APOLOGIA À UNIDADE DE A. A. Alencar J.F.

Transcrição

1 APOLOGIA À UNIDADE DE A. A. Alencar J.F. Gostaria de começar o nosso bate papo revelando para vocês um pensamento manifestado pelo Dr.Bob, na sua última palestra, que aconteceu em dezembro de 1948, e que foi impressa pela primeira vez na revista A.A. Grapevine de junho de Esta palestra foi realizada na cidade de Detroit, Estado do Michigan-EUA. O pensamento é este: Não acredito que possamos fazer algo muito bem neste mundo, a não ser que pratiquemos. Creio também que esta prática deva ser adotada para que sejamos bons AAs. As pessoas que conquistaram grandes prêmios mundiais em eventos esportivos são gente que exercita, que vem exercitando há anos e ainda precisa se exercitar. Para fazermos um bom trabalho em Alcoólicos Anônimos, há uma série de coisas que devemos exercitar. Como eu já disse, devemos: a) Ter entusiasmo pelo Serviço, e b) Devemos tentar ter alguma fé, o que não se consegue com facilidade, sobretudo para aquele que sempre foi muito materialista. Mas eu acho que a fé pode ser conseguida e, pouco a pouco, precisa ser cultivada. Isto não foi fácil para mim e imagino que seja difícil para todo mundo. No decorrer de sua última palestra, Dr.Bob faz as seguintes perguntas: Sabemos o que Alcoólicos Anônimos fez nestes treze últimos anos, mas, para onde vamos agora? E o Dr. Bob ainda acrescenta: A meu ver, numa estimativa conservadora, nossos companheiros chegam hoje, a (Na Encuesta do ano de 1993, o número de membros de Alcoólicos Anônimos em todo o mundo é estimado em mais de dois milhões). 1

2 Daqui em diante este número irá aumentar? E o próprio Dr. Bob responde a esta pergunta: Bem, isto vai depender de cada membro de A.A. Para nós, crescermos ou não, depende da nossa escolha. Poderemos crescer se: Fugirmos de alianças embaraçosas; Evitarmos nos envolver em controvérsias religiosas, políticas ou legais; Mantivermos a unidade através de nossos escritórios centrais; Preservarmos a simplicidade do nosso Programa de Recuperação; Lembrarmos que nossa tarefa é ficarmos e permanecermos sóbrios e também ajudar nossos irmãos menos afortunados a fazer o mesmo, então continuaremos a crescer, a florescer e a prosperar. Mas, em 1955, Bill W. escreveu um artigo para a revista A.A. Grapevine, que inicia com uma pergunta que é dirigida a todos nós, membros de Alcoólicos Anônimos, e a pergunta é a seguinte: Como nós, membros de Alcoólicos Anônimos preservaremos melhor a nossa UNIDADE?. Nesse artigo Bill W. diz: - quando um alcoólico aplica à sua vida pessoal, OS DOZE PASSOS do nosso Programa de Recuperação, sua desintegração paralisa e sua unificação começa. Este mesmo princípio se aplica ao Grupo de A.A. em particular e a Alcoólicos Anônimos como um todo. Enquanto os laços que nos unem provarem ser mais fortes do que as forças que poderiam nos dividir se pudessem, tudo estará bem, e a nossa Irmandade estará segura, nossa fundamental UNIDADE com certeza permanecerá. Nesse artigo, Bill W, cita uma relação de perigos, de forças, que podem nos dividir, e enuncia uma série de condições importantes e absolutamente necessárias para a manutenção dessa UNIDADE: 1ª É fundamental e necessário que cada membro de A.A. possa recusar prestígio público e que também possa renunciar a qualquer desejo de influência pessoal; 2ª Que como Irmandade, deve insistir em permanecer pobre, a fim de evitar disputas a respeito de grande propriedade e de sua administração; 3ª Que se nós, como Irmandade, sempre rejeitarmos todas as alianças políticas, sectárias ou quaisquer outras, evitaremos a divisão interna e a notoriedade pública; 4ª Que como movimento deve continuar sendo uma entidade espiritual, interessada somente em levar a nossa mensagem aos companheiros sofredores, sem esperar qualquer recompensa financeira ou obrigação. Satisfeitas estas condições básicas e essenciais, aí sim, preservaremos a nossa UNIDADE. A cada dia que passa, fica mais claro para nós, os membros de A.A., que a Irmandade nunca deve aceitar benefícios temporários, ainda que sejam os mais tentadores, principalmente se estes benefícios constituem uma grande soma de dinheiro ou que possam envolver nossa Irmandade em alianças polêmicas e de endosso, ou ainda se esses benefícios puderem tentar algum membro de A.A. a aceitar, como membro da Irmandade, publicidade pessoal em nível de imprensa, rádio, cinema e televisão. Ainda neste artigo, Bill W. diz que: A Unidade é tão vital para nós, membros de A.A., que não podemos nos arriscar tomando aquelas atitudes e práticas, que às vezes têm desmoralizado outras formas de sociedade humana, e, que até aquela data, (vinte anos depois da sua fundação.), a Irmandade de Alcoólicos Anônimos tinha sido bem sucedida porque tinha agido de forma diferente das outras formas de sociedade humana. Num determinado ponto deste artigo, Bill W., alerta a todos os membros de Alcoólicos Anônimos, de que a Unidade de A.A. não pode se preservar automaticamente, e que, assim como a recuperação pessoal por meio d Os

3 Doze Passos, teremos que sempre trabalhar para manter essa unidade, e para mantê-la, precisamos desenvolver algumas virtudes como: honestidade de propósito, humildade, mente aberta, altruísmo e acima de tudo - vigilância. Deste modo, nós que somos mais antigos, que já estamos com os pés na cova, considerados ultrapassados, pré-históricos, matusaléns, dinossauros, etc., pedimos a vocês mais novos, algumas vezes recém-chegados, para refletirem e meditarem cuidadosamente a experiência que temos tido de trabalhar e viver juntos. Nós, os veteranos, gostaríamos que cada membro de A.A. aqui presente tomasse tanta consciência dessas tendências perturbadoras citadas anteriormente (de n 1 a 4) que constantemente põem em perigo a Irmandade não só em nível individual, mas também, e principalmente, em nível de Alcoólicos Anônimos como um todo. Lembre-se que anteriormente movimentos inteiros se desfizeram ou se desintegraram por falta de Unidade. Os DOZE PONTOS DA TRADIÇÃO DE A.A. constituem a primeira tentativa para estabelecer princípios sólidos de conduta do Grupo de A.A. e as relações públicas. Muitos membros de A.A. já perceberam que esses Doze Pontos de Sustentação da Unidade que a princípio, isto é, de 1946 até 1950 foram normas de procedimento e que depois de homologadas pela Primeira Convenção Internacional, realizada na cidade de Cleveland, Estado de Ohio se tornaram Tradições, e que são sólidas o suficiente para tornarem-se o Guia Básico e a proteção de Alcoólicos Anônimos como um todo. Que devemos aplicá-las tão séria e responsavelmente como fazemos com Os Doze Passos de recuperação para nós mesmos. Há cinquenta e seis anos, Bill W. escreveu o seguinte: Jamais devemos esquecer que sem unidade permanente, muito pouco ou quase nada, podemos oferecer no sentido de aliviar as dezenas ou centenas de milhares de alcoólicos que ainda estão a unir-se a nós, no sentido de ajudá-los na sua procura de liberdade. Bill W. também deixa registrado no livro A.A. Atinge a Maioridade o seguinte: Mas As Doze Tradições também apontam diretamente para muitos de nossos defeitos individuais. Por dedução, elas pedem a cada um de nós para deixar de lado o orgulho e o ressentimento. Elas pedem pelo benefício do Grupo de A.A., bem como pelo benefício pessoal. Elas nos pedem para nunca usar o nome de A.A. na busca de poder pessoal, fama ou dinheiro. As Tradições garantem a igualdade de todos os membros e a independência de todos os Grupos. Elas nos mostram como podemos nos relacionar melhor uns com os outros e com o mundo lá fora. Elas nos indicam como podemos funcionar melhor em harmonia com o todo. Em consideração ao bem-estar de toda a nossa Irmandade, as Tradições pede a cada indivíduo, cada Grupo e cada setor de A.A. que ponham de lado todos os seus desejos, ambições e ações inconvenientes que possam ocasionar sérias discussões entre nós, ou a perda da confiança que nos deposita o mundo todo. No livreto A Tradição de A.A. Como se Desenvolveu encontramos este registro feito por Bill W: - As lições aprendidas com nossas experiências valem muito. Adquirimos durante esses setenta e oito anos de existência, um grande conhecimento do problema de viver e trabalhar juntos. Se formos bem sucedidos nisso e conservarmos o sucesso ENTÃO, E SOMENTE ENTÃO, NOSSO FUTURO ESTARÁ GARANTIDO. Quase todo membro de A.A. pode dizer quais são os problemas que afligem os Grupos de A.A., e que podem por em risco não só a unidade do Grupo, mas também o futuro de Alcoólicos Anônimos. Para concluir minha apresentação neste evento, digo que, apesar de Bill W. há 65 anos, ter arduamente desenvolvido um programa de ação para a 3

4 Irmandade, a fim de que, Grupos de A.A. e Organismos de Serviço, funcionassem com homogeneidade, podemos facilmente perceber que alguns Grupos de A.A., ainda fazem da desobediência uma virtude, e por esta razão temos no Brasil, Grupos de A.A.: Com sede própria; Grupos reunindo em órgãos públicos (Grupos Escolares), Grupos reunindo em salões paroquiais, ou em igrejas evangélicas, Grupos que além de receberem doações de fora, ainda as pedem; Grupos no qual o anonimato não é respeitado, sendo este considerado coisa do passado; Grupos que realizam em sua sala de reuniões, celebrações religiosas (missa ou culto), na ocasião de seus eventos; Grupos que nas suas festas de aniversário realizam baile de carnaval (com confete e serpentina), churrasco, etc., etc. E tudo isso, é uma descaracterização total do modelo que foi arduamente planejado por nosso cofundador Bill W., para um funcionamento ad eternum. Por essas e outras razões, penso que a pergunta citada no início da minha fala e feita por nosso cofundador, em 1955, continua atual: - Qual é a nossa responsabilidade para hoje e amanhã? Conseguiremos remediar os defeitos e lacunas que sempre poderão existir em nossas comunicações? A verdade é que continua a necessidade da mais cuidadosa vigilância e de um sentimento de responsabilidade cada vez mais profundo. Portanto chego a conclusão de que somente mantendo a nossa unidade, podemos assegurar o futuro de Alcoólicos Anônimos, e isto o faremos se cada membro de A.A., praticar com honestidade cada um desses Doze Pontos de sustentação da UNIDADE da Irmandade as Tradições de A.A., não somente no seu Grupo-base, mas também na sua vida pessoal. Que cada um de nós, dentro do nosso limite e recurso, acate com responsabilidade cada ponto de sustentação da nossa UNIDADE, e então assim, levaremos ALCOÓLICOS ANÔNIMOS ao centenário. Que o Poder Superior tenha compaixão de nós que já estamos em Alcoólicos Anônimos, porém, que Ele compadeça principalmente daqueles que, pelas nossas omissões em atitudes e ações, talvez nunca cheguem a unir-se á Alcoólicos Anônimos. Muito obrigado a todos e mais vinte quatro horas de sobriedade. Alencar J.F. Fontes consultadas: - A.A. Atinge a Maioridade - A Tradição de A.A. Como se Desenvolveu

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