RESUMO A ORALIDADE NA ESCOLA. Palavras-chave: ensino-linguagem-oralidade. Leila Mury Bergmann (UFRGS FACED PPGEDU)
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- Igor Jardim Leveck
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1 1 RESUMO A ORALIDADE NA ESCOLA Palavras-chave: ensino-linguagem-oralidade Leila Mury Bergmann (UFRGS FACED PPGEDU) (INTRODUÇÃO) O presente trabalho constitui-se na apresentação de parte da minha Dissertação de Mestrado a respeito de uma proposta de oralidade (formal) em sala de aula no ensino de língua materna. Tal proposta, denominada aula de Oratória, envolve a oportunização de um espaço nas aulas de Português onde os alunos apresentam (um de cada vez) uma vez por semana, diante da turma, um tema (livre). O tempo de duração gira em torno de cinco minutos para cada um, podendo haver debates ao final das exposições. E, como as aulas de Oratória são oportunizadas durante todo o ano letivo, os estudantes expõem seus assuntos, no mínimo, duas vezes por mês. (METODOLOGIA) A partir da experiência de sete anos desenvolvendo, de modo intuitivo, essas aulas com (meus) alunos do Ensino Fundamental, após o ingresso no Mestrado, foram investigados durante três meses alunos de 5 a série de uma escola pública, que realizaram aulas de Oratória. As aulas (gravadas em fita-cassete e filmadas em vídeo) transcritas e analisadas com base em suportes teóricos, possibilitaram rastrear vários aspectos relevantes dessa prática pedagógica. (RESULTADO) Os alunos investigados mostraram-se bastante favoráveis a essa prática e demonstraram um desenvolvimento/aproveitamento crescente; ou seja, a cada aula (os mesmos estudantes realizaram várias exposições) apresentavam uma maior desenvoltura e, ao mesmo tempo, um cuidado maior com a sua linguagem verbal durante as exposições. Constatou-se, ainda, que a escola, de modo geral, utiliza e cobra dos estudantes a variante-padrão (lingüística) socialmente prestigiada embora, ao mesmo tempo, não crie condições para que os alunos vivenciem (a maioria deles apenas reconhece) a própria formalização da linguagem oral. (CONCLUSÃO) O ato de falar em público para outros, constitui-se num desafio por destacar o indivíduo do grupo. Trata-se de um desafio que só pode ser vencido por quem tenha oportunidade de desenvolver habilidade para tal. A fim de que isso ocorra, faz-se necessário refletir a respeito de como operacionalizar tal desafio, o qual deveria ser trabalhado na escola, porquanto raras são as situações reais de fala formal das quais os alunos costumam participar fora do ambiente escolar.
2 2 A ORALIDADE NA ESCOLA Leila Mury Bergmann PPGEDU/UFRGS Iniciar afirmando sobre o quanto é necessário a fala na vida das pessoas, seria constatar o óbvio: Todos nós conhecemos a importância da linguagem oral para um melhor desempenho comunicativo do indivíduo em sociedade. O que talvez não esteja tão evidente, tão claro para a grande maioria dos professores de Português, é o fato de que, atualmente, o ensino tradicional de língua materna na escola, de modo geral, não cria condições para que os alunos vivenciem uma oralidade formal em sala de aula. Se nos reportássemos às décadas anteriores aos anos setenta - período onde não havia tantas alternativas variadas de comunicação - poderíamos lembrar como para as famílias, geralmente, era motivo de orgulho possuir filhos que "sabiam falar em público": em despedidas, aniversários, abertura e encerramento de encontros, etc. E as escolas que se empenhavam em apoiar seus alunos para isso, tinham - sem dúvida - o reconhecimento de fato dos pais e da comunidade. Para avaliar essa prática escalar ("pronunciamentos" de alunos em fatos oficiais da escala), basta nos lembrarmos dos antigos currículos escolares pessoais - é muito provável que tais acontecimentos tenham marcado nossa vida estudantil. Hoje porém, o que se vê na maioria dos estabelecimentos de ensino, é uma ênfase principalmente no rápido domínio da escrita e da leitura. Quase nunca se propicia aos alunos ocasiões em que possam desenvolver sua linguagem oral com eficácia, adequando-a em diferentes contextos. Acredito ser importante ressaltar aqui o quanto fica realmente mais fácil ou mais cômodo para o professor, em sala de aula, apenas ditar e/ou escrever no quadro, pois a escrita disciplinariza o aluno. Ou seja, no momento em que se entrega uma folha ou uma prova para o estudante escrever, pressupõe-se que este vá ficar em silêncio. Ao contrário, numa aula onde se pretende que todos participem oralmente, expressando opiniões, com certeza haverá um maior "desgaste" do professor com relação à disciplina, como por exemplo, quem deve falar, quando e por quanto tempo. Durante toda a minha trajetória como professora de Língua Portuguesa, sempre observei a falta de um espaço em sala de aula onde o aluno pudesse falar. Não me refiro, é claro, à expressão oral de modo geral, pois dela o estudante faz uso (e cada vez mais!) o tempo inteiro! Sabe-se que os alunos, após apropriarem- se da escrita, não a
3 3 desenvolvem sozinhos; digo, há um acompanhamento constante da escola. Também no caso da fala, talvez fosse interessante haver o mesmo acompanhamento, mais sistemático na escola. Pensando assim, foi que introduzi uma prática de trabalho com a oralidade em sala de aula, (denominada "aula de Oratória") partindo de uma experiência pessoal vivenciada como aluna no Ensino Fundamental. Lembro-me bem da primeira "aula de Oratória". Estava no final do curso primário, quando a professora entrou na sala dizendo que nós, alunos, iríamos "dar aulas". Disse que deveríamos escolher os assuntos que quiséssemos e teríamos, cada um, mais ou menos uns cinco minutos para expor á turma, sem ler, nossos trabalhos. Haveria tempo para prepararmos nossa exposição e, uma vez por semana, cinco colegas apresentariam sua "aula". Preparei em casa uma matéria sobre os índios brasileiros, fiz um cartaz e memorizei a minha fala, que duraria alguns minutos. Quando fiquei diante da turma para apresentar a minha ""aula" sobre os índios, eu tremia. Mas falei. E, ao terminar, a professora provocou-me com perguntas como estas: Você acha que os homens devem tentar civilizar os índios? Você sabe o que é e o que faz a FUNAI? É claro que eu nem havia me questionado sobre isso. Mas lembro que fiquei bastante interessada a respeito E, após essa primeira experiência, nos assuntos seguintes que buscava, procurava ler mais a respeito. Recordo-me de muitos deles e também ficaram na memória trabalhos apresentados por alguns colegas. Anos depois, quando comecei a dar aulas de Língua Portuguesa (no Ensino Fundamental), pensei em proporcionar essa vivência aos meus alunos. A principio surgiu uma dúvida quanto ao nome: Aula de Oratória. Tradicionalmente, chama-se Oratória a "arte de falar em público". Resolvi optar por não utilizar expressões como "A hora da fala" ou "A aula da fala". A primeira expressão foi por mim descartada porque acredito que durante todas as aulas de português, deve-se falar: seja durante uma aula expositiva, ou de interpretação de texto, ou correção de exercícios, etc. E o segundo termo passa uma impressão de que se vai ensinar a falar! Ao passo que "Oratória", a meu ver, é mais abrangente, pois este termo pode compreender a narração de uma história, o comentário sobre um fato; enfim, uma exposição de idéias de uma maneira menos regrada. Sem contar que o próprio nome inusual agrada também os alunos maiores (as últimas séries do Ensino Fundamental), que têm consciência de terminarem adquirindo um amplo vocabulário por meio dessa prática.
4 4 COMO SE REALIZAM AS AULAS DE ORATÓRIA Os alunos preparam temas livres (com antecedência) e dispõem, cada um, de cerca de dois a cinco minutos para expor, diante da turma, o assunto escolhido. O professor senta-se no lugar de quem vai se apresentar e, dessa maneira, ocorre uma modificação em termos de organização no espaço físico da sala de aula. Mais ou menos seis alunos apresentam-se uma vez por semana. Fica a critério de cada um trazer ou não algum material para enriquecer sua apresentação (cartazes, revistas, mapas, jornais, etc.). Os temas não são lidos diante da turma. Muitos trazem um "esquema" com os tópicos sobre o que irão falar/contar para os colegas. Depois que cada aluno termina sua exposição (muitos são aplaudidos), há um tempo para que os ouvintes, se quiserem, levantem o braço, pedindo a palavra ao orador para falarem ou fazerem perguntas. Não deve haver rigor com relação ao tempo de discussão por parte dos alunos quando se trata de um tema que provoque uma motivação geral na turma. Assim, se estava registrado que, por exemplo, seis alunos exporiam seus assuntos, pode ocorrer que os últimos fiquem para a próxima aula... ANALISANDO A PRÁTICA: "PROBLEMAS" E...SOLUÇÕES(?) Existem algumas "dificuldades" que surgem no decorrer dessa prática. Tentarei resumidamente expor algumas mais comuns e a maneira como procuro lidar com elas; a saber: timidez, motivação e os discursos formam/formal. Analisando o primeiro item, pode-se imaginar o quanto ficam "assustados" a maioria dos alunos (de qualquer uma das séries do Ensino Fundamental) que não se sentem à vontade falando em público- mesmo sendo esse público formado por colegas da mesma aula. Para esse "problema" enfrentado por alguns, é permitido que, nas duas primeiras apresentações, possam realizar o trabalho de dois a dois. Dessa maneira, repartindo a tarefa e deixando que o mais tímido fale bem pouco, ou nem fale, é possível perceber que, gradativamente, o aluno vai sentindo- se mais seguro. No que diz respeito à (des)motivação (ou "falta de assunto"), é possível ajudá-lo, no sentido de orientar, levando-o a discorrer sobre um tema que o próprio estudante domine. Isso facilita e motiva o próprio aluno até a contar sobre um filme que assistiu, ou uma viagem que fez ou gostaria de fazer, sobre esporte, etc. O importante mesmo é encorajá-lo, mostrando que os temas devem ser condizentes com a faixa etária, bem como com o interesse dos colegas. A respeito dos discursos formal/informal, o que ocorre com freqüência é uma mescla dos dois. No inicio, nas primeiras exposições, observa-se um número maior de gírias e de
5 5 marcadores conversacionais (como os conhecidos "daí", "né", etc.). Depois, os alunos vão percebendo que o seu desempenho oral em situações formais especificas não são tão "naturais", bem como os contextos de uso não são os comuns do seu dia a dia. Talvez por esse motivo, terminam "policiando" a sua linguagem coloquial, adaptando-a a um desempenho verbal que não figura no seu saber cotidiano. ALGUNS ASPECTOS POSITIVOS DAS ORATÓRIAS: Propicia o desenvolvimento de um senso crítico ao observar como/quando a expressão oral se modifica e evolui, criando condições de possibilitar ao aluno poder adaptar sua maneira de falar a cada situação. Além disso, aparece a participação de professores de outras disciplinas que terminam envolvendo-se nesse trabalho pois, muitas vezes, são solicitados pelos próprios alunos para auxiliá-los nas pesquisas sobre, por exemplo, temas de Ciências (quando o tema é relacionado aos animais), de Geografia (países escolhidos para serem apresentados), etc. De certa forma, ocorre um processo de aprendizagem através do qual determinados conceitos são compreendidos naturalmente e pelo olhar das diferentes áreas de conhecimento. É possível destacar também o desenvolvimento da capacidade de selecionar e sintetizar assuntos (no momento em que o aluno escolhe sobre o que vai falar), de socializar idéias com desenvoltura e a oportunidade da obtenção de um saber múltiplo, a partir do aprendizado de "ouvir o outro". CONCLUINDO...Sabe-se que os alunos deixam a escola após anos de estudo sem terem adquirido o domínio da variedade padrão e totalmente despreparados para o uso de uma oralidade formal, usada em muitas situações sociais, profissionais e em quase todas as que envolvem público. Ao levar em conta que a função da escola em sociedade deve, entre outras coisas, facilitar o acesso às profissões em geral, pode-se encarar a desconsideração da modalidade oral pelo ensino como um atraso em relação a nossa sociedade, já que a aquisição da variedade oral culta é considerada um requisito de ascensão social. A esse respeito, a pergunta que fica é: Por que não oportunizar aos alunos em sala de aula essa forma específica de realização lingüística: a fala formal? Vale lembrar as palavras de um lingüista e teórico brasileiro, Luiz Antônio Marcuschi: "Por mais letrados que possamos ser, continuamos predominantemente orais!
6 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GERALDI, João Wanderley. Linguagem e Ensino: exercício de militância e divulgação. Mercado de Letras, São Paulo,1996. GERALDI, João Wanderley. ln : Quando o Professor Resolve. Organização: Regina Maria Hubner. Supervisão: Ligia Chiappini : Experiências no Ensino de Português. Edições Loyola, São Paulo, MARCUSCHI, Luiz Antônio. "É Possível ensinar a fala?" ln: Abralin - Boletim da Associação Brasileira de Lingüistica, n o 5, MARCUSCHI, Luiz Antônio. Análise da Conversação. Ática, São Paulo, MILANEZ, Wânia. "Atividades orais no ensino de Português: uma necessidade imediata". Atas do f Congresso Internacional da Associação Brasileira de Lingüistica, vol. ll, Instituto de Letras da UFBA, Bahia, MILANEZ, Wânia. Pedagogia do Oral: Condições e perspectivas para sua aplicação no Português. Sama, Curitiba, 1993.
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