Josely Pereira Muniz. O Menino mais

Transcrição

1 Josely Pereira Muniz O Menino mais

2 O Menino mais Esta história é para contar a história de um menino que era diferente de todos os outros meninos do mundo. Para começar, ele tinha olhos de luzes. Quando seus olhos sorriam, tudo ficava iluminado. O seu sorriso também era diferente. Era como se todos os sacis do mundo estivessem por ali espiando... rindo também. E os seus ouvidos eram SUPER, pois ele estava escutando mesmo quando não estava ouvindo. Seu jeito de viver era pura alegria. Alegria e aventura. Aventura e descoberta.

3 Descoberta e procura. Procura e reencontro. Reencontro e sabedoria. Por que ele era o menininho mais sabido do mundo! E estava sempre querendo saber mais. Primeiro quis saber da VIDA e aí nasceu. Depois quis saber das pessoas, do AMOR delas, e então, deu o primeiro sorriso. EN - CAN - TOU!!! Depois quis saber dos CAMINHOS DA VIDA e, então deu o primeiro passo, o segundo, o terceiro, o quarto... e nunca mais parou de caminhar e de buscar saber. E quanto mais sabia, mais sabia que era preciso 3

4 saber. E sabia de tantas coisas... Do nome das pessoas, das letras, dos livros de histórias, de suas histórias que davam um livro, de novela e de filme (adorava cinema e TV), de lápis de cores e das cores com que pintava a vida... Sabia de sentimentos... Sabia de política e de esporte. De teatro e de circo. E sabia de Deus... Sabia de magia e de fantasia. E de se transformar. Sabia de amor e de saudade. 4

5 E era o menininho que mais sabia de brincadeiras NO MUNDO!!! Brincadeira de corrida, de advinhar, de pega-pega, de jogo da memória, de imitar coisas e bichos, de futebol, de bolinha de gude, de campeonato, de par ou ímpar, de cabra-cega, de ser monstro, de ser herói e de mil outras que ele acabava inventando. Sabia de sonho e de fazer sonhar... E queria sempre saber mais. Vivia investigando o mundo, criando hipóteses para a vida, tentando entender o que a princípio lhe era só mistério. Às vezes parecia que o vulcão que ebulia em todo o seu ser, dormia como acontece com os vulcões. Mas era engano dos mais enganosos: quando o 5

6 corpo parava o vulcão da mente entrava em ebulição mais forte ainda e deixava escorrer em abundância a larva da imaginação. _ O que você tem? Está tão quieto, preocupado... A resposta mais parecia um sopro: _ Estou com um problema. É segredo. Conto depois. Mas bem baixinho. _??? _ Quando a gente sair eu conto. _ Estou curiosa para saber o que é. Diga logo! _ Então vamos, vamos! Vamos logo, madrinha! O andar era cauteloso, o que não deixava de ser intrigante e engraçado naquele menininho que tinha pernas de corisco. 6

7 _ Me dê a mão e vamos bem de-va-gar-zi-nho, sem olhar para o céu, tá? Não olhe, não. _ O tom da voz ia sumindo. _ Está bem. Mas o que está acontecendo? _ Fale baixo, fale baixo! Ela pode ouvir. _ Ela quem? É este o problema? _ É. É a lua. _ A lua?! O que tem ela??? _ Fale baixo. Ela fica me espiando... _??? _ Ela está me perseguindo. Para onde eu vou, ela vai. Se eu corro, ela corre atrás de mim. Se eu ando, ela anda também. Ela vive me seguindo. Não posso fazer mais nada. Tudo o que eu faço, ela sabe e faz igual. 7

8 _ Ha, ha, ha, ha, ha! Não, não é nada disto, não... É só impressão sua. Não é assim, não. _ É sim. Quer ver? _ Hum... _ Me dê a mão e ande bem devagarzinho para ela não ver _ Os pés mal tocavam o chão da mesma forma que o som das vozes mal roçava os ouvidos. _ Quando eu disser já... corra! _ Certo. _ Um... dois... três... Já! Corra! _ Ainda era em sussurros que ordenava. Os olhos de luzes, incrédulos, fitavam o céu: _ Ela viu! Ela viu! Ela viu! Ela viu tudo e me seguiu! Está vendo? Eu não disse? A lua vê tudo que eu faço e vive atrás de mim. 8

9 Ele era todo doçura e espanto diante de um mundo que começava a desbravar. A lua, plácida, contemplava fascinada aquela curiosidade de menino e, tranqüila, banhava tudo com o seu brilho de noite. Ele era como o sol. Irradiava vida e energia. Às vezes era um sol de primavera. Daqueles que deixa o ar amarelo e a sensação de que tudo está florido dentro, e fora da gente. Às vezes, era um sol de verão que queima como brasa e deixa a gente com vontade de viver MAIS, de viver TUDO!!! Ele era pura invencionice. Menino-cigarra, seu 9

10 canto era a própria vida. Menino-herói, meninoartista, sua obra era tornar a vida de todos uma arte. Ele sabia navegar como ninguém nos mares da reinação: menino de quatro (era assim que ele dizia quatro anos de idade) era menino-saci. E não houve jeito! A toda hora, aqui e ali se via um malfeito: verduras e frutas fora da geladeira, uma torneira aberta, roupas espalhadas pelo chão, pertences que sumiam misteriosamente, nós nas roupas no varal, chicletes colados em algum lugar e um sorriso maroto que acompanhava tudo de muito perto... _ Por aqui deve ter passado um saci... _ dizia a sua avó. 10

11 Os seus olhos e ele inteirinho sorriam diante dos adultos prisioneiros da sua liberdade de ser criança. Ele era pura energia. Energia que fazia tudo vibrar. E que fazia ele pular sem parar, gritar euforicamente, saltar como um maluquinho, um macaquinho, cantar todas as canções de uma só vez, inventar mil coisas, sorrir, jogar, dançar, amar, brigar, zangar, sonhar e dizer que era FELIZÃO! Ele vibrava com tudo: com a escola velha, com a escola nova, porque ia sair para passear, porque ia ficar em casa lendo, brincando de estudar, conversando, vendo TV, porque ia empinar arraia, porque ia à igreja, viajar, comer galinha assada, 11

12 tomar iogurte... Porque ganhou um tênis novo, uma roupa nova, porque era aniversário, porque ia dar um presente, porque fez um desenho, porque ia ouvir história, fazer uma visita, ou melhor, porque ia receber uma visita (ele gostava ainda mais). Porque a irmã estava linda... Por todas essas diferenças, Ele era BONITO O MENINO MAIS ESPERTO SABIDO ALEGRE DOCE SAPECA IMAGINATIVO BRINCALHÃO Mas o que ele era de verdade, DO MUNDO. 12

13 Era O MENINO MAIS CATIVANTE DO MUNDO. E cativou meu coração. 13