ASSÉDIO MORAL E REPERCUSSÕES PSICOLÓGICAS: UM ESTUDO DESTA PRÁTICA NA CONTEMPORANEIDADE

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1 ASSÉDIO MORAL E REPERCUSSÕES PSICOLÓGICAS: UM ESTUDO DESTA PRÁTICA NA CONTEMPORANEIDADE SILVANA RODRIGUES MOTA¹ Graduanda do curso de Psicologia da Faculdade Cathedral, Boa Vista - RR TALITHA MACÊDO ² Mestre e especialista em psicologia clínica pela Universidade católica de Pernambuco - UNICAP, e RESUMO: professora da Faculdade Cathedral, Boa Vista - RR O assédio moral é toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se, por ações, que possam trazer danos à personalidade, à dignidade e/ou à integridade física e psíquica do indivíduo. É a predisposição para adotar comportamentos negativos em relação a uma pessoa, a membros de grupo ou a um grupo como o todo. Desse modo, o presente estudo teve por objetivo compreender as repercussões psicológicas sofridas pelo sujeito vítima de assédio moral. Caracteriza-se, assim, por uma pesquisa bibliográfica. A partir desta, concluise que os danos psíquicos configuram-se como uma espécie de trauma na vida do indivíduo, gerando sequelas psicológicas como: depressão, ataque de pânico, tensão grave, ansiedade, cansaço, sensação de impotência, insegurança, na grande maioria dos casos, as vítimas necessitam de longos períodos de tratamentos médicos, particularmente de natureza psicológica. Palavras-chaves: assédio moral, danos psicológicos, sofrimento psíquico. ABSTRACT: The bullyng is understood how being any conduct abusive manifesting especially by behaviors, that can bring damage to personality, to dignity or to physical integrity or psychic integrity. It`s a predisposition to adapt negative behaviors relative to one person, to members of a particular group or a group as the whole. This study aimed to understand the psychological repercussions suffered by the individual victim of bullyng. Characterized therefore by a literature search. From this it was concluded that the psychological damage is characterized as a kind of trauma in one`s life, generating psychological sequelae such as depression, panic attacks, severe stress, anxiety, fatigue, feeling of powerlessness, insecurity in most cases the victims require long periods of medical treatment, particularly psychological. Keywords: Bullyng, psychological damage, psychic suffering

2 O ASSÉDIO MORAL No Brasil colônia, século XVIII, índios e negros eram escravizados e sistematicamente assediados, ou melhor humilhados por colonizadores, que de certo modo consideravam-se superiores e com essa suposta superioridade econômica, cultural, religiosa e militar, usavam a força para impor seus costumes e crenças. Na contemporaneidade esse fenômeno é conhecido como assédio moral, também como psicoterror ou terrorismo psicológico. Em outros países é conhecido como bullyng ou mobbing. Apesar da sua gravidade, por muito tempo foi confundido com outros problemas encontrados em diversas atividades profissionais como o estresse, conflitos e agressões esporádicas entre colegas. O assédio moral, uma atitude negativa ou uma predisposição para adotar comportamentos negativos em relação a uma pessoa, a membros de um dado grupo ou a um grupo como o todo, ou seja, adotar comportamentos que visem diminuir e agredir verbalmente e psicologicamente o indivíduo vítima desse tipo de abuso. Desse modo, O assédio moral é entendido como sendo toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se, sobretudo, por comportamentos, palavras, atos, escritos que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa. (HIRIGOYEN, 2001, p.65) O assédio moral repercute na desestruturação psicológica da vítima, causando sofrimento psicológico, problemas psicológicos e consequentemente doenças físicas, que irão interferir na vida da vítima, seja ela pessoal, profissional ou social. Uma vez que muitos problemas físicos ou psicológicos podem evoluir para quadros mais graves e podem até causar a invalidez do indivíduo vítima de assédio moral. O ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO Durante muito tempo o assédio moral no trabalho foi confundido com estresse ou problemas rotineiros nas relações de trabalho, mas com o tempo percebeu-se que este problema era muito maior e mais grave do que se imaginava. Já foi comum casos em que o patrão submetia o colaborador a perseguições, humilhações e/ou qualquer tipo de constrangimento, sendo que estas situações deveriam ser superadas rapidamente pelo funcionário.

3 No entanto sempre existiram casos onde esta perseguição ao subordinado era mais intensa, provocando profundo desconforto no ambiente de trabalho, sofrimento de ordem psicológica, emocional e em alguns casos o adoecimento, também, físico. Por fim, tal perseguição, característica do assédio moral no trabalho, resultava na demissão do trabalhador. Assédio moral é a deliberada degradação das condições de trabalho através do estabelecimento de comunicações não éticas (abusivas) que se caracteriza pela repetição por longo tempo de duração de um comportamento hostil que um superior ou colega(s) desenvolve(m) contra um individuo que apresenta como reação um quadro de miséria física, psicológica e social duradoura (LEYMANN, 1986, p. 101) Neste sentido, tal definição/nomeação para uma prática antiga é, contudo, relativamente nova. O primeiro cientista a estudar o assédio moral no trabalho, foi o sueco Heinz Leymann, em A partir daí houve o espaço necessário para um aprofundamento compreensivo da temática em questão. Assim na contemporaneidade há muitos estudos e pesquisas e muitas definições para esta expressão. Desse modo, o assédio moral pode ser dividido em três tipos: Assédio Descendente: É o tipo mais comum de assédio, se dá de forma vertical, de cima (chefia) para baixo (subordinados). Sendo que o principal efeito esperado pelo autor é a desestabilização do trabalhador. Assédio Ascendente: Tipo mais raro de assédio. Ocorre de forma vertical, mas de baixo (subordinados) para cima (chefia). Geralmente é praticado por um grupo contra a chefia, de acordo com a legislação brasileira de tipo de assédio não constitui crime efetivamente o chamado assédio moral. [código penal brasileiro artigo 136 Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, (...) sujeitando a trabalho excessivo ou inadequado, sem justa causa, ou tratá-lo com rigor excessivo, colocando em risco ou afetando sua saúde física ou psíquica pode acarretar uma pena Detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano, ou multa]. Assédio Paritário: Ocorre de forma horizontal, quando um grupo isola a assedia um membro, parceiro, com o objetivo de eliminar concorrência no local de trabalho, principalmente quando a vítima vem se destacando na empresa. Na contemporaneidade, há uma grande incidência de casos, uma das hipóteses para um índice tão alto de assédio moral no trabalho ( GARCIA, 2001) O ASSEDIADOR E O ASSEDIADO

4 Segundo a médica do trabalho Margarida Maria Silveira Barreto (2005), pioneira sobre o estudo do assédio moral no Brasil, afirma que, o assediado é normalmente uma pessoa escolhida dentro da empresa para submeter-se aos caprichos do assediador. Assim o assediador geralmente é tratado como o perverso que humilha o assediado. Segundo Aloizio Apoliano Cardozo Filho (2002), as relações interpessoais do assediador são comprometidas, visto que o mesmo se sente superior aos demais, centrado em si mesmo, não mede esforços. Ele é descrito como um indivíduo de personalidade narcisista, que acredita ser superior aos outros, para atingir suas metas pessoais, ele é capaz de tirar proveito de situações e de pessoas mesmo que isso envolva prejudicar seus colegas de trabalho que possam lhe favorecer. Nas relações de trabalho, geralmente o assediador ocupa uma posição de comando, o que facilita sua pratica abusiva, o assédio moral visa expor, humilhar e desestabilizar emocionalmente o assediado. Segundo Márcia Novaes Guedes (2006), quando praticado pelo superior hierárquico, tem a clara finalidade de forçar um pedido de demissão, ou a prática de atos que possam ensejar a caracterização de falta grave, justificando uma dispensa por justa causa. A vítima é geralmente alguém escolhido pelo assediador para sofrer as humilhações, e uma vez que isso acontece a vítima é geralmente excluída pelos colegas de trabalho por medo de também sofrer represálias do assediador. Quando ocorre este tipo de abuso no ambiente de trabalho, gera-se grande desconforto para a vítima, uma vez que a mesma isola-se, em muitos casos chega até a pedir demissão, por não suportar a pressão psicológica sofrida. O ASSÉDIO MORAL E A LEI Ao contrário do que se imaginava, o assediador pode sofrer represálias pelo seu comportamento, o crime do assédio moral no trabalho está sujeito a punições. Mesmo com o apoio da lei, é muito difícil para a vítima conseguir provas da atitude abusiva do assediador. Isto quando há testemunhas, elas ainda estão trabalhando na empresa e sujeitas às ordens do assediador. Além disso, estes atos abusivos ocorrem quando não há testemunhas por perto. Apesar das dificuldades cabe à vítima buscar o amparo da lei, buscando orientação na Delegacia do Trabalho que geralmente representa o Ministério do Trabalho, onde pode denunciar neste local os abusos que sofreu nas mãos do agressor, sendo a empresa a responsável legal pelos acontecimentos no seu recinto.

5 A forma encontrada pela esfera jurídica para reparar tal dano, foi a estipulação de compensação, não necessariamente pecuniária (é a mais utilizada), para tentar amenizar a dor sofrida pela vítima. A sanção pelo dano moral pode consistir até em retratação ou desagravo público, que de certa forma, ameniza e compensa a dor da vítima. Segundo Mauro Vasni Paroski (2007), juiz titular da vara do trabalho de Porecatu - PR, a legislação brasileira regente com o objetivo de coibir e punir o assédio moral ainda é muito modesta. Não há, ainda, uma lei de âmbito nacional. Alguns municípios já possuem leis que coíbem o assédio moral no trabalho, exclusivamente para a administração pública, como; América, Bauru, Campinas, Guarulhos, São Paulo, Iracemápolis, Sidrolândia, Reserva do Iguaçu, Cascavel, Natal e Jaboticabal, sendo importante salientar que são os únicos municípios do país que possuem leis próprias para coibir a prática do assédio moral, essas áreas ainda são restritas, em função da dimensão do Brasil e de uma prática muito comum neste país. Vale lembrar que a honra e a dignidade das pessoas estão tuteladas constitucionalmente, nos artigos 1, 3 e 5, da Constituição Federal de 1988, merecendo reparação quando é comprovada sua violação. A conduta abusiva, segundo a Constituição brasileira, se refere ao abuso de direito como ato ilícito, na forma do artigo 187 do código civil vigente, isto por que o convívio humano enseja o estabelecimento de laços de amizade e camaradagem, em que brincadeiras possam ser feitas com liberdade. O ordenamento jurídico não pode, e nem deve deixar impune o assediador. As consequências para o mesmo podem analisadas sob três parâmetros; trabalhista (caracterização de justa causa para a extinção do vinculo empregatício), civil (responsabilidade patrimonial direta pelo dano causado à vítima), e criminal (aplicação de sanções penais, caso os atos praticados se enquadrem em tipo previamente existente). Todavia, quando tais brincadeiras extrapolam os limites do aceitável, adentram-se ao campo de direito, que devem ser duramente reprimidas, como o ato ilícito que é, sendo o assédio moral no trabalho a conduta lesiva, o dano psíquico e emocional deve ser entendido como a consequência natural da violação aos direitos da personalidade da vítima. DANOS PSICOLÓGICOS CAUSADOS PELO ASSÉDIO MORAL

6 A psicologia ganha cada vez mais espaço no campo da saúde mental do trabalhador e nas organizações, uma vez que dela resultou a abordagem de que as condições e meio ambiente do trabalho podem ser responsáveis, em muitos casos, pelo surgimento dos casos de depressão no trabalho. As pesquisas atuais apontam para o crescimento do número de trabalhadores com problemas mentais e segundo dados da previdência social, em conjunto com uma pesquisa realizada pela Universidade de Brasília (UnB), quase 50% dos trabalhadores que se afastam por mais de 15 dias do serviço sofrem algum tipi de doença mental. Desse modo, faz-se necessário um processo de avaliação adequado, onde vários profissionais devem estar envolvidos, tais como: psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, dentre outros. Assim, um diagnóstico em conjunto pode favorecer o trabalhador no sentido do tratamento, pois o remédio pode aliviar os sintomas físicos, mas as questões que envolvem o emocional e mental, precisam ser colocadas pelo sujeito para o psicólogo analisar o que estar além destes sintomas. Portanto, uma avaliação adequada possibilita um melhor acolhimento e destinação ao sofrimento, possibilitando assim suporte psicoemocional adequado para o sujeito. Por conseguinte, o profissional de recursos humanos que tem uma visão ampla da saúde do trabalhador pode contribuir para analisar estes sinais e sintomas da depressão no trabalho e desenvolver uma proposta de tratamento junto à empresa. Afim de não prejudicar o funcionário e reintegrá-lo no ambiente de trabalho. A preocupação da empresa com a saúde do trabalhador é mais uma forma de desenvolver e reter talentos. No tocante às consequências envolvidas na prática do assédio moral, é importante frisar que as mesmas são diferenciadas para o assediado e para o assediador, sendo estas mais dramáticas para a vítima, causando traumas na vítima muitas vezes irreparáveis, há casos extremos, em que o empregado assediado por sofrer em demasia, pode conseguir mais trabalhar e chegar, inclusive, a cometer suicídio. No que concerne as sequelas mais comuns, são: observa-se: tensão grave, ansiedade, cansaço, depressão, sensação de impotência, insegurança, entre outros. Diante do exposto, percebe-se, então que as vítimas necessitam de tratamento médico e psicológico, em alguns casos o tratamento será levado até o final da vida do paciente. Segundo a psiquiatra francesa Marie-France Hirigoyen (2000), o sofrimento psicológico, o medo e a tristeza, acabam por causar doenças físicas como: ataque cardíaco, hipertensão arterial e psicológicas como: depressão, ataque de pânico. Os principais danos à vítima são; irritação, cansaço exagerado, falta de autoconfiança, dificuldades no sono,

7 pesadelos, perda de memória, aumento de peso ou emagrecimento, hipertensão, distúrbios digestivos, diminuição da libido, estresse e depressão. Geralmente esses danos exigem um longo período de tratamento médico e psicológico. Logo é possível perceber que o assédio moral causa na vítima uma série de problemas emocionais e psicológicos, que afetam sua vida pessoal, profissional e social. Com a repetição das situações constrangedoras e isolamento dos outros colegas de trabalho, o sujeito teme represálias por parte do assediador. Portanto, a organização e o trabalho podem apresentar-se como um fator de fragilização mental para os indivíduos, o que torna as organizações como parte responsável pela saúde mental de seus integrantes. De acordo com os dados divulgados pela Fundacentro (2007), entre 2000 e 2005 foram registradas doenças relacionadas ao trabalho, e pesquisas do laboratório de saúde do trabalhador da Universidade de Brasília demonstram aumento de 260% do número de afastamentos por doenças mentais entre os anos de 2000 e 2006 (MELLO, 2008). Atualmente, 83 mil brasileiros se afastam do trabalho todo ano por problemas de saúde mental. Em 2007, os transtornos de humor representam o segundo motivo de ausência no trabalho, e nesse mesmo ano, o custo do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), com auxílio-doença para quem sofria de transtornos neuróticos e relacionados ao estresse foi de 90 milhões (MELLO, 2008). MATERIAL E MÉTODO Este caracteriza-se por uma pesquisa bibliográfica. O material de pesquisa utilizado foram artigos científicos e livros, que decorriam sobre o tema proposto constituindo-se por uma revisão bibliográfica. Este estudo se deu no período entre janeiro e agosto de Os dados apresentados neste artigo são resultado de um amplo e minucioso estudo sobre os danos psicológicos sofridos pela vítima de assédio moral no trabalho. AGRADECIMENTOS À minha família, Faculdade Cathedral, e à Coordenação do Curso de Psicologia. REFERÊNCIAS BARRETO, M. M. S. Uma jornada de humilhações. Dissertação de mestrado em psicologia social. PUC, São Paulo, 2000.

8 CARDOZO FILHO, Aloizio Apoliano. Conceito, terminologia e elementos caracterizadores do assédio moral nas relações de trabalho, disponível em jus.uol.com.br. Acesso em: 20/04/2012. FREITAS, Ester Maria, HELOANI Roberto. Assédio moral no trabalho, São Paulo: Moraes, GARCIA, Márcia. O assédio moral no trabalho. Psique, São Paulo, n. 2053, p , 22 maio, GUEDES, Márcia Novaes. Terror psicológico no trabalho. São Paulo: LTR, HIRIGOYEN, Marie France. A violência perversa do cotidiano. Tradução: Maria Helen Huhner. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, MORAES, Rita. A lei do mais forte. ISTO È, São Paulo, n. 1542, p.84-89, 21 abr NASCIMENTO, Sônia A.C. Mascaro. Assédio moral no ambiente do trabalho in Revista LTR, São Paulo, v.68, 08,p , out MELLO,O.(2008, 27 de abril). O mal estar da civilização. Jornal Valor Econômico, p MORAES, Rita. A lei do mais forte. ISTO É, São Paulo, n.1542, p.84-89, 21 abr SILVEIRA BARRETO, Margarida Maria. Violência, saúde, trabalho: uma jornada de humilhações, EDUC. TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio, Litisconsórcio, Assistência e intervenção de terceiros no processo do trabalho, 2ᵒ Ed., São Paulo: LTr, 1993, p VASNI PAROSKI, Mauro. Assédio moral no trabalho, disponível em Acesso em: 25/04/2012.