ESPÍRITO E MATÉRIA COMENTÁRIOS. Do Espírito de Verdade na obra de Allan Kardec:
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- Mariana Lencastre Peralta
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1 ESPÍRITO E MATÉRIA Enumeramos aqui algumas perguntas formuladas por Kardec no Livro dos Espíritos: 23. Que é o Espírito? - O princípio inteligente do Universo. a) - Qual a natureza íntima do Espírito? - Não é fácil analisar o Espírito com a vossa linguagem. Para vós, ele nada é, por não ser palpável. Para nós, entretanto, é alguma coisa. Ficai sabendo: "Coisa nenhuma é o nada e o nada não existe. Importante fixar estes conceitos para perfeita compreensão deste assunto. Percebemos que sendo a inteligência um atributo essencial do Espírito e que Espírito e Inteligência se confundem num princípio comum. Podemos dizer que para nós são a mesma coisa, uma vez que não sabemos definir por palavras os conceitos e atributos de cada um. Concluímos que há dois elementos gerais no Universo: a Matéria e o Espírito. "Sim e acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo que existe, a trindade universal. Mas, ao elemento material se tem que juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propria-mente dita, por demais grosseira para que o Espírito possa exercer ação sobre ela. Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o Espírito se utiliza, é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divi-são e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá. COMENTÁRIOS Do Espírito de Verdade na obra de Allan Kardec: Um fato importante domina todas as hipóteses: vemos matéria destituída de inteligência e vemos um princípio inteligente que age independe da matéria.. A origem e a conexão destas duas coisas nos são desconhecidas. Se promanam ou não de uma só fonte; se há pontos de contato entre ambas; se a inteligência tem 1
2 existência própria, ou se é uma propriedade, um efeito; se é mesmo, conforme a opinião de alguns, uma emanação da divindade, ignoramos. Elas se nos mostram como sendo distintas; daí o consideremo-las formando os dois princípios constitutivos do Universo. Vemos acima de tudo isto uma inteligência que domina todas as outras, que as governa, que se distingue delas por atributos essenciais. A essa inteligência suprema é o que chamamos Deus. De Einstein sobre a introdução ao livro de Russell (An inquiry into Meaning and Truth - Começamos todos com o realismo ingênuo, quer dizer, com a doutrina de que os objetos são assim como parecem ser. Admitimos que a erva é verde, que a neve é fria e que as pedras são duras. Mas a Física nos assegura que o verde das ervas, o frio da neve e a dureza das pedras não são o mesmo verde, o mesmo frio e a mesma dureza que conhecemos por experiência, mas algo totalmente diferente. O observador que pretende observar uma pedra, na realidade observa, se quisermos acreditar na física, as impressões da pedra sobre ele próprio. Por isto a ciência parece estar em contradição consigo mesma; quando se considera extremamente objetiva, mergulha contra a vontade na subjetividade. O realismo ingênuo conduz à física, e a física mostra, por seu lado, que este realismo ingênuo, na medida em que é conseqüente, é falso. Logicamente falso, portanto falso. Importante também para o nosso entendimento é observar atentamente a resposta à pergunta 78 do Livro dos Espíritos: "Deus existe de toda a eternidade, é incontestável. Mas, quando e como cada um de nós foi feito, repito-te, nenhum o sabe: aí é que está o mistério. PRINCÍPIO ESPIRITUAL Dizemos que os espíritos são imateriais porque pela sua essência diferem de tudo o que conhecemos sob o nome de matéria. A existência do princípio espiritual é um fato que por assim dizer, não precisa de demonstração, do mesmo modo que o da existência do princípio material. Ele se afirma pelos seus efeitos, como a matéria pelos que lhe são próprios. De acordo com esse princípio: 2
3 "Todo efeito tendo uma causa, todo efeito inteligente há de ter uma causa inteligente. O princípio espiritual é corola-rio da existência de Deus; sem esse princípio Deus não teria razão de ser, visto que não se poderia conceber a soberana inteligência a reinar por toda a eternidade sobre a matéria bruta. Não podendo admitir Deus sem os atributos essenciais da Divindade: a justiça e a bondade, inúteis seriam essas qualidades, se ele as houvesse de exercitar somente sobre a matéria. Por outro lado, não se poderia conceber um Deus soberanamente justo e bom, a criar seres inteligentes e sensíveis, para lançá-los ao nada, após alguns dias de sofrimento sem compensações, a recrear-se na contemplação dessa sucessão infinita de seres, que nascem sem haverem pedido, pensam por um instante, apenas para conhecerem a dor, e se extinguem para sempre, ao cabo de efêmera existência. Sem a sobrevivência do ser pensante, o sofrimento da vida seria, da parte de Deus, uma crueldade sem objetivo. É inata no homem a idéia da perpetuidade do ser espiritual; essa idéia se acha nele em estado de intuição e de aspiração. O homem compreende que somente aí está a compensação às misérias da vida. A idéia intuitiva é a força do raciocínio, o Espiritismo junta a sanção dos fatos, a prova material da existência do ser espiritual, da sua sobrevivência, da sua imortalidade e da sua individualidade. PRINCÍPIO VITAL Passemos a abordar outro tema importante que é o princípio vital, que não é a mesma coisa que o princípio espiritual. Partindo da observação dos fatos, diremos que, se o princípio vital fosse inseparável do princípio inteligente, haveria certa razão para que os confundíssemos. Mas havendo, como há, seres que vivem e não pensam, quais as plantas; corpos humanos que se acham ainda animados de vida orgânica quando já não há qualquer manifestação de pensamento. Admite-se daí que existem dois princípios, um inerente a matéria, que é o princípio vital e outro inerente ao Espírito que é o princípio espiritual. As propriedades sui generis que se reconhecem ao princípio espiritual provam que ele tem existência própria, pois que, se sua origem estivesse na matéria, aquelas propriedades lhe faltariam. Desde que a inteligência e o pensamento não podem ser atributos da matéria, chega-se, remontando dos efeitos à causa, à conclusão de que o elemento material e o elemento espiritual são os dois princípios constitutivos do Universo. Individualizado, o elemento espiritual constitui os seres chamados Espíritos, como, individualizado, o elemento material constitui os diferentes corpos da Natureza, orgânicos e inorgânicos. Quanto ao ponto de origem de tudo, pela própria intuição e baseados no princípio da soberana justiça, atributo essencial da Divindade, podemos deduzir 3
4 que todos procedem do mesmo ponto de partida; que todos são criados simples e ignorantes, com igual aptidão para progredir pelas suas atividades individuais; que todos atingirão o grau máximo da perfeição com seus esforços pessoais; que todos, sendo filhos do mesmo Pai, são objeto de igual solicitude; que nenhum há mais favorecido, ou melhor, dotado do que os outros, nem dispensado do trabalho imposto aos demais para atingirem a meta. Deus criou mundos materiais e seres espirituais para que os mundos materiais pudessem fornecer elementos de atividade para desenvolvimento das inteligências dos seres espirituais. Tendo a matéria que ser objeto de trabalho do Espírito para desenvolvimento de suas faculdades, era necessário que ele pudesse atuar sobre ela. Tendo a matéria que ser, ao mesmo tempo, objeto e instrumento de trabalho, Deus, em vez de unir o Espírito à pedra rígida, criou para seu uso, corpos organizados, flexíveis, capazes de receber todas as impulsões da sua vontade e se prestarem a todos os movimentos. Por ser exclusivamente material, o corpo sofre as vicissitudes da matéria. Depois de funcionar por algum tempo, ele se desorganiza e decompõe. O princípio vital, não mais encontrando elemento para sua atividade, se extingue e o corpo morre. O Espírito, para quem, este, carente de vida, se torna inútil, deixa-o, como se deixa uma casa em ruínas, ou uma roupa imprestável. AINDA FALANDO DE DEUS ESPÍRITO E MATÉRIA Partindo do pressuposto de que o mundo deve Ter uma origem e aceitando a idéia de que foi criado por Deus, pois assim o afirmam todos os Espíritos Superiores que se referem ao assunto e que revelam uma sabedoria superior à nossa. O Espiritismo admite que a fonte inicial é uma inteligência cósmica. Seria ilógico, absurdo, supor-mos que essa inteligência da estrutura universal, que se manifesta em minúcias ainda inacessíveis à pesquisa científica, desde as partículas atômicas até aos genes biológicos e seus códigos admiráveis, seja resultado de um simples acaso. A teoria Espírita pode ser resumida neste axioma doutrinário: Não há efeito inteligente sem causa inteligente, e a grandeza do efeito corresponde à grandeza da causa. A relação de Deus com o Universo não é apresentada aqui em termos de mistério, mas de realidade verificável.na Terra o homem representa o ponto culminante do processo evolutivo. A criação do homem à imagem e semelhança de Deus explica-se em termos espirituais. Porque o homem é o único ser terreno que possui mente criadora, pensamento produtivo e contínuo, psiquismo refinado e complexo, capacidade de percepção e de intuição que lhe permitem penetrar na essência das coisas, ultrapassando a aparência ilusória. Feito assim, como um reflexo da divindade, o homem se liga a Deus não apenas pelos laços do ato criador, mas também por afinidade psíquica e espiritual. A relação de Deus com o 4
5 homem começa, portanto muito antes que ele se defina como criatura humana. Desde o momento em que o pensamento de Deus se une à matéria para modelála, e nas fases subseqüentes, em que espírito e matéria se unem nas formas substanciais de que tratou Aristóteles, a relação de Deus com o homem se desenvolve em relação constante. Quando se estrutura a consciência humana no ser em evolução, a marca de Deus ali está presente, na lei de adoração que é o sentimento inato de sua filiação divina e se manifestará no sentimento religioso, base de todas as experiências religiosas da Humanidade. Temos de dividir o conceito de experiência de Deus, em que tanto se apóiam as religiões formalistas, em dois tipos definidos de experiência: a de Deus que começa como elemento ontogênico (elemento constitutivo da própria gênese do homem) e a religiosa, que corresponde a uma tentativa de uma tomada de consciência de Deus através de formulações religiosas por meio de rituais, instituições de igrejas, sistemática litúrgica e sacramental, organização clerical, ordenações e elaboração dogmática. Confundir a experiência genética de Deus com a vivência formal da vivência religiosa é característica do pensamento superficial, que facilmente se acomoda no jogo aparência das instituições humanas. Deus Espírito e Matéria formam o triângulo fundamental de toda a realidade. Compreendendo que Espírito e Matéria são dois elementos estruturais da realidade, compreendemos que Deus esteja presente em todas partículas do Universo, como o poder criador, onisciente, controlador e mantenedor de todo o equilíbrio universal. Deus penetra o mundo e está nele, como a seiva no vegetal, mas não se reduz a ele, pois permanece inalterável como a fonte de que tudo emanou. O físico nuclear Arthur Compton, em seu ensaio sobre o lugar do homem no Universo, dizia: "Descobrimos a energia por trás da matéria, mas já começamos a perceber que por trás da energia existe algo mais, que parece ser pensamento. "A negação de Deus é tão absurda como pretendermos tirar o Sol do Sistema Solar. Descartes Bibliografia: KARDEDC, Allan: O Livro dos Espíritos, 23 a 28; 79 a 82; A Gênese: Cap. XI - 1 a 14; G - FEB. DELLANE, Gabriel: A Evolução Anímica Cap. VI - FEB; PIRES. J. Herculano: Agonia das Religiões Cap.V- Paidéia. 5
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