Guilhermino César Augusto Ramalho Lavieque CONFLITOS DE USO E APROVEITAMENTO DE TERRA EM NAMPACO ( )
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- Diogo Damásio Silva
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1 0 Guilhermino César Augusto Ramalho Lavieque CONFLITOS DE USO E APROVEITAMENTO DE TERRA EM NAMPACO ( ) Mestrado em Ciências Políticas e Estudos Africanos Universidade Pedagógica Nampula 2015
2 1 Guilhermino César Augusto Ramalho Lavieque CONFLITOS DE USO E APROVEITAMENTO DE TERRA EM NAMPACO Dissertação de Mestrado apresentada ao Departamento de Ciências Sociais, Faculdade de Ciências Sociais, para obtenção do grau académico de mestre em Ciências Políticas e Estudos Africanos. Supervisor: Prof. Doutor Carlos Mussa Universidade Pedagógica Nampula 2015
3 2 Índice Lista de Tabelas..iv Lista de Mapa..v Lista de Abreviaturas, Siglas e Acrónimos.. vi Declaração...viii Dedicatória ix Agradecimento...x Resumo..xi Abstract xii Introdução.13 CAPITULO I. CARACTERIZAÇÃO DA UNIDADE COMUNAL DE NAMPACO Breve Caracterização do Município de Nampula Localização Breve História do Município de Nampula Importância Económica da Cidade de Nampula Unidade Comunal de Nampaco 31 CAPITULO II. CONFLITOS NO USO E APROVEITAMENTO DE TERRA EM NAMPACO: CAUSAS, FACTORES E IMPACTO Divisão Administrativa e Bairros do Município de Nampula Tipos de Conflitos no Uso e Aproveitamento de terra em Nampaco Conflito de Natureza Pública e Privada Conflito Entre o Conselho Municipal e os Munícipes da Comunidade de Nampaco Conflito entre os Líderes Comunitários e Munícipes da Comunidade de Nampaco Conflito Entre os Agentes Económicos e a Comunidade de Nampaco.43
4 Gestão de terra e seus conflitos em Nampaco Direito de Uso e Aproveitamento da Terra Evolução, Motivações, Factores e Causas dos Conflitos de Terra em Nampaco O Direito de Posse da Terra O Direito de Terra aos Autóctones Política de Terras Estratificação das Causas de Conflitos de Terra Causas e Factores dos Conflitos na Comunidade de Nampaco Formas de resolução dos conflitos Resolução de Conflitos de Terra: Estratégias de Aproximação e o Papel das Autoridades Tradicionais Impacto dos Conflitos de Uso e Aproveitamento de Terra em Nampaco.67 Conclusão.78 Proposta de Recomendações 80 Referências bibliográficas 82 1) Fontes primárias...82 i. Legislação 82 2) Fontes secundárias ) Fontes orais..85 4) Internet.86 Apêndice...87 Apêndice I 88
5 4 iv Lista de Tabelas Tabela 1: Postos Administrativos, Bairros, Unidades Comunais e População, Tabela 2: Superfície, População e Densidade Populacional por Km², Tabela 3: Divisão Administrativa do Município de Nampula Tabela 4: Relação de Chefes dos Postos Administrativos Municipais e suas Sedes Tabela 5: Causas de Conflitos de Terra na Comunidade de Nampaco Tabela 6: Pontos Negativos e Positivos dos Conflitos
6 5 v Lista de Mapa Mapa 1: Município de Nampula: Postos Administrativos Municipais e Bairros... 38
7 vi 6 Lista de Abreviaturas, Siglas e Acrónimos CC Código Civil CDS Centro de Desenvolvimento Sustentável CFJJ - Centro de Formação Jurídica e Judiciária CMCN Conselho Municipal da Cidade de Nampula DPA Direcção Provincial de Agricultura DDAP Direcção Distrital de Agricultura e Pescas DUAT Direito de Uso e Aproveitamento de Terra DUGT Departamento de Urbanização e Gestão de Terras FAO - Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação MCA Millennium Challenge Account MICOA Ministério para Coordenação da Acção Ambiental NET/LTC - Núcleo dos Estudos da terra e desenvolvimento ORAM Organização Rural de Ajuda Mútua PAM Posto Administrativo Municipal PDUT Plano Distrital de Uso da Terra PEU Plano de Estrutura Urbana PEOT Planos Especiais de Ordenamento do Território PGU Plano Geral de Urbanização PGA Plano de Gestão Ambiental PNDT Plano Nacional de Desenvolvimento Territorial
8 vii 7 POT Plano de Ordenamento Territorial PPDT Planos Provinciais de Desenvolvimento Territorial PP Plano de Pormenor PPU Plano Parcial de Urbanização RLT Regulamento de Lei de terra SDGC Serviços Distritais de Geografia e Cadastro KULIMA Campanha de terra U/C Unidade Comunal
9 viii 8 Declaração Declaro que esta Dissertação de Mestrado, é resultado da minha investigação pessoal e das orientações do meu supervisor, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto, nas notas e na bibliografia final. Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para obtenção de qualquer grau académico. Nampula, 28 de Abril de 2015
10 9 ix Dedicatória Dedico este trabalho à memória inesquecível do meu pai, César Augusto Ramalho Lavieque, que a sua alma descanse em paz. À minha mãe, Mafalda Maico, pela bênção que sempre me deu com vista ao sucesso da minha vida. À minha mulher, Rosa Mariana José Gonçalves João, pelo apoio e encorajamento prestados ao longo dos dois anos da minha formação. Aos meus queridos filhos, César Guilhermino Augusto Ramalho, José Guilhermino Augusto Ramalho e Nilza Rosa Guilhermino e Augusto Ramalho Lavieque, algo de mais precioso que deus me deu.
11 10 x Agradecimento Ao Prof. Doutor Carlos Mussa, pela sua disponibilidade na orientação deste trabalho, ele sempre deu os melhores conselhos para o bom desenvolvimento desta pesquisa. À todos colegas pioneiros do Curso de Mestrado em Ciências Políticas e Estudos Africanos nos anos , pela sua colaboração e ajuda, o que nos permitiu terminar o curso com sucesso. Directa ou indirectamente, agradeço à todos familiares e amigos que contribuíram, através dos seus esforços, para que a minha formação fosse um sucesso. Ao Corpo Docente, Directivo e Administrativo da Delegação da UP- Nampula, pelos esforços empreendidos com vista a formação integral e completa dos mestrandos.
12 11 xi Resumo O presente trabalho teve como objectivo principal, Analisar as causas, factores, implicações e motivações dos conflitos no uso e aproveitamento de terra em Nampaco. Ele visou discutir acerca da orgânica de funcionamento do Município de Nampula e do seu quadro técnicoprofissional, tendo em conta o seu papel no ordenamento jurídico moçambicano, no concernente a distribuição de terras. A metodologia usada para a elaboração deste trabalho, se baseou na recolha de informações, análise, correlação e compilação de dados, o que permitiu mostrar que a corrupção, o desconhecimento da legislação em matéria de usos e aproveitamento da terra, a falta de formação ou capacitação dos técnicos, a não reestruturação do sector, o fraco domínio da legislação vigente e a prática de actos ilícitos, aliada a ausência de implantação dos planos de urbanização e ineficiência na comunicação institucional, foram os principais factores e causas que originaram os conflitos de terra na Comunidade de Nampaco ao nível do Município de Nampula. O Trabalho está sistematizado em três capítulos. Tudo faz crer que os conflitos no uso e aproveitamento da terra podem ter solução se todos os envolvidos (Município, comunidade e lideres comunitários) colaborarem. Palavras Chave: conflito, uso e aproveitamento de terra.
13 12 xii Abstract This study aimed to, analyze the causes, factors, implications and motivations of conflicts in land use and use in Nampaco. It aimed to discuss about the organic functioning of the city of Nampula and its technical and professional staff, taking into account its role in the Mozambican legal system, as regards the distribution of land. The methodology used for the preparation of this work was based on the collection of information, analysis, correlation and compilation of data, allowing show that corruption, the lack of legislation on the use and enjoyment of land, lack of training or training of technicians, not to restructuring of the sector, the weak field of current legislation and the practice of illegal acts, coupled with the lack of implementation of plans of urbanization and inefficiency in corporate communication, were the main factors and root causes of land conflicts the Community of Nampaco the level of the city of Nampula. The work is systematized in three chapters. It looks as if that conflicts in the use and enjoyment of land can be solved if everyone involved (municipality, community and community leaders) collaborate. Key - words: conflict, land use and exploitation.
14 13 Introdução Sob o título CONFLITOS DE USO E APROVEITAMENTO DE TERRA EM NAMPACO, , esta pesquisa analisa os conflitos emergentes do uso e aproveitamento da terra em Nampaco, território localizado no Município de Nampula. O objecto de estudo centra-se na análise dos conflitos emergentes do uso e aproveitamento de terra em Nampaco. Quanto ao aspecto, este estudo analisa as implicações da dupla atribuição de terrenos, considerando a relação existente entre a edilidade e a comunidade local. Por outro, aqui se busca a compreensão das motivações, factores e causas que originam o problema da dupla atribuição de terras na comunidade de Nampaco. A Lei nº 2/97 de 18 de Fevereiro, instituiu o quadro jurídico para a implantação das autarquias locais, através dela, a Assembleia da República de Moçambique, criou as condições para a participação democrática dos cidadãos na governação do país. Nesta ideia, o Conselho Municipal de Nampula, como pessoa colectiva pública, goza de autonomia administrativa, financeira e patrimonial, dispondo de um quadro de pessoal próprio, concebido e dotado de condições para satisfazer as necessidades de carácter permanente da população 1. Com a realização das primeiras eleições autárquicas em 1998, no país, emerge um novo cenário que começou a desenhar-se, também ao nível do Município de Nampula. As autoridades administrativas municipais introduziram o Plano Geral de Urbanização nas zonas de expansão recentemente criadas: Muhala, Muahivire, Mutauanha, Marrere, Natikiri, Napipine, Namutequeliua e Mutava-Rex. Isto visou acomodar as populações criando nesses espaços as infra-estruturas socioeconómicas de bens e serviços, com vista a mitigar o problema da exiguidade de espaços para construção de habitação e infra-estruturas. Aquele plano passou a ser o principal instrumento que estabelecia a organização e ocupação espacial da totalidade do território do Município de Nampula, respeitando os parâmetros e as normas vigentes no uso, aproveitamento e ocupação da terra, conforme as directrizes do MICOA (2009). Noutro sentido, o plano geral de urbanização facilita o ordenamento territorial. 1 Estatuto Orgânico e Quadro de Pessoal do Conselho Municipal da Cidade de Nampula, 2009:1
15 14 O ordenamento territorial permite definir zonas de reservas de terras para as diferentes funções e necessidades públicas e sociais, económicas e culturais, nomeadamente: zonas agrícolas, zonas de desenvolvimento pecuário, florestal, industrial, de laser, etc. Do mesmo modo, através do ordenamento territorial, se garante a gestão racional do processo de ocupação do solo, reduzindo ou mesmo eliminando alguns conflitos advenientes do uso e aproveitamento da terra (MICOA, 2009). Ademais, é importante saber que um território ordenado possui melhores condições para um assentamento urbano condigno e livre de congestionamento de bens e serviços, inclusive, nos espaços habitacionais. Acontece porém que, nos últimos tempos, em Nampaco se vêem assistindo casos de conflitos no uso e aproveitamento de terra, facto que ocorre com frequência originando, em muitos casos, a dupla atribuição de terrenos. Daqui se põe a seguinte pergunta de partida: Quais são as motivações, as causas e os factores que originam os conflitos da dupla atribuição de terrenos em Nampaco? Na busca de possíveis respostas ao problema, foram avançadas as seguintes hipóteses: A falta de coordenação, comunicação e controlo eficientes, entre as estruturas administrativas municipais e a comunidade, origina os conflitos emergentes do uso, ocupação e aproveitamento de terra na unidade comunal de Nampaco; A dupla atribuição de terrenos em Nampaco, resulta da falta de clareza na concessão de títulos de uso e aproveitamento de terra. Partindo das hipóteses e do assunto analisado neste trabalho, foram identificados os seguintes objectivos: - Objectivo geral Analisar as motivações, as causas e os factores que originam conflitos de uso, ocupação e aproveitamento de terra na unidade comunal de Nampaco. - Objectivos específicos: - Caracterizar a Unidade Comunal de Nampaco;
16 15 - Discutir em torno das motivações, causas, factores e impacto dos conflitos de uso e aproveitamento de terra na Unidade Comunal de Nampaco; Justificação O estudo aqui desenvolvido circunscreveu-se aos anos de 1998 à O primeiro ano foi escolhido por ter sido o momento de implantação de autarquias locais em algumas cidades e vilas do nosso país, quando a Cidade de Nampula foi abrangida por esse processo. O ano 2013 foi o período em que os conflitos de uso e aproveitamento de terra se tornaram cada vez mais frequentes no Município de Nampula, em particular na unidade comunal de Nampaco. A época escolhida também coincide com os três mandatos sucessivos do Partido Frelimo na gestão da autarquia de Nampula, após a introdução da democracia multipartidária em Moçambique. Foi no período em referência que o Conselho Municipal de Nampula apostou no Plano Geral de Urbanização, visando resolver o problema de ocupação desregrada do solo ao nível de toda urbe, criando assim, as designadas zonas de expansão. As zonas em alusão, tornaram-se o móbil de conflitos de uso e aproveitamento de terra. A escolha do Município de Nampula para a realização desta pesquisa, concretamente a Unidade Comunal de Nampaco, se deveu ao facto desta circunscrição ser um dos principais locais onde de tempo a tempo, surgem focos sistemáticos de conflitos de terra, quando os munícipes reclamam o Direito de Uso e Aproveitamento de terra concedida pelo Departamento de Urbanização e Gestão de Terra, do Conselho Municipal de Nampula. Também realça-se que o período entre 1998 à 2013, na Unidade Comunal de Nampaco ocorreu o parcelamento e atribuição de terrenos, processo que visou como dar resposta ao fenómeno de ocupação desregrada dos solos. A importância deste estudo se revela no facto de através dele poder-se ajudar o Município na identificação de causas e factores que motivam problemas na atribuição de terrenos, no uso, ocupação e aproveitamento da terra em Nampaco. Assim, por meio do presente estudo busca-se a consciencialização das instituições e das comunidades acerca da importância da observância da lei no processo de ocupação, aproveitamento e uso da terra.
17 16 Como funcionário do Conselho Municipal de Nampula, o estudo em termos científico, permitiu-me compreender a dinâmica de funcionamento da estrutura municipal, dentro de uma administração pública que se deseja ser moderna, eficaz e eficiente, e em altura de responder os problemas dos munícipes desta região do país, daí a minha motivação pessoal para fazer esta pesquisa. Sob ponto de vista económico, a solução deste problema, contribuirá para a melhoria da qualidade de vida das populações, proporcionando o bem-estar social no meio urbano, estimulando o aumento da produção e poderá evitar conflitos no uso e aproveitamento de terra, contribuindo assim, para a estabilidade dentro de um contexto ambiental sustentável. Do ponto de vista social, a importância deste estudo reside na possibilidade que ele oferece aos eleitores sobre o valor do tema e as formas da sua gestão. A motivação para este estudo se apoia em NEGRÃO et al. (2004, p.3). Estes afirmam que deve-se verificar mecanismos de prevenção de injustiças sociais na posse, uso e aproveitamento da terra urbana, tendo-se chegado a conclusão de que, o modelo para o crescimento urbano sustentável deve ser um contributo para auxiliar os Conselhos Municipais e os grupos de interesse da sociedade civil na gestão dos recursos, no ordenamento do espaço urbano, na prevenção de conflitos sociais, e no potenciamento do uso económico e social do espaço urbano. Entende-se assim, que o conflito existe e sempre existiu desde que o ser humano foi criado. Isto, torna claro que não existe fórmula de conflitos, mas sim, tipos de conflitos que podem ser evitados pelo homem. Os mesmos autores discutem sobre Mercados de Terras Urbanas em Moçambique. Na sua óptica, entende-se por mercado de terras as transacções dos bens e dos direitos adquiridos sobre a terra, levadas a efeito por acordo voluntário entre duas pessoas ou grupos de pessoas representados por agentes. Assim, o mercado de terras surge sempre que há potenciais compradores que entram em contacto com potenciais vendedores tendo um equivalente comum, equivalente esse que tanto pode ser dinheiro ou um outro identificado através da negociação (NEGRÃO et al, 2004, p. 3). Este estudo também se apoiou na visão de TRINDADE et al. (2002, p.22) que analisa o papel dos Tribunais Comunitários na prevenção e resolução de conflitos de terras, destacando
18 17 que os tribunais comunitários constituem hoje, na configuração que lhes é dada pela Lei nº 4/92, de 6 de Maio, uma instância oficial, no sentido de ter sido criada por diploma normativo estatal, de resolução de conflitos. Isto significa que, no âmbito de resolução de conflitos de terra, os tribunais comunitários possuem, em termos estratégicos, uma dualidade de critérios que, por um lado, funcionam como instância de prevenção de conflitos, e por outro lado, como árbitros de conflitos existentes. Há uma lacuna no ordenamento jurídico moçambicano, no concernente a lei de terra. Uma das peculiaridades da legislação sobre a terra em Moçambique é o facto de sustentar que nesta matéria se deve adoptar o princípio da unicidade pela incorporação da diversidade no sistema legal. Isto é, em lugar de um sistema dualista, onde o direito costumeiro é codificado e corre em paralelo com o direito estatutário como é corrente nas antigas colónias inglesas, ou do sistema unitário exclusivo, onde os direitos costumeiros são totalmente ignorados como foi prática no tempo colonial, a legislação Moçambicana suporta que a Lei é única mas ela deve ter mecanismos de incorporação das várias práticas e sistemas costumeiras em força no país desde que não contrariem os princípios e os direitos consagrados na Constituição da República (TRINDADE et al., p. 8). Este estudo se centrou na análise da dinâmica de funcionamento da componente técnicoprofissional e política relativa a gestão de conflitos de uso e aproveitamento e modalidades de distribuição de terra, olhando as circunstâncias onde ocorrem os conflitos e quem são as vítimas dos mesmos, tendo em conta o papel da administração municipal. ALFREDO (2009, p.1) faz notar que o processo de acesso, posse, uso e aproveitamento da terra encerra em si relações de poder, acabando a terra por se tornar num objecto de competição entre o poder estadual e os particulares e estes entre si, levando assim à emergência de conflitos. O estudo deste autor visou fazer uma abordagem para mostrar a necessidade de uma melhor adequação do regime jurídico sobre a terra, como forma de contribuir para uma atenuação dos conflitos e permitir que o governo faça uma gestão coerente e transparente da terra que beneficie os seus utilizadores. Ademais, o mesmo autor diz que os estudos devem ser conduzidos e incentivados tendo em vista a identificação através de vários métodos científicos e também empíricos (onde estes tiverem aplicação) de fenómenos que resultem da posse da terra e
19 18 a aplicação de medidas tendentes a tornar o problema, assunto de preocupação de todos, o que permitirá certamente, encontrar soluções sobre os conflitos que emergem na aplicação da legislação sobre a terra (ALFREDO, 2009, p. 3). Para clarificar a ideia do conceito conflito de terra, este autor acrescenta que o conceito conflito de terra não está definido na lei de terra, nem no seu Regulamento, sendo pois definido por várias outras formas. No entanto, há de comum com os diversos autores, como os aqui analisados, uma tentativa de definição de conflito partindo do facto de se tratar de uma situação, manifestação da contraposição de interesses, opondo duas ou mais pessoas que alegam ser possuidores do mesmo direito sobre a terra ou de serem titulares do DUAT, cuja solução de tal conflito carece de intervenção de uma autoridade com poderes para tal. Por isso, o conflito deve ser entendido como uma situação de tensão e disputa claramente manifestadas pelas partes que reivindicam um direito sobre a terra (ALFREDO, 2009, p. 222). Ainda de acordo com a análise feita sobre o conflito de terra, na óptica desse autor, urge a necessidade de colocar as seguintes inquietações: Será que a questão de conflito de terra é resultado de falta de adequação da lei perante os problemas emergentes? A questão de dupla atribuição de terrenos, o caso dos Conselhos Municipais, tem a ver com a fragilidade da lei de terra e das demais leis? ALFREDO (2009, p.316), na sua exposição teórica, deixa claro que é preciso adequar a legislação sobre terras à realidade actual da demanda da terra para fins diversos, poderá ser uma solução para mitigar os conflitos de terra. Não sendo evidentemente a única solução, este autor me chama atenção acerca da necessidade de se aprofundar ainda mais esta problemática. ALFREDO (2009) ajuda, em grande medida, a subsidiar a presente pesquisa, uma vez que o mesmo trata questões ligadas as causas de conflitos, tipos de conflitos, dupla atribuição de terrenos e, lança certo horizonte olhando alguns países da África Austral, como são os casos de Zimbabwe, Angola e África do Sul, cujos povos e governos enfrentam o problema de gestão de terra. Outro estudo feito é o da Global Solidarity Forest Fund-GSFF, que se torna importante por analisar o Conflito Eclesiástico Sobre Terras em Moçambique, realizado no Planalto de Lichinga, na Província do Niassa, zona onde se regista disputa entre os camponeses e a Igreja
20 19 Norueguesa e Sueca. Essa empresa, vocacionada ao desenvolvimento de uma plantação florestal, é acusada de ter ocupado a terra que estava em uso pelos camponeses. Desde então estes se viram privados de ter acesso a essa floresta, que inicialmente estava lá. Ademais, a plantação de eucaliptos nas áreas onde os camponeses praticam actividades agrícolas, condiciona absorção de grandes quantidades de água, o que faz com que outras espécies de árvores na área sequem, e como consequência, os camponeses são expulsos da terra, porque a condição para prática de agricultura, não é favorável. É preciso compreender que a questão de conflito é diversificada na sua essência e difere na sua forma de abordagem. Conforme IVALA (2000, p.225), o conflito, entende-se aqui por conflito social, é definido como sendo uma das formas de interacção entre indivíduos, grupos, organizações e colectividades implicando choques no acesso e distribuição de recursos escassos. Estes são identificados com o poder, a riqueza e o prestígio. Pesquisas feitas por IVALA (2000), na componente de conflitos sociais, apresentou os processos de mediação mais frequentes entre a população macua. E por outro lado, ele identificou alguns dos conflitos mais frequentes e os níveis de intervenção para a sua resolução segundo a filosofia que sustenta as decisões tomadas, conforme os casos. De referir que este autor, no decurso da sua abordagem acerca de conflitos sociais, coloca a questão de conflitos de terra, mas ele não aprofunda as motivações deste fenómeno, talvez, porque o seu estudo não chegou ao fim. Como consequência, em termos de cunho teórico relativamente ao estudo realizado por IVALA (2000), ele foi útil para sustentar esta pesquisa porque através dela se pode ver algumas causas que geram esses conflitos no uso da terra, embora ele se tenha debruçado em relação a comunidade macua em Nampula. Quanto a metodologia, há que ter em conta que os procedimentos metodológicos e/ou linhas de orientação definem, na sua essência, os caminhos e os meios a serem usados para se alcançar um determinado objectivo. Tratando-se de um trabalho de investigação científica, há que ter em conta três aspectos fundamentais: a parte teórica, a parte prática e a parte prognóstica (LAVIEQUE, 2007, p. 16). É no rol dos procedimentos abordados no cunho teórico, que o pesquisador deste trabalho destacou o método bibliográfico como sendo o fundamental para a pesquisa, com uma abordagem qualitativa, complementados pelo método indutivo, em estreita ligação com o método analítico, o método hipotético-dedutivo, o estatístico, e finalmente, o
21 20 método comparativo. Isto significa que, feita a recolha das informações pertinentes sobre o caso em estudo, fez-se a análise, correlação e compilação dos dados, que nos permitiram vislumbrar, as motivações, causas e factores dos conflitos de terra em Nampaco. Para operacionalização deste trabalho, fizeram-se entrevistas semi-estruturadas aos Funcionários do Conselho Municipal, concretamente, no Departamento de Urbanização e Gestão de Terra e no Posto Administrativo Municipal de Muhala. As entrevistas também envolveram as autoridades comunitárias e as vítimas dos conflitos de uso e aproveitamento de terra em Nampaco. O instrumento usado para colecta de dados foi o guião de entrevistas. Quanto ao trabalho de campo, a pesquisa foi realizada no Território da Administração Municipal de Nampula, concretamente na Unidade Comunal de Nampaco. O universo da população alva incluiu 70 pessoas residentes em Nampaco. A escolha da amostra foi aleatória, tendo resultado da constatação feita nos locais ora mencionados, como sendo vectores preponderantes onde existem conflitos de uso e aproveitamento de terra, a nível do Município de Nampula. A amostra abrangeu 50 pessoas, sendo 30 homens e 20 mulheres. As entrevistas foram direccionadas aos Funcionários do Conselho Municipal de Nampula e as suas representações. O estudo também incluiu a pesquisa no campo que facilitou a colecta de dados junto das seguintes personalidades: Director do Departamento; Chefe do Posto Administrativo; os técnicos de campo; e as vítimas dos conflitos de terra. A pesquisa sobre Conflitos de uso e Aproveitamento de terra no Município de Nampula, teve como subsídio de realce, o trabalho de ALFREDO (2009), que define a terra como um recurso que é gerido pelo Estado para o bem social e económico da comunidade. O CPCN 2 (2011), no seu Artigo 1, nº 29, define terreno litigioso, como sendo, terrenos disputados por duas ou mais pessoas, para os quais o Conselho Municipal tenha conhecimento ou venha a ter conhecimento. Outra motivação se centrou no trabalho de NEGRÃO et al. (2004), estes sustentam que o estudo sobre a terra facilita identificar formas que permitam um crescimento sustentável das 2 Código de Postura da Cidade de Nampula Revisão de 2011
22 21 cidades, que garantam a segurança de posse da terra e da habitação por parte dos munícipes e a concretização do objectivo do Millenium - cidades sem subúrbios. Já MICOA (2009), entende que a terra é um recurso natural básico disponível para o desenvolvimento socioeconómico da humanidade. Com o aumento demográfico, a terra está sendo um recurso escasso para várias actividades (agrárias, turísticas, exploração mineira, industrial, conservação e habitação, entre outros), sendo palco de disputas originadas pelo acesso não equitativo ou pela sobreposição de interesses dos vários utentes da mesma. NHANCALE (1996), diz que um conflito nunca fica por resolver, caso não se consiga dentro do território, procura-se resolver fora do mesmo, pois como se diz que a tradição não conhece fronteiras. Quanto a KULYUMBA (2006), deduz que os valores socioculturais são variados dependendo das condições ambientais e naturais de cada região e do nível de progresso do próprio homem. Para ORAM (2010), na delimitação de terras comunitárias, há como uma das áreas de intervenção, a mediação de conflitos de terra e recursos naturais. Por sua vez DE VERGAS (s/d), no seu pensamento analítico, entende que a cidade é local de produção, de circulação e de consumo, mas também, é produto de circulação e consumo e palco do conflito de classes. Para a fundamentação de natureza legislativa, BOBBIO et al. (1998), realçam que, a única maneira de pôr termo ao conflito é o de proceder à regulamentação dos conflitos, isto é, à formulação de regras aceitas pelos participantes que estabelecem determinados limites aos Conflitos. Na Lei 19/97 de 1 de Outubro, no seu Artigo 13, nº 3, sustenta-se que o processo de titulação do direito do uso e aproveitamento da terra inclui o parecer das autoridades administrativas locais, precedido de consulta às comunidades, para efeitos de confirmação de que a área está livre e não tem ocupantes; TRINDADE et al. (2002), avançam a hipótese de que quanto maior é a eficiência e inter-acção das várias instituições menor são os conflitos fundiários. Já a Lei 2/97 de 18 de Fevereiro, no seu Artigo 29, sustenta que as autarquias locais respondem civilmente perante terceiros pelas ofensas dos direitos destes ou pela violação das disposições destinadas a proteger os seus interesses, resultantes dos actos ilícitos praticados com dolo ou mera culpa pelos respectivos órgãos e agentes administrativos no exercício das suas funções e por causa desse exercício nos termos e na forma prescritos na lei.
23 22 A Constituição da República de Moçambique (2004), no seu Artigo 271, nº 1, torna claro que o poder local tem como objectivo organizar a participação dos cidadãos na solução dos problemas próprios da sua comunidade e promover o desenvolvimento local, o aprofundamento e a consolidação da democracia, no quadro da unidade do estado moçambicano. MANHICANE Jr (2007), entende por justiça social na distribuição de terra, é aquela que cumpre as três garantias acima mencionadas, a saber: o acesso a terra com condições mínimas de habitabilidade e de trabalho; o uso efectivo da terra e a rentabilização da terra. FRANCISCO (2012, cp.), na sua abordagem sobre o Paradoxo da Terra em Moçambique, afirma que, A lei foi-se ajustando aos tempos e hoje num País de mais de 750 mil Km2 de território, estamos a assistir a imensos conflitos em que paradoxalmente nos aparecem por trás, precisamente aqueles que nacionalizaram a terra a usarem o poder para eles próprios se tornarem concessionários dos melhores espaços com a intenção velada, mas perceptível de se tornarem latifundiários precisamente o que diziam querer combater 3 ; para questões referentes a administração. CHIAVENATO (1987), realça que muito embora a complexidade das empresas e sua diversidade sejam aspectos que dificultam o seu estudo e análise, o conceito de sistema aberto permite uma abordagem global que simplifica e ajuda a ultrapassar tal complexidade e diversidade, enquanto MATANGE (2011) define sistema como um conjunto de partes que interagem reciprocamente entre si de modo a atingir um determinado fim, de acordo com um plano ou princípio. O poder é um jogo social. Para aprender a dominá-lo, deve-se desenvolver a capacidade de estudar e compreender as pessoas e os motivos ocultos das pessoas, é o maior conhecimento que se precisa para conquistar o poder. O CMCN, no seu Estatuto Orgânico e Quadro de Pessoal (2011), realça que na criação dos seus Serviços Técnicos e Administrativos o Conselho Municipal cinge-se nos pressupostos contidos no Decreto nº 51/2004, de 1 de Dezembro, que regula a organização e funcionamento dos Municípios. Motivado por essa preocupação, a abordagem feita neste trabalho visa contribuir para o conhecimento da orgânica de funcionamento da instituição tendo em conta o seu quadro técnico- 3 Entrevista ao Canal de Moçambique, Maputo, 08/08/12
24 23 profissional e o ordenamento jurídico moçambicano, no concernente a distribuição, uso e aproveitamento de terra.
25 24 CAPITULO I CARACTERIZAÇÃO DA UNIDADE COMUNAL DE NAMPACO 1.1. Breve Caracterização do Município de Nampula Localização A Unidade de Nampaco localiza-se no Município de Nampula. Este é a capital da província do mesmo nome, sendo também conhecida por Capital do Norte. O nome da cidade, deriva de um líder tradicional, M phula, que deu origem a Whampula. O nome Nampula surge por corruptela da língua portuguesa. Este município situa-se no centro da Província de Nampula, entre 15º 01' 35" e 15º 13' 15" de latitude Sul e entre 39º 10' 00" e 39º 23' 28" de longitude Este. As áreas das zonas urbanizadas e das semi-urbanizadas estão confinadas aos seguintes limites 4 : a Norte: Rio Monapo, que separa a cidade do Posto Administrativo de Rapale; a Sul: Postos Administrativos de Namaita e Anchilo; A Oeste: Postos Administrativos de Rapale e Namaita; a Este, é limitado pelo Posto Administrativo de Anchilo. A Cidade de Nampula, é o terceiro maior centro urbano de Moçambique, com uma superfície total de 404 Km², tendo uma população estimada em habitantes, cuja densidade populacional é de habitantes por Km² e agregados familiares. (Perfil do Município de Nampula, 2011). Ainda em de termos de extensão, população e organização, o Município de Nampula está estruturado conforme indicam as Tabelas 1 e 2: 4 Código de Postura da Cidade de Nampula Revisão de 2011
26 25 Tabela1: Postos Administrativos, Bairros, Unidades Comunais e População, 2007 Posto Administrativo Bairro Unidade Comunal Area(ha) População MUAHALA Namutequeliua Amilcar Cabral 40, , ,71 25 de Setembro 173,93 Ha Ha Marien Ngouabi 59,62 Mutomoti 379,54 Nampako 1191,63 Namalate 897,18 Muhala Eduardo Mondlane 42, ,11 7 de Abril 41,32 Ha Josina Machel 57,39 Paulo Samuel Kankhomba 27,18 25 de Junho 301,75 Serra da Mesa 325,54 1 de Maio 382,45 Muahivire Gorongosa 17, ,52 Muacotaia 27,57 Ha Muetasse 53,4 Namuatho C 95,56 Muegane 57,13 Reno 67,41 Mutotope 391,98 Ilipisse 187,37 Namiteca 236,18 Napacala 624,74 Nanuco 499,13 Mucuache 693,98 MUATALA Muatala Menicane 30, ,1 3554,94 Muralene 25,17 Ha Ha Micolene 23,92 Namavi 54,23 Matadouro 25, Litini 23,08 Cossore 337,75 Napala 283,88 Maparra 896 Namicopo B 1854,27 Continua
27 26 Continuação Mutauanha 1º de Maio 39,79 MUATALA 2551,16 Eduardo Mondlane 41,18 Ha 25 de Junho 23,31 7 de Abril 24,85 25 de Setembro 21,42 3 de Fevereiro 24,98 Samora Machel 25,01 7 de Setembro 65,58 Piloto 329,08 Muthita 916,79 Namuatho B 1039,17 NATIKIRI Marrere Mucoboa 499, , ,19 Acordos de Lusaka 929,12 Ha Ha Namadeira 748,91 Incomati 207,43 Namiconha 1616,05 Natikiri Teacane A 26, ,97 Teacane B 6,69 Ha Nacahi 33,47 5º Congresso 53,32 6º Congresso 130,77 Muepelume 304,77 Napueia 562,84 Pedreira 500,33 Muliapo 845,55 Namitatari 700,4 Murrapaniua P.S. Khankomba 31, ,53 Francisco Manyanga 62,71 Ha Josina Machel 48,95 Filipe S. Magaia 40,54 Samora Machel 36,06 Agostinho Neto 39,54 Eduardo Mondlane 24,65 Sansão Mutemba 7,72 Mutimacanha A 49,69 Mutimacanha B Ratane 38,77 522,62 Terrene 795,26 Nairuco 1328,21 Continua
28 27 NAPIPINE 4883,24 Ha Napipine 2711,59 Ha Karrupeia 2171,65 Ha Continuação 1º de Maio 14,81 Francisco Manyanga 28,07 3 de Fevereiro 18,4 Santa Maria 23,11 3º Congresso 28,95 Povo Moçambicano 14,54 Joisna Machel 29,59 8 de Março 11,32 25 de Setembro 34,7 Namarrepo A 23,75 Namarrepo B 10,51 25 de Junho 18,89 Nicuta 139,41 Nahene 2315,54 24 de Julho 18,58 18 de Abril 65,53 3 de Fevereiro 14,39 5º Congresso 16,95 7 de Setembro 9,65 25 de Junho 29,79 CTM 71,81 Centro 14,6 7 de Abril 14,02 19 de Outubro 28,28 25 de Setembro 40,53 16 de Junho 399,54 1º de Maio 115,54 Cutuche 823,8 Monapo 508,64 NAMICOPO Namicopo Eduardo Mondlane 114, , ,35 Nelson Mandela 269,49 Ha Ha Sul 15,38 Palmeiras 1 6,97 Palmeiras 2 73,34 Josina Machel 28,22 Filipe S. Magaia 67,7 Namicopo 2 183,98 Continua
29 28 Continuação NAMICOPO Namicopo Chicuala 1089,95 Saua-Saua 2248,34 Mutava-Rex Samora Machel 906, ,78 Mutava Sede 1426,61 Ha 3 de Fevereiro 415,38 Mucubassa 1196,05 Namuatho 3348,68 Nahene 540,51 Eduardo Mondlane 1378,69 Embiligne 623,09 Fonte: Município de Nampula Administrativamente, o município possui seis Postos Administrativos Municipais, 18 bairros urbanos, 121 Unidades Comunais e Quarteirões. (Perfil do Município de Nampula, 2011:1) A tabela 2 mostra a superfície, população e densidade populacional por Km². Tabela 2: Superfície, População e Densidade Populacional por Km², 2007 Cidade de Nampula Superfície total em Número total da Densidade Número de agregado Km² população populacional em Km² familiar Fonte: INE III Recenseamento Geral da População e Habitação
30 29 A localização estratégica, a arquitectura e a hospitalidade da população, constituem focus invejáveis para a atracção de investimentos externos e internos Breve História do Município de Nampula O historial da Cidade de Nampula, a sua importância política, económica e estratégica, começou a revelar-se a partir dos finais século XIX. Portanto, esta evolução, foi o resultado da emigração de alguns comandos militares a partir das zonas costeiras de Mossuril, Ilha de Moçambique e Angoche, com objectivo de descobrir o interior da Província de Nampula e elaborar-se alguns mapas cartográficos que pudessem facilitar os portugueses a penetrarem no interior da mesma. Segundo PÉLISSIER (2000), O Posto de Netia (a norte do Monapo) foi aberto a 2 de Setembro de [ ]. A 6 de Outubro de 1906, Neutel de Abreu, com base no Sangage, fez instalar o posto de Liúpo e, após ter preparado o terreno por uma visita (Abril de 1906) ao régulo Mucapera-Muno, criou o posto de Corrane (4 de Janeiro de 1907) com o acordo do Mucapera-Muno, ao qual estava ligado pelo pacto de sangue cerimónia dramática e, que saibamos, única nos anais coloniais luso-africanos 6. Neutel de Abreu, um cabo, um intérprete e vinte e cinco cipaios avançaram mais para o oeste e alcançaram, em reconhecimento, a 7 de Fevereiro de , Nampula (p.295). afirmou que Para Kulyumba (2006), na comemoração dos 50 anos do Museu Nacional de Etnologia, Em Junho de 1917 são extintas as quatro capitanias-mores então existentes (Macuana, Mossuril, Angoche e Memba) e, em seu lugar foram criados quinze Comandos Militares, entre eles o da Macuana, com Sede em Nampula. Dois anos depois ( ), Nampula era dotada com uma Delegação de Fazenda. Em 30 de Junho de 1921 dá por finda a missão dos comandos militares coloniais e são criadas em substituição, as Circunscrições Civis sob o signo das quais vai iniciar-se a verdadeira colonização portuguesa. Em 1934, Nampula é elevada a Categoria de Vila passando a ser Conselho de primeira Classe com uma Comissão Municipal, detentora de juntas locais. Em 1935, Nampula transformou-se na Capital da Província do Niassa e surgem serviços de 5 Perfil do Município de Nampula, 2011: p. 1 6 Pélissier op. cit., Manuel Ferreira, num escrito de Neutel de Abreu, Pp Pélissier apud Soares de Castro. Apontamentos para a história de uma jovem cidade. Boletim do Museu de Nampula, vol. I, 1960, p. 105.
31 30 Administração Civil, Fazenda, Obras Públicas, Agricultura, Indústria e Geologia, Saúde, Instrução, Veterinária, Correios e Telégrafos, etc. A 4 de Setembro de 1940, chega o primeiro galardão de ordem espiritual: é criada a Diocese de Nampula. Depois, Nampula transformou-se em Câmara e deixa de depender em absoluto da Ilha de Moçambique. A 22 de Agosto de 1956, a Vila de Nampula é elevada à Categoria de Cidade com a denominação de CIDADE DE NAMPULA que inicia o seu novo ciclo de existência recebendo e hospedando dentro dos seus muros o então Venerando Chefe do Estado Português, General Francisco Hino Craveiro Lopes e Esposa. A 23 de Agosto de 1956, era sagrada a Sé Catedral de Nossa Senhora de Fátima e procedia-se a Inauguração do Estádio Municipal e do Museu Regional (Hoje Estádio 25 de Setembro e Museu Nacional de Etnologia respectivamente) (p. 11). Em suma, a Cidade de Nampula, foi fundada com a finalidade de se manter o controlo militar durante a penetração colonial portuguesa para as regiões do interior Importância Económica da Cidade de Nampula Desde a instalação dos primeiros órgãos autárquicos no Município de Nampula, em 1998, muitos esforços têm sido envidados no sentido de desenvolver a economia local, melhorar as condições ambientais e de vida dos munícipes e tornar a cidade cada vez mais atractiva para investimentos públicos e privados 8. Localizada no entroncamento da via-férrea de Nacala com os eixos rodoviários que da província da Zambézia e do Litoral demandam o norte e o interior, a cidade de Nampula foi implantada num planalto, para servir de centro militar colonial para todo o norte de Moçambique. Ela é atravessada pelo corredor de desenvolvimento de Nacala, constituído pelos eixos ferroviário e rodoviário que ligam o litoral (porto de Nacala) com o interior do país e com a República do Malawi. Também é cruzada pelo eixo rodoviário centro-nordeste, vital para o desenvolvimento a norte do rio Zambeze e que, a partir daqui, se ramifica em direcção à província de Cabo Delgado, a norte, a provincial do Niassa, a ocidente, e o litoral, a oriente. É esta localização que lhe confere o papel de centro económico e de ligação de todo o território a norte do rio Zambeze, pelo que se lhe ajusta o título de capital nortenha ou rainha do norte (DE ARAÚJO, p. 210). Escreve CDS-Zonas Urbanas (2009): 8 Perfil do Município de Nampula, 2011 : p. 7
32 31 A Cidade de Nampula é o principal centro administrativo e comercial na região norte de Moçambique e as actividades comerciais incluem a comercialização e armazenamento dos produtos agrícolas das três províncias do norte, bem como o comércio grossista e a retalho de equipamentos, bens de consumo e alimentos. Porém, a economia formal da Cidade de Nampula está bastante fraca, pois nas últimas décadas a actividade industrial do sector formal diminuiu drasticamente pela paragem das maiores fábricas, frequentemente por motivos ligados a sua privatização (nos casos de Texmoque, Sogere, Cinap, Mademo e Romon). A actividade industrial está virada principalmente ao ramo alimentar. A grande maioria das fábricas e oficinas em funcionamento são de pequena escala (p. 13). Nesta situação, o sector informal tem vindo a desempenhar um papel preponderante para a sobrevivência da população e da economia da cidade. As actividades informais incluem principalmente o comércio informal e a produção agrícola. Muitas famílias na cidade têm machambas, dentro ou fora da área municipal, nas quais cultivam mandioca, amendoim, batatadoce, milho ou hortaliças para consumo próprio e para venda a pequena escala (Ibidem, p. 14). 1.2.Unidade Comunal de Nampaco A Unidade Comunal de Nampaco, localiza-se no bairro de Namutequeliua, seu nome provém da Pedreira Nampaco, situada próximo do Seminário Médio, pertencente a Diocese de Nampula, na Estrada Nacional nº 8, no troço entre a Rotunda do Aeroporto de Nampula e o controlo, numa extensão de 8 km. Antes da independência nacional, esta zona, era conhecida por Netia, nome proveniente do cabo da circunscrição, Cabo Netia, da regedoria do Régulo Nampula. Após a independência nacional e com a introdução da nova divisão administrativa, Netia passou a chamar-se Unidade Comunal nº 5-Nampaco. Encontra-se no Posto Administrativo Municipal de Muhala. Com a requalificação dos bairros, por meio da qual as unidades comunais passaram a ser numeradas, surgiu a atribuição da classificação nº 5-Nampaco. O Bairro de Namutequeliua, onde se localiza Nampaco, possui Comissões de Moradores 9, 92 quarteirões, 6 unidades comunais e habitantes 10.A Unidade Comunal 9 É o conjunto de 10 casas, com um representante por casa, designado por chefe do agregado familiar.
33 32 de Nampaco tem como limites: a Norte, Unidade Comunal de Namalati; a Sul, Unidade Comunal Marian Nguabi; a Este, Rio Mutomote ; e a Oeste, pela Estrada Nacional nº 8. De salientar que, ( ) 80% da população residente na Unidade Comunal de de Nampaco-UCN, professa a religião Católica Apostólica Romana, rezando na Paróquia Nossa Senhora de Paz Netia, designação oriunda do tempo colonial, que perdura até aos nossos dias. (Entrevista gentilmente concedida pelo senhor secretário da UCN, João Pedro Tinga, no dia 27 de Janeiro de 2014, em Nampaco.) A mesma fonte acrescentou: ( ) a partir de 2004, é que começaram a instalar-se outras congregações religiosas, inclusive a muçulmana, completando os restantes 20% de crentes. Em termos numéricos, existem um total de 3 igrejas católicas, 4 igrejas protestantes de diversas congregações e 5 mesquitas, respectivamente ( ) Para além dessas instituições sociais, no edifício da Escola Secundária de Nampaco, funciona o Ensino Primário do Primeiro e 2º grau (EP1 e EP2), que é completado pelo Ensino Secundário Geral. (Ibid.) Em termos da divisão administrativa, a Unidade Comunal de Nampaco-UCN encontra-se subdividida em 50 quarteirões, cada quarteirão é gerido pelo seu respectivo chefe. Pela sua densidade populacional, os quarteirões possuem um agregado de 50 casas, o que normalmente, seriam 25 casas. A UCN cobre uma área total de 1.191,63 há, possuindo mais de talhões 11, sendo a maior zona habitacional do Município de Nampula. Porém, a mesma apresenta características rurais, agravadas pela guerra civil que assolou a região. Actualmente, o cenário tende a inverter-se, devido a implantação de algumas infra-estruturas socioeconómicas. (Plano de Pormenor do CMCN, 2008.) A UCN encontra-se no Posto Administrativo Municipal de Muhala, este possui 3 Bairros (Bairro de Namutequeliua, Bairro de Muahivire e Bairro de Muhala) que administrativamente são geridos por um secretário de bairro. Os chefes dos Postos Administrativos Municipais subordinam-se ao Presidente do Conselho Municipal e os seus ordenados enquadram-se no 10 Miguel Eurico, Secretário Adjunto do Bairro de Namutequeliua, Posto Administrativo Municipal de Muhala. Nampula, 27 de Janeiro de 2014, entrevista com o autor. 11 Plano de Pormenor de Nampaco
34 33 orçamento municipal. Enquanto, as autoridades comunitárias, ou seja, os secretários dos Bairros, os secretários das Unidade Comunais -UCs, os chefes dos quarteirões, os Cabos e Régulos subordinam-se ao Governo da Cidade, recebendo apenas subsídios pelos trabalhos prestados João Pedro Tinga, Secretário da U/C de Nampaco. Nampula, 27 de Janeiro de 2014, entrevista com o autor.
35 34 CAPITULO II CONFLITOS NO USO E APROVEITAMENTO DE TERRA EM NAMPACO: CAUSAS, FACTORES E IMPACTO O uso e aproveitamento de terra na Cidade de Nampula estão crescendo desde a década A ocupação do solo foi sendo cada vez mais intensiva devido ao conflito armado ( ) que, de tempo a tempo, obrigava as populações a se deslocarem das suas zonas de origem para as capitais distritais e da província em particular, em busca da segurança. Foi na sequência desta situação que no Município de Nampula o uso, a ocupação e o aproveitamento da terra passaram a ser processos cada vez mais conflituosos. Os nativos foram perdendo suas machambas em proveito dos recém-chegados que ocupavam a terra para construir habitações ou infra-estruturas económicas e sociais. Ora, na sequência desta realidade, com a criação do Município de Nampula em 1998, no contexto da democracia multipartidária, a cidade capital passou a ser um local onde se assistem com frequência disputas pela posse e uso da terra. O presente capítulo analisa os conflitos emergentes do uso, da ocupação e do aproveitamento da terra. Este capítulo também discute o impacto da dupla atribuição de terreno e suas implicações nas comunidades de Nampaco Divisão Administrativa e Bairros do Município de Nampula Administrativamente, o Município de Nampula (Vide Mapa 1) estrutura-se em Postos Administrativos Municipais e Bairros. (Vide a Tabelas 1 e 3) Cada Posto Administrativo Municipal (PAM), é gerido por um Chefe e sua Sede geralmente, localiza-se num dos Bairros da sua área jurisdicional, conforme ilustra a tabela nº4. Na gestão municipal se incluem, como se vê, os secretários dos bairros, os líderes comunitários, régulos e outras entidades, como por exemplo, os líderes religiosos. No entanto, muitos destes não têm desempenhado um papel significante, facto que origina os conflitos no uso de terras. Na ausência de lideres comunitários activos, os agentes do Conselho Municipal acabam tendo maior protagonismo no processo de atribuição de terrenos.
36 35 Isto faz crer que se houvesse maior coordenação entre os vários elementos envolvidos no processo de atribuição de terrenos alguns problemas de dupla atribuição de terras seriam sanados.
37 36 Tabela 3: Divisão Administrativa do Município de Nampula N de Ordem Postos Administrativos N de População Bairros U/Comunais N de Quarteirões 1 Central Muhala Muatala Napipine Namicopo Natikiri Total Fonte: Adaptado pelo autor, com base nos dados do CMCN, 2011.
38 37 Tabela 4: Relação de Chefes dos Postos Administrativos Municipais PAMs e localização das suas Sedes N /Ord. PAM Nome do Chefe do Posto Localização do Posto Central Ismael Daúdo Esquina da Av. Eduardo Mondlane e rua 3 de Fevereiro 2 Muhala Justina Jaime Santos Rua (No Bairro de Namutequeliua) 3 Muatala Julieta Hortência Agostinho Mumbule Rua dos Sem Medo (junto do Matadouro Municipal) 4 Napipine José Sabonete Rua (junto do Posto da Polícia de Napipine) 5 Namicopo Ernesto Muraco Namaitho No fim do prolongamento da Rua Natikiri Jovita Nampada Na rua (na via para Rapale, Ex-Nova Chave) Fonte: CMCN Perfil do Município de Nampula 2011, p.2
39 38 Mapa 1: Município de Nampula: Postos Administrativos Municipais e Bairros Meters ESCALA: 1/50000 Fonte: CMCN/DUGT, Tipos de Conflitos no Uso e Aproveitamento de terra em Nampaco O termo conflito faz lembrar a ideia de litígio, disputa ou querela. Na base desta percepção, no estágio actual, a Cidade de Nampula e na Unidade Comunal de Nampaco em particular, estão se assistindo casos de conflitos pela posse da terra. Em alguns casos nota-se a usurpação da terra que é retirada dos nativos em favor de novos concessionários, que adquirem terrenos pessoais através do Município. O termo usurpação, segundo MATAVEL, et al. (2011,
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