A PENA DE MORTE E A VISÃO DA IGREJA CATÓLICA
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- Derek Caetano Palhares
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1 A PENA DE MORTE E A VISÃO DA IGREJA CATÓLICA Otaviano Silva Pimenta* Resumo: Apresentaremos aqui um breve estudo acerca da pena de morte a partir da visão da Igreja Católica e de seu Magistério, de tal modo, que nós possamos conhecer melhor o que pensa a Igreja sobre este determinado tema. Iniciaremos nosso estudo apresentando em linhas gerais a pena de morte, depois apresentaremos os fundamentos bíblicos no Antigo Testamento e Novo Testamento e, por fim, uma breve visão do que têm a nos dizer o Magistério da Igreja. Palavras-chaves: Pena de morte. Sagrada Escritura. Igreja Católica. Magistério. Introdução Em nosso presente trabalho iremos tratar de umabreve reflexão acerca da pena de morte, para isso nos utilizaremos da Sagrada Escritura e do Magistério da Igreja.Este tema está inserido nas mais diversas discussões, isto é, no campo da ética, daciência jurídica, da sociologia e da religião. Contudo, nós iremos voltar nossa atenção para a compreensão cristã, pois, se percebe que no próprio meio religioso, o assunto não é visto de modo homogêneo. Ao longo desta nossa pesquisa procuraremos discorrer sobre a pena de morte, de modo que possamos envolver algumas questões atuais do assunto no campo religioso. Entretanto, a pena de morte percorre um longo período na história humana, de tal maneira, quepodemos perceber nas Sagradas Escrituras alguns fatos que estão diretamente ligados a ela (Cf. Gn 4, 10; 9, 6; Dt 13, 6-12; Ex 21, 23-25). Deste modo, veremos que a Igreja Católica está comprometida com o ser humano, como nos mostra a Constituição Pastoral Gaudium et Spes, isto é, na sua unidade e na sua totalidade, corpo, e alma, coração e consciência, espírito e vontade. 1 A partir daqui vemos claramente qual é a missão da Igreja. Ela deve ser a primeira a cumprir o mandato do Senhor que diz no seu Evangelho: Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância (Jo 10, 10). É com base nessas palavras de Jesus que iremos tratar esta temática complexa que vai contra as várias formas de pensar de nossa sociedade atual. * Bacharelando do curso de Teologia na Faculdade Católica de Fortaleza. 1 CONCÍLIO ECUMENICO VATICANO II. Constituição PastoralGaudium et Spes. São Paulo: Paulinas, n 1322.
2 1.A pena de morte e a Sagrada Escritura Ao longo de toda a história da sociedade sempre se procurou estabelecer normas para uma boa convivência social entre seus indivíduos. É daqui que surge punições severas com o intuito de impor limites aqueles que transgridem a sociedade com atos ilícitos, criando assim o desequilíbrio de uma boa vivência social. Assim sendo, nos diz Bento que procura-se justificar a pena de morte como uma necessidade de purificar a sociedade. 2 Contudo,tais punições sempre se fizeram presentes como uma forma de promover uma boa convivência social com as comunidades. Partindo para um análise nas Sagradas Escrituras, veremos que no Antigo Testamento a pena de morte fica bastante evidente em vários trechos, por exemplo: a partir da vingança de sangue: Iahweh disse: que fizeste! Ouço o sangue do teu irmão, do solo, chamar por mim! (Gn 4, 10). Naquele período a vingança era uma marca cultural, isto é, os parentes da vítima tinham o dever de vingar a morte de seu parente, clamando por vingança diante de Deus. Entretanto, diante da Lei de Moisés dada por Deus, o próprio Deus por inúmeras vezes age com misericórdia diante dos pecados do povo de Israel, por exemplo, quando Davi cometeu adultério, Deus não determinou sua morte (2Sm 11). Também em Êxodo 20,13, Moisés recebe no Decálogo, a verdadeira identidade de Deus, Não matarás. Assim sendo, Israel testemunha que o seu Deus se manifesta como o Deus da vida. Já no Novo Testamento, encontramos o cumprimentodas profecias do AT com a vinda do Messias, Jesus Cristo. Ele se confronta com a Lei de Talião, isto é, olho por olho e dente por dente, Jesus vai contra estes princípios (Mt 5, 38-42) nos dando um novo mandamento como pudemos recordar no domingo passado em nossa liturgia, Dou-vos um mandamento novo: que vos amei uns aos outros, como eu vos amei (Jo 13, 34). O reino que Jesus veio anunciar é a vontade de Deus para toda a humanidade, ou seja, a lógica do Reino, a lógica da humanidade, como Deus a quer em seu projeto eterno de amor. 3 Deste modo, Cristo substitui a lei de talião e do principio de retribuição pela lei do amor. 4 Diante do ensinamento de Jesus nós devemos viver como uma comunidade de amor, ajudando-nos uns aos outros a viver de maneira correta na comunidade que se está inserido. Deste modo, a vivência dessa comunidade de amor, deverá estar contida no seu Evangelho, isto é, na misericórdia, na ternura, na compaixão, na esperança, no perdão, como nos ensinou 2 BENTO, Luis Antonio. Bioética: Desafios éticos no debate contemporâneo. São Paulo: Paulinas, p PENA DE MORTE. In. VITAL, Marciano. Dicionário de Teologia Moral. São Paulo: Paulus, p Cf. BENTO, op. cit., 119.
3 o próprio Jesus quando perdoou a mulher adúltera (Jo 8, 1-11). Portanto, a Igreja nunca poderá ir contra o que o próprio Jesus ensinou no seu Evangelho, isto é, o amor. A Igreja é continuadora da missão de Jesus, do seu Reino, Ele é a cabeça e nós somos seu corpo, assim, nós devemos ter uma íntima comunhão entre Cristo e os irmãos. É justamente essa a missão da Igreja, ser sinal de unidade com Deus e todos os seres humanos de hoje, como nos diz a LumenGetium: A Igreja é em Cristo como que o sacramento ou o sinal e instrumento de união com Deus e da unidade de todo o gênero humano. 5 2.O Magistério da Igreja Após esta pequena reflexão bíblica acerca da pena de morte, somos convidados agora a fazermos uma breve análise sobre o que diz o Magistério Eclesiástico sobre este tema. A Carta Encíclica Evangelium Vitae de São João Paulo IItem como objetivo mostrar o valor real da vida de cada pessoa humana e que ninguém tem o direito de tomá-la. Portanto: Aautoridade pública deve fazer justiça pela violação dos direitos pessoais e sociais, impondo ao réuuma adequada expiação do crime com condição para ser readmitido no exercício da própria liberdade. Desse modo, a autoridade há de procurar alcançar o objetivo de defender a ordem pública e segurança das pessoas, não deixando, contudo, de oferecer estímulo e ajuda ao próprio réu para se corrigir e redimir. 6 Assim, todo o Magistério da Igreja tem como base a Sagrada Escritura e o Evangelho de Jesus é verdadeiramente o Evangelho da vida. Consequentemente, todo o Magistério deve sempre está a favor da vida de cada pessoa humana, visto que, a vida do homem provém de Deus, é dom seu, é imagem e figura dele, participação do seu sopro vital. Desta vida, portanto, Deus é o único Senhor: o homem não pode dispor dela. 7 Assim sendo, toda a Igreja tem como dever sempre defender a vida plena de todas as circunstâncias existentes em nosso mundo que são contrárias a ela. Pois, em todas as circunstâncias cada ser humano, pertence inteiramente a Deus: quem atenta contra a vida do homem de algum modo atenta contra o próprio Deus. 8 Deste modo, todo e cada cristão é chamado a viver a lei do amor, sem olhar a quem, pois, até mesmo aquele que cometeu um delito grave tem o direito a se corrigir. O próprio Jesus nos convida a amar até os nossos 5 GAUDIUM ET SPES, op. cit., n 1. 6 JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Evangelium Vitae. São Paulo: Loyola, n Ibidem., n Ibidem., n 09.
4 inimigos.é Ele mesmo que nos promulga a lei do amor quando diz em seu Evangelho que devemos perdoar, até setenta vezes sete. Ainda tratando do Magistério da Igreja, em um recente pronunciamento na Praça São Pedro em 21 de fevereiro de 2016, o papa Francisco pediu o fim da pena de morte: faço apelo à consciência dos governantes, para que se alcance um consenso internacional para a abolição da pena de morte. E proponho a quantos deles são católicos que façam um gesto corajoso e exemplar: que nenhuma condenação seja executada neste Ano Santo da Misericórdia.. 9 Deste modo, insisti o santo padre que, também o criminoso mantém o direito inviolável à vida, dom de Deus 10, ainda da janela do Palácio Apostólico o papa Francisco nos lembra que o Jubileu extraordinário da Misericórdia é uma ocasião propícia para promover no mundo formas cada vez mais maduras de respeito da vida e da dignidade de cada pessoa 11 Lembra-nos papa Francisco, que há momentos em que somos chamados, de maneira ainda mais intensa, a fixar o olhar na misericórdia, para nos tornamos nós mesmo sinal eficaz do agir do Pai. 12 Fica bastante claro com esta pequena exposição do Magistério da Igreja acerca da pena de morte, que não se justifica para qualquer pessoa uma posição a favor deste tipo de penalidade extrema. É justamente isso que a Igreja vem buscando demonstrar em suas cartas e documentos sobre a valorização da vida. Portanto, toda a sociedade deve tratar a todos com dignidade: um ser humano, também um réu violento, nunca poderá ser reduzido a um objeto. Deverá ser sempre tratado como pessoa. 13 A aplicação da pena de morte não vai somente contra princípios cristãos, mas também contra a própria dignidade humana, assim, desta maneira, a sociedade é convidada a dialogar com a comunidade politica para cobrar, meios de reabilitação dessas pessoas que infligem à boa convivência da comunidade. Porém, se utilize de meios humanos que ajude aos réus condenados a uma boa recuperação, sem sofrer nenhuma tortura ou tratamento cruel, como afirma a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Logo, a pena de morte não se justifica em hipótese alguma. Pois, tal atitude não entra no conceito de justiça, pelo contrário, é algo totalmente anti-ético, injusto e desonesto. Nenhuma pessoa humana deveria passar por 9 PAPA FRANCISCO. Angelus. Disponível em: < acesso em: 7/6/ Ibidem. 11 Ibidem. 12 PAPA FRANCISCO. MisericordiaeVultus. 1. ed. São Paulo: Paulinas, n BENTO, op. cit., 127.
5 nenhum tipo de ato de tortura, pois, o próprio Cristo foi castigado e condenado a morte em reparação a toda transgressão humana. Considerações finais A partir de tudo aquilo que foi refletido acerca da pena de morte, por meio da Sagrada Escritura e do Magistério da Igreja, é inconcebível que qualquer cristão possa de algum modo pensar na legitimação da pena de morte como solução de ordemde nossa sociedade. Pois, como vimos nos documentos acima citados, a vida é o bem mais precioso, mais valioso que temos, e por isso deve ser respeitado de qualquer maneira. Assim, ninguém tem o direito de tirar a vida de um ser humano, rico ou pobre; negro ou branco; feio ou bonito; gordo ou magro, etc. Deste modo, penso que se esgote os possíveis argumentos favoráveis a pena de morte, como meio para o cumprimento da justiça. Pois, a atividade da pena de morte foge a toda possibilidade de mudança da pessoa, isto é, ela nos tira o que é mais precioso a nós, a possibilidade de crescermos, de mudarmos, de nos corrigimos e nos responsabilizarmos por nosso atos. Tudo isto, vai contra nossa própria essência, já que somos seres sujeitos a mudança, dizendo de uma maneira filosófica, nós somos seres de possibilidades. Jesus de Nazaré tem muito a nos ensinar, pois Ele mesmo acreditava nas pessoas, isto é, que elas poderiam mudar, por exemplo: disse Jesus: Mulher onde estão eles? Ninguém te condenou Disse ela: Ninguém Senhor. Disse, então, Jesus: Nem eu te condeno. Vai e de agora em diante não peques mais (Jo 8, 10-11). Portanto, não é por meio de ações repressivas, violência ou tirando a vida de alguém que comete uma ato ilícito, que se resgata aquela pessoa. Por fim, somos todos convidados a si conscientizar sobre este assunto, de maneira a refletir sobre o valor da vida e a dignidade humana. Para isso, convido-os a olharmos para Jesus Cristo que mesmo sendo condenado à morte injustamente, nos ensinou a amar quando Lhe perguntaram: Ele então respondeu: Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, com toda a tua força e de todo o teu entendimento; e a teu próximo como a ti mesmo (Lc 10, 27).
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Documentos: BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, CONCÍLIO ECUMENICO VATICANO II. Constituição Dogmática Lumen Gentium: sobre à Igreja. São Paulo: Editora Paulinas, CONCÍLIO ECUMENICO VATICANO II. Constituição Pastoral Gaudium et Spes:sobre a Igreja no mundo de hoje. São Paulo: Paulinas, JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Evangelium Vitae: sobre o valor e a inviolabilidade da vida humana. São Paulo: Loyola, PAPA FRANCISCO. MisericordiaeVultus. 1. ed. São Paulo: Paulinas, Livros: BENTO, Luis Antonio. Bioética: Desafios éticos no debate contemporâneo. São Paulo: Paulinas, VIDAL, Marciano. Dicionário de Teologia Moral. São Paulo: Paulus, Site: PAPA FRANCISCO. Angelus. Disponível em:< acesso em: 7/6/2016
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