Módulo e Legais. com a Humano
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- Giuliana Bennert Padilha
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1 Curso de Capacitação a Distância em Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano Módulo I Fundamentos Conceituais e Legais Relacionados com a Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano UNIDADE 2 Fundamentos Técnicos 1
2 Ministério da Saúde MS Secretaria de Vigilância em Saúde SVS Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador (DSAST) Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental CGVAM Universidade Aberta do SUS (UnA SUS) Organização Pan Americana de Saúde (OPAS OMS) Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ Instituto de Saúde Coletiva IESC Laboratório de Educação a Distância do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ (LABEAD/IESC) Carmen Ildes Rodrigues Fróes Asmus Coordenação Geral Maria Izabel de Freitas Filhote Coordenação Adjunta Nolan Ribeiro Bezerra Teixeira Coordenação Técnica Maria Imaculada Medina Lima Supervisão de Produção Clayre Lopes Supervisão de Produção Mariano Andrade da Silva Técnico Gleice Borba Ferreira da Silva Secretária Danielle Ribeiro Revisão Ortográfica Laboratório de Tecnologias Cognitivas do Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde (LTC/NUTES) Miriam Struchiner Coordenação Geral (Equipe pedagógica) Taís Giannella Coordenação Executiva (Equipe pedagógica) Rodrigo Alcantara de Carvalho Designer Instrucional Silvia Esteves Duarte Designer Gráfico Márcia Quintella de Oliveira Designer Gráfico Luciana Martins Vieira Técnica em Assuntos Educacionais Letícia de Moraes Apoio Administrativo Daniela de Melo Callegario Estagiária de Programação Visual Vanessa Padilha Estagiária de Programação Visual 2
3 APRESENTAÇÃO O Módulo I, intitulado Fundamentos Conceituais e Legais Relacionados com a Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano do curso de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano, tem como objetivo compreender os aspectos conceituais, legais e técnicos aplicados à vigilância da qualidade da água para consumo humano. O Módulo I foi estruturado em duas unidades, a saber: Unidade 1: Fundamentos Conceituais e Legais Na Unidade 1 você terá a oportunidade de relembrar os princípios e diretrizes do SUS e sua relação com a Vigilância em Saúde, a importância da relação água e saúde, os aspectos conceituais, legais e técnicos da vigilância, qual o campo e a forma de atuação da Vigilância e quais as competências do setor saúde e prestadores de serviços relacionados à qualidade da água para consumo humano. Unidade 2: Fundamentos Técnicos Na Unidade 2 você vai compreender os conceitos envolvidos no abastecimento de água para consumo humano que são fundamentais para o aprimoramento do exercício das atividades relacionadas à Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano. 3
4 Módulo I Fundamentos Conceituais e Legais Relacionados com a Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano UNIDADE 2 Fundamentos Técnicos Autores Valter Lúcio de Pádua Engenheiro Civil pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestre e doutor em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC USP). Pós doutorado pelo Instituto de Diagnóstico Ambiental e Estudos da Água do Conselho Superior de Investigações Científicas de Barcelona, Espanha. Professor adjunto do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG. Leonardo Augusto dos Santos Engenheiro Civil pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestrando do Programa de Pós Graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da UFMG. 4
5 Módulo I Fundamentos Conceituais e Legais Relacionados com a Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano UNIDADE 2 Fundamentos Técnicos Objetivos específicos No fim desta unidade, você terá subsídios para: Definir as diversas formas de abastecimento de água para consumo humano; Compreender o processo de remoção de contaminantes químicos e organismos patogênicos por meio do tratamento da água; Definir os parâmetros de qualidade da água (físicos, químicos e microbiológicos) e os seus significados sob a perspectiva de risco à saúde; Avaliar o padrão de potabilidade da água para consumo humano no contexto das práticas de atuação da vigilância; Identificar os tipos de doenças relacionadas com a água para consumo humano, suas vias de transmissão e medidas de controle. 5
6 PARA INÍCIO DE ESTUDO Na Unidade 1 você teve a oportunidade de relembrar os princípios e as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) e sua relação com a Vigilância em Saúde, a importância da relação água e saúde, os aspectos conceituais e legais da Vigilância, quais o campo e a forma de atuação da Vigilância e as competências do setor saúde e prestadores de serviços de abastecimento de água. Na Unidade 2, você vai compreender os conceitos envolvidos no abastecimento de água para consumo humano que são fundamentais para o aprimoramento do exercício das atividades relacionadas com a Vigilância da Qualidade da Água para consumo humano. Você vai ter a oportunidade de entender: i) as diversas formas de abastecimento de água para consumo humano, desde a captação até a distribuição; e ii) o processo de remoção de contaminantes químicos e organismos patogênicos por meio do tratamento da água. Outro ponto importante que você estudará nesta unidade se refere aos parâmetros de qualidade da água (físicos, químicos e microbiológicos) e os seus significados sob a perspectiva de risco à saúde, além dos aspectos relacionados com o padrão de potabilidade da água para consumo humano no contexto das práticas de atuação da Vigilância no seu município. E, por fim, você vai ler sobre os tipos de doenças relacionadas com a água para consumo humano, suas vias de transmissão e medidas de controle. 6
7 SUMÁRIO 1. Abastecimento de Água para consumo humano: da captação à distribuição O caminho da Água: da captação à distribuição Os Mananciais e as Formas de Captação Captação de Água de Superfície Captação de Água Subterrânea Captação de Água de Chuva Escolha e Proteção do Manancial de Captação O Transporte de Água (Adução) Tratamento da Água Técnicas de Tratamento com o uso da Filtração Rápida em Meio Granular Técnicas de Tratamento com o uso da Filtração Lenta em Meio Granular Separação em Membranas Etapas de Tratamento Comum a Todas as Tecnologias de Tratamento Remoção de Contaminantes Químicos e Organismos Patogênicos por meio do Tratamento de Água Reservação e Distribuição Reservatórios de Distribuição de Água Rede de Distribuição de Água Instalações Prediais Soluções Alternativas Coletivas Qualidade da Água para consumo humano e Plano de Amostragem Qualidade da água para consumo humano Plano de Amostragem Doenças de Transmissão Hídrica 69 Resumindo 74 Referências Bibliográficas 76 FIQUE ATENTO! Existe uma grande variedade de possíveis arranjos que caracterizam as formas de abastecimento de água para consumo humano. A seguir, vamos aprender e relembrar conceitos importantes envolvidos no abastecimento de água, iniciando com um estudo de caso. 7
8 Introdução ao Estudo de Caso Caros alunos, para vocês compreenderem, os conceitos aplicados no aprimoramento das atividades relacionadas com a Vigilância da Qualidade da Água para consumo humano, iniciaremos esta unidade com um estudo de caso que tem como objetivo apresentar uma situação hipotética relacionada com o abastecimento de água, mas que permitirá que vocês façam associação com situações reais, e identifiquem problemas e desafios relativos à Vigilância da Qualidade da Água para consumo humano. No fim da Unidade 2 voltaremos a este estudo de caso, para que você possa responder a algumas perguntas após ler as 3 seções que compõem esta Unidade. Estudo de Caso Considere dois municípios localizados em uma mesma bacia hidrográfica e que há mais de 50 anos captam água de um mesmo rio para abastecer suas áreas urbanas. O município localizado mais próximo da nascente, que chamaremos de Miguilim, possui habitantes e o município situado mais a jusante, que denominaremos por Manuelzão, possui atualmente habitantes. O ritmo de crescimento das duas cidades foi muito distinto nos últimos 50 anos. A cidade de Miguilim possuía habitantes e as atividades econômicas lá desenvolvidas causavam pouco impacto na qualidade da água do rio, o que ainda hoje é observado. Contudo, o uso e ocupação do solo nos demais municípios da bacia hidrográfica foram feitos de modo desordenado nas últimas décadas, sendo observado o lançamento de esgoto doméstico e efluente industrial não tratados no rio, intensa atividade agropecuária desenvolvida por pequenos produtores rurais e, mais recentemente, expansão urbana, com a implantação paulatina de condomínios e loteamentos e o aumento da área de solo impermeabilizada. A poluição difusa decorrente do uso de agrotóxicos também tem comprometido a qualidade da água, assim como a erosão causada pelo desmatamento das margens do rio. Considere que, há mais de 50 anos, no sistema de abastecimento de água que atende a área urbana da cidade de Miguilim a captação seja feita diretamente do rio e que na área rural a prefeitura local perfurou poços artesianos e instalou chafariz. De acordo com a Portaria MS 8
9 n O 2914/2011, essa modalidade de abastecimento é caracterizada como solução alternativa coletiva. Em ambos os casos, o tratamento da água sempre foi feito por simples desinfecção. Sabe se também que alguns moradores da zona rural da cidade de Miguilim optaram por fazer a captação de água de chuva, configurando o que se denomina solução alternativa individual de abastecimento de água. Para a cidade de Manuelzão, há 50 anos foi construída uma barragem de regularização de vazão para permitir o abastecimento do município e desde aquela época o tratamento da água tem sido feito por filtração direta descendente. Mas, nos últimos anos, têm se encontrado dificuldade em potabilizar a água por meio desta técnica de tratamento, especialmente por conta do avançado estado de eutrofização da represa onde é feita a captação. A empresa responsável pelo abastecimento da cidade de Manuelzão faz o controle da qualidade da água por meio de coleta semanal de uma amostra na saída da estação de tratamento, para determinação da turbidez. O uso e ocupação do solo na bacia hidrográfica onde se localizam a cidade de Miguilim e a cidade de Manuelzão estão representados nas Figuras 1 e 2, sendo a Figura 1 ilustrativa da situação há 50 anos e a Figura 2 representando o estágio atual. Figura 1: representação do uso e ocupação da bacia hidrográfica há 50 anos. Fonte: ReCESA,
10 Figura 2: representação do uso e ocupação da bacia hidrográfica na época atual. Fonte: ReCESA, A partir do cenário descrito anteriormente, procure identificar os problemas relacionados com o abastecimento de água das duas cidades, as causas dos problemas e as possíveis soluções. No fim da Unidade 2 serão apresentadas perguntas relacionadas com este estudo de caso. Esperamos que você esteja preparado para respondê las após estudar o texto que iniciaremos a seguir. Boa leitura! 10
11 1 Abastecimento de Água para consumo humano: da captação à distribuição Caro aluno, você sabe quais são as etapas de um sistema de abastecimento de água? Qual a diferença entre sistema de abastecimento de água e solução alternativa coletiva? Essas expressões apareceram no estudo de caso que foi apresentado no início desta unidade. Existe também a solução alternativa individual, que em conjunto com as expressões já citadas contemplam as formas de abastecimento de água expressas na Portaria nº de 12/12/2011 do Ministério da Saúde, conforme quadro a seguir. Sistema de abastecimento de água Solução alternativa coletiva Solução alternativa individual Instalação composta por um conjunto de obras civis, materiais e equipamentos, desde a zona de captação até as ligações prediais, destinada à produção e ao fornecimento coletivo de água potável, por meio de rede de distribuição. Modalidade de abastecimento coletivo destinada a fornecer água potável, com captação subterrânea ou superficial, com ou sem canalização e sem rede de distribuição. Modalidade de abastecimento de água para consumo humano que atenda domicílios residenciais com uma única família, incluindo seus agregados familiares. Como você sabe, existe uma variedade muito grande de arranjos de instalações de abastecimento de água para consumo humano, seja na zona urbana ou na zona rural. Atualmente, no Brasil, a maioria da população é atendida por rede geral de abastecimento, mas ainda há muitas localidades onde a rede de abastecimento de água não foi implantada e a população se abastece por soluções coletivas, como, por exemplo, chafariz e caminhõespipa. Há também famílias que retiram água, individualmente, de poço, de minas, e outras que constroem cisternas para captação água de chuva, dentre outras soluções alternativas individuais. A Figura 3 apresenta, apenas como exemplo, arranjos esquemáticos de algumas instalações de abastecimento de água. 11
12 Figura 3a: Solução individual com poço raso. Figura 3b: solução individual com captação de água de chuva. 12
13 Figura 3c: Chafariz sobre poço freático. Figura 3.d Chafariz alimentado por reservatório elevado. Figura 3e: Fornecimento de água por caminhão pipa. 13
14 Figura 3f: Captação em nascente com adução por gravidade. Figura 3g: Captação em manancial superficial, adução por gravidade e filtros lentos. Figura 3h: bateria de poços, concentração em tanque de contato/reservatório, distribuição por gravidade (perfil). 14
15 Figura 3i: Captação em manancial de superfície e rede de distribuição com duas zonas de pressão. Fonte: Adaptado de Heller e Pádua (2010). Figura 3 Instalações de abastecimento de água. Para relembrar ou aprender assuntos relacionados com o abastecimento de água para consumo humano, vamos começar a leitura sobre o caminho percorrido pela água desde a captação até a distribuição O caminho da água: da captação à distribuição Para fornecer água a uma comunidade, em geral são necessárias as etapas de captação, adução, tratamento, reservação e distribuição, conforme ilustrado na Figura 4 para um sistema de abastecimento de água. Todas as etapas são importantes e requerem atenção de quem trabalha na Vigilância da Qualidade da Água. Figura 4: unidades de um sistema de abastecimento de água. Fonte: Brasil, 2006, Adaptada Funasa,
16 Você sabe de onde podemos captar água para fornecer à população? Analise a Figura 5, que mostra como a água está distribuída no mundo. Figura 5: distribuição de água no mundo. Fonte: Por ser mais acessível, freqüentemente a água que abastece as comunidades é proveniente de mananciais superficiais (córregos, rios, açudes, etc.) ou de poços subterrâneos. Se o manancial de onde é feita a captação é protegido, isso tornará mais simples o tratamento necessário para tornar a água potável. Mas, infelizmente, muitos dos nossos mananciais estão degradados, e fatos como os relatados no estudo de caso, de contaminação dos mananciais com resíduos agrícola, industrial e doméstico, são comuns em muitas localidades brasileiras. As atividades agrícolas podem contaminar a água com agrotóxicos, as indústrias podem lançar nos mananciais compostos químicos prejudiciais à saúde humana e o esgoto doméstico pode conter uma grande quantidade de organismos patogênicos, além de nutrientes, especialmente nitrogênio e fósforo, que favorecem a eutrofização dos mananciais. Por conta disso, muitas vezes é necessário abandonar um manancial mais próximo da localidade a ser abastecida e buscar água de uma fonte mais distante, mas que esteja menos contaminada, para evitar o emprego de técnicas sofisticadas e caras de tratamento de água e reduzir o risco sanitário da água distribuída à população. 16
17 Voltaremos a esse assunto mais adiante. Por enquanto, vamos aprender ou relembrar aspectos técnicos relacionados com a captação de água Os mananciais e as formas de captação Conforme destacado anteriormente, as fontes de água que, usualmente, abastecem as populações são os mananciais superficiais e subterrâneos, os quais são dotados de instalações e equipamentos para tomada de água Captação de água de superfície O manancial é uma das partes mais importantes do abastecimento de água, pois de sua escolha criteriosa depende o sucesso das demais unidades do sistema. Os especialistas não hesitam em reconhecer: o tratamento da água começa na sua captação. Entende se por captação de água de superfície o conjunto de estruturas e dispositivos construídos ou instalados junto a um rio, ribeirão, córrego, lago ou represa, para a retirada de água destinada ao abastecimento de comunidades. Os tipos de captação mais usuais são: captação direta ou a fio de água; captação com barragem de regularização de nível de água; captação com reservatório de regularização de vazão destinado prioritariamente para o abastecimento de água; captação em reservatórios ou lagos de usos múltiplos. A captação direta ou a fio de água é aplicada em cursos de água superficial que possuam vazão outorgável superior à vazão de captação e que apresentem nível de água mínimo suficiente para a adequada submergência do dispositivo utilizado para retirar água do manancial. Na Figura 6 tem se um exemplo da captação direta em um rio de grande porte. Vazão outorgável: parte da vazão de um corpo hídrico que pode ser legalmente utilizada. A outorga é um instrumento pelo qual o poder público dá ao usuário o direito de uso da água, mas não a sua propriedade, pois a água é um bem público, cujo domínio é exercido pela União, Estados e Distrito Federal. O objetivo da outorga é o de garantir os controles quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos de acesso a ela. 17
18 Figura 6: captação direta no rio São Francisco em Canindé de São Francisco SE. Fonte: A captação com barragem de regularização de nível de água também se aplica a cursos de água de superfície com vazão outorgável superior à vazão de captação, porém cujo nível de água mínimo seja insuficiente para a necessária submergência ou posicionamento dos dispositivos usados para retirar a água. Nesse caso, o nível da água precisa ser elevado por meio de uma barragem de pequena altura, também conhecida como soleira, cuja única finalidade é dotar o manancial do nível de água mínimo necessário à instalação dos dispositivos de captação. Na Figura 7, tem se a fotografia de uma barragem de regularização de nível. Figura 7: barragem de regularização de nível de água. Fonte: Funasa, A captação com reservatório de regularização de vazão destinado prioritariamente ao abastecimento de água é empregada quando a vazão mínima outorgável não regularizada do manancial de superfície é inferior à vazão de captação de projeto. Nesse caso, torna se 18
19 necessária a construção de barragem com altura e extensão suficientes para permitir o acúmulo do volume de água que possibilite a captação da vazão de projeto em qualquer época do ano, além de garantir o fluxo residual de água em quantidade adequada à manutenção da vida aquática e a outros usos a jusante da barragem. Esse é o tipo de obra cujo projeto e construção são mais complexos do que os demais tipos de captação citados anteriormente. Na Figura 8, tem se um reservatório de acumulação que alimenta o maior sistema produtor de água do estado de São Paulo. Figura 8: reservatório de acumulação do sistema Cantareira SABESP. Fonte: Sistema Cantareira: O Sistema Produtor de Água Cantareira é considerado um dos maiores do mundo. Sua área total tem aproximadamente hectares (2.279,5 km²), e abrange 12 municípios, sendo quatro deles no estado de Minas Gerais (Camanducaia, Extrema, Itapeva e Sapucaí Mirim) e oito em São Paulo (Bragança Paulista, Caieiras, Franco da Rocha, Joanópolis, Nazaré Paulista, Mairiporã, Piracaia e Vargem). É composto por cinco bacias hidrográficas e seis reservatórios interligados por túneis, canais e bombas, que produzem cerca de 33 m 3 /s para o abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo, o que corresponde a quase metade de toda a água consumida pelos habitantes da Grande São Paulo. Fonte: Adaptação A captação em reservatórios ou lagos de usos múltiplos é aquela que se dá em reservatórios artificiais ou em lagos naturais cujas águas não tenham o seu uso prioritário relacionado com o abastecimento de água, podendo ser utilizada também, por exemplo, na geração de energia elétrica, na navegação, lazer e irrigação. Na Figura 9 tem se um exemplo de lago de usos múltiplos. 19
20 Figura 9: barragem do lago Itaipu em Foz do Iguaçu PR. Fonte: Lago Itaipu: Formado em 1982, o reservatório de Itaipu tem área de km 2, sendo 770 no lado brasileiro e 580 no lado paraguaio. A profundidade média do reservatório é de 22 metros, podendo alcançar 170 metros nas proximidades da barragem. A represa de Itaipu é utilizada na geração de energia elétrica e também como lazer, havendo no seu entorno clubes, praias artificiais, ancoradouros, marinas e parques. As concessões para esse fim, sempre de caráter coletivo, atraem milhares de pessoas. Fonte: Adaptação A qualidade da água de mananciais superficiais depende das características hidrogeológicas da região e é fortemente influenciada pelo uso e pela ocupação do solo, sendo mais susceptível às variações sazonais determinadas pelas condições climáticas (períodos de chuva e estiagem) do que a água de mananciais subterrâneos. Tomando como exemplo o estudo de caso que foi apresentado no início desta unidade (Figuras 1 e 2), é fácil deduzir que a deterioração da qualidade da água do rio está associada ao uso e ocupação inadequados do solo na bacia hidrográfica. Agora que você já sabe um pouco mais sobre os tipos de captação de água, vamos tratar das partes que compõem a captação, ou seja, dos dispositivos de captação. Alguns deles são apresentados a seguir. Dispositivos para retenção de materiais São dispositivos retentores de materiais estranhos, como areia, folhas, galhos, peixes, répteis, moluscos e outros. Grades, crivos e telas de diversos tipos e formatos, e caixas de 20
21 areia (também conhecidas como desarenadores), desempenham esta função. Na Figura 10 tem se a vista em planta e em corte de uma situação em que se empregam tais dispositivos. Os dispositivos de captação podem ajudar na melhoria da qualidade da água que será tratada na Estação de Tratamento de Água (ETA) e, com isso, contribuir para reduzir o custo do tratamento e o risco sanitário da água, mas é muito importante não descuidar da proteção dos mananciais contra a poluição. Figura 10: tomada de água com grade de proteção e caixa de areia. Fonte: Funasa, No caso da captação de água em represas e lagos é comum serem utilizadas torres de tomada, conforme ilustrado nas Figuras 11 e 12. As torres de tomada possuem comportas (Figura 11) localizadas a diferentes alturas, o que dá flexibilidade de se fazer a captação pela comporta na qual se observa que a água possui melhor qualidade, visto que pode ser grande a variação da qualidade ao longo da coluna d água devido a fatores como: florações de algas (inclusive cianobactérias), principalmente mais na superfície da água; teores excessivos de matéria orgânica em decomposição, principalmente no verão; revolvimento de substâncias químicas do fundo, como o ferro e o manganês, nos períodos de baixa temperatura, quando pode ocorrer o fenômeno da inversão térmica. 21
22 Cianobactérias: as cianobactérias são microrganismos presentes em ambientes aquáticos e vêm sendo cada vez mais pesquisadas devido a sua capacidade de produção de toxinas, em alguns casos, altamente prejudiciais à saúde humana e animal. Essas toxinas, denominadas cianotoxinas, são responsáveis por alterações na qualidade das águas e têm sido causadoras de graves intoxicações pela ingestão e pelo contato com corpos d água contaminados. Por esse motivo, é importante que na concepção do projeto da torre de tomada seja prevista a possibilidade de captar água em diversas profundidades, para que se possa ter a opção de escolher, em diferentes períodos do ano, a profundidade que permite a captação da água de melhor qualidade. Figura 11: torre de tomada. Fonte: Funasa, A instalação de uma descarga de fundo próximo à torre de tomada em lagos ou represas também pode contribuir, ainda que apenas ao seu redor, para minimizar problemas relacionados com os depósitos de sedimentos. Na Figura 12, tem se a indicação da descarga de fundo localizada à direita da barragem, sendo essa descarga instalada próxima à torre de tomada. Figura 12: reservatório de acumulação do sistema Rio Manso COPASA. Fonte: 22
23 Outra solução muito empregada, especialmente em mananciais superficiais com grande oscilação de nível, é a captação flutuante. Essa opção tem sido mais utilizada em sistemas de pequenas e médias comunidades, como alternativa mais econômica às captações convencionais com torre de tomada. Na Figura 13, tem se uma instalação típica de uma balsa de captação flutuante. Figura 13: captação de água em balsa flutuante. Fonte: Captação de água subterrânea Em muitas localidades, o abastecimento de água pode ser feito pela captação em mananciais subterrâneos. Mananciais subterrâneos: toda e qualquer porção de água que ocorre no subsolo, podendo aflorar à superfície (nascentes, minas etc.) ou ser elevada à superfície por meio de obras de captação (poços rasos, poços profundos, galerias de infiltração). As principais vantagens da utilização de mananciais subterrâneos são: em geral, apresentam água de boa qualidade, mas isso não dispensa a necessidade de realizar ensaios para verificar se ela atende ao padrão de potabilidade, pois muitas vezes é necessário fazer o tratamento da água, além da desinfecção, que é obrigatória, antes de distribuí la à população. Além disso, como será comentado adiante, a água subterrânea proveniente de lençol freático é muito vulnerável à contaminação; possibilidade de localização das obras de captação nas proximidades das áreas de consumo, o que reduz o custo com a adução da água. Contudo, é sempre necessário realizar teste para verificar se o poço possui vazão suficiente para atender a demanda. 23
24 Deve se lembrar ainda que, dependendo da vazão a ser explorada, será necessário solicitar outorga para perfuração e exploração da água do poço. Lenta agonia: P. B., 25 anos, descobriu há alguns meses que a doença que ela tinha não era algo raro no país. Outros cidadãos eram consumidos por febres altas e tinham mãos e pés deformados, enfermidade que os matará lentamente. Seu poço está contaminado, e ela sabe disso. Mas, tanto ela, como sua família, continuam bebendo a água. Mesmo que o arsênio já tenha desfigurado suas mãos, a família de P. B. não está disposta a abrir mão de um dos poucos símbolos de sua prosperidade: o poço. P. B. é uma das 18 milhões de pessoas que estão bebendo água contaminada em Bangladesh e Bengala Ocidental (a nordeste da Índia). A água é retirada de lençóis freáticos que contêm grande quantidade de arsênio. A legislação bengalesa permite uma quantidade de arsênio cinco vezes maior que a Organização Mundial de Saúde (OMS), mas seus cidadãos estão bebendo com até 2 miligramas por litro de arsênio, ou seja, 200 vezes mais que o recomendado pela OMS. Os efeitos do lento envenenamento já podem ser notados. Peles de bengaleses apodrecendo, tumores epidérmicos que cobrem mãos e pés. Não existe tratamento para a doença. O que pode ser feito é impedir que os bengaleses continuem bebendo a água contaminada. Fonte: Folha de São Paulo (13/11/1998). As reservas de água subterrânea provêm de dois tipos de lençol d água ou aquífero. Procure compreender as definições apresentadas a seguir com o auxílio da Figura 14. Aquífero Livre ou Freático: É aquele em que a água se encontra livre, com sua superfície sobre a ação da pressão atmosférica. Em um poço perfurado nesse tipo de aquífero, a água no seu interior terá o nível coincidente com o nível do lençol. A recarga do aquífero freático ocorre, geralmente, ao longo do próprio lençol. Aquífero Confinado: É aquele em que a água encontra se confinada por camadas impermeáveis e sujeita a uma pressão maior que a atmosférica. Em um poço profundo, que atinge esse lençol, a água subirá acima do nível do mesmo. Poderá, às vezes, atingir a boca do poço e produzir uma descarga contínua, jorrante. A recarga do aquífero confinado verifica se somente no contato da formação geológica com a superfície do solo, podendo ocorrer a uma distância considerável do local do poço. As condições climáticas ou o regime de chuvas, observados na área de perfuração do poço, pouco ou 24
25 nada afetam as características do aquífero. Na Figura 14, tem se a representação esquemática dos tipos de aquíferos. Figura 14: tipos de lençol d água ou aquífero. Fonte: BRASIL, Conforme já destacado, o lençol freático fica mais exposto à contaminação proveniente das atividades antrópicas. Portanto, a adoção de medidas de proteção sanitária é fator preponderante para a garantia de fornecimento de água adequada à população. A área dos poços, seja freático ou artesiano, deve ser dotada de perímetro de proteção sanitária com condições de segurança (cerca) e com aparência agradável (sempre que possível gramada e arborizada). Deve se também posicionar os dispositivos de captação em cota superior à da localização de possíveis fontes de poluição, garantindo também afastamentos horizontais mínimos com relação a essas mesmas possíveis fontes de poluição, como fossas secas, fossas negras, depósito de lixo, etc. Na Figura 15 têm se exemplos de medidas de proteção de poços. 25
26 Figura 15: poço tubular profundo com medidas de proteção sanitária. Fonte: Captação de água de chuva Em algumas localidades brasileiras, especialmente na região semiárida, tem sido feita captação de água de chuva para consumo humano. A água de chuva costuma ser armazenada em cisternas, que são pequenos reservatórios individuais destinados a acumular a água da época chuvosa, para que ela possa ser utilizada para beber e cozinhar. Embora seja uma solução alternativa individual, a água de chuva destinada ao consumo precisa apresentar todas as características que façam com que ela não ofereça riscos à saúde humana. Na Figura 16 tem se um sistema típico de captação de água de chuva que conta com uma bomba manual para retirada de água da cisterna. 26
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