Porto Alegre, 27 de janeiro de 2012.

Transcrição

1 Porto Alegre, 27 de janeiro de INFORMAÇÃO Nº 148 Interessado: Consulente: Destinatário: Assunto: Ementa: Município xxx. xxx. Prefeito Municipal. Desaverbação de tempo de serviço. A desaverbação de tempo de serviço já computado para concessão de vantagens, para fins de averbação no Estado, enseja diferentes posicionamentos. Considerações acerca de decisões judiciais. Através de consulta registrada sob o nº , nos são solicitados esclarecimentos acerca do abaixo transcrito: Solicitamos, com máxima brevidade o fornecimento de informações que subsidiem a análise do Senhor Prefeito com a finalidade de deferir ou não, e ainda, sob eventuais condições resultantes de possível deferimento a desaverbação de Certidões de Tempo de Serviço requeridas por professoras municipais, considerando o teor do Parecer PGM nº 106/2011 e ainda as seguintes situações fáticas que servem de norte à emissão da informação buscada: Ambas as requerentes, professoras, possuem anuênios no Município, que geram plus remuneratório previsto no RJU, consoante exposto no Parecer e já confirmados pelo Departamento de Pessoal que a concessão destes não depende da apresentação da CTS do INSS sob alegação de que nossa legislação não possui regramento quanto a esta exigência, então os anuênios foram concedidos tão somente a vista de registros de contratos temporários, CTPS anotadas e ainda em razão de Portarias que eram adotadas, ainda que se tratasse de período celetista. As CTS apresentadas são recentes e o pagamento dos anuênios já ocorre desde a época de cada implemento dos interstícios, logo. de forma independente daquelas. 1

2 A servidora do Departamento de Pessoal, nesta data, trouxe ao nosso conhecimento, verbalmente, que as certidões de tempo de serviço cuja averbação está sendo requerida pelas professoras está sendo exigida pelo Estado, que estaria apurando situações do cômputo concomitante quanto a anuênios, triênios, inclusive, obstando o pagamento da vantagem em dúplice, entretanto esta informação não tem caráter oficial, apenas inserimos com cunho informativo. [sic] Analisada a matéria, opinamos: 1. Nos termos do que dispõe o art. 61, 1º, incisos a e c, da Constituição da República CR, é do Chefe do Poder Executivo, aplicável por simetria ao Prefeito Municipal, a iniciativa de leis estabelecendo o Regime Jurídico, criação de cargos, bem como as vantagens concedidas aos servidores públicos 1. Desta forma, quanto as vantagens, especificamente com relação aos adicionais por tempo de serviço, promoção e outra gratificações cujo requisito primordial englobe o conceito de tempo de serviço público, é a lei municipal que deverá dispor acerca dos requisitos para sua implementação, inclusive quanto a eventual limitação ou qualificação do tempo a ser utilizado. De acordo com os elementos registrados nos documentos anexados, requer-se a desaverbação de tempo celetista municipal, anterior a nomeação nos cargos ora titulados, averbados através de certidão emitida pelo INSS. 1 Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição. 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: [ ] II - disponham sobre: a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e autárquica ou aumento de sua remuneração; [ ] c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria; 2

3 2. A questão trazida para análise diz com a possibilidade de cômputo de tempo de serviço público já utilizado em um cargo para vantagens ou aposentadoria, em outro cargo, no caso no Estado, acarretando a valoração dúplice de um mesmo período em diferentes cargos. Ainda que aparentemente singela, a matéria trazida guarda certo grau de dificuldade relativamente à solução a ser dotada, porquanto não encontra, tanto no âmbito do judiciário, quanto no Tribunal de Contas do Estado TCE, manifestações sólidas, que possibilitem uma conclusão segura e definitiva. 3. Em que pese em uma primeira análise se possa concluir, em uma interpretação literal, pela possibilidade de contagem de tempo de serviço público municipal pretérito, para fins de concessão de vantagens, mesmo que venha a ser utilizado o mesmo período para aposentadoria ou vantagens no Estado situação das servidoras relatadas na consulta o que nos levaria à conclusão pela possibilidade de desaverbação da certidão, no caso de a lei municipal apenas indicar como requisito ser tempo de serviço municipal, tal conclusão pode ser vista, sem dúvida, como atentatória ao Princípio da Razoabilidade, visto que um mesmo período estaria fundamentando a concessão de mais de uma vantagem/benefício. Nesse sentido, ainda que não idêntica a situação, trazemos à lume decisão unânime do Tribunal de Justiça do Estado, rechaçando a contagem para vantagens, de período já utilizado para fins de aposentadoria no Regime Geral de Previdência Social RGPS: SERVIDOR PÚBLICO. MUNICÍPIO DE RIO GRANDE. APOSENTADORIA. SERVIDOR OCUPANTE DE CARGO EM COMISSÃO. REVISÃO DO ATO COMPOSTO PELA CORTE DE CONTAS. ACUMULA- ÇÃO DO TEMPO DE SERVIÇO DA APOSENTADORIA PELO REGIME GE- RAL PARA EFEITO DE INCORPORAÇÃO DE VANTAGENS. IMPOSSIBILI- DADE. 1. O apelante trabalhou para o Poder Legislativo, ocupando sempre cargos providos em comissão, desde 1ºNOV84 até 04MAI00, quando obteve aposentadoria concedida pelo INSS, datada de 06OUT94. Posteriormente, passou a ocupar o cargo de Chefe do Gabinete do Prefeito, Símbolo V, também provido em comissão, a contar de JAN01, onde permanecia ao tempo da impetração da segurança. 2. A Corte de Contas exerceu o contro- 3

4 le sobre o ato administrativo que concedeu a vantagem ao apelante e o considerou ilegal, estando a motivação expressa na manifestação da Supervisão de Auditória Municipal. Por isso, não há como se cogitar em impossibilidade de revisão do ato administrativo pela simples passagem do tempo, pois cuida a hipótese de ato composto e a chancela da Corte de Contas era indispensável para sua validade. 3. O artigo 60 da Lei n.º 5.028/96 do Município de Rio Grande, no qual o apelante embasa sua pretensão, foi objeto de incidente de inconstitucionalidade, julgado procedente, de forma unânime, pelo Órgão Especial deste e. Tribunal de Justiça, para declarar a invalidade da expressão calculado sobre a remuneração, 4. O reconhecimento da procedência do pedido acabaria por perpetrar situação expressamente vedada pela Constituição Federal, em seu artigo 37, XIV, conjugado com o artigo 17 do ADCT. Por isso, não há como falar em ampla defesa e contraditório diante da nulidade absoluta que se verificou na concessão da vantagem ao apelante. 5. Precedentes conferidos. APELAÇÃO IM- PROVIDA. 2 Do acórdão extraímos trecho elucidativo: Portanto, deveria o apelante indicar o fundamento legal para permitir o pagamento do adicional de tempo de serviço na forma como foi reconhecida pelo Vice-Prefeito em exercício naquela época (fl. 24) contrariando, inclusive, o parecer de sua assessoria jurídica, tratando-se de uma verdadeira aberração jurídica o que disse naquela feita o administrador, como se fosse possível contar o tempo de serviço já utilizado para a aposentadoria pelo regime geral também para a concessão simultânea de vantagem relacionada ao mesmo tempo de serviço. 4. Com base no entendimento acima, opinamos, por cautela, pela inviabilidade da desaverbação de tempo certificado pelo INSS tempo este municipal utilizado para fins de concessão de vantagem no Município, para fins de aposentadoria no âmbito do Estado, de forma a não ser utilizado em duplicidade. Em que pese os adicionais terem sido concedidos a despeito da apresentação das respectivas certidões, é de registrar que segundo informações, o Tribunal de Contas do Estado tem determinado a revisão dos valores percebidos pelo servidor, quando o mesmo utiliza o tempo correspondente em outro regime previdenciário, o que inviabilizaria a desaverbação, o que reforça nossa conclusão, ainda que os adicionais tenham sido 2 Apelação Cível Nº , Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Nelson Antônio Monteiro Pacheco, Julgado em 20/01/

5 concedidos a despeito da averbação do tempo, porquanto ambos os procedimentos administrativos Estado e Município serão analisados pela Corte de Contas. 5. Ressalvamos, todavia, que diferente entendimento poderá advir de eventual enfrentamento da matéria na via judicial, como é exemplo a decisão abaixo, onde concluiu o judiciário pela possibilidade de desaverbação, condicionando a mesma, no entanto, a imediata suspensão do pagamento das vantagens que o computaram. Apelação cível. Servidor público. Desaverbação de tempo de serviço para utilização em regime previdenciário diverso. Possibilidade. Vantagens decorrentes do tempo de serviço que foram pagas pela Administração Estadual, em razão da averbação do tempo de serviço, são legítimas e devidas, cessando com a desaverbação. Efeitos ex nunc. Negaram provimento ao recurso de apelação. Unânime Respondendo objetivamente, sugerimos por cautela, indeferir a desaverbação, com fundamento no fato de que o tempo foi computado e gerou benefício de caráter financeiro as servidoras vantagens por tempo de serviço não podendo o mesmo tempo gerar novo benefício, seja através de concessão de vantagens, seja através de concessão de aposentadoria no âmbito do Estado. SÉRGIO PIZOLOTTO CASTANHO JÚLIO CÉSAR FUCILINI PAUSE OAB/RS N OAB/RS N VIVIANE DE FREITAS OLIVEIRA OAB/RS Nº Apelação Cível Nº , Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Agathe Elsa Schmidt da Silva, Julgado em 18/08/