III CONSÓRCIOS MUNICIPAIS PARA ATERROS SANITÁRIOS, UMA ALTERNATIVA AMBIENTAL E ECONOMICAMENTE VIÁVEL
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- Ivan Monteiro Fartaria
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1 III CONSÓRCIOS MUNICIPAIS PARA ATERROS SANITÁRIOS, UMA ALTERNATIVA AMBIENTAL E ECONOMICAMENTE VIÁVEL Sérgio Luis da Silva Cotrim (1) Engenheiro Civil pela Universidade Federal do Rio do Sul - UFRGS em Mestre em Engenharia de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pelo Instituto de Pesquisas FOTOGRAFIA Hidráulicas (IPH) da UFRGS em Doutorando do curso de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pelo IPH da UFRGS. É engenheiro do Departamento Municipal NÃO de Limpeza Urbana de Porto Alegre - DMLU - desde DISPONÍVEL Geraldo Antônio Reichert Engenheiro Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, em Especialista em Hidrologia pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS em Curso de Especialização em Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos no Japão em Mestre em Engenharia de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pelo IPH/UFRGS em É engenheiro do Departamento Municipal de Limpeza Urbana de Porto Alegre - DMLU - desde Endereço (1) : Rua João Passuelo, Porto Alegre - RS - CEP: Brasil - Tel. (51) cotrin@dmlu.prefpoa.com.br RESUMO O presente trabalho apresenta a experiência positiva do convênio metropolitano firmado entre os municípios gaúchos de Porto Alegre, Gravataí, Esteio e Cachoeirinha, com o objetivo principal de coletar, tratar e destinar adequadamente os resíduos sólidos gerados nos municípios participantes. Uma das principais atividades é a remediação de um antigo lixão localizado no município de Gravataí, tendo como aspecto positivo a excelente condição geológica onde se encontra, que possui varias camadas de subsolo que são impermeáveis, e assim, como conseqüência, a recuperação desta área degradada com a sua utilização na forma de Aterro Sanitário. PALAVRAS-CHAVE: Aterro Sanitário, Convênio Metropolitano, Remediação de Áreas Degradadas, Gestão de Resíduos Sólidos. INTRODUÇÃO Este trabalho tem por objetivo apresentar a experiência do primeiro consórcio metropolitano do Estado do Rio Grande do Sul, para recuperação de uma área degradada pela disposição inadequada de resíduos sólidos urbanos e industriais não perigosos, com a sua transformação e utilização em forma de aterro sanitário. Este trabalho também tem por objetivo mostrar as dificuldades e os benefícios que os consórcios municipais podem proporcionar para solucionar os problemas de disposição de resíduos sólidos urbanos na forma de aterro sanitário. Em geral os orçamentos municipais ainda não possuem dotação, provenientes de arrecadações municipais, que possam solucionar por completo os problemas com a coleta e destinação final dos resíduos sólidos e são necessários esforços para buscar financiamentos estaduais ou federais para implementar os projetos de recuperação das áreas degradadas. Nesta primeira etapa, onde ainda se tem uma grande quantidade de depósitos irregulares de lixo, faz-se necessário recuperar estas áreas ao mesmo tempo que são utilizadas para a disposição final dos resíduos, desde que haja condições de solo e localização adequada para este fim. Se começarmos a direcionar os esforços de maneira racional, olhando o problema de uma esfera superior, verifica-se que as barreiras físicas são infinitamente mais importantes do que as barreiras territoriais dos municípios. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1
2 Qualquer tipo de depósito de resíduos traz impactos ao ambiente, ou a curto ou a longo prazo, servindo como um empacotamento para gerações futuras, portanto, é necessário que estes impactos sejam minimizados e totalmente controlados através de um rigoroso monitoramento. É mais prático e eficaz operar e monitorar poucas áreas, centralizando um aporte maior de resíduos, do que estes resíduos disseminados em vários sítios de deposição, muitas vezes desconhecendo-se as suas localizações. Nesta linha de pensamento é que os consórcios municipais se enquadram, buscando unir forças para solucionar um problema que é global e não apenas de uma comunidade. Os municípios que se situam em regiões com subsolo de características propícias para depósitos de resíduos, bem como apresentarem áreas com as melhores condições de segurança ambiental, serão aqueles que centralizarão os consórcios oferecendo estas áreas para utilizá-las na forma de aterro sanitário. Mesmo enfocando-se o problema através de uma visão de economia de escala verifica-se que os custos unitários de um aterro começam a diminuir a partir de um determinado aporte de resíduos, com isso no momento em que um município opte em executar um aterro, deverá analisar todos os fatores físicos de sua região que possam diminuir os impactos de uma obra desse porte, e os fatores para reduzir os custos e viabilizar o orçamento municipal. DESCRIÇÃO DO ATERRO SANITÁRIO METROPOLITANO SANTA TECLA O Aterro Sanitário Metropolitano Santa Tecla é o primeiro Aterro Metropolitano licenciado pela FEPAM - órgão Estadual de Meio Ambiente - e executado para a recuperação ambiental de uma área degrada e o recebimento de 700 ton/dia de resíduos classe II, na forma de aterro sanitário no Rio Grande do Sul. A área total do aterro é de m 2, sendo que aproximadamente m 2 eram tomados pelo antigo lixão, que ocupava uma cava com aproximadamente 25 m de altura, conforme figura 1. O local do aterro é geologicamente apropriado para este tipo de obra, pois possui camadas de argila, intercaladas por camadas de argilito e siltito, formando uma impermeabilização natural do fundo, mas mesmo assim foi concebida uma camada de um metro de argila compactada com permeabilidade menor que 10-7 cm/s, para garantir a estanqueidade do aterro em possíveis afloramentos de arenito (ver figura 2). A infra-estrutura básica do aterro é composta por um escritório, uma balança eletrônica para 30 ton, abastecimento de água por poço artesiano, energia elétrica de baixa tensão, e prédio administrativo. O Aterro é operado e gerenciado pelo DMLU (Departamento Municipal de Limpeza Urbana de Porto Alegre). Trabalham no local 25 funcionários, todos do DMLU, sendo que o aterro nas 24 horas do dia. Somente a vigilância e segurança do local é feita por funcionários da Prefeitura do Município de Gravataí. O parque de máquinas no aterro é composto, basicamente, por três tratores-de-esteira de cerca de 16 toneladas, uma escavadeira frontal de esteiras, uma pá carregadeira, cinco caminhões basculantes de 5 m 3 e um caminhão pipa de 7 m 3. O sistema de tratamento de líquidos lixiviados foi concebido para realizar o tratamento completo na própria área do aterro, semelhante ao Aterro Sanitário da Extrema o sistema de tratamento do Aterro Santa Tecla foi concebido inicialmente com um filtro anaeróbio na base do primeiro patamar para um TDH de 17 dias, em seqüência uma série de lagoas e tendo como tratamento terciário o projeto de um sistema de banhado construído (Fig. 3). As obras de recuperação do lixão iniciaram em meados de 1998, e a partir de janeiro de 1999 a operação iniciou na forma de aterramento sanitário, recebendo os resíduos dos quatro municípios, e gradativamente, aumentando o aporte diário até chegar nas 700 toneladas, licenciadas no projeto, sendo que a vida útil foi prevista para 5,5 anos. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2
3 Figura 1 - Vista geral do lixão com catadores (1998). Figura 2 - Detalhe da cava de extração de argila (1988). Figura 3 - Estação de tratamento de lixiviados (2000). Figura 4 - Vista geral da operação em forma de aterro sanitário (2000). DESCRIÇÃO DO CONVÊNIO METROPOLITANO O convênio que viabilizou esta obra de saneamento foi firmado pelos municípios de Gravataí, Porto Alegre, Cachoeirinha e Esteio, tendo como co-partícipe a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária (ABES), por um período de 10 anos, sendo que a área está inserida no município de Gravataí e o projeto e execução deste aterro ficou a encargo do município de Porto Alegre através do DMLU. Ao Município de Gravataí coube a responsabilidade de asfaltamento de cerca de 8 km da estrada de acesso, o fornecimento de energia elétrica e água potável, e a manutenção da vigilância no local. Para os outros dois municípios, ficou estabelecido que eles disporão seus resíduos através de um repasse de custo por tonelada aterrada ao Município Sede (Gravataí). Neste ano de 2000, o Governo do Estado passou a fazer parte formalmente do Convênio Metropolitano, através da METROPLAN - Fundação de Planejamento Metropolitano e Regional. A METROPLAN está responsável pela desapropriação da área, inclusive para futura expansão do aterro, e pelo repasse de outros recursos financeiros. A seguir apresenta-se a Cláusula Primeira do convênio: do objeto. O presente convênio tem por objetivo o Gerenciamento Integrado dos Resíduos Sólidos gerados nos municípios conveniados, desde a coleta até a destinação final, o Desenvolvimento de Políticas Públicas Ambientais que apontem para a redução da geração de resíduos, a coleta seletiva como método principal de segregação de resíduos e a implantação de processos de reaproveitamento, reciclagem e compostagem, bem como o aterramento sanitário dos rejeitos, mediante a recuperação do lixão existente na localidade de Santa Tecla, município de Gravataí, com a minimização do impacto ambiental e a construção e operação de aterro sanitário, e a Promoção de Programas de Educação Ambiental e de Qualificação de Pessoal. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3
4 Referente às obrigações comuns aos municípios ficou acordado de que os municípios deveriam: indicar o órgão responsável para tratar as matérias relacionadas ao convênio; proporcionar condições para a elaboração do diagnóstico da situação dos serviços de limpeza urbana; identificar os problemas mais graves, identificálos e quantificá-los; colaborar de forma efetiva na busca de soluções; alocar recursos financeiros para a concepção do projeto; providenciar a obtenção das licenças junto a FEPAM; disponibilizar espaço físico para a realização dos cursos; providenciar a reprodução do material distribuído aos participantes; prever em suas leis orçamentárias disponibilidade de receita, referente à disposição no aterro, junto à prefeitura de Gravataí, para utilização do projeto; cumprir rigorosamente o pagamento da disposição dos resíduos. O convênio ainda prevê que a gestão deverá ser realizada por um Conselho Gestor, com atribuições definidas por um Regimento Interno próprio composto por um representante de cada município, devendo estar vinculado um grupo técnico formado por um representante de cada partícipe. VIABILIZAÇÃO TÉCNICO-ECONÔMICA DO ATERRO A viabilidade técnica do aterro foi proporcionada pelas condições geológicas da região de Santa Tecla, pois é composta por ocorrências de argilitos e siltitos arenosos na forma de pacotes tabulares de espessura variável entre um metro e uma dezena de metros. Através de ensaios in situ foi determinado que o coeficiente de permeabilidade do solo argiloso natural era igual ou inferior a 10-7 cm/s, com isso garantiu-se de que as camadas sob o lixão estavam servindo como uma barreira impermeável, evitando que os líquidos infiltrassem no subsolo, e ainda proporcionou a utilização da argila da região para executar a impermeabilização de fundo da área de expansão do aterro, através de uma camada de um metro de espessura. O volume útil para disposição de resíduos foi calculado como sendo de m3 (estimado em projeto), sendo que a demanda era de 700 toneladas por dia, com isso a vida útil do aterro foi estimada em 5,5 anos a partir do início dos trabalhos de remediação, em meados de A viabilidade econômica desta obra foi conseguida a partir da dimensão da área a ser destinada como aterro sanitário, e das excelentes condições do solo. Observando a tabela 1, verifica-se que R$ ,00 correspondem aos custos fixos que independeriam do tamanho do aterro, neste caso representa cerca de 15 % do custo total da obra, que é de 17,5 milhões de reais. Mas caso o custo fosse menor, estes serviços fixos representariam um percentual maior. Com esta visão de escala é que, para a data base de junho de 1999, o custo unitário do Aterro Metropolitano Santa Tecla foi estimado em R$14,58 por tonelada de resíduos aterrada e em R$10,21 por m 3 para 5,5 anos de operação. Exemplificando, pode-se demonstrar que para um município de habitantes, como os dois menores municípios do consórcio, necessitam de um orçamento mensal de aproximadamente R$19.000,00 para destinar adequadamente os seus resíduos, inclusive com estrutura de reciclagem para a coleta seletiva, ou seja, isto representa 19 centavos de real mensais por habitante ou R$ 2,28 ao ano. Com base neste demonstrativo financeiro fica óbvio de que as políticas públicas ambientais, referentes aos resíduos sólidos, podem ser implantadas e viabilizadas desde que haja um objetivo em comum e que os gestores municipais unam esforços no sentido de reduzir os custos das unidades de destino final, através da visão de economia de escala e, também, não tenham receios de abrir as fronteiras municipais para receber os resíduos de seus vizinhos, desde que as condições geológicas sejam as mais adequadas entre os consorciados. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4
5 Tabela 1 - Planilha de custos do aterro. Etapa Serviço Custo (R$) % no Total Instalações provisórias ,00 0,10 Acessos provisórios ,00 0,23 Confinamento transp. e contenção dos resíduos ,00 1,97 Conformação dos taludes ,00 0,31 Drenagem de percolados ,00 0,18 Drenagem de gases 5.873,00 0,03 Cobertura primária com argila ,00 0,24 Tratamento de lixiviados (armazenamento e transp.) ,00 0,20 Despesas com funcionários (10) ,00 1,03 Subtotal ,00 4,28 Projeto técnico ,00 0,43 Desapropriação da área ,00 0,68 Escritório ,00 0,28 Acessos permanentes (arenito) ,00 0,62 Acessos permanentes (asfalto) ,00 1,14 Rede elétrica ,00 0,44 Balança rodoviária p/ 30 ton ,00 0,42 Cercamento da área ,00 0,22 Cortina vegetal ,00 0,12 Piezômetros ,00 0,17 Escavação e transporte de solo ,00 5,82 Escavação e transporte de rocha ,00 0,57 Impermeabilização da base (c/ argila) ,00 1,73 Estação de tratamento de percolados ,00 1,09 Poço artesiano c/ bomba e reservatório ,00 0,14 Galpão de triagem ,00 0,91 Pavimento do acesso principal ,00 2,85 Ponte de concreto ,00 1,43 Despesas com funcionários (30) ,00 3,21 Subtotal ,00 22,28 Espalhamento e compactação dos resíduos ,00 44,39 Acessos provisórios ,00 0,97 Pátio de descarga ,00 0,28 Cobertura diária ,00 2,16 Drenagem pluvial ,00 0,24 Drenagem de percolados ,00 2,43 Colchão drenante ,00 0,47 Drenagem de gases ,00 0,37 Impermeabilização superficial (c/ argila) ,00 1,26 Proteção dos taludes com grama ,00 1,74 Tratamento de percolados ,00 1,54 Balança rodoviária (manutenção) 6.250,00 0,04 Monitoramento operacional ,00 0,72 Monitoramento ambiental ,00 0,91 Manutenção das estradas de acessos ,00 1,46 Despesas com funcionários ,00 14,47 Subtotal ,00 73,44 TOTAL , Fonte : DMLU - Projeto executivo do Aterro Sanitário Metropolitano Santa Tecla REMEDIAÇÃO IMPLANTAÇÃO OPERAÇÃO ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5
6 CONCLUSÕES Os consórcios municipais para a execução de aterros sanitários pelo ponto de vista ambiental são viáveis, pois proporciona que a área escolhida seja a mais adequada pelas características físicas e não por limites virtuais impostos pela abrangência do poder municipal; e pelo ponto de vista econômico são viáveis pois proporcionam um custo unitário menor para os resíduos ali dispostos devido a economia de escala. Muitas barreiras ainda precisam ser vencidas, principalmente no que tange a não aceitação, por parte dos cidadãos do município sede, deste tipo de empreendimento. Mas, acreditamos, firmemente, ser este um caminho sem volta, onde a sociedade de forma integrada, consciente e solidária, busca as soluções conjuntas para um problema comum. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. DMLU - Projeto executivo do aterro sanitário metropolitano Santa Tecla - município de Gravataí. VI - Memorial descritivo, memorial técnico e manual de operações. Porto Alegre Departamento Municipal de Limpeza Urbana, Prefeitura Municipal de Porto Alegre, RS- Brasil. 118 p. 2. PREFEITURAS MUNICIPAIS DE: PORTO ALEGRE, GRAVATAÍ, CACHOEIRINHA e ESTEIO, ABES - Convênio municipal para o gerenciamento de resíduos sólidos gerados em seus territórios - coleta e destino final Prefeitura municipal de Gravataí, RS. 6 p. 3. REICHERT, G. A.; REIS, J.C.F. Custos de implantação e de operação de aterro sanitário - estudo de caso: Aterro da Extrema, Porto Alegre, RS. II Simpósio Internacional de Qualidade Ambiental - Gerenciamento de Resíduos Sólidos e Certificação Ambiental Porto Alegre, RS. Pp ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 6
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