Contribuição para a definição de um Modelo de Desenvolvimento do sector agrícola para Angola
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- Edison Rosa Álvares
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1 A AGRICULTURA NO ACTUAL CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO DE ANGOLA Contribuição para a definição de um Modelo de Desenvolvimento do sector agrícola para Angola Francisco Gomes da Silva (fgsilva@isa.utl.pt) - ISA, Instituto Superior de Agronomia - AGRO.GES, Sociedade de Estudos e Projectos
2 Tópicos de intervenção I. Desenvolvimento agrícola: desafio à escala global II. A agricultura de Angola: o desenvolvimento inevitável III. Desenvolvimento sustentado da agricultura de Angola: objetivos e restrições IV. Alguns caminhos e políticas públicas V. Conclusão: uma visão global 2
3 I. Desenvolvimento agrícola: desafio à escala global AS GRANDES VARIÁVEIS OS GRANDES DESAFIOS População mundial será de 9 mil milhões em 2050 (+34%) países em desenvolvimento - 120% Angola com crescimento previsto de 2,7%/ano Aumento do rendimento disponível e alteração da dieta Retirar 15% da população do limiar da fome (3.070 kcal/dia) Produção de biocombustíveis Alterações climáticas Aumentar o volume de produção de alimentos em cerca de 60% nos países em desenvolvimento esse aumento terá que ser da ordem dos 80% Distribuir com equidade Uso sustentável de recursos naturais Global = Local 3
4 1. Respostas possíveis ao desafio das necessidades alimentares crescentes: aumentar as áreas em produção; aumentar a produtividade dos factores (terra, ) 2. Implicações aumento da produção - 1,7%/ano (2,5%/ano entre 2002 e 2011) apenas 10% deste aumento deverá ser com base na expansão das áreas cultivadas (21% nos países em desenvolvimento) localizações remotas, longe das populações falta de infraestruturas fragilidades quanto à sustentabilidade ambiental da sua exploração usos conflituantes restrições de água disponível (relação com alterações climáticas) 90% do aumento na produção deverá resultar de aumentos da produtividade 4
5 3. É possível aumentar a produtividade nesta magnitude? Produtividades actuais estão muito abaixo do potencial genético das espécies do respetivo potencial económico Causas para os "gaps" referidos são de duas naturezas distintas: factores agro-ecológicos e ambientais - de difícil ultrapassagem factores ligados à gestão dos sistemas de agricultura ao nível local ("crop management") tradução em níveis de utilização de inputs e outras práticas agronómicas afastados dos "níveis" desejáveis Países da África sub-sahariana - "gap" entre a produtividade actual e a produtividade económica potencial é de 76% Uma parte substancial deste gap pode ser facilmente vencido: água, protecção de culturas, fertilização, mecanização acesso aos mercados de produtos mercados práticas agronómicas equilibradas (sustentabilidade no processo) 5
6 4. Vectores para aumentar a produtividade real: aumento do potencial genético - utilização de material genético adequadas às condições agro-ecológicas investimento organizacional (serviços oficiais) e no delineamento e implementação de políticas públicas "criação"/acesso aos mercados de produtos (políticas de preços e mercados) acesso aos fatores de produção (mercado de factores) terra - política de estruturas (componente fiscal pode ser decisiva) crédito para investimento - responsabilidade e garantias individuais crédito para fundo de maneio - com responsabilidade individual e prova de aquisição de consumos intermédios fomento de mercado rural de trabalho transferência de tecnologia formação, ensino, parcerias entre Publico e Privado 6
7 II. XVI Jornadas Técnico-Científicas da Fundação Eduardo dos Santos Agricultura de Angola: o desenvolvimento inevitável VAB Agrícola representa cerca de 10% do PIB Ritmo de crescimento médio do VAB Agrícola tem sido muito elevado na última década - 5%/ano (?) População actual de Angola ronda os milhões, dos quais 56% constituem população urbana Em 2050 a população de Angola rondará os 45 milhões (crescimento de 120% estimado pela FAO), dos quais 80% constituirão população urbana 7
8 Cerca de 65% da população de Angola tem envolvimento com a agricultura Tipologia de agentes Sector agrícola "tradicional (explorações de pequena dimensão) cerca de 2,5 milhões de famílias (99,8% dos produtores) dominam cerca de 59,3% da área cultivada anualmente área média de 1,4 ha/família Sector agrícola "empresarial de grande dimensão cerca de 4200 empresas (0,2% dos produtores) dominam cerca de 40,7% da área cultivada anualmente área média de 515 ha/empresa Falta o sector agrícola familiar de média dimensão (a classe média da agricultura) que assegura dinamismo, resiliência e evolução 8
9 Níveis baixos de produtividade da terra, determinada por nível de utilização de tração mecânica, adubos, proteção de culturas nível de utilização das infraestruturas de rega existentes tecnologia existe mas está indisponível A dependência alimentar de Angola em 2011 o saldo da balança alimentar foi de - 3,9 mil milhões USD (cerca de 4% do PIB) exportações agrícolas e alimentares representam 0,5% das Importações Necessidade de continuar a investir num sistema de recolha de informação estatística fiável, fundamental para: o conhecimento da realidade o delineamento de políticas públicas de desenvolvimento avaliação dessas mesmas políticas 9
10 III. Desenvolvimento sustentado da agricultura de Angola: objetivos e restrições 1. Objectivos - um modelo que possa contribuir para: o abastecimento alimentar das populações (food availability) o combate à pobreza a diversificação da economia a redução da dependência alimentar externa a gestão equilibrada do território e o combate ao êxodo rural um uso sustentável dos recursos naturais a mitigação das causas do processo de alterações climáticas (produzir local e consumir local) e a adaptação aos seus efeitos 10
11 2. Restrições - um modelo que integre e desenvolva: os agricultores tradicionais - que procuram o mercado mas não o encontram tecnologicamente "diferenciados políticas que facilitem a sua evolução para o crescimento de áreas exploradas "intermédios" - precisam de políticas de desenvolvimento para evoluírem para a diferenciação (são a maior fatia) "carenciados" - necessitam de políticas sociais de combate à pobreza a emergência dos agricultores familiares de média dimensão as grandes unidades de "agricultura empresarial", com atividade efectiva (que produzam com regularidade) essenciais para a criação de um mercado de trabalho nos meios rurais facilitadoras de apoio/transferência tecnológica facilitadoras de acesso aos mercados (de factores e produtos) 11
12 IV. Alguns caminhos e políticas públicas 1. Estabelecimento prioridades e definição clara de instrumentos e objetivos para cada política que domínios, setores ou regiões são prioritários? que orientações/opções para cada prioridade? um exemplo a recuperação do setor do café 2. Políticas para valorização da produção (mercados) agricultura é um sector de "tração à frente - agroindústrias proteção do mercado interno (ex: preços mínimos, barreiras alfandegárias restrições SADC) acesso aos mercados externos - internacionalização de alguns subsectores de elevado potencial acessibilidades físicas - estradas, caminhos de ferro e portos - e respetiva rede de transporte 12
13 3. Políticas de flexibilização do acesso à terra em zonas de elevado potencial produtivo, como forma de permitir o aparecimento de agricultores familiares de média dimensão (a partir dos agricultores tradicionais tecnicamente diferenciados) exemplos de medidas indutoras dessa flexibilidade: fiscalidade sobre o não uso da terra concessionada obrigatoriedade de cultivar uma área mínima controle efectivo da produção 4. Políticas de fomento da escala de produção e do acesso a mercados associativismo: agrupamentos/organizações de produtores integração vertical e incorporação de valor acrescentado integração em rede/transversal e partilha de serviços (logística) 13
14 5. O regadio como tecnologia de elevado potencial Angola é o 2º país mais rico em água do mundo em Angola, o regadio é essencial em muitas regiões de elevado potencial agro-ecológico, para permitir vencer gaps de produtividade significativos na Faixa Litorânea quente e seca (onde se encontram os maiores aglomerados populacionais) na Faixa de transição quente e seca (zona menos densamente povoada) Centro planáltico fresco e chuvoso (necessidade pontual) Politica de fomento do regadio investimento na recuperação dos perímetros públicos de rega uma política de preços que fomente o regadio (perímetros públicos) - exige subsidiação -, e que responsabilize o agricultor disponibilização de tecnologia e know-how 14
15 6. Política de financiamento e crédito Responsabilização e garantias individuais Controle material da utilização do financiamento Diferenciação de instrumentos financeiros de acordo com: os objetivos e prioridades da política pública para o desenvolvimento do sector (destino do financiamento) o perfil e as características dos agricultores-alvo Diversificação de instrumento financeiros Bonificação de crédito Garantias Subsídios em capital (limitação percentual) 15
16 V. Conclusão: uma visão global B Agricultores Tradicionais Diferenciados Intermédios Agricultores Familiares C D Agricultores Empresariais Alcançar abastecimento alimentar combate à pobreza diversificação da economia redução dependência alimentar externa a gestão equilibrada do território uso sustentável dos recursos naturais combate/adaptação alterações climáticas A - Carenciados - Políticas para o Desenvolvimento Agrícola A - Políticas de luta contra a pobreza B - Políticas de apoio à diferenciação C - Políticas de crescimento D - Políticas de fomento do associativismo - Investimento nos serviços de extensão - Formação (técnicos e agricultores) - Acesso à terra - Assistência técnica (publico-privado) - Transferência de Tecnologia (I&D) - Acesso ao mercado de produtos - Agroindústria - Políticas activas de preços - Criação de mercado de mão-de-obra - Acesso ao mercado de factores - Agrupamentos de produtores - Financiamento e crédito - ( ) 16
17 Todos temos interesse em salvar o nosso planeta e em assegurar que a agricultura seja capaz de crescer e de fazer face aos desafios que se lhe apresentam. Jacques Diouf (DG da FAO) in Save and grow, FAO, 2012 Muito obrigado! 17
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