Lição 15 APOCALIPSE Introdução O livro revelação revelação de Jesus Cristo em glória e da obra de consumação da sua obra no mundo

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1 Lição 15 APOCALIPSE Introdução O livro de Apocalipse conclui o Cânon do Novo Testamento, ou seja, é o livro que Deus escolheu para fechar a sua revelação escrita; aquele conteúdo que os seres humanos precisam saber a seu respeito. Esse livro traz o grande clímax de toda a Bíblia, apresentando o desfecho do novo acordo revelado por Deus e a esperança dos tempos futuros. Apocalipse fascina e deixa perplexo o leitor moderno por ser o livro que relata com maior ênfase os últimos dias do mundo e por ser o mais obscuro da Bíblia. Por causa disso o livro é um dos que mais promove controversas. Entretanto, se for estudado com atenção, se torna uma fonte única do ensino cristão. O livro difere dos outros do Novo Testamento em dois aspectos: é o único livro completamente dedicado a profecias e usa imagens, símbolos e visões extensamente. Apocalipse pertence ao gênero da literatura apocalíptica. Esse tipo de literatura era produzido em tempos de perseguição e opressão e servia como encorajamento para aqueles que estavam sofrendo por sua fé. Esse tipo de literatura, comum na literatura judaica, se caracterizava pelos seguintes traços: O contraste entre o desespero intenso presente nas condições atuais e a esperança igualmente intensa na intervenção divina no futuro; Uso frequente de linguagem simbólica, sonhos e visões; Presença dos poderes celestiais e demoníacos como mensageiros e agentes no progresso dos propósitos de Deus; Predição de um julgamento catastrófico para os ímpios e de um resgate glorioso dos justos. O livro Apocalipse, do grego apokalypsis, significa revelação, algo oculto anteriormente e, a partir de então, desvendado. Portanto, o livro é a revelação de Jesus Cristo em glória e da obra de consumação da sua obra no mundo. Mas se Deus quis que esse livro trouxesse esclarecimento sobre si e sobre a consumação da sua obra no mundo, por que o estilo literário apocalíptico é tão obscuro para nós, leitores atuais? O primeiro motivo encontra-se na distância de tempo entre os leitores do primeiro século e os de hoje. Para eles, o estilo de escrita de Apocalipse não era tão difícil como o é para nós, que estamos a quase dois mil anos depois. Para os judeus da época, acostumados com a literatura judaica, e com os livros de Daniel e Ezequiel

2 (que contém grandes trechos apocalípticos), as figuras, símbolos e visões presentes em Apocalipse eram muito mais facilmente compreendidos. O segundo motivo refere-se ao propósito do autor do livro, ou seja, os eventos e as imagens que João o mesmo autor do Evangelho e de três Cartas Gerais precisava descrever continham relances do futuro e até mesmo do céu. A linguagem apocalíptica tornava muito mais fácil passar essas visões para os leitores. Caso um estilo de prosa, mais objetivo, tivesse sido usado, nós não conseguiríamos sentir a grandiosidade que esses eventos futuros guardavam em si. Por exemplo, o termo ímpio tem uma conotação mais objetiva, mas a ilustração de uma mulher embriagada com o sangue dos santos (cf. 17.6) evidencia mais o aspecto terrível dessa realidade. O livro foi o último a ser escrito, por volta de 96 d.c., quando João, o único apóstolo que não morreu martirizado, com o intuito de encorajar e motivar os seus leitores, escreveu a revelação que havia recebido diretamente por Jesus Cristo, através de uma visão, quando ele se encontrava exilado na ilha de Patmos. Essa revelação apontava para a vitória de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, sobre toda a obra satânica e sobre toda a iniquidade, e para a redenção completa dos filhos de Deus. O conteúdo dessa revelação vinha de encontro com a necessidade dos cristãos da época, que no final do primeiro século d.c., enfrentavam uma forte resistência e perseguição impostas pelo imperador Domiciano. Tito Flávio Domiciano era um amante das tradições romanas e passou a ver no Cristianismo, especialmente no seu crescimento na Ásia Menor, uma ameaça para estas tradições, passando, por causa disso, a impor duras exigências aos cristãos e perseguí-los. As sete igrejas destinatárias da revelação dada a João faziam parte da Ásia Menor, tendo algumas se enfraquecido na fé e no trato de amor entre os irmãos, algumas já vinham experimentando a perseguição e outras ainda viriam a experimentar. Alguns estudiosos dizem que essas sete igrejas representavam todas as igrejas cristãs, e não apenas as igrejas mencionadas. Independente de representar ou não todas as igrejas, uma coisa é certa, apresentam características e riscos que devem ser observadas por toda a igreja cristã de todos os tempos. Para se entender melhor Apocalipse, é importante percebermos os sentidos dos principais termos simbólicos contidos nesse livro e como a carta se divide. Alguns, os preteristas, interpretam algumas figuras do livro relacionadas a Roma Imperial, que formava o modelo de poder do estado, que Apocalipse revela ser o inimigo do Cristianismo. A besta, nessa interpretação, tinha autoridade sobre toda tribo, povo, língua e nação (Ap 13:7) e se referia ao reinado universal de Roma pelos

3 imperadores. Para esses, a marca que os homens precisavam ter na testa ou na mão para que pudessem comprar ou vender (Ap 13:16-17) provavelmente se referia ao selo imperial usado nos contratos, testamentos e outros documentos, que permitia que se fizesse comércio no império. A prostituta, chamada de Babilônia, a Grande, embriagada com o sangue dos santos e mártires, estava sentada sobre sete montanhas (17:1, 5-7), o número de montes em Roma. Mesmo que muitos estudiosos não cheguem a uma conclusão de se Apocalipse deve ser, em última instância, interpretada em termos de Roma, é claro que não pode ser totalmente interpretado dessa forma, pois se caracteriza como uma profecia, não como um dado histórico e não há evidência alguma da volta de Cristo. Apesar disso, é possível que alguns cristãos do primeiro século, ao lerem o livro, o interpretaram dessa maneira. Outra abordagem é a historicista ou histórica, que entende o livro como uma espécie de crônica da história da Igreja entre a Cruz e a Segunda Vinda de Cristo. Essa abordagem, em que qualquer interpretação de qualquer pessoa é possível, se enfraquece pelo fato óbvio de que nem todas as interpretações que pareciam tão lógicas num determinado momento seriam assim entendidas em um contexto seguinte. Um exemplo disso é que nos tempos da Reforma, o papa era a escolha lógica para o Anticristo (pelo menos, para intérpretes protestantes); no século XIX, essa identificação não era mais tão popular à luz de um contexto histórico diferente. No esforço para tornar o livro relevante para a sua geração, o intérprete historicista corre o risco de tirar do livro o seu significado original, desconsiderando totalmente o propósito do autor e os destinatários originais. Além dessas abordagens, também existe a idealista ou futurista, que interpreta Apocalipse como uma descrição simbólica da luta cósmica entre as forças do bem e do mal. Para alguns desses, a interpretação tem uma ênfase mais histórica, em que apresenta Deus X Satanás na história da igreja. Para outros desses, o livro perde o caráter profético e linear da história geral, isto é, não entende que um dia a história terá um fim devidamente planejado por Deus, mas que a mesma é cíclica, sempre voltando ao mesmo princípio imutável. Essa interpretação também ignora a característica profética do livro e esvazia, quase sempre, o valor histórico dos acontecimentos de Apocalipse. Por fim, existe a interpretação futurista, a mais tradicional na tradição cristã e que faz jus à reivindicação profética do livro de Apocalipse. Para esses, os capítulos 6 a 22 do livro ainda não aconteceram, sendo um anúncio profético daquilo que Deus fará na consumação da história, fazendo menção aos fatos envolvidos na segunda volta de Cristo. Apesar dessa interpretação parecer pouco confortante para os destinatários da época, ela acompanha a tendência profética desde ao Antigo Testamento, afinal os profetas se valiam de elementos contemporâneos dos

4 seus destinatários para compartilhar as promessas e ameaças futuras, escatológicas. Ou seja, Deus não faria todas as coisas no tempo da profecia, mas no tempo dele, que não era necessariamente o tempo dos ouvintes da época. Uma maneira, portanto de se entender melhor o livro é dividindo-o em três partes, conforme a seguir: I. A apresentação da visão de Jesus Cristo a João (cap. 1) II. A visão das coisas que são as cartas às 7 igrejas da Ásia Menor (caps. 2-3) III. A visão das coisas que virão (caps 4-22) caps. 4-5 Adoração no Céu caps A Grande Tribulação cap. 19 O Retorno do Rei cap. 20 O Milênio e o Juízo Final caps O Estado Eterno Portanto, um resumo de Apocalipse começa com a maneira que João recebeu a visão, apontando o autor da revelação: Jesus (1.1-19). Depois disso, a primeira parte do conteúdo da visão refere-se às igrejas da Ásia Menor, demonstrando que o controle sobrenado de Cristo sobre as igrejas requer submissão e adoração a Ele ( ). A segunda parte da revelação, ou seja, das coisas que virão, apresenta a vitória final de Cristo sobre toda a impiedade como mais um motivo para a submissão e adoração a Ele ( ). Dentro das coisas que virão, João: a) descreve a glória de Deus nos céus como uma introdução da vitória final e Cristo como o agente executor do plano divino de juízo sobre a impiedade do mundo ( ); b) descreve os três grandes ciclos de juízos sobre toda a oposição a Deus na terra (6.1-17; ; ) e faz alguns parênteses que confirmam a vitória de Cristo sobre toda a impiedade, como: o escape dos 144 mil judeus fiéis (7.1-17); a certeza de que o plano de Deus, seja a parte conhecida e a oculta, todo será cumprido ( ); a preservação das testemunhas de Deus contra as forças satânicas como uma demonstração da sua misericórdia ( ); a expectativa celeste pela vitória final de Cristo ( ); a frustração de Satanás ao tentar impedir os planos de Deus ( ); o contraste entre a alegria dos salvos e da angústia dos perdidos ( ); o louvor nos céus e a expectativa pela consumação dos juízos de Deus (15.1-8); e a aniquilação da Babilônia como força dominadora ( ). c) descreve o retorno de Cristo, como Rei, num domínio militar sobre o Anticristo para o estabelecimento do reino messiânico e a consumação da derrota do mal ( ); d) descreve o reino messiânico como prova do triunfo final de Cristo sobre a impiedade ( ); e, por fim, e) descreve a glória do estado eterno, adquirida por Cristo aos santos pelo triunfo final sobre todo o mal. Por fim, para se alcançar uma compreensão mais equilibrada desse livro

5 tão cheio de símbolos, é importante o entendimento de alguns termos, lembrando que nem todos é possível ter uma certeza quanto ao seu sentido, mas apenas algumas inferências. Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, diz o Senhor, que é, e que era, e que há de vir, o Todo- Poderoso (1.8) são nomes dados a Jesus Cristo, que é o autor da revelação de Apocalipse. Os sete castiçais de ouro (1.12) são representações das sete igrejas alvo das cartas, que representam todas as igrejas da História. As sete estrelas (1.16) são os sete mensageiros relativos às sete igrejas, o que indica que Jesus é soberano sobre as igrejas e sobre os seus líderes. E a espada de dois gumes, representa castigo contra a impiedade. O trono estava posto no céu, e um assentado sobre o trono (4.2) refere-se ao governo soberano de Deus. Os vinte e quatro anciãos (4.4), provavelmente são representantes dos santos arrebatados que reinam em glória com Cristo, assim como os 24 sacerdotes do AT (1Cr , 18), que eram representantes do povo diante de Deus. As sete lâmpadas de fogo, as quais são os sete espíritos de Deus (4.5) faz menção ao Espírito Santo em sua plenitude. Os quatro seres viventes cobertos de olhos, tanto na frente como atrás (4.6) são identificados como quatro seres angelicais mencionados no AT em conexão com a presença, o poder e a santidade de Deus. Até aqui, é como se o cenário celestial fosse apresentado como uma plateia que aguarda a consumação do juízo de Deus sobre o mundo. Além desses elementos, também vale a menção de outros, como os sete selos, as sete trombetas e as sete taças (5.1; 8.2; 16.1), que são representações dos juízos, ou seja, os castigos que Deus trará sobre a terra no período conhecido como a Grande Tribulação. O Cordeiro (5.6) é Cristo, o Messias de Deus, prometido em todo AT e manifesto na inauguração do NT. Esse mesmo Cordeiro também é retratado como o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi (4.7). Os cavalos do cap. 6 representam forças dominantes que atuarão sobre a terra, entretanto, o cavalo branco e seu cavaleiro com uma coroa, que cavalgava como vencedor determinado a vencer (6.2) é comumente identificado como o Anticristo, isto é, o falso Cristo que virá enganando a muitos e estabelecendo o seu domínio na terra, antes do triunfo final de Cristo. Os cento e quarenta e quatro mil (7.4) é um grupo de judeus redimidos durante a tribulação, provavelmente alcançados pelo ministério das duas testemunhas ( ), tidos como Moisés e Elias. A mulher vestida do sol, com a lua debaixo dos seus pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça (12.1) faz

6 menção a nação de Israel. O enorme dragão vermelho com sete cabeças e dez chifres, tendo sobre as cabeças sete coroas (12:3) refere-se à Satanás com seu domínio de reinos no mundo. A besta que saía do mar (13.1) é outra representação de Satanás, provavelmente o anticristo, que vinha do meio das nações da terra. Já outra besta que saía da terra, com dois chifres como cordeiro, mas que falava como dragão (13:11) faz referência a outra entidade a serviço de Satanás, que é o falso profeta. Muitos outros símbolos poderiam ser mencionados, mas acredita-se que isso seja feito em outra ocasião, em um estudo mais aprofundado. Com esses dados acima já é possível ter uma boa compreensão do livro e da sua dinâmica. Aprendizados Práticos Apocalipse nos ensina que a justiça e o juízo de Deus se estabelecerão sobre tudo e todos, o que nos dá um bom senso de que se eu não vivo segundo a vontade de Deus, serei alvo da ira do Senhor. Se eu sou um remido pelo sangue de Cristo, desfrutarei das bênçãos da presença de Deus. Como tenho vivido nesse mundo? Vivo com a perspectiva da volta de Cristo ou não levo isso a sério? Minha prática de vida considera a justiça e o juízo de Deus? A eternidade, descrita nos capítulos 21 e 22 me fascinam ou causam pouco impacto na minha mente e coração? Precisamos ler mais esse livro para nos relacionar melhor com Deus e uns com os outros. Exercícios propostos 1. Explique qual é a relação das profecias do AT com Apocalipse. 2. O que é a Grande Tribulação? Descreva alguns dos fatos que ocorrerão nesse episódio. 3. Como Apocalipse pode influenciar o cristão na condução da sua vida? Discuta isso, apontando coisas práticas e os motivos para realiza-las. 4. Em Apocalipse, descreva quem é: a) O Cordeiro b) O Leão de Judá c) A mulher com dores de parto d) O dragão e) A besta do mar f) A besta da terra g) O cavaleiro com o cavalo branco 5. A nova Jerusalém, discuta sobre ela, como ela é, o que de fato a Bíblia explica.

7 Quadro 1 Abordagens Interpretativas de Apocalipse 1 Abordagens Apocalipse 1-3 Apocalipse 4-19 Apocalipse Idealista Preterista Historicista Futurista Igrejas Históricas Igrejas Históricas Igrejas Históricas Igrejas Históricas e características de igrejas ao longo da História. Conflito cíclico entre bem e mal na História. Descrição simbólica de eventos contemporâneos aos destinatários originais. Descrição simbólica de eventos da história da Igreja. Descrição simbólica de eventos literais futuros anteriores à segunda vinda de Cristo. Triunfo final do bem sobre o mal. Descrição simbólica do céu. Estado Eterno. Reino Milenar e Estado Eterno. FONTES DE CONSULTA Bíblia de estudo MacArthur. Barueri, SP. Sociedade Bíblica do Brasil, Bíblia de estudo NVI. São Paulo: Editora Vida, Apostila de Síntese do Novo Testamento, SBPV, PINTO, C. O. C. Foco e desenvolvimento no Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, RYRIE, C. C. A Bíblia anotada: edição expandida. ed. rev. e expandida. São Paulo: Mundo Cristão; Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, Carlos Osvaldo Pinto, Foco e Desenvolvimento no Novo Testamento, São Paulo: Hagnos, 2008, p. 593.