A Lei 9.099/95 e a multa prevista pelo caput do artigo 475-J do CPC.

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Raul Barbosa Taveira
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1 A Lei 9.099/95 e a multa prevista pelo caput do artigo 475-J do CPC. Tiago Mendes Cunha, advogado sócio do escritório Haanwinckel Advogados. tiagocunha@hadvogados.com Objetivando garantir um acesso rápido e eficaz à justiça, criou-se, em obediência ao artigo 98, I, da Constituição Federal, os Juizados Especiais Cíveis, norteados, dentre outros, pelos princípios da economia processual e celeridade. Almejava-se, com isso, desenvolver um sistema processual capaz de solucionar conflitos de interesses de pequena complexidade com o dispêndio mínimo de tempo e atos processuais, o que, indubitavelmente, foi alcançado. Não bastava, entretanto, alcançar a rapidez na solução dos conflitos. Impunhase, igualmente, obter maior celeridade no cumprimento dos julgados proferidos em sede de JEC, motivo pelo qual optou o legislador por conferir exclusivamente àqueles a competência para a execução de seus julgados, nos termos do que estatuem os artigos 3, 1, I, e 52, caput, da Lei n /95. Estabeleceu ainda a aludida Lei alguns procedimentos específicos para a execução de suas sentenças, constantes de seu artigo 52, determinando a aplicação subsidiária, no que coubesse, do Código de Processo Civil. Artigo 52. A execução da sentença processar-se-á no próprio Juizado, aplicando-se, no que couber, o disposto no Código de Processo Civil, com as seguintes alterações: (g.n.) (...) III - a intimação da sentença será feita, sempre que possível, na própria audiência em que for proferida. Nessa intimação, o vencido

2 será instado a cumprir a sentença tão logo ocorra seu trânsito em julgado, e advertido dos efeitos do seu descumprimento; IV - não cumprida voluntariamente a sentença transitada em julgado, e tendo havido solicitação do interessado, que poderá ser verbal, proceder-se-á desde logo à execução, dispensada nova citação; (g.n.) Da mesma forma, a fim de tornar mais célere o processo de execução e garantir maior efetividade dos provimentos jurisdicionais, o Código de Processo Civil sofreu algumas alterações advindas da promulgação da Lei n /05, dentre as quais encontra-se aquela prevista no caput do artigo 475-J, a saber: Artigo 475-J. Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e, a requerimento do credor e observado o disposto no artigo 614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação. Inicialmente, cabe a breve ressalva de que todas as sentenças proferidas em sede de JEC devem ser líquidas, a teor do que dispõe o parágrafo único do artigo 38, da Lei n /95. Superada essa questão, deparamo-nos, a nosso sentir, com tortuoso desafio de interpretação, atinente à possibilidade de aplicação da multa de dez por cento prevista no caput do artigo 475-J aos feitos em trâmite perante os JEC. Não obstante exista entendimento em sentido diametralmente oposto, cremos seguramente, mediante interpretação sistemática, que tal multa, por não ir de encontro a qualquer dispositivo constante da Lei n /95, é aplicável ao rito

3 sumaríssimo. Assim, caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa, não o efetue no prazo de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de dez por cento. Mas qual seria o termo a quo para contagem desse prazo? Em virtude da ausência de manifestação expressa da Lei, restou à doutrina e jurisprudência definirem a data de início de fluidez do prazo de quinze dias previsto no artigo 475-J, havendo entendimento até mesmo de que o prazo de quinze dias passaria a fluir da data em que as partes fossem intimadas da sentença de 1 grau, seja ao final da audiência de instrução e julgamento, seja por meio de publicação daquela no diário oficial. A justificar esse posicionamento, deveras radical, assevere-se, afirmavam seus adeptos que eventual recurso inominado interposto em face da sentença proferida em sede de JEC não possuiria, em regra, efeito suspensivo, o que tornaria a sentença exeqüível de imediato. Portanto, caso o juiz entendesse por indeferir eventual requerimento de concessão de efeito suspensivo ao recurso inominado e a parte ré já não tivesse providenciado o depósito da quantia certa ou o oferecimento de bens, haveria a incidência da multa de dez por cento. Todavia, temos por certo que este entendimento não merece prosperar. De fato, a adoção do entendimento suso mencionado contrariaria os princípios sob os quais se funda o rito sumaríssimo, em especial aqueles alhures apontados, na medida em que imporia à parte ré, se condenada em 1ª instância, oferecer bens ou depositar a quantia em quinze dias a contar da sentença, sob pena de ver acrescida ao débito a multa de dez por cento, ainda que pretendesse interpor o recurso inominado, o qual somente é recebido sob o efeito suspensivo na hipótese de risco de dano irreparável ao recorrente.

4 Isso resultaria na prática de infindáveis atos inúteis e inoportunos, a uma porque a sentença de 1 grau poderia ser reformada pela Turma Recursal, a duas porque os autos do processo acabariam por se eternizar no cartório do Juizado, impedindo sua remessa à Turma Recursal em virtude dos requerimentos de guia de depósito e juntadas dos mais diversos tipos de petição das partes, seja no sentido de ofertar bens, seja no sentido de requerer o levantamento da quantia com a prestação de caução. A prevalecer esse entendimento, os princípios da economia processual e celeridade cairiam por terra, o que decerto não foi a intenção do legislador! Antevendo os problemas que a incontável gama de interpretações poderia ocasionar às execuções em andamento, os juízes de Juizados Especiais Cíveis e Turmas Recursais do Tribunal e Justiça do Estado do Rio de Janeiro aprovaram o enunciado cível abaixo transcrito, publicado no diário oficial de 1 de agosto de 2006: Caso o devedor não pague a quantia certa a que foi condenado em 15 (quinze) dias contados do trânsito em julgado da sentença, o valor da condenação será acrescido de multa de 10% (dez por cento), independentemente de nova intimação. (g.n.) Da simples leitura deste enunciado infere-se que o prazo de quinze dias para cumprimento da condenação se inicia com o trânsito em julgado da sentença, motivo pelo qual, na hipótese de interposição de recurso inominado, independentemente do deferimento de efeito suspensivo pelo juízo de 1 grau, o prazo não começará a fluir. Em caso de não interposição de recurso, o prazo de quinze dias, por óbvio, passará a fluir do trânsito em julgado da sentença.

5 Com efeito, não poderia ser diferente! Ao aprovar tal enunciado, nada mais fez o TJRJ do que prestigiar, não só o princípio da informalidade, previsto pelo artigo 2 da Lei n /95, como também o princípio da lealdade processual, insculpido no artigo 14, do Código de Processo Civil, segundo o qual cabe à parte condenada cumprir o julgado sem opor obstáculos à satisfação do direito do credor. Indispensável salientar, contudo, que isto se deu em harmonia com os princípios norteadores dos JEC. Por fim, há de se ressaltar o fato de que, em se tratando de JEC, torna-se desnecessário o requerimento formal de instauração do processo de execução, tal como previsto no caput do artigo 475-J, bastando apenas uma solicitação do interessado, a qual poderá ser verbal. * * *

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