; SORATTO;
27 17 CRUSCIOL, 2008a; 2008b; MARQUES, 2008). Tais resultados podem ser atribuídos a sua maior solubilidade e à presença de um ânion estável (SO 2-4 ), que forma um par iônico neutro com o íon Ca 2+, e com isto leva o cálcio até a subsuperfície do solo. Os efeitos positivos da gessagem foram observados após 8 meses, por Caires et al. (1998), e se mantiveram consistentes por longo período de tempo (CAIRES et al., 1999). Caires et al. (2003) observaram aumento do ph nas camadas de 0,20-0,40 m aos 8 meses e de 0,40-0,60 m aos 20 e 32 meses após a aplicação superficial de gesso. Soratto e Crusciol (2008a) concluíram que a aplicação de gesso promoveu aumento no ph, e nos teores de Ca, S e reduziu os teores de Al trocável no solo até 18 meses após a aplicação. Os autores atribuíram esse efeito a uma reação de troca de ligantes na superfície das partículas de solo, envolvendo neutralização parcial da acidez (REEVE; SUMNER, 1972). Em outros trabalhos foram verificados aumentos nos teores de cálcio no perfil do solo, lixiviação do magnésio (CAIRES et al., 2001a; 2001b; 2003; 2004; 2011) e redução do alumínio trocável (CAIRES et al., 2001b; SORATTO; CRUSCIOL, 2008a; 2008b), devidos à aplicação de gesso na superfície. Apesar do grande potencial de uso do gesso agrícola na melhoria dos atributos químicos das camadas subsuperficiais dos solos, mediante elevação do teor de cálcio e redução da atividade do alumínio, a indicação da gessagem em substituição à prática da calagem não é recomendada (SILVA et al., 1998). Além disso, ainda existem dúvidas quanto ao método de recomendação do produto e em que condições pode-se esperar respostas das culturas à aplicação superficial de gesso combinado com calcário em superfície no SPD. 4.4 Culturas: soja, aveia-preta e sorgo A cultura da soja é importante fonte de matéria-prima para a indústria e alimentação animal, possuindo ampla adaptação às condições brasileiras (EMBRAPA, 2006a). No Brasil na safra 2010/11, a soja teve área cultivada de 24 milhões de hectares e produção de cerca de 74 milhões de toneladas (CONAB, 2011). Segundo levantamentos realizados por Bastos et al. (2007), aproximadamente 97% das propriedades rurais utilizam o SPD para o cultivo dessa oleaginosa.
28 18 A soja atinge o máximo de produção por volta de 60% de saturação por bases (QUAGGIO, 2000). O fato é que a resposta da soja à calagem quando cultivada em solos ácidos é alta, constatando-se aumento na produção de grãos da ordem de 35 a 75% (SIQUEIRA, 1989; QUAGGIO, 2000). Vários autores verificaram aumentos de produtividade de grãos de soja em função da aplicação superficial de calcário em SPD (OLIVEIRA; PAVAN, 1996; SÁ, 1999). No entanto, existem vários trabalhos em SPD, mesmo em solos com moderada a elevada acidez e baixa saturação por bases, em que não foram constatados incrementos da produtividade de grãos de soja com a calagem superficial (CAIRES et al., 2003; 2006b). A explicação tem sido atribuída ao maior acúmulo de matéria orgânica e nutrientes na superfície, que reduzem a atividade do Al e, consequentemente, sua toxicidade. A aveia preta é uma planta da família das gramíneas, muito rústica, exigente em água, com excelente capacidade de perfilhamento e produção de massa verde. Há séculos é usada como excelente forrageira de outono-inverno para as diversas espécies de animais, ruminantes ou não. Com o advento do SPD, essa espécie passou a ter grande utilização na rotação de culturas e na formação de palhada. Mais recentemente, com o crescimento dos modelos de exploração envolvendo a produção animal, ou seja, a Integração Lavoura- Pecuária, a importância da aveia tornou-se ainda maior, pois, por ter capacidade de rebrota, pode ser utilizada como forrageira e produtora de palhada para o SPD. Esta gramínea de inverno é considerada tolerante à acidez do solo e, portanto, recebendo pouca atenção quanto à aplicação de corretivos de acidez. No entanto, Soratto e Crusciol (2008d, 2008e) constataram que a aplicação superficial de calcário e gesso proporcionou incrementos na produção de matéria seca e na produtividade de grãos da aveia preta. O sorgo é uma planta bastante atraente como opção de cultivo no período subseqüente à cultura de verão, principalmente, por sua relativa tolerância às condições de limitação hídrica. Todavia, para desenvolver todo seu potencial de exploração de água e nutrientes, precisa de condições de solo favoráveis ao desenvolvimento radicular, sobretudo em relação à acidez do solo, por se tratar de uma espécie relativamente sensível à toxicidade de alumínio, embora existam diferenças marcantes entre cultivares (FURLANI et al., 1984). Gallo et al. (1986) estudando níveis de calagem em sistema de preparo de solo convencional, constataram aumento considerável na produtividade do sorgo. Contudo, são
29 19 poucos os trabalhos que abordam o efeito da aplicação superficial de calcário e gesso na produção de sorgo em SPD, principalmente em experimentos de longa duração.
30 20 5 MATERIAL E MÉTODOS 5.1 Localização e caracterização climática da área experimental O experimento foi instalado na Fazenda Experimental Lageado, pertencente à Faculdade de Ciências Agronômicas - UNESP, localizada no município de Botucatu (SP), tendo como coordenadas geográficas 48º 23 de longitude Oeste de Greenwich e 22º 51 de latitude Sul, com altitude de 765 m. De acordo com a classificação de Köeppen, o clima predominante na região é do tipo Cwa, que se caracteriza pelo clima tropical de altitude, com inverno seco e verão quente e chuvoso (LOMBARDI NETO; DRUGOWICH, 1994). Os dados diários referentes à precipitação pluvial e às temperaturas máxima e mínima durante a condução do experimento estão apresentados na Figura 1.
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