TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Sindical A IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA MULTA DO ART. 475-J DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (CPC) AO PROCESSO DO TRABALHO

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1 TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Sindical A IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA MULTA DO ART. 475-J DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (CPC) AO PROCESSO DO TRABALHO Alain Alpin Mac Gregor Advogado Tendo em vista a adaptação à nova realidade jurisdicional trazida pela Emenda Constitucional (EC) nº 45/2005 e com intuito de buscar a verdadeira tutela dos interesses jurídicos, o sistema processual brasileiro vem se renovando de forma considerável. Assim, para que o Poder Judiciário possa contemporizar o enorme crescimento do número de ações que tramitam hoje em nossos tribunais, estão sendo criados mecanismos para viabilizar a razoável duração do processo (art. 5º, LXXVIII, da Constituição Federal). Dentre esses mecanismos destacamos a Lei nº , promulgada em 22 de dezembro de 2005, que alterou a sistemática da execução do processo civil. Ao mesmo tempo que em vista da permissão contida no art. 769, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), possibilita a aplicação subsidiária do Processo Civil em virtude de lacuna nas normas trabalhistas, sem contrariar as já existentes, para nortear diversas circunstâncias a Justiça do Trabalho, ao passar a ter competência para julgar feitos até então de natureza da Justiça Comum, como por exemplo, a ação acidentária agora passa a importar institutos que não lhe eram pertinentes, para se adequar a sua nova realidade, podendo ser citadas, como exemplo, as intervenções de terceiros. A CLT prevê a utilização, também de forma subsidiária, de preceitos que regem o processo de executivos fiscais, ao processo de execução trabalhista (art. 889, da CLT). Por fim, o Parágrafo Único, do artigo 8º, da CLT, permite a utilização subsidiária do direito comum ao direito do trabalho, no caso de omissão e desde que não haja incompatibilidade entre as normas. Assim, em determinadas situações, o direito comum (material e processual) tem sua aplicabilidade compatível com o direito do trabalho (material e processual), o que permite inovações que acabam por facilitar a prestação jurisdicional, de forma a torná-la mais eficiente. O Tribunal Superior do Trabalho (TST) recentemente sinalizou estar aberto a essas inovações ao cancelar a Orientação Jurisprudencial número 227 de sua Seção de Dissídios

2 40 Individuais 1 (SDI-1), que impedia a denunciação da lide no processo do trabalho. Com isso, dá-se início a adequação das normas trabalhistas ao novo sistema que surgiu com a Emenda Constitucional nº45/2005. Não poderia ser diferente, vez que não seria possível atribuir à Justiça do Trabalho competência para julgar demandas de natureza civil sem aparelhá-la com as ferramentas processuais condizentes. Dessa forma, a alteração do art.114, da Constituição Federal acabou por trazer, também, a necessidade de trasladar do Código de Processo Civil para a CLT institutos de natureza processual civil inerentes à resolução das novas demandas trabalhistas, pois esses institutos carecem de familiaridade no processo do trabalho. A edição da Lei nº /2005 modifica a execução civil para torná-la, no que tange a uma busca por maior efetividade, mais assemelhada à execução trabalhista. A execução trabalhista é singular pela faculdade atribuída por lei ao magistrado para, alternativamente à inércia do credor ou interessado, promovê-la ex officio, por impulso oficial. No processo do trabalho, a execução sempre teve a feição de fase executiva do processo de cognição, embora a partir do ano 2000, com a Lei nº 9.958, hajam sido inseridas as possibilidades de ação autônoma de execução de títulos extrajudiciais como os termos de ajustamento de conduta e a conciliação prévia, hipóteses nas quais, extraordinariamente, inexiste a dependência do processo de execução ao processo cognitivo prévio. A execução trabalhista, com o intuito de obter a rápida prestação jurisdicional, acaba por preencher as lacunas da legislação por meio da adoção supletiva das Leis nºs 5.584/70, 6.830/80 e do próprio CPC, os quais ora lhes emprestam institutos necessários à sua eficiência, como por exemplo, as tutelas de urgência, mas em momentos os tornam mais complexa, como por exemplo, nos embargos à arrematação ou mesmo a adjudicação. Não se defende aqui a prevalência de uma prática processual sobre a outra, ou mesmo se ataca a forma usada na execução civil, enfatizando a eficiência da execução trabalhista, visto que agora o processo civil, com as suas execuções de título judicial assemelhadas ao processo do trabalho, passando esta a ser uma fase processual, devido a alteração trazida pela Lei nº /2005, acaba por eliminar a burocracia e garantir uma simplicidade dos atos que sempre nortearam a execução trabalhista. Estaremos, sim, analisando a viabilidade de ser acomodada, na esfera do Direito Processual do Trabalho, a alteração do Código de Processo Civil no tocante à possibilidade de aplicação da multa prevista no art. 475-J, trazido pela Lei nº /2005, que diz: Trabalhos Técnicos

3 41 Art. 475-J. Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a requerimento do credor e observado o disposto no art. 614, inciso II, desta lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação. Inicialmente, esclarecemos que nem toda a legislação processual comum é aplicável subsidiariamente ao processo do trabalho, não podendo ser considerado que algum princípio utilizado em um se aplicaria, necessariamente, ao outro. O processo trabalhista é autônomo em relação ao processo civil, e é em virtude disso que se admite a aplicação subsidiária, apenas quando existir alguma lacuna na legislação, não podendo o sistema emprestado colidir com os princípios do processo do trabalho. Na Justiça do Trabalho o processo de conhecimento pode utilizar-se da legislação processual comum como primeira fonte subsidiária (art. 769, da CLT), mas no de execução a primeira fonte é a Lei dos Executivos Fiscais, e só depois poderia ser aplicado, subsidiariamente, o processo civil (art. 889, da CLT). Reza o art. 889, da CLT: Art Aos trâmites e incidentes do processo da execução são aplicáveis, naquilo em que não contravierem ao presente Título, os preceitos que regem o processo dos executivos fiscais para a cobrança judicial da dívida ativa da Fazenda Pública Federal. O objetivo da aplicação subsidiária do Processo Civil ao Trabalhista é sempre a busca pela celeridade, conforme nos ensina o mestre Valentin Carrion, ao afirmar que Perante novos dispositivos do processo comum, o interprete necessita fazer uma primeira indagação: se, não havendo incompatibilidade, permitir-se-ão a celeridade e a simplificação, que sempre foram almejadas. Nada de novos recursos, novas formalidades inúteis e atravancadoras. (CARRION, Valentin, Comentários à consolidação das leis do trabalho, 31ª Edição, 2006, Ed. Saraiva, pág. 584). É o entendimento da jurisprudência trabalhista a seguir colacionada: Estando a aplicação subsidiária do Código de Processo Civil jungida à harmonia com a sistemática adotada pelo legislador consolidado, forçoso é concluir que a definição demanda tarefa interpretativa mediante cotejo do preceito que se pretenda ver aplicado Trabalhos Técnicos

4 42 com a sistemática da CLT. ( TST, Ag-E-RR 7.583/85-4, Marco Aurélio, Ac. TP 469/87) Com relação ao processo de execução, cumpre esclarecer que a aplicação subsidiária do processo civil ao processo trabalhista não está explicitamente determinada pela CLT. Sua aplicação se dá por meio do artigo 889, da Consolidação, que remete à Lei nº 6.830/80, que dispõe sobre a cobrança judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública, e é esta que, em seu artigo 1º, possibilita a utilização do CPC para o preenchimento das lacunas existentes. Destaca-se que, mesmo a aplicação de determinados procedimentos da Lei nº 6.830/80, por serem contrários a dispositivos da CLT, sempre foram inaplicáveis subsidiariamente, podendo ser citado como exemplo o preconizado no art. 8º dessa lei, que diz que O executado será citado para, no prazo de 5 (cinco) dias, pagar a dívida com os juros e multa de mora e encargos indicados na Certidão de Dívida Ativa.... Ou seja, anteriormente à Lei nº /05, já existia previsão legal para aplicação de multa no caso do nãopagamento do valor devido e tal penalidade nunca foi aplicada na Justiça do Trabalho. A não aplicação da multa prevista na Lei nº 6.830/80 se dá em virtude de que, no que toca a questão da não satisfação do débito por parte do devedor, a CLT, em seu artigo 883, que diz: Art Não pagando o executado, nem garantindo a execução, seguir-se-á penhora dos bens, tantos quantos bastem ao pagamento da importância da condenação, acrescida de custas e juros de mora, sendo estes, em qualquer caso, devidos a partir da data em que for ajuizada a reclamação inicial. Dessa forma, não existe omissão da legislação trabalhista com relação ao nãopagamento, por parte do devedor, do valor da execução, uma vez que na CLT existe a previsão de que o valor devido será acrescido das custas e dos juros de mora, o que por si só, já cria uma grande dificuldade para o devedor, vez que os juros na justiça do trabalho remuneram o capital de forma muito mais vantajosa que uma aplicação financeira. O artigo 883 não deixa dúvidas ao declinar as conseqüências do não-pagamento espontâneo do débito: a) a penhora de tantos bens quantos bastem ao pagamento da importância da condenação; b) custas; e c) juros de mora. Como esse dispositivo legal não menciona aplicação de multa, não é crível a aplicação do 475-J, do Código de Processo Civil, ao processo trabalhista, vez que inexiste omissão a ser sanada por meio da aplicação subsidiária de tais normas. Assim, se a Lei nº 6.830/80 aplica-se à execução trabalhista preferencialmente ao Código de Processo Civil (Art. 1º), e nessa regra já existia previsão de multa em virtude do Trabalhos Técnicos

5 43 não-pagamento de débito, e apesar disso a referida multa não era e ainda não o é aplicável ao processo do trabalho, tendo em vista o fato de a CLT, em seu art. 883, não deixar lacuna com relação à falta de pagamento dos valores executados, não poderá ser o Código de Processo Civil, portanto, aplicado ao processo do trabalho no que toca à multa do art. 475-J por não encontrar-se presente a lacuna legal necessária para a sua aplicação subsidiária. Trabalhos Técnicos