A origem do conceito de Índice de Desenvolvimento Humano
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- Júlio Casqueira Canejo
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1 ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO A origem do conceito de Índice de Desenvolvimento Humano A abordagem ao desenvolvimento humano emerge num contexto de crescente crítica à visão dominante dos anos 80 do século XX, que presumia uma estreita relação entre o crescimento económico e a expansão das escolhas individuais. No entanto, muitos especialistas, como o economista paquistanês Mahbub ul Haq, que teve um papel fundamental na formulação do paradigma do desenvolvimento humano, reconheciam a necessidade de um modelo alternativo de desenvolvimento. Era, por exemplo, evidente a existência e o incremento de problemas sociais como o crime, a poluição e a propagação do VIH em economias fortes e em crescimento. Desde 1990 o conceito de desenvolvimento humano foi aplicado sistematicamente e publicado anualmente sob os auspícios das Nações Unidas (Departamento de População). Esta visão alternativa de desenvolvimento humano, baseada no trabalho do economista Amartya Sem (laureado, em 1998, com o prémio Nobel da Economia) e de outros especialistas, é definida como o processo de aumentar as escolhas pessoais e promover as capacidades humanas e liberdades que possibilitem viver uma vida longa e saudável, ter acesso ao conhecimento e a condições decentes de vida, participar na vida da comunidade e nas decisões que afectam as nossas vidas. O Índice de Desenvolvimento Humano enfatiza a riqueza da vida humana em detrimento da riqueza da economia. É um índice composto que mede, em cada país, a média de metas alcançadas em três dimensões básicas de desenvolvimento humano: uma vida longa e saudável, o acesso à educação e a condições de vida condignas. A determinação do Índice O indicador de desenvolvimento humano (IDH) criou uma única estatística que serve de referência para o desenvolvimento económico e social. O IDH estabelece um mínimo e um máximo para cada dimensão, mostrando depois como e onde cada país de situa em relação a essas metas num valor expresso entre 0 e 1. A componente educacional do índice inclui taxas de alfabetização entre adultos e uma taxa de escolarização bruta combinada dos ensinos Básico, Secundário e Superior, ponderando com mais peso na estatística a alfabetização entre os adultos. Como a taxa mínima de alfabetização adulta é 0% e o máximo 100%, a componente de literacia do conhecimento para um país com uma taxa de literacia é 62% é de 0,62. A taxa de escolarização para cada ciclo é calculada dividindo o número de estudantes que frequentam os níveis de educação primária, secundária e terciária pelo total de população correspondente ao grupo teórico etário correspondente a esses níveis. A esperança média de vida do índice é calculada usando um valor mínimo para a esperança média de vida aos 25 anos e um valor máximo aos 85 anos, estabelecendo desta forma a componente de longevidade para um país. 1 1
2 A componente de riqueza tem como tecto mínimo um rendimento de 100 dólares e um máximo de Note-se que os valores correspondem ao Produto Interno Bruto, per capita expresso em dólares americanos, corrigidos através da Paridade do Poder de Compra (PPC) de forma a eliminar diferenças nacionais de preços. O Índice utiliza o logaritmo do rendimento de forma a diminuir a importância do rendimento com o aumento do Produto Interno Bruto. As pontuações para as três componentes do índice são contabilizadas no índice total. Os cálculos têm como base os dados de agências internacionais que reúnem e compilam dados de indicadores estatísticos. As principais fontes de informação são: os dados da Divisão de População das Nações Unidas para a esperança média de vida ao nascimento; a Unesco, no que diz respeito à educação; o Banco Mundial para o Produto Interno Bruto per capita. Para que serve o IDH? O IDH facilita comparações entre países e entre regiões de um mesmo país. Os indicadores de desenvolvimento humano utilizados para o seu cálculo oferecem uma avaliação geral das metas alcançadas pelos países em variadas áreas de desenvolvimento humano. O IDH alerta os decisores, os media e as organizações não governamentais para os resultados humanos. Foi criado para relembrar que as pessoas e as suas capacidades deverão constituir o derradeiro critério para o desenvolvimento de um país e não o seu crescimento económico. Pretende colocar questões aos decisores; por exemplo, como é que dois países com o mesmo Produto Interno Bruto (PIB) per capita podem ter índices de desenvolvimento tão diferentes? Um exemplo concreto: a Suazilândia e o Sri Lanka têm níveis de rendimento per capita semelhantes mas a esperança média de vida e a literacia diferem grandemente, o que faz com que o Sri Lanka tenha um índice muito mais alto que a Suazilândia. São contrastes como estes que estimulam o debate sobre as políticas nacionais em áreas como a saúde e educação. A criação deste índice serve assim para sublinhar as diferenças entre países, entre províncias, regiões, estados e, ainda, entre géneros, etnias e outros grupos socioeconómicos. Em muitos países, ao evidenciar disparidades internas este índice tem fomentado importantes debates nacionais. Por estas razões e apesar de o conceito de desenvolvimento humano ter uma dimensão mais lata do que um único índice, o Índice de Desenvolvimento Humano apresenta-se como uma alternativa de peso ao PIB per capita enquanto medida sumária do bem-estar humano. O Produto Interno Bruto reflecte o rendimento médio mas não fornece informação sobre a sua distribuição ou como é gasto (na saúde ou na educação, por exemplo). A comparação entre países com base em rankings de PIB per capita e de índices de desenvolvimento humano revela mais sobre as escolhas políticas nacionais. Um país como um elevado Produto Interno Bruto como o Omã (na Ásia) que tem uma escolarização baixa pode ter um índice de desenvolvimento humano mais baixo do que o Uruguai (na América do Sul), que tem cerca de 60% do Produto Interno Bruto per capita de Omã. 2 2
3 As Nações Unidas salientam que o desenvolvimento humano tem sido flexível e aberto a novas definições. As prioridades do desenvolvimento humano podem evoluir ao longo do tempo e entre países. Alguns dos aspectos e temas considerados centrais para o desenvolvimento humano incluem: o progresso social (acesso ao conhecimento, melhor alimentação e serviços de nutrição), a economia (a importância do crescimento económico como meio de reduzir as desigualdade e melhorar os níveis de desenvolvimento humano), a eficiência (em termos de recursos e disponibilidade o desenvolvimento humano é a favor do crescimento e das produtividade desde que esse crescimento beneficie directamente os pobres, as mulheres e outros grupos marginalizados),a equidade, a participação e a liberdade, a sustentabilidade e a segurança humana. Note-se que para muitos países não existem dados para uma ou mais que uma das componentes do índice. Os países incluídos no IDH são classificados num dos três grandes grupos de desenvolvimento humano: alto IDH (0,8000 ou superior); médio (entre 0,500 e 0,799) e baixo (menor que 0,500). Como foi referido, este índice foi concebido para comprar os progressos de um país nas dimensões mais básicas do desenvolvimento humano. Os indicadores utilizados não são os melhores para diferenciar os países mais ricos. Os indicadores usados actualmente revelam diferenças muito pequenas nos países que se encontram no topo do Índice de Desenvolvimento Humano pelo que um outro indicador o Índice de Pobreza Humana pode melhor reflectir a dimensão das carências que ainda persistem entre a populações deste países, ajudando assim a melhor direccionar as suas políticas. Note-se ainda que o IDH não é uma medida abrangente do desenvolvimento humano. Não inclui indicadores de género, desigualdades de rendimento e outros mais difíceis de avaliar como o respeito pelos direitos humanos e liberdades políticas. Fornece, sim, uma perspectiva do progresso humano e da relação complexa entre o rendimento e o bem-estar. Como se distribui? O Relatório de Desenvolvimento Humano 2007/2008 das Nações Unidas inclui dados de 175 Estados-membros das Nações Unidas, países cujo índice de desenvolvimento humano (IDH) pôde ser calculado e ainda de Hong Kong - uma Região Administrativa Especial da China - e da Autoridade Palestiniana. A escassez de dados de qualidade para a comparação entre nações, teve como resultado que o IDH não fosse calculado para os restantes 17 países membros das Nações Unidas. Portugal apresenta-se neste relatório, para dados de 2005, no 29.º lugar na tabela geral de IDH com um valor de 0,897. Este valor representa uma diferença positiva de 6 posições em relação ao Produto Interno Bruto per capita em Poder de Paridade de Compra (PPC) em dólares americanos. A diferença positiva indica que a ordem do IDH é mais elevada que a do PIB corrigido. Os dados apontam para uma esperança média de vida à nascença de 77,7 anos, uma taxa de literacia adulta de 93,8 anos, uma taxa combinada de escolarização de 93,8 e um Produto Interno Bruto per capita em PPC em dólares americanos de 20,410. Situado entre os países de desenvolvimento elevado, o IDH tem vindo a evoluir em Portugal até 2000: 0,173 (em 1975), 0,807 (em 1980), 0,829 (em 1985), 0,855 (em 1990), 0,885 (em 1995), 0,904 (em 2000). 3 3
4 Perto de Portugal encontram-se a Eslovénia (27.º lugar), o Chipre (28.º), o Estado do Brunei (30.º), Barbados (31.º) e a República Checa (32.º). Espanha ocupa o 13.º lugar com um valor do IDH 0,949 (uma diferença positiva de 11 lugares em relação ao PIB corrigido), sendo o lugar cimeiro da tabela ocupado pela Islândia com um valor de 0,968 (e uma diferença positiva de 4). Este país no topo do ranking do IDH apresenta uma esperança média de vida à nascença de 81,5 anos e uma taxa de escolarização combinada de 95. Os três últimos lugares do IDH são ocupados pela Guiné-Bissau (175.º), Burquina Faso (176.º) e Serra Leoa (177.º). Com um IDH de 0,336 neste país a esperança meda de vida à nascença é de 41,8 anos. Tem uma taxa de alfabetização de adultos de 34,8% e uma taxa de escolarização bruta combinada dos ensinos primário, secundário e superior de 44,6 (neste caso o valor é de 2004). A Serra Leoa apresenta uma diferença negativa de 5 posições em relação ao PIB (corrigido com o PPC). O valor do IDH para países em vias de desenvolvimento é de 0,691, para a Europa Central, Oriental e CEI (Comunidade de Estados Independentes) é de 0,808 e, para a OCDE, sobe para 0,916. O Mundo tem um IDH de 0,743, com uma esperança média de vida à nascença de 68,1 anos, uma taxa de alfabetização de adultos de 78,6 e uma taxa de escolarização bruta combinada e 67,8. Índice de Desenvolvimento Humano relativo aos dados de 2005 do Relatório de Desenvolvimento Humano 2007/2008 das Nações Unidas. Como tem evoluído ao longo do tempo? O IDH é realçado pelas Nações Unidas como um instrumento importante para monitorizar tendências, não de curto mas de longo prazo no desenvolvimento humano. Desta forma, para facilitar a análise de tendências entre países, é calculado em intervalos de cinco anos no período de (Apesar de ser publicado desde 1990, os dados anteriores são calculados por estimativa.) Desde meados dos anos setenta do século XX quase todas as regiões têm vindo progressivamente a aumentar o seu IDH. A Ásia Oriental e do Sul têm acelerado o seu progresso desde A Europa Central e Ocidental e os Estados Independentes da Commonwealth, após um acentuadíssimo declínio na primeira 4 4
5 metade dos anos 90 do século XX recuperaram os seus valores para um nível anterior ao da queda. A grande excepção, enfatiza as Organização das Nações Unidas, é a África, devido parcialmente a problemas económicos mas especialmente devido ao efeito devastador da Sida na esperança média de vida. Índice de Desenvolvimento Humano relativo aos dados de 1975 Índice de Desenvolvimento Humano relativo aos dados de 1980 Índice de Desenvolvimento Humano relativo aos dados de 1980 Índice de Desenvolvimento Humano relativo aos dados de
6 Índice de Desenvolvimento Humano relativo aos dados de 1990 Índice de Desenvolvimento Humano relativo aos dados de 1995 Índice de Desenvolvimento Humano relativo aos dados de 2000 Fontes Programa da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Relatório de Desenvolvimento Humano 2007/
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