GUARDA NACIONAL NA PARAHYBA: vigiando e punindo em nome da ordem ( ) Lidiana Justo da Costa 1
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- Ester Braga Lancastre
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1 GUARDA NACIONAL NA PARAHYBA: vigiando e punindo em nome da ordem ( ) Lidiana Justo da Costa 1 Segue daqui hoje uma escolta de 4 guardas nacionaes, e 2 municipais, que conduzem, o preso criminoso de morte Antonio Pereira dos Santos o qual tendo vindo o ano passado a ser julgado no Juri desta Vila, não o foi por não se ter este reunido, e regressando para a capital, evadira-se na Alagoa Grande sendo agora preso, deliberei, que fosse conduzido por na escolta mista, afim de evitar, que não tornasse a evadir-se, visto ser um preso recomendável pelos crimes, que demais dizem ser; 2 Esta correspondência informa sobre a prisão de Antonio Pereira dos Santos, considerado perigoso pelas autoridades, este personagem foi encaminhado para ser julgado no júri da Vila de Areia, e evadira-se na Alagoa Grande sendo agora preso, o preso segundo informa a respectiva correspondência era recomendável pelos crimes, tratava-se de um assassino que havia burlado a lei, adiado seu julgamento e posterior prisão. Portanto, para evitar mais uma fuga ou resistências, Antonio Pereira dos Santos, estava sendo escoltado por 4 Guardas Nacionais e 2 municipais. Através deste episódio, possivelmente corriqueiro no cotidiano de vigilância e punição na Província da Parahyba do Norte, buscaremos investigar a importância da Guarda Nacional nesta província, percebendo além de sua atuação, os personagens que deram vida a milícia, chamando atenção para o período regencial, considerado como o laboratório da nação, no entendimento do historiador Marcello Basille (2009). A Guarda Nacional foi criada pelo regente Diogo Antônio Feijó, conforme a Lei de 18 de agosto de O motivo de sua criação está vinculado aos conturbados acontecimentos, que marcaram os momentos iniciais da Regência. O historiador Richard Graham (1997) afirmou que a revolta do Malês, em Salvador; a Cabanagem, no Pará; a Farroupilha no Rio Grande do Sul; a Balaiagem e a Sabinada suscitaram o temor das elites, além disso, essas elites temiam que a exemplo do Haiti, os escravos do Brasil fizessem uma revolução como a que aconteceu na colônia francesa no século XIX. O temor destes movimentos contrários a ordem que se tentava construir, foi peça fundamental para se compreender o porquê da criação da Guarda Nacional. 1 Mestranda do PPGH da Universidade Federal da Paraíba. 2 Correspondência do Brejo de Areia, enviada no dia 3 de setembro de 1836 ao presidente da Província da Parahyba do Norte, Antonio Joaquim de Mello Albuquerque. Arquivo Público da Funesc, cx 13, Ano
2 Criada num contexto em que até o Exército, representava uma ameaça e era visto com suspeição. Suspeição esta advinda dos oficiais partidários a D. Pedro I, de má reputação, relativamente fraco ou não merecedor de confiança (GRAHAM, 1997, p. 93). Mas embora visto com suspeição pela Regência, o mesmo não deixou de existir, voltando a ganhar importância em 1850, quando da reforma da Guarda Nacional. A lei de 18 de agosto de 1831, apontava em seu artigo 1º que: a guarda era a força auxiliar do exército de linha na defesa das fronteiras e costas (Leis e Decretos Brasil, 1875, p 49), ou seja, no âmbito interno, o exército recebeu o reforço da força civil, representada pela Guarda Nacional. Neste cenário nacional, podemos perceber que na província da Parahyba do Norte, houve morosidade dos responsáveis por erigir a Guarda Nacional, e isto foi bastante combatido pelo governo central. Nos reclames do vice-presidente da Província, Francisco José Meira, ele questionou o fato de ser esta a única capital de província que ainda não tem Guarda Nacional. Em resposta, a Câmara Municipal da Parahyba do Norte, disse: Esta camara Exmo Sr. Apesar de reconhecer a Justiça que assiste a V.Exª nesta parte, com tudo previne a V.Exª isenta deve estar dos reproches de V.Exª, e da publica censura pelas razões que possa mostrar, querendo isentar-se da morosidade a Câmara Municipal pôs-se a responsabilizar ao de Santa Rita pela morosidade e apatia em que se achava vendo aquela mesma camara as dificuldades que suscitaram no distrito de Santa Rita pela repugnacia que apresentava o juis de paz 3, (Grifos meus). Em outro documento, de abertura da sessão da Assembléia Legislativa na Parahyba em 1839, o respectivo presidente da província João José de Moura Magalhaens, fala dentre outras coisas, que a Guarda Nacional tem encontrado bastantes dificuldades, e obstáculos para seu andamento, e progresso, e grandes esforços, e trabalhos é precizo empregar, para fazer d ela uma verdadeira Milicia Nacional, que preencha devidamente os salutares fins da Lei de sua creação 4. Passados já oito anos da lei de criação, verificamos que havia ainda grandes dificuldades para que os municípios viessem de fato, a formar suas companhias, batalhões ou seções. 3 Correspondência enviada pela Câmara Municipal da Parahyba, expondo os motivos que retardaram a criação da Guarda Nacional. Arquivo Público Funesc, cx 10, ano: 1830/ Fala do presidente da província da Parahyba do Norte, o Dr. João José de Moura Magalhaens, na abertura da segunda sessão da 2.a legislatura da Assembléia Legislativa da mesma provincia no dia 16 de janeiro, de Pernambuco, Tip. de M.F. de Faria, (566). Disponível em: 2
3 Esta correspondência nos leva a questionar as teias frágeis de relação deste estado em construção, e leva-nos tentar a identificar que o distanciamento do governo central, em relação a algumas províncias, possibilitava ou não estas negligências dos responsáveis por fazer cumprir a lei. Mas seria mesmo negligência? Acreditamos que não, afinal, como informa a correspondência, esforços estavam sendo empregados. Mas em muitas vilas, podemos constatar através da documentação que dispomos, a falta de livros de matrículas, a relação de eleitores dos distritos, e até exemplares da lei que não chegavam em quantidades suficientes, atrasando, portanto, a formação da Guarda. Este fato em particular, possivelmente afetou as demais províncias do império, são conjecturas que ainda estamos desenvolvendo. Portanto, ao nosso entender a Parahyba do Norte, foi entrando aos poucos e lentamente nesse ordenamento, a força nacional transfigurada na Guarda Nacional embora carregue um peso muito grande, tinha bases frágeis tendo em vista a amplitude do território nacional e evidentemente e as dificuldades do governo central para equipá-la, sabemos que este governo pouco gastou com a milícia, afinal, os Guardas deveriam comprar seus uniformes, muitos acabavam contribuindo para a compra de alguns armamentos URICOECHEA (1976). Ainda não dispomos da quantidade exata de Companhias, Batalhões e Seções, da Guarda Nacional distribuída por toda província da Parahyba do Norte. Mas, através deste documento, podemos ao menos vislumbrar a organização e distribuição destes corpos na capital da província. A comissão nomeada para dar o seu parecer acerca do disposto no Capº 3º da Lei de 18 de agosto de 1831, julga conveniente serem divididos os Guardas deste Município em dois Batalhoes ( que formar podem uma Legião) o 1º tendo por Parada a Rua Nova, onterá quatro Compªs na cide, ûma em a Povoação de Santa Rita, e ûma em a do Socorro: ûma sessão de Compª em Gramame, ûma Compª em Tambaú, e outra finalmente em Cabedelo. O 2º porem tendo por parada o patio, e cercado do Engº Gargaú, onterá duas Compª no mesmo Distrito do livramento, ûma em a Povoação da Bathalha, e outra, finalmente em a Praia de Lucena 5. Na sessão de seis de novembro de 1833, a Câmara Municipal da Parahyba do Norte, apontou a conveniência em se dividir as Legiões de Guardas Nacionais. É proposta pela Câmara, a divisão da Legião existente na cidade em dois Batalhões. Sendo o primeiro, na Rua Nova, e o segundo, no pátio do Engenho Gargaú. O 1º Batalhão foi subdividido em 4 companhias sendo: 5 Essa informação consta na correspondência da Câmara Municipal da Parahyba do Norte, sendo a mesma, um parecer ao Artº 4 da Lei de 18 de agosto de 1831, sobre a formação de Guardas Nacionais nos Municípios. Arquivo Público Funesc, cx 10, ano: 1830/
4 uma na povoação de Santa Rita, Socorro (esta com uma Seção de Companhia em Gramame), Tambaú e Cabedelo. Por sua vez o 2º Batalhão situado no Engenho Gargaú, foi dividido em duas Companhias, uma em Batalha e outra na praia de Lucena. Numa leitura foucaultiana sobre o poder, podemos compreender que as Companhias, Comandos e Batalhões foram organismos que tal como uma teia foram se espalhando pelos pontos estratégicos, exercendo também um olhar que está alerta em toda parte (1997, p186). Nessa perspectiva acreditamos que a distribuição dos corpos da Guarda Nacional, tenha se pautado nesse viés panóptico (FOUCAULT, 1997, p.186) de poder. Na lei de sua criação, podemos perceber que as funções da Guarda Nacional, eram múltiplas, e o caso do personagem Antonio Pereira dos Santos, prisioneiro perigoso, conduzido por guardas nacionais e municipais, nos dá pistas quando pensamos sobre quais as funções da Guarda na província da Parahyba do Norte. No caso acima, verificamos a condução de um criminoso da Vila de Areia para a capital da província. Sendo assim, queremos apontar que as atribuições de um Guarda Nacional consistiam em: capturar criminosos, conduzir prisioneiros a julgamento, transportar valores, patrulhar cidades e municípios, vigiar a cadeia e, não menos importante, dispersar comunidades de escravos fugitivos (GRAHAM, 1997, p.92). Como podemos observar, eles acabavam exercendo funções que caberiam as forças policiais das províncias. Nesse sentido, no regulamento de 7 de outubro de 1833, do comando da Guarda Nacional da Vila de Bananeiras, o respectivo regulamento foi submetido a aprovação do tenente coronel Leonardo Bezerra Cavalcante e especificava, baseado na Lei de 18 de agosto de 1831 a vigia da Cadeia e Quartel do Corpo e condução de presos e oficiais, caso não demore este serviço mais que três dias 6. Outro relatório do presidente da província da Parahyba do Norte, o tenente coronel Frederico Carneiro de Campos, afirma que embora com dificuldades com a escassez de armamentos, outros Comandos Superiores da Guarda Nacional, estavam se esforçando para manter a ordem pública: 6 Regulamento para o serviço ordinário do Comando da Guarda Nacional da Vila de Bananeiras, datado do 7 de outubro de 1833, submetido a aprovação do Comandante do mesmo batalhão o tenente coronel Leonardo Bezerra Cavalcante. Arquivo Público Funesc, cx 10, Ano: 1830/
5 Os outros Commandos Superiores, apezar de desprovidos de armamentos, tem conntudo coadjuvado as deligencias, de justiça na captura de criminozos, auxiliando a Polícia em pontos onde não ha destacamentos, e na condução de indivíduos vadios, ou de conducta irregular que vem com destino para o exército ou armada 7. Podemos vislumbrar a partir deste relatório que embora fossem constantes os reclames das autoridades ao governo central, no que concerne a falta de armamentos, a Guarda Nacional, nem por isso deixava de exercer seu papel como auxiliar das forças policiais, queremos chamar atenção para a condução de indivíduos vadios, ou de conducta irregular que vem com destino para o exército ou armada, estes indivíduos eram forçadamente inseridos no exército muitas vezes como punição, ser um guarda nacional era preferido, a ter que parar nas fileiras do exército, MENDES (2010). Convidamos o leitor a entrar conosco no universo da historiografia 8 sobre a temática, com o intuito de aprofundar questões sobre a construção do estado nacional tentando entender como os estudiosos trataram essa questão e qual abordagem que deram a Guarda nesse momento de busca pela unidade nacional. Nos anos 70 o sociólogo Fernando Uricoechea (1976) no Minotauro Imperial, procurou discutir sobre o desenvolvimento de uma administração burocrática patrimonial no Brasil, e questionou o papel do patrimonialismo no processo de construção do estado burocrático, dando destaque nesse processo de construção, para a Guarda Nacional. Segundo o sociólogo, esta seria uma instituição mista, semelhante ao minotauro da mitologia grega, metade humano e metade animal, assim era a Guarda, metade privada e metade pública. Essa abordagem empregada pelo sociólogo, de viés weberiana, é algo que pretendemos superar, respaldados por novos estudos que rompem com esta versão. Percebe-se que nos anos 80, o historiador José Murilo de Carvalho (2007) na obra A construção da Ordem visualizou que o momento de construção do estado nacional brasileiro, esteve vinculado à atuação de uma elite de formação coimbrã. A unidade foi possível segundo sua concepção, devido a homogeneidade ideológica e de treinamento (CARVALHO, 2007, p. 21), estes elementos foram à mola propulsora para que fossem mediados os conflitos intra- 7 Relatório apresentado a Assembléia Legislativa da Parahyba, em maio de 1846, pelo presidente da província, o tenente coronel Frederico Carneiro de Campos. Disponível em Acesso em 5 de Junho de Na historiografia local, não foi possível perceber a Guarda Nacional da Parahyba tomada como objeto de estudo. Cf. PINTO (1977), revista nº 3, p 117 do IHGP. O que há, são referências esparsas. 5
6 elite, unindo-as envolta de um modelo de dominação política. Sua discussão aponta ainda que essa homogeneidade ideológica perpassava a educação, a ocupação e a carreira política (CARVALHO, 2007, p. 21). Ainda que não aprofunde a discussão sobre a Guarda Nacional, José Murilo, admite sua relevância para a manutenção da ordem local. Na contramão desta concepção, Ilmar Rolhoff de Mattos (2004), no Tempo Saquarema, a unidade nacional foi possível graças a uma elite, mas uma elite específica, a elite saquarema, concentrada no Rio de Janeiro. Foi esta elite dirigente, que conseguiu neutralizar os Luzias com concessões intencionais e hierárquicas. E assim, implantar as diretrizes da unidade nacional. Numa linha inovadora e que nos interessa em particular, é a versão de Miriam Dolnikoff (2007). Na obra O Pacto Imperial é possível perceber um universo, onde várias culturas políticas 9 se confrontam na negociação de um poder que se pretende instaurar. A historiadora analisou esse processo como conflituoso, ambos os lados tiveram que negociar, sendo assim, estabeleceu-se um pacto entre as elites centristas e as elites provinciais, mas apesar desse pacto, houve vários momentos de tensão entre centro e províncias, mas essas tensões eram negociadas até chegar num comum acordo. Sobre isto, ela citou vários exemplos e debates dentro das assembleias provinciais, que visavam à defesa de seus interesses, nos estados de Pernambuco, São Paulo e Rio Grande do Sul, através desses exemplos fica muito claro que os governos provinciais desfrutaram de muita autonomia e souberam barganhar com isso, fazendo valer suas prerrogativas até chegar a um arranjo institucional. E, como frisou Foucault (1990, p221) o poder é mais complicado, muito mais denso e difuso que um conjunto de leis ou um aparelho de estado. Dito isto, apontamos o estudo precursor de Jeanne Berrance de Castro A milícia cidadã: a Guarda Nacional de , que estudou a respectiva milícia na província de São Paulo, atentando também em entender como a mesma, esteve articulada ao projeto da revolução dos 7 de abril, em instaurar uma ordem. Em outro estudo, o de Flávio Henrique Dias Saldanha Oficiais do Povo: Guarda Nacional em Minas Gerais oitocentista procurou se distanciar de abordagens há muito cristalizada na historiografia sobre a Guarda, como aquela vinculada à figura lendária do coronel intimidador. O historiador analisa a formação da Guarda Nacional, nesse processo de construção do estado nacional, centrando-se nos critérios de seleção social, do ser votante, e, a 9 Usamos Culturas Políticas com a mesma conotação dada pela interpretação de Rodrigo Patto Motta (2009). 6
7 discussão principal centra-se em identificar os indivíduos carismáticos que chegaram ao oficialato. Neste caso o que seria da Guarda Nacional, sem seus indivíduos votantes? O que levou Sérgio Buarque de Hollanda a perceber na Guarda Nacional, uma milícia relativamente democrática 10? Questões como estas despertam no pesquisador o olhar para os personagens protagonistas, ou não, que deram vida à milícia nas províncias, em especial a Parahyba do Norte. O perfil legal dos homens que deveriam integrar a Guarda Nacional está especificado na Lei de 18 de agosto de Conforme o critério de seleção entende-se que desde que fosse cidadão 12 eleitor, independente da cor, se obedecesse aos postulados da lei, seriam alistados na Guarda Nacional. Sendo, portanto, democrática no entender de Sergio Buarque de Hollanda. Na investigação documental foi possível encontrar algumas listas de qualificações de diversos municípios no período de 1837, com critérios de identificações semelhantes como: nomes, qualidades, estados civil e profissão. Através desses informes é possível conhecer os personagens. Encontramos no recorte de 1833 uma lista na qual as qualidades estavam subdivididas em (A, B e D), ainda não foi possível chegar a uma conclusão, mas suposições de que se trate da categoria social destes indivíduos ou critérios de cor. Nesse caminho marcado de suposições, uma lista de qualificação de Cornetas 13, datada do dia 22 de outubro de 1833, da cidade de Bananeiras, ou seja, dois anos depois da lei de criação da Guarda, chamou bastante atenção. Sem mas delongas vamos à mesma: (...) Cosme Marinho de Araujo natural da cidade da Paraíba, casado, com 25 anos de idade quando sentou praça, tem quatro pés de altura, cabellos e olhos pretos, cor negra. (...) Salvador Soares natural da Vila de Bananeiras solteiro com 20 anos de idade que sentou praça tem quatro pes e meio de altura cabellos e olhos pretos, Indio. (...)Manoel Ferreira de, natural de Jaguaribe Província de Ceará, casado com 21 anos de idade quando sentou Praça com três pes e meio de altura, semi-branco, cabelos pretos, e olhos azuis (...) Sobre essa afirmação Cf. Jeanne Berrance de Castro (1977). 11 Ser do sexo masculino, eleitor, ter no máximo 18 anos e no mínimo 60 anos de idade, deveria ter renda superior a 100 mil réis anuais. Não tinham a obrigação de integrar a mesma: os membros de forças armadas, funcionários da Justiça, quem exercesse o sacerdócio, os dispensados compreendiam também pessoas doentes, estudantes, pessoas de posse, os carteiros e os magistrados. Cf. Lei e Decretos Brasil (1875). 12 Sobre o conceito de cidadania nos oitocentos Cf. José Murilo de Carvalho (2011). 14 Informes do Tenente coronel Leonardo Bezerra Cavalcante sobre as mudanças dos cornetas, do Batalhão de Guardas Nacionais da Vila de Bananeiras datada de 22 de outubro de Arquivo Público Funesc, cx 10, ano 1830/
8 No documento vemos o caso Tenente Coronel Leonardo Bezerra Cavalcante, da longínqua vila de Bananeiras, informando da mudança de cornetas. O que aparentemente parece um mero documento burocrático vai além, quando detalha os nomes e qualidades dos Cornetas, que seriam substituídos por outros, veio à surpresa, ele citou as características físicas destes personagens. Na Parahyba do Norte, Cosme Marinho, homem casado e que assentou praça aos 25 anos, tinha quatro pés de altura, cabelos e olhos pretos e cor negra. O outro, Salvador Soares, natural de Bananeiras, meio centímetro mais alto que Cosme Marinho, possuía cabelos e olhos pretos e era índio. O terceiro, Manoel Ferreira, tinha apenas 21 anos de idade à época que assentou praça, era casado, cabelos pretos, olhos azuis, e era pardo, embora o Tenente classifique-o como semibranco. Um negro, um índio, e um semi-branco ou pardo, ocupando em Bananeiras o posto de cornetas da Guarda Nacional, os três com habilidades para manejar instrumentos. Depois de terem cumprido o ofício por um determinado período, eles preparavam-se para serem substituídos, não se sabe ainda se seriam dispensados. E, porque não analisar essas substituições, como uma possibilidade de ascensão? Talvez os respectivos Guardas estivessem desempenhando tão bem suas funções, que o Tenente Coronel Leonardo Bezerra Cavalcante, estivesse cogitando para os tais personagens, promoções. Esta questão deixaremos em aberto. Neste estudo, caminhamos num espaço onde foi possível entender a busca das autoridades central e regional pela unidade da nação, procurando perceber o sentimento de insegurança tão temido pelas elites. Nesse sentido, destacamos como surgiu a mantenedora da ordem e os caminhos para sua criação na Parahyba do Norte, destacando sua atuação e funções na respectiva província. Propomos-nos a lançar um olhar na literatura sobre a temática, tentando em linhas breves compreender como alguns estudiosos compreendem o período da construção do estado, sempre voltando nosso olhar para a Guarda Nacional na província da Parahyba, traçando através das pistas e sinais deixados pela documentação, os perfis dos homens livres e votantes que deram vida a milícia. O presente artigo é resultado das pesquisas que começamos sobre a Guarda Nacional na Parahyba do Norte como proposta da seleção de mestrado do PPGH/2011, portanto, as 8
9 possibilidades de análises e abordagens não se esgotam aqui. É um estudo inovador visto a ausência da temática como objeto de estudo, na historiografia paraibana. Referências BASILE, Marcello. O Laboratório da Nação: a era regencial ( ). In: GRINBERG, Keila e SALLES, Ricardo. (orgs.). O Brasil Imperial ( ). Vol. II, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009, p BRASIL. Leis e Decretos. Lei s/n. de 18 de agosto de Rio de Janeiro, Typographia Nacional, p
10 CASTRO, Jeanne Berrance de. A milícia cidadã: A Guarda Nacional de 1831 a São Paulo: Ed Nacional, CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem: a elite política imperial. Teatro de sombras: a política imperial 3 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, Cidadania no Brasil: o longo Caminho. 14 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, DOLHNIKOFF, Miriam. O Pacto Imperial: origens do federalismo no Brasil do século XIX. São Paulo: Globo, FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Tradução de Raquel Ramalhete. 36 ed. Rio de Janeiro: Vozes, GRAHAM, Richard. Clientelismo e Política no Brasil do Século XIX. Rio de Janeiro: UFRJ, PINTO, Irineo Ferreira. Datas e Notas para a História da Paraíba, 2 vols. 2 ed. facsimilar. João Pessoa: Ed. Universitária/ UFPB, MATTOS, Ilmar Rohloff de. O Tempo Saquarema. 5ª edição, São Paulo: Hucitec, MENDES, Fábio Faria. Recrutamento Militar e Construção do Estado no Brasil Imperial. Belo Horizonte: Argumentum, MOTTA, Rodrigo Pato (org.). Culturas Políticas na História: novos estudos. Belo Horizonte: Argumentum/FAPEMIG PINTO, Irineo Ferreira. Datas e Notas para a História da Paraíba, 2 vols. 2 ed. facsimilar. João Pessoa: Ed. Universitária/ UFPB, SALDANHA, Flávio Henrique Dias. Os Oficiais do Povo: A Guarda Nacional em Minas Gerais Oitocentista, Annablume: Fapesp, 2006 URICOECHEA, Fernando. O Minotauro Imperial. A burocratização do Estado patrimonial brasileiro no século XIX. Rio de Janeiro/São Paulo: DIFEL, Fontes Correspondência enviada pela Câmara Municipal da Parahyba, expondo os motivos que retardaram a criação da Guarda Nacional. Arquivo Público Funesc, cx 10, ano: 1830/
11 Correspondência da Câmara Municipal da Parahyba do Norte, sendo a mesma, um parecer ao Artº 4 da Lei de 18 de agosto de 1831, sobre a formação de Guardas Nacionais nos Municípios. Arquivo Público Funesc, cx 10, ano: 1830/1833. Informes do Tenente coronel Leonardo Bezerra Cavalcante sobre as mudanças dos cornetas, do Batalhão de Guardas Nacionais da Vila de Bananeiras, datada de 22 de outubro de Arquivo Público Funesc, cx 10, ano 1830/1833. Relatório apresentado a Assembléia Legislativa da Parahyba, em maio de 1846, pelo presidente da província, o tenente coronel Frederico Carneiro de Campos. Disponível em Acesso em 5 de Junho de
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