OBJETO: Registros Públicos Alteração de Nome Exclusão de Sobrenome. INTERESSADA: 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE LOANDA

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1 CONSULTA N.º 32/2013 CAOP Cível OBJETO: Registros Públicos Alteração de Nome Exclusão de Sobrenome. INTERESSADA: 2ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE LOANDA CONSULTA N. 32/2013: 1. Trata-se de consulta encaminhada em 12/08/2013, via , pela Assessora Jurídica Maiara Astrigi de Araujo, em atuação na 2ª Promotoria de Justiça da Comarca de Loanda, juntamente com a d. Promotora de Justiça Mariana Gomes Ribeiro, a respeito da possibilidade de supressão de sobrenome materno, em virtude de constrangimento moral. Trata-se, segundo a consulente, de processo de retificação de registro civil, no qual um homem, de aproximadamente trinta anos de idade, requer a retirada do sobrenome materno Barbi, ao argumento de que há muitos anos sofre constrangimentos morais, decorrentes de piadas e comentários pejorativos. Tem-se nos autos a informação de que o requerente possui um irmão, que detém o mesmo sobrenome e não demonstra incômodo ou aborrecimento com a manutenção do patronímico. 1

2 Diante do caso concreto, questionou-se quanto à existência de permissivo legal que autorize a alteração do sobrenome. É o que cumpria relatar, passo à manifestação. 2. O registro civil brasileiro, em virtude da necessidade de manutenção da ordem pública e de confiança das informações contidas nos assentos, rege-se pelo princípio da imutabilidade do nome nele compreendidos o prenome e o sobrenome. Além da necessária preservação da segurança jurídica, sobredito princípio também busca resguardar a identidade e a individualidade da pessoa humana - expressadas, dentre outros fatores, pelo nome civil. Nesse passo, é inegável que eventual alteração do nome representa uma transformação na identidade do indivíduo fenômeno que deve ser tratado com cautela, não apenas em razão dos reflexos de ordem pessoal, mas também em virtude da dificuldade de localização da pessoa e de atualização dos cadastros públicos. Não obstante tal impedimento, diante de situações excepcionais, a própria Lei de Registros Públicos autoriza a mudança do prenome e, em casos ainda mais restritos, do sobrenome. Admite-se a alteração do sobrenome tão somente nos casos de adoção, casamento, dissolução da sociedade conjugal, anulação 2

3 ou nulidade do casamento, união estável e inclusão do patronímico de ascendente. A preocupação do legislador com a conservação do sobrenome do indivíduo revela-se ainda mais nítida no artigo 56 da Lei de Registros Públicos, o qual dispõe sobre a possibilidade de alteração do nome após a maioridade e menciona, expressamente, que a faculdade não pode prejudicar os apelidos de família. Para a Min. Nancy Andrighi, tal rigidez existe porque o sobrenome supera o campo da identificação e da individualização pessoal. Trata-se de um direito transindividual, pertencente a todo o grupo familiar. O principal elemento de distinção e de reconhecimento da ancestralidade de cada indivíduo é o sobrenome. Este é, sem dúvida, uma das principais heranças que a pessoa recebe já no início da vida e que irá indicar a sua procedência familiar dentro da sociedade. À vista de uma perspectiva moderna do direito, a Ministra afirma que o sobrenome reflete a história e a reputação características de determinado grupo social, portanto, integra o conjunto de direitos da personalidade de todas as pessoas envolvidas. Sendo assim, muito embora a lei dê azo para a modificação do sobrenome em alguns casos peculiares, impõem-se uma interpretação restritiva das disposições legais. 3

4 Na opinião da Ministra, a leitura da lei permite concluir que os permissivos legais autorizam apenas a alteração do prenome e do sobrenome, mas em hipótese alguma admitem a exclusão de patronímico (Resp n SP). Com fulcro nesse entendimento, a Terceira Tuma do STJ, no Resp n SP (julgado em ), de relatoria da Min. Nancy Andrighi, negou pedido formulado por um casal de exclusão do sobrenome do cônjuge varão do nome de ambos e dois três filhos. A pretensão foi formulada sob o argumento de que o patronímico não identificaria a família perante a comunidade judaica, comumente formada por indivíduos de origem estrangeira fato que estaria obstando o reconhecimento daquelas pessoas dentro da sociedade religiosa. Em suas razões, a Ministra destacou que os preceitos morais utilizados pelos requerentes para pleitear a exclusão do sobrenome não necessariamente serão chancelados pelos seus descendentes. Ela ponderou que o conceito pejorativo depositado pelos recorrentes no sobrenome paterno pode, eventualmente, ser rejeitado pelos seus filhos os quais podem vir a exaltar e respeitar o patronímico. Ademais, argumentou a Ministra que a exclusão do sobrenome culminaria por impedir a utilização de elemento capaz de identificar as crianças como membros da família paterna, ferindo 4

5 direitos da sua personalidade e de seus ascendentes e futuros descendentes. Tal posicionamento foi seguido pela Corte Especial no julgamento do AgRg na SEC 3999: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. MUDANÇA DE PATRONÍMICO. ALTERAÇÃO DO NOME DE FAMÍLIA. IMPOSSIBILIDADE. 1. Inviável a alteração de sobrenome quando se tratar de hipótese não prevista na legislação brasileira. 2. O art. 56 da Lei de Registros Públicos autoriza, em hipóteses excepcionais, a alteração do nome, mas veda expressamente a exclusão do sobrenome. 3. Agravo regimental desprovido. (STJ - AgRg na SEC 3999/EX, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, CORTE ESPECIAL, julgado em 07/05/2012, DJe 18/05/2012). Grifou-se. Em que pese tal posicionamento, é importante ressaltar que a própria jurisprudência do STJ vem caminhando no sentido de permitir a relativização do princípio da imutabilidade do nome, ampliando as hipóteses de alteração do prenome e do sobrenome para além daquelas previstas na lei. Não se tem notícia, todavia, de julgado no âmbito do Tribunal da Cidadania que tenha autorizado a exclusão de sobrenome. O tema foi objeto de notícia especial divulgada no site do STJ em &tmp.texto=107072) e de informativo deste CAOP, publicado em 5

6 ( conteudo=48). Sob outro ângulo, observamos que a jurisprudência do Eg. Tribunal de Justiça do Estado do Paraná admite a possibilidade de exclusão de sobrenome, excepcionalmente, diante de prova de constrangimento, relevante motivo social ou exposição ao ridículo. Confira-se: APELAÇÃO CÍVEL RETIFICAÇÃO DO REGISTRO CIVIL ASSENTO DE NASCIMENTO SUPRESSÃO DE SOBRENOME EXCLUSÃO DO PATRONÍMICO "DA SILVA" MODIFICAÇÃO INJUSTIFICÁVEL AUSÊNCIA DE PROVA DE CONSTRANGIMENTO, RELEVANTE MOTIVO SOCIAL OU EXPOSIÇÃO AO RIDÍCULO IMUTABILIDADE COMO REGRA NOME COMPOSTO PELOS APELIDOS DE FAMÍLIA RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (TJPR - 12ª C. Cível - AC Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Antonio Loyola Vieira - Unânime - J ). Grifou-se. APELAÇÃO CÍVEL. RETIFICAÇÃO DO REGISTRO CIVIL - ALTERAÇÃO DO SOBRENOME - EXCLUSÃO DO PATRONÍMICO "APARECIDO" AUSÊNCIA DE RELEVANTE MOTIVO SOCIAL OU EXPOSIÇÃO AO RIDÍCULO - MODIFICAÇÃO INJUSTIFICÁVEL. Apelo desprovido. Não se concebe a existência de relevante motivo social ou exposição ao ridículo em decorrência da utilização do sobrenome "Aparecido", por pessoa do sexo feminino. Não sendo constrangedor, nem suscetível de expor ao ridículo a sua portadora, correta a sentença de indeferimento do pedido de retificação do registro civil. (TJPR, Apelação Cível n , 8ª CCv, rel. Des. Ivan Bortoleto, DJ 6974). Grifou-se. APELAÇÃO CÍVEL - RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL - SUPRESSÃO DO PATRONÍMICO PATERNO - IMPOSSIBILIDADE - INDISPONIBILIDADE DO MESMO POR PERTENCER A TODO O GRUPO FAMILIAR. O nome da família não pertence exclusivamente ao detentor, mas a toda a sua ancestralidade, não podendo portanto, ser excluído, 6

7 máxime indemonstrado gravame ou constrangimento pelo seu uso. (TJPR, Acórdão nº 19507, 3ª Câmara Cível, Rel: Regina Afonso Portes, DJ 14/05/2001). Grifou-se. Funda-se o entendimento do Eg. Tribunal de Justiça do Estado do Paraná nos artigos 56 e, especialmente, 57 da Lei de Registros Públicos 1, os quais vale frisar foram analisados nos julgamentos do STJ, destacados mais acima, para refutar a possibilidade de exclusão de sobrenome, independentemente do motivo precursor da pretensão. Observa-se que a matéria não é pacífica e permite, segundo a jurisprudência estadual, ser interpretada no sentido de autorizar a exclusão de sobrenome que exponha ao ridículo o seu titular. Portanto, considerada a independência funcional do d. Promotor de Justiça, a quem incumbe avaliar o caso concreto e se posicionar de acordo com o entendimento que entender mais adequado, acreditamos que é possível que o Ministério Público se pronuncie, em consonância com entendimento do Superior Tribunal de Justiça, no sentido de ser inviabilizado o pedido de exclusão do sobrenome Barbi ou, ainda, se constatada prova de 1 Art. 56. O interessado, no primeiro ano após ter atingido a maioridade civil, poderá, pessoalmente ou por procurador bastante, alterar o nome, desde que não prejudique os apelidos de família, averbando-se a alteração que será publicada pela imprensa. (Renumerado do art. 57, pela Lei nº 6.216, de 1975). Art. 57. A alteração posterior de nome, somente por exceção e motivadamente, após audiência do Ministério Público, será permitida por sentença do juiz a que estiver sujeito o registro, arquivando-se o mandado e publicando-se a alteração pela imprensa, ressalvada a hipótese do art. 110 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº , de 2009). 7

8 constrangimento ou exposição ao ridículo, pela supressão do patronímico consoante autoriza a jurisprudência do TJPR. 3. Frente ao questionamento formulado e aos dados fornecidos a esta coordenadoria do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça Cíveis, Falimentares, de Liquidações Extrajudiciais, das Fundações e do Terceiro Setor, são esses, em tese, os esclarecimentos que se entende adequados. Persistindo quaisquer dúvidas, poderá a solicitante encaminhar novos questionamentos. Curitiba, 26 de agosto de TEREZINHA DE JESUS SOUZA SIGNORINI Procuradora de Justiça Coordenadora Samantha Karin Muniz Assessora Jurídica 8