XVII CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA I ENCONTRO DE ENGENHARIA DE SISTEMAS IV WORKSHOP DE LASER E ÓPTICA NA AGRICULTURA 27 a 31 de outubro de 2008

Transcrição

1 AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO POPULACIONAL DO PULGÃO Aphis gossypii (HEMIPTERA: APHIDIDAE) NAS PLANTAS: PEPINO (Cucumis sativus), CRAVO- DE-DEFUNTO (Tagetes erecta) E Phacelia tanacetifolia NATALIA RAMOS MERTZ 1, CRISTHIANE ROHDE 2, LUÍS CLÁUDIO PATERNO SILVEIRA 3 RESUMO O pulgão Aphis gossypii é uma praga com ampla faixa de plantas hospedeiras, podendo causar danos diretos, pela sucção da seiva, ou indiretos pela transmissão de doenças. O pepino é uma das culturas atacadas por este inseto, sendo a maior parte de seu controle feito com produtos químicos. Buscando alternativas não químicas, produtores têm adotado o controle biológico. O controle biológico conservativo baseia-se no manejo de plantas benéficas aos inimigos naturais, para que estes mantenham-se ou aumentem sua população em determinado ambiente e tem apresentado eficiência sob diversas pragas. Sobretudo, as plantas a serem adotadas não podem atuar como fonte alternativa de alimento aos insetos-praga. Com isto, o objetivo deste trabalho foi avaliar o crescimento populacional de A. gossypii em plantas de pepino (Cucumis sativus) e nas plantas atrativas Tagetes erecta e Phacelia tanacetifolia. Utilizou-se 15 plantas de cada espécie, cultivadas em vasos plásticos. Cada uma recebeu 8 pulgões de terceiro e quarto ínstares, sendo mantidas em gaiolas teladas. Após 4, 8, 12, 16 e 20 dias procedeu-se a contagem dos pulgões em três plantas de cada espécie. Observou-se diferença entre o numero de pulgões nas plantas de pepino com as demais em todas as avaliações. Diferentemente do pepino, a população nas plantas atrativas se manteve baixa, o que demonstra que estas plantas não são boas hospedeiras de A. gossypii, e podem ser utilizadas no controle conservativo deste inseto. Palavras-chave: Controle conservativo, plantas atrativas, afídeo. INTRODUÇÃO O pulgão Aphis gossypii é uma praga cosmopolita e altamente polífaga, estando presente em mais de 90 famílias de plantas (EBERT & CARTWRIGHT, 1997) infestando inclusive plantas espontâneas (MICHELOTTO et al., 2004). Além dos danos causados em cultivos convencionais, este inseto é muito encontrado atacando plantas cultivadas em ambiente protegido, onde as condições de temperatura constante, ausência de inimigos naturais e o monocultivo durante todo ano, são ideais para o desenvolvimento do pulgão (SOGLIA et al., 2002; PALLINI et al., 2004). O pepino (Cucumis sativus) está entre as hortaliças mais produzidas em casas de vegetação, e tem A. gossypii como uma de suas mais importantes pragas (BUENO, 2005). Seu controle é feito principalmente com produtos químicos, mas estes, quando aplicados nos sistemas fechados sofrem pouca dispersão, aumentando a sua concentração, causando o rápido desenvolvimento de resistência dos insetos, e tornando as casas de vegetação insalubres para aos que nela trabalham (OLIVEIRA, 1995). A utilização do controle biológico tem se mostrado uma ótima alternativa aos métodos químicos (van LENTEREN, 2000), sendo o controle conservativo um método eficiente e barato para a redução populacional de pragas. Este consiste da manutenção e aumento da eficiência no controle de insetos por espécies benéficas em determinado habitat através da 1 Universidade Federal de Lavras, Departamento de Entomologia, nataliamertz@bol.com.br 2 Universidade Federal de Lavras, Departamento de Entomologia, rohdecris@hotmail.com 3 Universidade Federal de Lavras, Departamento de Entomologia, lcpsilveira@ufla.br 982

2 manipulação do ambiente a favor da sobrevivência, fecundidade e longevidade dos inimigos naturais (LANDIS et al., 2000; SILVEIRA, 2005). Para a conservação dos organismos benéficos, o ambiente deve fornecer abrigo, alimentos alternativos e recursos alimentares, podendo isto ser obtido com o aumento da diversidade vegetal na área, plantando-se ou mantendo-se plantas atrativas aos inimigos naturais (BAGGEN et al., 1999; LANDIS et al., 2000, SILVEIRA, 2004). Vários autores demonstram a eficiência do controle biológico conservativo com a utilização de plantas atrativas no aumento e manutenção de populações de inimigos naturais em cultivos a céu aberto, como Orius spp. e Hippodamia convergens com a utilização de sorgo (Sorghum bicolor) (PRASIFKA et al., 1999), Trichogramma carverae com a utilização do álisso (Lobularia marítima) (BEGUM et al., 2006), do parasitóide Capidosoma koehleri com a utilização das plantas Phacelia tanacetifolia e capuchinha (Tropaeoleum majus) (BAGGEN et al., 1998), entre outros. Em casas de vegetação, a manipulação do ambiente com a utilização de plantas atrativas pode favorecer o aparecimento de espécies afidófagas, e, conseqüentemente, diminuir a população de pulgões (van LENTEREN, 2000). Porém, é importante ressaltar que para a utilização destas plantas, elas não podem hospedar a praga a ser controlada, pois elas poderiam ser uma alternativa alimentar quando a cultura estivesse ausente (LANDIS et al., 2000). Tendo isto em vista, objetivou-se com o trabalho avaliar o crescimento populacional de A. gossypii em plantas de pepino e nas plantas atrativas Tagetes erecta e P. tanacetifolia. MATERIAL E MÉTODOS Os experimentos foram realizados em casa de vegetação no Departamento de Entomologia no mês de julho de Foram utilizadas 15 plantas de pepino (Cucumis sativum), de cravo-de-defunto (Tagetes erecta) e de Phacelia tanacetifolia plantadas em vasos plásticos de 2 e 4 litros, no noperíodo de pré-florescência. Com o auxílio de um pincel de ponta fina, foram transferidos 8 pulgões Aphis gossypii de terceiro e quarto ínstareses para cada planta, sendo estes retirados de criação em laboratório, onde eram mantidos em plantas de pepino. Após a infestação, os vasos foram acondicionados dentro de gaiolas com armação metálica e envoltos por tecido organza, para evitar a saída de pulgões e entrada de insetos. Os vasos foram mantidos sob bancadas em casa de vegetação, e as temperaturas mínimas e máximas diárias foram registradas. As avaliações consistiram da contagem de pulgões em três plantas de cada espécie a cada quatro dias, durante 20 dias, sendo que cada planta foi avaliada apenas uma vez. O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado. Os resultados referentes à população de pulgão nas plantas estudadas em cada avaliação foram transformados em Ln (x) e submetidos ao teste de Tukey a 5% de significância. Os dados de crescimento populacional em cada espécie de planta ao longo do tempo foram submetidos a análise de regressão. RESULTADOS E DISCUSSÃO Observou-se que, de forma geral, as plantas atrativas não foram boas hospedeiras para o pulgão A. gossypii, sendo o contrário observado para o pepino. Ao comparar o número médio de pulgões em cada período avaliado, houve diferença entre o pepino e as demais plantas, estando presente neste o maior número de insetos (Tabela I). 983

3 Tabela I. Número médio de pulgões Aphis gossypii presentes nas plantas de cravo, Phacelia tanacetifolia e pepino, aos 4, 8, 12, 16 e 20 dias após infestação, mantidos em vasos individualizados em gaiolas em casa de vegetação, com temperatura variando entre 5 e 40º C. Planta Dias após infestação (n=3) Cravo 4,0±1,00 a 7,3±2,08 a 1,7±1,53 a 1,0±1,00 a 0,0±0,00 a Phacelia 5,7±5,13 a 2,0±2,00 a 0,0±0,00 a 8,3±11,02 a 9,7±10,60 a Pepino 113,7±18,15 b 79,3±22,05 b 342,7±251,45 b 549,0±42,04 b 1258,0±423,42 b C.V. (%) 33,65 Médias seguidas de mesma letra na vertical não diferem entre si, ao nível de 5% pelo teste de Tukey. Além disso, a população do inseto sofreu um significativo aumento nas plantas de pepino ao longo do tempo, o que não ocorreu com as plantas cravo e P. tanacetifolia, sendo que a partir dos 8 dias após a infestação, a população de pulgão que hospedava o cravo foi sendo reduzida, estando ausente nesta planta no final das avaliações (Figura 1). Figura 1. Número médio de pulgões Aphis gossypii presentes em plantas de cravo (A), Phacelia tanacetifolia (B) e pepino (C), após 4, 8, 12, 16 e 20 dias após infestação, mantidos em vasos individualizados em gaiolas em casa de vegetação, com temperatura variando entre 5 e 40º C. Os fatores que influenciam a infestação de herbívoros nas plantas podem ser estruturais ou fisiológicos. Os estruturais estão relacionados à forma e complexidade da planta, como a presença de camada de cera nas folhas, ou do tipo ou densidade de tricomas 984

4 (SOGLIA et al., 2002; TRAICEVSKI & WARD, 2002), e os fisiológicos estão relacionados à nutrição ou a presença de substâncias químicas secundárias nas plantas (BERNAYS & CHAPMAN, 1994). O efeito negativo ocasionado pelo cravo na população do afídeo pode ser resultado da presença de compostos inseticidas nos tecidos desta planta (WELLS et al., 1993; SARIN, 2004). Quanto à P. tanacetifolia, a diminuição populacional observada até 12 dias após a infestação pode ter ocorrido devido à problemas quanto a adaptação ao novo ambiente pelos insetos, já que foram retirados de criação em pepino, sendo que, após este período, tais problemas provavelmente foram contornados, resultando no aumento da população. CONCLUSÃO Observou-se que as plantas atrativas não foram boas hospedeiras do pulgão, se comparado ao pepino, indicando o potencial destas plantas para o controle conservativo de A. gossypii. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAGGEN, L.R., GRRR, G.M., MEATS, A. Flowers in tri-trophic systems: mechanisms allowing selective exploitation by insect natural enemies for conservation biological control. Entomologia Experimentalis et Applicata,. n. 91, p , BEGUM, M. GURR, G.M. WRATTEN, S.D. HEDBERG, P.R. NICOL, H. Using selective food plants to maximize biological control of vineyards pests. Journal of Applied Ecology, n. 43, p , BERNAYS, E. & CHAPMAN, R.F. Host-plant selection by phytophagous insects. New York: Chapman & Hall, BUENO, V.H.P. Controle biológico de pulgões ou afídeos-praga em cultivos protegidos. Informe Agropecuário, v. 26, n. 225, p. 9-17, EBERT, T.A. & CARTWRIGHT, B. Biology and ecology of Aphis gossypii Glover (Homoptera: Aphididae). Southwestern Entomologist, v. 22, n. 1, p , LANDIS, D.A., WRATTEN, S.D., GURR, G.M. Habitat management to conserve natural enemies of arthropod pests in agriculture. Annual Review of Entomology, n. 45, p , LENTEREN, J.C. van. A greenhouse without pesticides: fact or fantasy? Crop protection, n. 19, p , MICHELOTTO, M.D., SILVA, R.A., BUSOLI, A.C. Tabelas de vida para Aphis gossypii Glover, 1877 (Hemiptera: Aphididae) em três espécies de plantas daninhas. Boletin de Sanidad Vegetal. Plagas, n. 30, p , OLIVEIRA, M.R.V. O emprego de casas de vegetação no Brasil: vantagens e desvantagens. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 30, n. 8, p , PALLINI, A. VENZON, M., OLIVEIRA, H.G. de, FADINI, M.A.M. Manejo integrado de pragas em cultivos protegidos. In: Cultivo em Ambiente Protegido. Viçosa: UFV: DFT, PRASIFKA, J.R. KRAUTER, P.C. HEINZ, K.M. SANSONE, C.G. MINZENMAYER, R.R. Predator conservation in cotton: using grain sorghum as a source for insect predators. Biological Control, n. 16, p , SARIN, R. Insecticidal activity of callus culture of Tagetes erecta. Fitoterapia, v. 75, p , SILVEIRA, L.C.P. Mosca-minadora em cultivos protegidos e seu controle biológico. Informe Agropecuário, v. 26, n. 225, p ,

5 SOGLIA, M.C.M., BUENO, V.H.P., SAMPAIO, M.V. Desenvolvimento e sobrevivência de Aphis gossypii Glover (Hemiptera: Aphididae) em diferentes temperaturas e cultivares comerciais de crisântemo. Neotropical Entomology, v. 31, n. 2, p , TRAICEVSKI, V., WARD, S. Probing behavior oh Aphis craccivora Koch on host plants of different nutritional quality. Ecological Entomology, v. 27, p , WELLS, C., BERTSCH, W., PERICH, M. Insecticidal volatiles from the marigold plant (genus tagetes). Effect of species and sample manipulation. Chromatographia, v. 35, n. 3/4, p ,