SUMÁRIO. Tudo é mar e mais nada Fabrício Carpinejar ESPECTROS Brâmane... 21
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- Maria do Carmo Caminha Pacheco
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1 SUMÁRIO Tudo é mar e mais nada Fabrício Carpinejar ESPECTROS Brâmane BALADAS PARA EL-REI Na grande noite tristonha, De Nossa Senhora Suavíssima CÂNTICOS Cântico I Cântico VII MORENA, PENA DE AMOR VIAGEM Motivo Retrato A última cantiga Canção Canção Aceitação Orfandade Guitarra Descrição Noções Epigrama nº Ressurreição Medida da significação IV Epigrama n o
2 Destino Os remos batem nas águas: Assovio Metamorfose Epigrama nº VAGA MÚSICA Epitáfio da navegadora Canção excêntrica Exílio Canção do caminho Canções do mundo acabado Canção de alta noite Em voz baixa Lembrança rural Canção mínima Pequena canção Memória Interlúdio Domingo de feira Explicação Reinvenção Canção do deserto Lua adversa Eco Despedida MAR ABSOLUTO E OUTROS POEMAS Mar absoluto Contemplação Auto-retrato Compromisso Sugestão motivo da rosa Desejo de regresso Este é o lenço CECÍLIA MEIRELES
3 Lamento da noiva do soldado Por baixo dos largos fícus º motivo da rosa Suave morta O tempo no jardim Diana Beira-mar Desapego Cavalgada Caronte º motivo da rosa Mulher ao espelho Inscrição Noite Canção Os dias felizes O aquário Elegia Elegia RETRATO NATURAL Apresentação Comunicação Retrato em luar Improviso para Norman Fraser Os gatos da tinturaria Balada de Ouro Preto Paisagem mexicana POEMAS ESCRITOS NA ÍNDIA Som da Índia Tarde amarela e azul Santidade Romãs Adeuses
4 PISTÓIA, CEMITÉRIO MILITAR BRASILEIRO Eles vieram felizes, como CANÇÕES Se não houvesse montanhas! Inesperadamente, Como os passivos afogados Se estive no mundo Assim moro em meu sonho: Ciclo do Sabiá I Ciclo do Sabiá IV Trapezista Nadador Aedo POEMAS ITALIANOS Mural risonho Pompéia O que me disse o morto de Pompéia Via Appia Chuva no Palácio dos Doges METAL ROSICLER SOLOMBRA Há mil rostos na terra: e agora não consigo Quero uma solidão, quero um silêncio, CECÍLIA MEIRELES
5 Falar contigo. Andar lentamente falando O gosto da Beleza em meu lábio descansa: Só tu sabes usar tão diáfano mistério: Nuvens dos olhos meus, de altas chuvas paradas As palavras estão com seus pulsos imóveis Há um lábio sobre a noite: um lábio sem palavra Esses adeuses que caíam pelos mares, SONHOS Sonhei um sonho Outro dia sonhei que o coche fúnebre Rua Desenhos do sonho POEMAS DE VIAGENS Desenhos da Holanda III. Paisagem com figuras Interlúdio terrestre Infelizmente, falharam as fotografias Sobre as muralhas do mar O ESTUDANTE EMPÍRICO Todas as coisas têm nome Não sei distinguir no céu as várias constelações Hoje desaprendo o que tinha aprendido até ontem O quadro-negro Desenho OU ISTO OU AQUILO O mosquito escreve O menino azul Ou isto ou aquilo A chácara do Chico Bolacha Figurinhas II O eco
6 DISPERSOS Aranhol Alguém se torna presente Prelúdio da monção Eternidade inútil Profundidade da insônia Papéis À margem do prato com o peixe pintado Conheço a residência da dor Disposições finais Humildade Papéis Mensagem a um desconhecido Diálogos do jardim Manhã de chuva na infância Biografia Astrologia Eis a casa É preciso não esquecer nada Linha reta Índice de títulos e primeiros versos CECÍLIA MEIRELES
7 Tudo é mar e mais nada Fabrício Carpinejar* Cecília Meireles é uma das maiores autoras da língua portuguesa. Cecília Meireles é uma das maiores autoras da língua portuguesa. A repetição não foi erro de digitação. Do tamanho de um Fernando Pessoa, da estatura de Camões, não esmorecendo em ombros com Carlos Drummond de Andrade. Posso parecer exagerado, mas minha teimosia tem um motivo. Uma birra. Lembro que o caderno Mais!, do jornal Folha de S.Paulo de 2 de janeiro de 2000, escolheu, mediante opinião de dez críticos, quais os trinta melhores poemas brasileiros do século XX. Drummond pontuou com cinco poemas; Máquina do Mundo conquistou o trono de mais lembrado. João Cabral freqüentou a relação com sete poemas. Manuel Bandeira marcou presença com dois poemas. E Cecília? Surgiu em 30 o lugar, o último, com Romanceiro da Inconfidência, seu épico sobre Minas Gerais do século XVIII. Não desmerecendo os escolhidos, muito menos os votantes, é uma injustiça com uma escritora monumental, que começou no lirismo adolescente, aos 16 anos, com * Poeta, cronista e professor, autor de Meu filho, minha filha, Um terno de pássaros ao sul e Cinco Marias, entre outros. 11
8 Espectros, e publicou mais de trinta livros de poemas até sua morte, em 1964, aos 63 anos*. Não ressoaria excêntrico elaborar uma lista dos trinta melhores da poesia brasileira só com ela. Como esquecer Motivo (do livro Viagem)? Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: mais nada. Versos para tragar. Em voz alta, sem nenhuma gagueira, soluço, interrupção. Livres para escorrer. A cola da música e das rimas não permite o pensamento se quebrar, em nenhum momento. Têm uma aura de toada, fazendo qualquer * Fundamentando a grandeza da autora: na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, promovida pelo Instituto Pró-Livro e editada pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, Cecília Meireles está situada em 6 lugar na tabulação da resposta espontânea quanto aos escritores brasileiros mais apreciados pelos leitores. 12 CECÍLIA MEIRELES
9 distraído memorizar as linhas numa primeira leitura. É uma definição de estilo, uma autobiografia lírica. Algum outro escritor conseguiria definir a poesia tão bem? Complicado. Ela prometia morrer de cantar como as cigarras. Cecília nunca foi taxativa, dogmática; explora o espaço das perguntas, numa atmosfera de consolidado despojamento. Ela não leciona; é lição. Não pede compaixão, não esbarra no coitadismo, na supervalorização do lirismo como suporte de um masoquismo refinado. Ela entende mais do que sofre. Expele uma nobreza da finitude, de exercer intensamente suas tarefas enquanto pode desfrutá-las. O poeta é menos importante do que a poesia. O canto é mais importante do que a ave. O poema não a envaidece, há a sabedoria do limite: uma lúcida transitoriedade de merecer, pouco a pouco, a mudez e o fim. Tem sangue eterno a asa ritmada é uma construção complexa e, ao mesmo tempo, expressiva. Cecília dói por ser tão luminosa, por falar seus sentimentos com um desembaraço franco e vívido, sempre relacionando-os com símbolos comuns. Guarda um faro de aproximação coloquial que inscreve sua poesia numa freqüência moderna, ainda que trajando arranjos formais clássicos. Cecília poderá vestir alexandrinos, mas estará de pés descalços, mantendo o contato com o mundo na ponta dos dedos. Uma pobreza que é essência. A partir de Viagem (1939), ela se distancia das reticências fantasmagóricas dos simbolistas, cicatriza a enfermidade romântica para questionar seu papel na vida e a função da vida em sua poesia. Como apagar Canção Mínima (Vaga Música, 1942) do quadro-negro das obras-primas? 13
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