AS CONCEPÇÕES DOS ALUNOS DO SÉTIMO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL SOBRE A HISTÓRIA LOCAL E MEMÓRIA

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1 167 AS CONCEPÇÕES DOS ALUNOS DO SÉTIMO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL SOBRE A HISTÓRIA LOCAL E MEMÓRIA Bruna Carolina Marino Rodrigues/bru_naa18@hotmail.com G PIBID - Universidade Estadual de Londrina / UEL Danillo Ferreira de Brito/danillo.ferreira@uol.com.br Supervisor de Campo/Colégio Estadual Tsuru Oguido EFM Gabriela Ferreira Horvatich Beffa/ gabi_beffa@hotmail.com G PIBID - Universidade Estadual de Londrina/ UEL Coordenação de Área: Prof. Dr. Marco Antônio Neves Soares PIBID - UEL Resumo: O artigo tem o propósito de apresentar dados de uma investigação realizada pelos autores, com alunos do Sétimo Ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Tsuru Oguido EFM, no município de Londrina. Constitui a parte inicial das ações do PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Incentivo à Docência) de História/UEL, programadas para o segundo semestre de Apresenta as concepções dos alunos sobre a história local e memória. O objetivo é analisar as relações de poder no espaço da cidade, apontando embates entre a História Oficial e a memória. Utilizamos como metodologia a aula oficina, proposta didática elaborada por Barca (2007). Articulamos os recursos didáticos pedagógicos entre fontes iconográficas de diversos locais de Londrina e material áudio visual elaborado por pibidianos. Aplicou-se um instrumento para coletar as concepções de História Local difundida entre os alunos. As análises das respostas se orientam pelo diagnóstico de quais lugares de memória e História da cidade de Londrina esses alunos reconhecem e se identificam e a verificação das noções de mudança e permanência no tempo e espaço da cidade. Nas concepções elaboradas prevaleceu neste primeiro momento o reconhecimento de locais de memória apenas no centro da cidade. Pretende-se com as ações desenvolver a capacidade crítica dos alunos em relação à História Local Oficial, também que apontem os seus lugares da memória em Londrina. Palavras Chaves: História Local; Memória; Concepções; História de Londrina. Introdução / Justificativa: Apresentamos dados de uma investigação realizada pelos autores, com alunos do Sétimo Ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Tsuru Oguido EFM 1, no município de Londrina. Constitui a parte inicial das ações do PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Incentivo à Docência) de História/UEL, programadas para o segundo semestre de Apresenta as concepções de alunos sobre história e memória. Demonstram que o trabalho com a história local é de extrema relevância para o ensino de História, pois possibilita aos professores (as) se 1 O Colégio Estadual Tsuru Oguido EFM localiza-se no Conjunto Habitacional Santa Rita II, Zona Oeste do município de Londrina, atende crianças e adolescentes de diversos bairros: Santa Rita, Santo André, Carnascialli, Vista Bela.

2 168 aproximar e valorizar as experiências do cotidiano dos alunos. A aplicação de um instrumento de investigação para conhecer as concepções iniciais sobre a temática abordada dá condições aos professores (as) de entender e explorar as ideias inicias dos alunos problematizando-as e construindo estratégias de aprendizagem que despertem o interesse para a sua realidade histórica social. A História Local e a memória quando utilizadas para a compreensão do conhecimento histórico auxiliam na apreensão de conceitos inerentes a disciplina História, como as noções de permanência e mudança no tempo e espaço da História de Londrina. Permite que os alunos conheçam outras Histórias e memórias muitas vezes silenciadas, construindo assim uma História com múltiplos sujeitos históricos. Dessa forma, o trabalho com a História Local e memória contribui para que se estimule a identidade histórica relacionada às experiências de vida e seus lugares de memória. Objetivos: O objetivo é analisar as relações de poder no espaço da cidade, apontando embates entre a História Oficial e a memória, investigando as narrativas históricas dos alunos sobre suas concepções e sobre quais lugares reconhecem e se identificam no centro da cidade de Londrina. Considerando a História da cidade de Londrina percebemos que no contexto histórico de sua formação, se constrói um discurso hegemônico, elaborado por indivíduos que atuavam como dirigentes do poder na Região para legitimação de seus interesses econômicos, políticos e sociais, silenciando outras memórias. Tomazi aponta que:... o discurso "Norte do Paraná" traz consigo um conjunto de idéias e imagens, quase que formando um bloco fundido e refundido onde a sua simples enunciação faz com que se faça uma identificação com algumas idéias basilares: progresso, civilização, modernidade, colonização racional, ocupação planejada e pacífica, riqueza, cafeicultura, pequena propriedade, terra onde se trabalha pioneirismo, terra roxa, enfim, todo um conjunto de idéias e imagens construído através de vários anos, mas estruturado, principalmente entre os anos 30 e 50, procurando assim criar uma versão, do ponto de vista de quem domina, para o processo da (re) ocupação desta região. (TOMAZI, 1997, p.12) Dessa maneira, a construção de um discurso hegemônico traz consigo a cristalização de uma única versão da História Oficial de Londrina no imaginário das pessoas, no qual os espaços da cidade evidenciam as relações de poder entre indivíduos e grupos, como os lugares de memória que se concentram no centro, muitas vezes em oposição à periferia. De acordo com Luis Fernando Cerri, a identidade sempre foi uma questão crucial para o ser humano, porém adquire um aspecto dramático nos dias de hoje, em que as aceleradas transformações alteram as trajetórias pessoais, outrora lineares e previsíveis, em sinuosas e indeterminadas. (CERRI, 2008, P.31). Neste contexto atual de intensas transformações pretendemos dialogar com a História Oficial para que os alunos percebam criticamente outras memórias silenciadas estimulando nestes o sentimento de pertencimento ao seu bairro e cidade, criando a sua própria identidade e sendo sujeitos de sua história. Apresentase a necessidade de se trabalhar a história da cidade na sala de aula, considerando diferentes formas de explicação, o que vai ao encontro da natureza multiperspectivada dessa ciência (BARCA, 2011), na intenção de romper com a

3 169 narrativa hegemônica sob o norte do Paraná, contando não só a perspectiva dos vencedores, mas também a dos vencidos. Metodologia Como metodologia optou-se pelo modelo de Aula-Oficina, sugerido por Barca e explicitado no quadro a seguir: Paradigmas Educativos modelo de aula-oficina Lógica O aluno, agente de sua formação com ideias prévias e experiências diversas o professor, investigador social e organizador de atividades problematizadoras Saber Estratégias e recursos Modelo do saber multifacetado e a vários níveis: - senso comum, - ciência, - epistemologia Múltiplos recursos intervenientes, aulaoficina Avaliação Efeitos sociais Material produzido pelo aluno, testes e diálogos Agentes sociais Fonte: BARCA, Isabel. Aula Oficina: do Projeto à Avaliação. In: Para uma educação de qualidade: Atas da Quarta Jornada de Educação Histórica. Braga, Centro de Investigação em Educação (CIED) /Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho, 2004, p Utilizou-se como recurso midiático o vídeo documentário Little London, produzido pelo PIBID de Ciências Sociais da UEL, nesse material são apontados fontes iconográficas de Londrina, catalogadas de acordo com as décadas correspondentes, a letra da música procura descontruir a ideia de Londrina ser a Pequena Londres. Após a veiculação do documentário, realizou-se um debate com os alunos de um sétimo ano do período vespertino, em seguida, a aplicação do instrumento. Nesse instrumento as questões eram: A) Qual a cidade mostrada no vídeo? B) Vocês reconhecem alguns lugares do vídeo? Quais? C) Por que Little London (Pequena Londres)? D) Por que o título da música é Para Inglês Ver? E) O que você sabe sobre a história da sua cidade? Resultados Para a questão qual a cidade mostrada no vídeo? de um total de 36 alunos, apenas 10 reconheceram Londrina, nota-se que em algumas imagens aparecia o nome da cidade.

4 170 Dentre os locais mais conhecidos dos alunos, a Catedral Metropolitana também foi citada 10 vezes. O Museu Histórico de Londrina foi citado apenas 4 vezes. A Avenida Arc. Dom Geraldo Fernandes (Leste Oeste) apareceu apenas em 2 instrumentos. Em apenas uma vez, destacamos o Rio Tibagi; Plantações de Café; O Calçadão. Na questão C, apenas 4 alunos entenderam que Pequena Londres referia-se ao nome escolhido para o município de Londrina. Em duas respostas os alunos afirmam que Londrina é uma pequena Londres. Na quarta questão D que se referia ao título da canção, 4 alunos associaram à colonização da cidade por ingleses, 1 aluno afirmou que era para cantar a música em inglês. Na última questão, optou-se para que os alunos apresentassem o que sabiam sobre a história de Londrina, dentre as respostas catalogadas apontamos: As ruas eram de barro 3 citações; Tinham muitas plantações de café 3 citações; As pessoas andavam de carroça 2 citações; A cidade tinha muitas árvores 2 citações; Políticos roubam 1 citação; Cidade tem buracos 1 citação; 3ª maior cidade do estado 1 citação; Pontos turísticos e turistas 1 citação; Pontos com história 1 citação; Trabalho na roça 1 citação; Cidade respeitada e pacífica 1 citação; Tinha muitas tribos, entre elas os Kaingangs 1 citação. Considerações Ao analisar as concepções dos alunos apontadas nos instrumentos poucos reconhecem que Londrina é uma pequena Londres. Também nota-se que poucos locais antigos do munícipio, como a Catedral Metropolitana e a Avenida Leste-Oeste são citados. A Avenida talvez, em decorrência de ser o ponto de ligação do bairro onde o colégio se situa com o centro da cidade. A Aula-Oficina foi primordial para estabelecer as outras ações do semestre, como a visita ao museu (que aconteceu no mês de setembro de 2013). Dentre as atividades ainda programadas para o semestre, pretende-se que os alunos se utilizem da história oral, entrevistando seus avós e parentes mais próximos sobre o que conhecem sobre Londrina. Um dos questionamentos iniciais levantado pelos autores no inicio do planejamento das ações foi as dificuldades dos docentes dos anos iniciais do Ensino Fundamental em trabalhar com história local. Muitas vezes, desconsidera-se que na formação do município havia diferentes povos (indígenas, negros), os diversos conflitos desse período, a divisão territorial e a segregação. Em suma, optam pela transmissão da História Oficial construída. Referências: BARCA, Isabel. Aula Oficina: do Projeto à Avaliação. In: Para uma educação de qualidade: Atas da Quarta Jornada de Educação Histórica. Braga, Centro de Investigação em Educação (CIED) /Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho, p O papel da Educação Histórica no desenvolvimento social. In. Schmidt, Maria Auxiliadora; Cainelli Marlene (orgs.). Educação Histórica: teoria e pesquisa. Ijuí: Ed. Unijuí, CERRI, Luis Fernando. Cidade e Identidade. Região e Ensino de História. In: ALEGRO Regina Célia; et al. (org.). Temas e questões: para o ensino de história do Paraná. Londrina: EDUEL, 2008.p.31.

5 TOMAZI, Nelson Dacio. Norte do Paraná : história e fantasmagorias. Curitiba, f. Tese (Doutorado em História) - Universidade Federal do Paraná. p