DECISÃO INTERLOCUTÓRIA

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1 fls DECISÃO INTERLOCUTÓRIA Processo nº: Classe Assunto: Ação Civil Pública - Prova de Títulos Autor: Ministério Público do Estado da Bahia Réu: Município de Senhor do Bonfim 1 - Após iniciada a fase de cumprimento de sentença nos presentes autos (fls. 2631/2633), CARLOS ALBERTO LOPES BRASILEIRO peticionou nos autos requerendo sua habilitação, na qualidade de Assistente do Municipío de Senhor do Bonfim ou de Amicus Curiae, pelas razões que elenca às fls. 2645/ Inicialmente, sustenta que, em razão da condição de Prefeito eleito do município de Senhor do Bonfim, no pleito de 2016, possui legitimidade para ingressar no feito Afirma que a matéria discutida nos autos trará impactos em sua gestão que em breve se iniciará, e que o art. 119 do CPC permite a intervenção de terceiros quando estes demonstram interesse jurídico na causa Postula ainda, caso o Juízo não reconheça sua qualidade de assistente, que seja habilitado nos autos como Amicus Curiae, na forma do art. 138 do CPC No mérito, afirma que a realização do concurso público nos 180 dias que precedem o término do mandato do atual prefeito afronta a Lei de Responsabilidade Fiscal e coloca em risco a organização fiscal do seu futuro governo, pugnando pela imediata suspensão do concurso público 001/2016 e pela suspensão do feito. 2 Instado a se manifestar, o Ministério Público, às fls. 2740/2766, afirmando que o Município de Senhor do Bonfim e o Ministério Público do Estado da Bahia, de forma lícita, voluntária e espontânea, firmaram Termo de Ajustamento de Conduta para que fossem regularizadas todas as situações violadoras do princípio constitucional que prevê a regra do concurso público, bem como sanadas as inúmeras irregularidades, detectadas no bojo de investigação conduzida pelo Parquet (Inquérito Civil Público n /2010), no tocante à ocupação de cargos comissionados e à contratação temporária de servidores Afirma ainda que na presente demanda o postulado "não é contratação de pessoal para suplementar o quadro já existente em si, que pode ser uma necessidade superveniente, mas regularizá-lo, substituindo aqueles que hoje recebem a título de contratação irregular por aqueles regularmente admitidos na Administração Pública, por meio do concurso de provas ou de provas e títulos, providências, inclusive, que certamente

2 fls contribuirão para o controle de gasto com pessoal" e que mesmo na Lei de Responsabilidade Fiscal Lei não há vedação para realização de concurso público em período eleitoral, sendo o ato a ser limitado o de nomeação, que geraria despesas. 2645/ Ao final, o Parquet pugna pelo indeferimento do pedido articulado às fls. 3 Eis o breve relato do necessário. Decido. 3.1 DO INGRESSO NO FEITO DA ASSISTÊNCIA. Inicialmente, quanto à intervenção requerida é necessário apontar que a assistência que se encontra regulada nos artigos 121 a 124 do CPC e pode ser entendida como a modalidade de intervenção de terceiros espontânea, cuja finalidade é que um terceiro estranho à relação processual auxilie a parte em uma causa em que tenha interesse jurídico, dado que será influenciado pelo resultado da sentença a ser proferida na demanda. Reza ainda o artigo 119 do Código de Ritos que o terceiro intervém quando juridicamente interessado em que a sentença seja favorável a uma das partes De uma análise dos dispositivos legais em cotejo ao caso em apreço, observo carecer o Requerente de interesse jurídico, formulando ainda pedido diametralmente oposto ao que sustenta o Município de Senhor do Bonfim, representando pelo atual Prefeito, que demonstrou, neste momento, o cumprimento, ainda que tardio do TAC, ao realizar o concurso público, cuja suspensão o ora peticionante "assistente" almeja O exercício do Poder Executivo pelo seu dirigente reveste-se da característica da impessoalidade, sendo que, neste momento - nada obstante a iminência de alternância do posto, cuja cadeira será ocupada em breve pelo ora Requerente o Município de Senhor do Bonfim está representado legitimamente/juridicamente pelo atual gestor, também eleito nas urnas, de forma democrática Em suma, diante da atual situação fática e jurídica do Postulante, não há outro caminho senão indeferir a sua intervenção no feito, na qualidade de assistente, o que ora faço. 3.2 DO AMICUS CURIAE. Melhor sorte, entretanto, possui o pedido de intervenção para ingresso do Requerente no feito, na qualidade de Amicus Curiae O Amicus Curiae é uma modalidade de intervenção, prevista no artigo 138 do CPC, em que um terceiro, pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com repesentatividade adequada, através de uma posição institucional e sem interesse jurídico, auxilia o Poder Judiciário para que a decisão a ser proferida seja

3 fls mais adequada. 3.7 Desta forma, tal instituto de característica aberta e genérica, amolda-se perfeitamente ao caso, sendo que o Requerente, na condição de Amicus Curiae poderá enriquecer a demanda, inclusive na fase em que já se encontra, sendo então, adequada a sua participação no feito nesta qualidade, que, neste momento, DEFIRO, nos termos do art. 138 do CPC, ao tempo em que delimito sua atuação (art. 138, 2º do CPC), podendo juntar documentos e informações, desde que úteis ao esclarecimento de questões de fato e de direito. 4 DO MÉRITO. 4.1 Superada a admissibilidade da intervenção do ora peticionante, passo a analisar as informações trazidas aos autos pelo Amicus Curiae e complementados pelo Ministério Público, suscitadas como capazes de definir mudanças no presente cumprimento de sentença, visando sua adequação à ordem legal. 4.2 Tratando-se de fase de execução de título judicial consistente em sentença homologatória de TAC celebrado entre o Ministério Público e o Município de Senhor do Bonfim, proferida em 23/07/ realço que as disposições relativas ao acordo foram firmadas em momento anterior (18/03/2015), cabendo ao Município o cumprimento de uma série de etapas prévias relacionadas ao pontos contidos no acordo, além das disposições normais e constitucionais relativas aos atos preparatórios para a realização de concurso. 4.3 Do referido Termo de Ajustamento de Conduta, acostado às fls. 1600/1611, celebrado em 18/03/2015, regularmente homologado por sentença de fls. 1612/1614, infere-se inúmeras cláusulas, que podem ser resumidas na obrigação contraída pelo Município da regulamentação das contratações através de cargos comissionados e temporários, a vedação ao nepotismo e ao desrespeito das normas constitucionais relativas ao concurso público. 5 A Lei de Responsabilidade Fiscal, em seu art. 21 disciplina que: Art É nulo de pleno direito o ato que provoque aumento da despesa com pessoal e não atenda: I- as exigências dos art. 16 e 17 desta Lei Complementar, e o disposto no inciso XIII do art. 37 e no 1º do art. 169 da Constituição; II- o limite legal de comprometimento aplicado às despesas com pessoal inativo.

4 fls Parágrafo único - Também é nulo de pleno direito o ato de que resulte aumento de despesa com pessoal expedido nos 180 (cento e oitenta) dias anteriores ao final do mandato do titular do respectivo Poder ou órgão referido no art Conforme destaca o próprio Ministério Público, em sua manifestação de fls. 2740/2766, o TAC celebrado com o Município de Senhor do Bonfim contem claúsulas/obrigações que buscam a organização e regularização do quadro de pessoal da administração pública do município. 5.2 Da simples leitura do referido TAC, verifica-se que não há comando ou claúsula que indique imediato aumento de despesa, pois a simples realização do concurso, mesmo com a indicação de vagas não significa criação de despesa, já que o ato que gera a despesa em si é o da nomeação, que por sua vez não necessariamente deverá ocorrer após a homologação do referido concurso. 5.3 A jurisprudência atual é unissona no sentido de que o aprovado em concurso público dentro do número de vagas tem direito liquido e certo à nomeação, entretanto por sua vez, a administração pública possui todo o prazo de validade do concurso para efetivar a nomeação, segundo os seus critérios de disponibilidade, inclusive quando presentes as condições da Lei de Responsabilidade Fiscal. Neste sentido: STJ MS 10381DF Rel. Ministro Nilson Naves, Terceira seção, DJ 24/0409). ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. VAGA ANUNCIADA NO EDITAL E NÃO PREENCHIDA. ATO VINCULADO. TRIBUNAL PLENO. SESSÃO ADMINISTRATIVA. INTERESSE NO PREENCHIMENTO DAS VAGAS EXISTENTES. NOMEAÇÃO DA RECORRENTE, PRÓXIMA DA LISTA CLASSIFICATÓRIA A SER CONVOCADA. DIREITO LÍQUIDO E CERTO. ORDEM CONCEDIDA.1. Em tema de concurso público, é cediço que o Edital é lei entre as partes, estabelecendo regras às quais estão vinculados tanto a Administração quanto os candidatos.2. Veiculado no instrumento convocatório o quantitativo de cargos vagos a serem disputados no certame, bem como restando evidenciado, posteriormente, o interesse no preenchimento das vagas existentes, ante manifestação do Tribunal Pleno da Corte de origem, em sessão administrativa, importa em lesão a direito líquido e certo a omissão em se nomear candidato aprovado, próximo na lista classificatória. 3. É o que ocorre no caso dos autos, em que a Recorrente restou enquadrada dentro das vagas originalmente ofertadas em face de uma renúncia à nomeação

5 fls e de uma exoneração. Contudo, expirou-se o prazo de validade do concurso, tendo sido preenchidas apenas 3 (três), das 4 (quatro) vagas anunciadas no edital. Resta, evidenciado, portanto, a violação ao direito subjetivo da Impetrante à nomeação. 4. Recurso conhecido e provido. (STJ RMS 26426/AL Relatora Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, DJ 19/12/2009) 5.4 Ademais, a própria Jurisprudência prevê que a impossibilidade de adequação aos limites de gastos com pessoal ou outras condições que impossibilitem a nomeação durante todo o prazo de validade do concurso é exceção que permite a não nomeação dos aprovados. Neste sentido: EMENTA: DIREITOS CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. NOMEAÇÃO DE APROVADOS EM CONCURSO PÚBLICO. EXISTÊNCIA DE VAGAS PARA CARGO PÚBLICO COM LISTA DE APROVADOS EM CONCURSO VIGENTE: DIREITO ADQUIRIDO E EXPECTATIVA DE DIREITO. DIREITO SUBJETIVO À NOMEAÇÃO. RECUSA DA ADMINISTRAÇÃO EM PROVER CARGOS VAGOS: NECESSIDADE DE MOTIVAÇÃO. ARTIGOS 37, INCISOS II E IV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. RECURSO EXTRAORDINÁRIO AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. 1. Os candidatos aprovados em concurso público têm direito subjetivo à nomeação para a posse que vier a ser dada nos cargos vagos existentes ou nos que vierem a vagar no prazo de validade do concurso. 2. A recusa da Administração Pública em prover cargos vagos quando existentes candidatos aprovados em concurso público deve ser motivada, e esta motivação é suscetível de apreciação pelo Poder Judiciário. 3. Recurso extraordinário ao qual se nega provimento. (RE , Relator(a): Min. MENEZES DIREITO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, julgado em 16/09/2008, DJe-157 DIVULG PUBLIC EMENT VOL PP RTJ VOL PP RMP n. 44, 2012, p ) ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. APROVAÇÃO DENTRO DO CADASTRO DE RESERVA PREVISTO EM EDITAL. ABERTURA DE NOVAS VAGAS NO PRAZO DE VALIDADE DO CERTAME. (...)

6 fls A aprovação do candidato dentro do cadastro de reservas, ainda que fora do número de vagas inicialmente previstas no edital do concurso público, confere-lhe o direito subjetivo à nomeação para o respectivo cargo, se, durante o prazo de validade do concurso, houver o surgimento de novas vagas, seja em razão da criação de novos cargos mediante lei, seja em virtude de vacância decorrente de exoneração, demissão, aposentadoria, posse em outro cargo inacumulável ou falecimento. 5. A exceção a esta regra, desde que devidamente motivada pelo Poder Público e sujeita ao controle do Poder Judiciário, deve estar fundada nas características fixadas pelo Supremo Tribunal Federal em sede de repercussão geral. Nesse sentido, se houver sido alcançado o limite prudencial de dispêndios com folha de pessoal, assim declarado este fato pelos órgãos de controle interno e externo respectivos da Administração, tudo em razão do que dispõe o art. 22, parágrafo único, inciso IV, da Lei Complementar nº 101/ Os Tribunais Superiores têm reconhecido direito à nomeação de candidatos aprovados em cadastro de reserva nos casos de surgimento de novas vagas. Precedentes: RE /SC, 1ª Turma, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe ; MS /DF, 1ª Seção, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJe 21/08/2012; DJe 29/05/2012; RMS 32105/DF, 2ª Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, DJe 30/08/ No caso concreto dos autos, a recorrente ficou colocada em 44º lugar no concurso público para provimento do cargo em questão, que tinha 20 vagas, ou seja, foi aprovada fora do número de vagas previstas em edital. A Administração Pública, conforme seu critério de conveniência e oportunidade e observando a ordem de classificação, nomeou até o 41º candidato aprovado, dentro do prazo de validade do concurso. 8. Verifica-se, pela leitura das informações prestadas pela Secretaria de Estado da Fazenda, que existem 138 Auditores da Receita Estadual na ativa, sendo 118 no cargo de Auditor da Receita Estadual e 20 no cargo de Auditor da Receita Estadual II. A Lei nº 2.265/2010 do Estado do Acre, que estabeleceu nova estrutura da carreira para os servidores públicos estaduais da Secretaria de Estado da Fazenda - SEFAZ, fixou o quantitativo de 140 cargos para Auditor da Receita Estadual (Anexo XIII - fls. 90), ou seja, como estão preenchidos, conforme informação acima, 138 cargos, existem 2 vagas a serem supridas. 9. Ocorre que a recorrente foi aprovada, dentro do cadastro de reserva, na posição classificatória 44ª (quadragésima quarta), ou seja, a 3ª que deve ser convocada, uma vez que

7 fls o último a ser chamado foi o 41º (quadragésimo primeiro), conforme relatado na petição inicial e confirmado nas informações. Porém, como visto acima, mesmo com a criação de novas vagas, há apenas 2 que não foram preenchidas. Dessa forma, obedecendo a ordem de classificação e preenchendo as duas vagas restantes, a colocação da candidata não é atingida para sua convocação. 10. Recurso ordinário em mandado de segurança não provido. RMS /AC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 18/12/2012, DJe 14/02/ Ademais, percebe-se que os dados contábeis e fiscais dos recursos públicos são mutáveis, considerando-se as condições existentes em cada periodo fiscal, já que sendo expressas em porcentagem, podem refletir diferentes realidades de arrecadação e gastos públicos que não entraram em choque com o regramento legal. 5.6 Some-se a tal fato, que os demais regramentos contidos no TAC celebrado vão justamente no sentido de qualificar a máquina pública, evitando nomeações e contratações em desrespeito às diretrizes legais. A contratação direta, indubitavelmente, é responsável pelo acréscimo nas despesas de pessoal, pois realizado sem critérios firmes na escolha do profissional mais apto ao exercício da função. 6 Desta forma, concluo que o cumprimento do TAC mesmo que de forma não gradual não implica em aumento de despesa para a administração pública e sim em organização dos recursos públicos, não possuindo o condão de ferir a norma fiscal, conforme informado, na contribuição do Amicus Curiae de fls. 2631/ De mais a mais, considerando que a qualquer gestor público interessa a seleção daqueles mais aptos ao exercício do cargo e não o apadrinhamento de seus "afilhados políticos" o que não se pode sequer cogitar nos dias atuais - terá o novo gestor, ao assumir, no ano vindouro, o comando do município de Senhor do Bonfim: a) candidatos selecionados por meio de concurso público, aptos ao exercício de funções, das mais variadas, sendo que muitas eram exercidas por profissionais contratados diretamente (para se ter uma noção da quantidade de contratos diretos, basta realizar uma leitura, ainda que aligeirada da petição inicial do presente feito, em que o zeloso Promotor de Justiça, listou o nome de todos os contratados), em afronta direta à Constituição Federal; b) oportunidade de romper de vez com favoritismos políticos quando da escolha daqueles que laborarão na administração pública. 8 Por tais motivos, deixo de proceder a qualquer alteração nos comandos judiciais já existentes, mantendo-os, por seus própios fundamentos. 9 Publique-se. Intime-se.

8 fls Demais expedientes necessários. Senhor do Bonfim(BA), 11 de novembro de (Documento assinado digitalmente, nos termos da Lei /2006) LIDIA IZABELLA GONÇALVES DE CARVALHO LOPES Juíza de Direito