A ECONOMIA COMO UM FLUXO ABERTO E A AVALIAÇÃO EM EMERGIA DE PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS NA ÁREA DO TURISMO
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- Aurélio Farinha Sintra
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1 Eixo temático: Administrativas A ECONOMIA COMO UM FLUXO ABERTO E A AVALIAÇÃO EM EMERGIA DE PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS NA ÁREA DO TURISMO Laion José Pazian 1 Thiago Libório Romanelli 2 RESUMO: Novas metodologias para a valoração dos recursos ambientais têm emergido em meio aos problemas e limites ambientais que tem surgido nas últimas décadas e que podem mudar o futuro da Terra. A emergia é um tipo de valoração que traduz os recursos e as trocas monetárias na unidade de joules solares (sej) em que tudo é valorado na forma de uma energia incorporada comum. São analisados dois resorts, um no México e outro em Papua Nova- Guiné, e é colocado em evidência o valor de seus recursos e trocas comerciais na unidade de emergia que também determinará a Área de Suporte Ambiental e o Índice de Carga Ambiental (ELR). Questiona-se a equidade das trocas e o valor dos serviços turísticos, assim como a necessidade do aumento da área de suporte ambiental. Observar-se-á que nem sempre as trocas de emergias são iguais; há o país que exporta mais emergia do que importa pela mesma quantidade de dinheiro, logo surge à necessidade de se pensar como se pode equilibrar tal diferença. Palavras-chave: Fluxo aberto. Emergia. Índices de Emergia. 1. INTRODUÇÃO Diante de notáveis problemas ambientais que estão ocorrendo e que forçam mudanças nas formas de pensar e produzir surge teorias e pesquisas que transformam o método de produção e valoração da economia clássica. Uma dessas teorias discute a valoração dos recursos na sua forma de energia incorporada e disponível para o fornecimento de um bem ou produto, o que difere na forma de valorar através das leis da oferta e da demanda. Assumindo essa valoração denominada Emergia, o objetivo do presente trabalho é expor e discutir os índices de emergia de valoração ambiental, que expõem as trocas de recursos ambientais e econômicos de dois resorts turísticos localizados no México e em Papua Nova-Guiné com turistas dos Estados Unidos, o qual exporta mercadorias para tais localidades. E dessa forma, estabelecer comparações, diferenças e possíveis soluções. 1.1 A economia como fluxo aberto A economia, historicamente, foi criada e consentida como um fluxo fechado de bens e materiais que passam pelo processo de produção e chegam às mãos dos consumidores de forma natural e pronta. A física mecânica expõe forças e energias que atuam em um corpo e que dão 1 Graduando em Economia (7º semestre) na ESALQ/USP. laionpazian@gmail.com 2 Orientador: Professor Associado do Departamento de Engenharia de Biossistemas (LEB) da ESALQ/USP. romanelli@usp.br
2 movimento ao mundo e tal racionalidade era usada desde o século XVIII como metáfora para os fluxos de energia social entre o mercado de bens e o mercado monetário (CECHIN, 2010). Logo, entendia-se que a economia era um fluxo infinito de bens e dinheiro sem considerar da onde vem o material e sua disponibilidade na natureza para produção e sem considerar os resíduos gerados. Partindo disso, Nicholas Georgescu-Roegen ( ) foi um dos primeiros economistas a questionar e estudar a questão da sustentabilidade econômica ao considerar os materiais de entrada e saída do processo de produção. Georgescu (1971) aplica os conhecimentos da termodinâmica e suas principais leis à economia, invertendo a teoria de que a economia era um processo apenas mecânico. Segundo Cechin (2010), a Primeira Lei da termodinâmica afirma que, em um sistema isolado (induzido artificialmente na Terra, ou o vácuo) toda a quantidade de energia no sistema é constante e toda energia transformada se preserva entre seus materiais inseridos neste sistema (Lei da conservação da Energia). Já a Segunda Lei, ou Lei da Entropia, que em um sistema aberto (como a atmosfera e toda superfície terrestre) em uma transformação ou transferência de energia parte dela e tende a se dissipar, e assim a qualidade da energia tende a se degradar, e em um sistema isolado a Entropia é irreversível, pois se trata de um processo unidirecional. Em ambos os casos o calor sempre será transferido do corpo mais quente para o mais frio. Os recursos naturais transformados pelo processo econômico são de baixa entropia (alta disponibilidade), por exemplo, o petróleo consegue gerar muita energia que é incorporada na transformação de matérias, as quais têm alto valor entrópico, pois não podem ser utilizadas de formas energeticamente eficientes para a obtenção de outros materiais. Logo, o processo econômico produz resíduos que não podem ser reaproveitados. Observe que nesse ponto está o fato de que a economia é um fluxo aberto e unidirecional: o início da cadeia trófica, que transformada, resulta em produtos e resíduos, estes não aproveitados, assim como a obsolescência dos produtos, retornam ao meio ambiente degradando-o (CECHIN, 2010). O processo produtivo focado na produtividade com seus fatores (capital e trabalho) deixam de considerar os fluxos de entrada e saída das matérias. Os fluxos de entrada são energia e matéria, e geralmente provém da natureza, que quando transformada torna-se um fluxo de saída de produtos e resíduos que retornam ao meio ambiente comprometendo a renovação desses recursos e a utilização de novos, visto que a escassez se manifesta em duas maneiras: os recursos terrestres são limitados e decrescentes; e que uma quantidade de recursos de baixa entropia não pode ser utilizada mais que uma vez (CECHIN, 2010). Diante dos claros problemas ambientais e de escassez de recursos, sem falar da falta da compreensão da maioria das pessoas da economia sendo claramente um fluxo aberto ao ambiente, teorias visando a verdadeira valoração dos recursos naturais surgiram, dentre elas o conceito de emergia ou energia incorporada.
3 1.2 A Emergia Esta teoria foi desenvolvida por Howard T. Odum ( ) com a intenção de quantificar a energia incorporada em cada material, dada à definição de emergia: energia incorporada e disponível pela matéria que ela pode oferecer para produzir certo bem ou serviço (ORTEGA, 2003). E dessa forma traduzir a quantidade e qualidade energética por quantidade de moeda, os emdólares. Essa é uma forma de ter como comparação básica entre produtos, medindo sua energia disponível, e assim indicar a verdadeira contribuição da natureza na formulação da riqueza real de produtos e serviços. É plausível de compreensão a ideia de que quanto maior o trabalho da natureza sobre os recursos, maior é sua abundância, e dadas às leis de oferta e demanda menores seus preços, logo a riqueza real dos recursos ambientais é inversamente proporcional aos custos monetários (ORTEGA, 2003), deixando claro que os preços de mercado não agem de acordo com o valor agregado da natureza em seus recursos. A teoria da emergia também vem no sentido de reconhecer o trabalho da natureza ser valorizado no mercado. Fica claro que os recursos naturais custarão mais caro, mas parte da renda gerada poderá ser utilizada para preservação, produção e reposição destes recursos (ORTEGA, 2003), caso forem renováveis. 2. METODOLOGIA Todas as matérias possuem um valor de emergia incorporado, a unidade deste valor é dada em joules solares (sej), pois a teoria calcula a energia incorporada mais a disponível no recurso, e como todos os recursos existentes provêm da luz do sol, seja no seu princípio (início da cadeia trófica) ou em seu meio, a unidade de emergia é baseada na incorporação da energia solar (BROWN; ULGIATI, 2001). O uso de emergias de recursos não renováveis e renováveis é praticamente indispensável para a atividade econômica da região, não há como usar apenas os recursos naturais para o desenvolvimento da atividade econômico, seria insustentável. Para fazer a relação de uso destes recursos, é definido como o Índice de Carga Ambiental (ELR), o qual traça uma razão entre os insumos adquiridos (F), os recursos não renováveis (N) pelo uso de recursos renováveis (R). Este índice tem como finalidade medir o estresse ambiental do desenvolvimento para que se compare ao ELR de toda a região (BROWN; ULGIATI, 2001). ELR = (F + N) / R Quando se decide construir um centro turístico em uma área natural não modificada, é necessário que exista uma área de apoio renovável que compense a retirada e uso de seus recursos. Está área inclui terrenos e sistemas marinhos, neste caso, visto que provém da terra e dos mares as emergias de entradas para a economia regional. A área de suporte renovável é
4 obtida pela divisão do total de entradas de emergia no processo pela densidade de capacidade renovável média da região: SA (r) = (F+N) / EMPD (r) Onde: SA (r) = área de suporte renovável (m²); EMPD (r) = densidade de capacidade renovável (sej m^-2 ano^-1); F = insumos adquiridos (sej ano^-1); N = insumos não-renováveis (sej ano^-1). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A atividade do turismo possibilita a região receber divisas de estrangeiros e a não exploração de seus recursos, visto que estes são as razões paradisíacas que o consumidor paga por utilizar. O que ocorre é que os consumidores da atividade turística extraem o uso de tais reservas e exporta consigo a utilidade da viagem, porém esse serviço não está disponível para a população local. A população local recebe parte da renda dos estrangeiros por serviços e/ou produtos e esta renda é usada para comprar produtos industrializados do mercado internacional, pois seu país não os produz. Ao importar tais produtos, importam também a emergia deles, e assim é possível fazer uma análise de balança comercial da emergia entre as trocas (BROWN; ULGIATI, 2001). As trocas de emergia e emdólores entre os resorts e os Estados Unidos está exposta na imagem 1 abaixo: Imagem 1: Fluxo de emergia e em dólores entre os resorts e os EUA. Fonte: Brown e Ulgiati (2001). 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O uso da valoração em Emergia possibilita uma análise mais profunda dos usos de recursos em uma economia, pois essa teoria transpõe os modelos econômicos de trocas
5 monetárias e expõe a troca de bens e serviços considerando os recursos com valores equiparados na forma de energia incorporada e disponível que o recurso pode oferecer. Os resultados baseados em emergia deixam claros que nem sempre as trocas são iguais, tendo um lado que absorve mais emergia do que outro, além de expor o ELR que indica o quanto está sendo usado de recursos renováveis o quanto não está. O desequilíbrio da balança comercial para a troca de emergias entre os países turísticos e o país exportador de industrializados, os EUA, podem ter duas soluções que podem ser trabalhadas juntas ou individuais. As áreas de suporte ambiental calculadas anteriormente não correspondem às áreas de suporte real das localidades, ao aumentar estas áreas de suporte faz diminuir o ELR resultando em preservação e restauração do uso das emergias renováveis de cada região, até o ponto que compensaria e equilibraria a entrada e saída de emergia do país em questão. Restando a outra solução, o aumento dos preços pelos usos dos bens e serviços turísticos, mesmo podendo causar uma queda de demanda pelos serviços, estes poderiam se valorizar ainda mais e acolheria um público ainda mais privilegiado financeiramente para despender sua renda na compra de bens e serviços dos resorts. Essa estratégia pode agregar valor e status nas respectivas hospitalidades. Neste caso, um estudo profundo do mercado turístico das regiões deveria ser feito antes de aumentar os preços. E ainda assim sobraria o meio termo, que seria equilibrar uma proporção de aumento das áreas de suporte e uma proporção do aumento nos preços. REFERÊNCIAS BROWN, Mark T.; ULGIATI, Sergio. Emergy Measures of Carrying Capacity to Evaluate Economic Investments. Gainesville e Siena: Population And Environment: A Journal Of Interdisciplinary Studies, CECHIN, Andrei. A natureza como limite da economia: A contribuição de Nicholas Georgescu- Roegen. São Paulo: edusp, GARROTE FILHO, Mario da Silva; PENHA-SILVA, Nilson. Uma abordagem termodinâmica da vida. Ciência Hoje, Uberlândia, v. 37, n. 221, p.34-39, nov LOPES, Guilherme Byrro. Entendendo as Contas Nacionais (I). Disponível em: < Acesso em: 09 mar ORTEGA, Enrique. CONTABILIDADE E DIAGNÓSTICO DE SISTEMAS USANDO OS VALORES DOS RECURSOS EXPRESSOS EM EMERGIA f. Tese (Doutorado) - Curso de Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2003.
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