Salame é salame O executivo pernambucano Marcelo Silva explica o livro Gente Não É Salame que escreveu sobre os recursos humanos das empresas

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1 Ano 5 n o. 56 novembro 2010 R$ 9,00 Litoral Sul Reportagem especial sobre a Região que mais cresce no Estado Eleições Sérgio Buarque e o DNA dos políticos 74 anos depois Salame é salame O executivo pernambucano Marcelo Silva explica o livro Gente Não É Salame que escreveu sobre os recursos humanos das empresas 2010 novembro 1

2 Na Norvidro você encontra qualidade do acabamento à segurança. Maior distribuidora do Norte/Nordeste e com o estoque mais completo da região, a Norvidro garante precisão micrométrica ao seu projeto e vidros com uma alta resistência. Pernambuco: (81) São Paulo: (11) novembro 2010

3 Carta do Editor Leve o coração ao trabalho Um velho ensinamento do mundo dos negócios recomenda que o executivo, antes de sair de casa para trabalhar, deve deixar o coração atrás da porta. Ao longo dos anos, muitos atribuíram o sucesso à capacidade de não se emocionar e se comportar de forma insensível aos sucessos e insucessos dos seus colaboradores. O pernambucano Marcelo Silva, principal executivo do Magazine Luíza, de São Paulo e nosso entrevistado do mês, discorda dessa inflexibilidade. Marcelo fala com a autoridade de quem dedicou 40 anos de sua vida profissional ao exercício dos principais cargos executivos das empresas em que trabalhou. Liderança não se impõe, liderança se conquista, disse ele na entrevista, na sede da Algomais, no princípio de outubro. No ano passado, Marcelo resolveu contar sua experiência num livro intitulado Gente não é salame, cuja terceira edição está para ser lançada. E nele há algo sobre a rotina de sair de casa para o trabalho: Se você se sente mal na hora de sair para o trabalho, repense a vida, pois há algo de errado com sua ocupação. Um conselho, sem dúvida, dirigido também a quem pendura o coração antes de sair de casa para trabalhar. Nesta edição, Francisco Cunha, que participou em outubro da segunda Missão Empresarial da Fecomércio/PE à China, conta como encontrou agora o país depois da crise econômica que obrigou a China a fazer um grande esforço de redirecionar parte do seu potencial produtivo para o mercado interno. Chico nota as diferenças e destaca, no geral, talvez lembrando do oposto Recife, o mesmo cuidado extremo com as áreas públicas que foram construídas e reformadas. E enfatiza uma constatação: Os chineses não estão para brincadeira. O engenheiro Marcos Robalinho recorda em artigo a figura do ex-governador Cid Sampaio, morto em outubro. José Neves Cabral leu a obra-prima de Sérgio Buarque de Hollanda Raízes do Brasil, publicada em 1936, para fazer uma reflexão sobre as eleições parlamentares deste ano. Setenta e quatro anos depois, diz José Neves, o resultado do pleito comprova com a penca de jovens deputados eleitos para o Legislativo que o pensamento de Sérgio Buarque, neste aspecto, continua atual. Caiu bem para o jornalista fazer um belo texto sobre a bancada do DNA e o pensamento de Sérgio Buarque. De fato, 15 dos 49 eleitos para a Assembleia e cinco dos 25 escolhidos para a Câmara Federal são filhos de políticos. Registramos o lançamento do novo CD do Quinteto Violado com músicas de Adoniran Barbosa e Jackson do Pandeiro e, ainda na área de Cultura, lembramos a realização da Fliporto Feira Literária de Pernambuco no curso deste mês, em Olinda. A Fliporto vai homenagear a escritora Clarice Lispector. Quase no fim da edição, Marcelo Alcoforado destaca a figura do fundador do Diario de Pernambuco há 185 anos, Antonino José de Miranda Falcão, que foi membro da revolução de Boa leitura Roberto Tavares Editor Geral Sumário Ano 5 n o. 56 novembro 2010 R$ 9,00 Litoral Sul Reportagem especial sobre a Região que mais cresce no Estado Eleições Sérgio Buarque e o DNA dos políticos 74 anos depois Salame é salame O executivo pernambucano Marcelo Silva explica o livro Gente Não É Salame que escreveu sobre os recursos humanos das empresas 2010 novembro CAPA... 8 Liderança não se impõe, liderança se conquista 1 Edição 56 Circulação 5.novembro.2010 Criação Rivaldo Neto Fotografia da Capa Alexandre Albuquerque Tiragem exemplares Seções Carta do Leitor... 4 Entrevista... 8 Fuxicos Literários De Olho Francamente Pensando Bem João Alberto Palavra do ibef-pe Gestão Mais Comer Bem Economia Memória Pernambucana Última Página Reportagens ARTIGO - Cid Sampaio - o abolicionista do subdesenvolvimento A bancada do DNA e o pensamento de Sérgio Buarque Caminho Aberto Destaque em livro sobre investidores Tecnologia versus trabalho A China três anos depois Sped muda rotina das empresas Quinteto reinventa Adoniran e Jackson Fliporto: literatura aporta em Olinda novembro 3

4 Cartas do Leitor Igreja mais antiga Exmo Sr Editor da Revista Algomais, quando recebi a vossa Algomais de outubro e comecei a ver os artigos nela publicados, deparei com o artigo do Dr. Leonardo Dantas da Silva, A Igreja mais antiga de Pernambuco. Antes mesmo de lê-lo pensei o que seria que o historiador Leonardo Dantas da Silva iria ensinar, porque do assunto ele sabe muito, ou maltratar a verdadeira história da Capitania de Pernambuco. Maltratou: A carta do Foral de Olinda jamais foi outorgada por Duarte Coelho em 12 de março de 1637 porque a única autoridade que podia conceder um foral era o rei de Portugal. Duarte Coelho escreveu uma carta para o Conselho do Ultramar dizendo que doava ao foral o seu termo, que era toda a área compreendida do sitio dos Marcos a norte e no Rio Formoso a sul e para o interior até Caruaru e Garanhuns, território que passaria a ser foreiro do futuro Foral (Município) de Olinda a quem pagariam anualmente o seu foro anual. Só em 1558 Olinda passou a ser Vila com seu foral assinado pela rainha-avó D. Leonor, regente do rei D. Sebastião que na época tinha seis anos. A rainha-avó alterou um pouco o foral concedido escrevendo que as terras conquistadas aos índios seriam de quem as conquistou, mas pagariam o foro por pé quadrado. Um quinto de todos os impostos cobrados seria enviado para o Reino. A primeira nau de açúcar enviada para Portugal foi em 1519 vinda de São Vicente, no Brasil. Podem encontrar sobre este assunto no Museu/Arquivo da Alfândega de Lisboa. Duarte Coelho desembarcou no Sito dos Marcos em 9 de março de 1535 e já encontrou um reduto construído em pedra e argamassa longos terrenos plantados de cana de açúcar. Ele andou dois anos lutando contra os índios e limpando o terreno onde ele queria e fez a capital da capitania no alto de um morro, onde abriu uma praça (hoje o Alto da Sé) construindo primeira igreja de taipa de São Salvador do Mundo. Na Praça da Igreja todas as semanas se fazia um mercado. A primeira igreja construída em pedra e argamassa foi a dos Santos Cosme e Damião, a de Bento foi construída em diversas datas e o Mosteiro começou a ser construído em De certeza sabe-se que foram os primeiros templos a serem queimados pelos invasores flamengos em No livro que o autor do artigo deveria ler, Guia politicamente incorreto da História do Brasil, Leandro Narloch escreve:- pseudos historiadores modificam a história do Brasil por interesses pessoais ou por quem as encomenda.??? Delmar Rosado Lula e Abelardo Algomais excelente em todos os aspectos-reportagens, entrevistas, fotos,seções, apresentação e design gráfico. Também na publicidade de muito bom nível. É um prazer receber, ler e fazer circular entre vários amigos de São Paulo. Neste número desejo destacar um aspecto que a edição de setembro comprova: Pernambuco ainda pouco valoriza seus grandes artistas e personalidades preocupadas em difundir nossa cultura. Lula Cardoso Ayres e Abelardo Rodrigues são excelentes exemplos. Algomais, com sensibilidade e seriedade, trata com imparcialidade este triste aspecto que lamentavelmente ainda existe. Isto mostra a importância e a sempre atualidade do tema e a necessidade de mostrá-lo como uma forma de lutar por uma mudança de postura e comportamento, para o bem de Pernambuco. Tenho conversado com artistas e admiradores das artes e da cultura pernambucana e todos concordam com o apresentado acima. Nelson da Franca Ribeiro dos Anjos Última página Caro espinheirense Francisco Cunha, apesar da sua coluna ser a da última página da revista Algomais, é sempre a primeira que eu leio, porque além de ser a minha predileta você sempre me surpreende, mas na edição de número 55 intitulada As árvores do Espinheiro você superou todas as minhas expectativas, parecia até que tinha sido feita sob encomenda. É que você colocou em palavras um sentimento de um verde contagiante por todas as árvores, em especial, as do Espinheiro. E é por essa bandeira que você bravamente levantou que eu lhe congratulo e me filio, porque coincide com uma causa que nós aqui do Edifício Aquarella, na Rua Conselheiro Portela numero 130 A, defronte da sua antiga residência, temos debatido. Nossa luta é para impedir a derrubada de uma mangueira, que apesar de ter sofrido uma poda drástica há um ano ainda teima em oferecer seus frutos aos moradores inconscientes da sua utilidade e beleza. O motivo que se alega para extirpar a nossa mangueira é uma ação predatória privada, ou seja, reformar a portaria do prédio, que apesar de necessária, é possível ser feita com um projeto de arquitetura que poupe a resistente árvore. Assim, na tentativa de despertar mais uma vez a consciência ambiental dos condôminos do nosso prédio, comunico-lhe que espalhei cópias da sua coluna para todos eles, na esperança de que esse indicador verde aponte para uma alternativa sensata: reformar a portaria do edifício Aquarella com um projeto que preserve a mangueira, para que nossos filhos e netos possam colher frutos espinheirenses. Saudações da espinheirense. Roberta Aragão u 4 novembro 2010

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6 Cartas do Leitor Irmão Orlando I Como ex-aluno Marista e de sua época de ouro, tive o prazer de ler a entrevista com o irmão Orlando, figura humana sem igual. A confraternização de final de ano com os antigos alunos é uma prova de seu prestigio. Voltei ao passado e lembrei de outras pessoas que faziam parte do Marista (Irmãos Turra e Henrique, Alexandre Borges etc). Dê um abraço no Sérgio (grande goleiro e torcedor do Santinha). Parabéns Renato Leal Irmão Orlando II Quero registrar a excelente reportagem O Marista codificou a pedagogia, que além de informar aos que não o conheceram, ressalta o trabalho de visão de futuro que o irmão Orlando implantou no Marista. Não apenas uma visão educacional, mas acima de tudo uma visão social de vida. Como ex aluno Marista, dou testemunho da grande convivência entre direção e alunos. Seu exemplo marcou toda uma geração na qual me incluo. Aprendi naquele colégio os valores de civilidade, patriotismo e humanidade. A alegria de reencontrar irmão Orlando com sua permanente capacidade de transmitir, seu exemplo de educador. Harlan Gadelha Filho Rio/Recife Quem mora no Rio de Janeiro ou já visitou aquela metrópole pode comprovar a beleza do lugar. A limpeza das ruas e a preservação do verde servem de cartão de visita para todo mundo ver. Existiu por parte dos prefeitos que por lá passaram muito respeito e responsabilidade com o patrimônio público, difícil de se ver noutras cidades. É fácil perceber a diferença cultural de um povo a partir do seu relacionamento com a cidade em que vive, o carinho e o cuidado em procurar manter sempre limpas ruas e alamedas sempre verdes. Eu gostaria que os futuros prefeitos do Recife cuidassem de nossa cidade a exemplo dos bairros do Leblon, Ipanema, Jardim Botânico e Arpoador na Cidade Maravilhosa. Se o prefeito João da Costa pudesse caminhar por ruas e avenidas do Rio, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre ou João Pessoa certamente morreria de vergonha por governar uma cidade que se encontra completamente abandonada. O desvelo com a cidade depende muito do grau cultural de quem a dirige. Sei que é demais transformar o Recife num Rio de Janeiro. Mas nunca é vão sonhar com um feliz amanhecer. Luiz Maia Bicicletas Elétricas Chamo-me Cristiano Simião, sou produtor de eventos no Recife pela Cia de Eventos. Estamos neste ano finalizando a produção de um evento intitulado Expoidea, que agregará temas de sustentabilidade, inovação tecnológica e Cultura. Li na Algomais que chegará ao Recife uma iniciativa de chineses que produzem bicicletas elétricas. Vendo a pertinência de participação deles em nosso evento seria possível que nos fossem passadas mais informações sobre o grupo que produz esse produto e se este é parceiro de alguma empresa em nosso estado? Cristiano Simião Poluição Sonora Gostaria de sugerir que essa revista iniciasse uma campanha contra a poluição sonora que está um absurdo! Ninguém aguenta mais aqueles carros com som de doido pela altura que tocam; é só alguém chegar pra beber uma cervejinha, levantar a tampa do carro e tome zoada... Sugiro que o Detran faça blitz do tipo que fazem atualmente sendo que seria para coibir, multar ou até apreender o som do infrator se for o caso. Afinal a lei para isso já existe. Lembro: O SILÊNCIO AJUDA A VIVER! Vicente de Paula Pereira Braga Expediente Av. Domingos Ferreira, 890, sala 803 Boa Viagem Recife/PE Fone: (81) Fax: (81) novembro 2010 Diretoria Executiva Sérgio Moury Fernandes sergiomoury@revistaalgomais.com.br Francisco Carneiro da Cunha franciscocunha@revistaalgomais.com.br Diretoria Comercial Luciano Moura lucianomoura@revistaalgomais.com.br Conselho Editorial Francisco Carneiro da Cunha presidente Luciano Moura Ricardo de Almeida Sérgio Moury Fernandes Doryan Bessa Bruno Queiroz Redação Fone: (81) /4348 Fax: (81) redacao@revistaalgomais.com.br Editor-geral Roberto Tavares robertotavares@revistaalgomais.com.br Editor-executivo José Neves Cabral zeneves@revistaalgomais.com.br Reportagens Ivo Dantas ivodantas@revistaalgomais.com.br Mirela Soane mirela@revistaalgomais.com.br Camila Lindoso camila@revistaalgomais.com.br Fotografia Alexandre Albuquerque (81) Editoria de Arte Adrianna Coutinho adrianna@revistaalgomais.com.br Rivaldo Neto rneto@revistaalgomais.com.br Assinatura assinatura@revistaalgomais.com.br Fone: (81) Publicidade Engenho de Mídia Comunicação Ltda. Av. Domingos Ferreira, 890, sala 808 Boa Viagem Recife/PE Fone/Fax: (81) engenhodemidia@engenhodemidia.com.br Filiada ao Auditada por Os artigos publicados são de inteira e única responsabilidade de seus respectivos autores, não refletindo obrigatoriamente a opinião da revista.

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8 Entrevista Marcelo Silva Liderança não se impõe, liderança se conquista ENSINAMENTO Só podemos valorizar as pessoas quando as colocamos em primeiro lugar, diz Marcelo Silva 8 novembro 2010 Autor do livro sobre o mundo corporativo Gente Não é Salame, o pernambucano e diretor superintendente do Magazine Luiza de São Paulo, Marcelo Silva, 59 anos, se consagrou como um dos grandes executivos da atualidade. Formado em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Marcelo chegou a ser o funcionário mais jovem a ocupar o cargo de gerência na Arthur Andersen, no Recife. Trabalhou mais de 20 anos no Grupo Bompreço e foi superintendente, por seis anos e meio, de uma das maiores redes de varejo do país, a Casas Pernambucanas. O livro, lançado em 2009, é inspirado nas experiências do executivo durante a sua carreira profissional como Chief Executive Officer (CEO), que designa o mais alto cargo executivo de uma organização. Entrevistado pela equipe da Algomais, Marcelo explica a diferença entre ser líder e ser gerente. Para ele, a liderança motiva e inspira e não é autoritária. O executivo conta ainda sobre o modelo de gestão no qual as pessoas estão sempre em primeiro lugar e o atual cenário empresarial Alexandre Albuquerque brasileiro, além das experiências profissionais. Relata também como se deu a transformação de um menino de engenho, de Pernambuco, em um executivo renomado.

9 Algomais Como foi a sua infância como menino de engenho? Marcelo Silva A minha história sempre foi voltada para a cana de açúcar, já que meu pai, Osmar, deixou de cuidar da Usina Catende para ser administrador do Engenho Buriti, onde nasci. Lá foi o lugar onde meu pai enfrentou o desafio de reerguer o engenho. Passou de duas mil toneladas para oito mil. Sempre fui muito ligado aos trabalhadores do engenho, sempre via meu pai tratar todo mundo bem. Foi com ele que aprendi a tratar bem e respeitar as pessoas, procurando ser correto porque isso é uma obrigação e não um favor. Gostaria que ele estivesse presente nos momentos da minha vida, como o lançamento do livro, meu trabalho nas Casas Pernambucanas e no Magazine Luiza. AM Como foi se tornar um grande executivo? MS Hoje posso dizer que sou bem sucedido pela capacidade de aprender com as pessoas que me proporcionavam os ensinamentos da vida, e com os sinais que a vida lhe mostra ao longo do caminho. Um desses sinais foi o de dona Marlene, na época em que trabalhava na diretoria do Bompreço. Certo dia, notei dona Marlene triste e perguntei a minha secretária. Ela então disse que muitos tinham medo de falar comigo, por eu ser linha dura, inflexível e cobrador, por ser o bicho papão do Bompreço. E eu me considerava um diretor super democrata. Comecei prestando atenção nesses sinais. Outro foi na Bahia, como superintendente do Bompreço da região. Nos fins de semana, saía para visitar as lojas com a gerente training acompanhando. Na hora de sair conversei um pouco com ela, perguntei como era a vida dela e o que ela pensava do Bompreço. Ela ficou bastante tocada, e me disse que, durante os cinco anos de empresa, ninguém nunca tinha se preocupado com ela. Uma coisa que aprendi Alexandre Albuquerque foi a diferença entre ser líder e ser gerente. O verdadeiro líder inspira e motiva; o gerente cobra e monitora. AM O senhor conseguiu mudar essa imagem frente aos colaboradores? MS Sim, sem dúvida. Tive uma demonstração disso em março. Em frente à Magazine Luiza, em São Paulo, tem uma Casas Pernambucanas. Quando as vendedoras perceberam que eu estava no Magazine, começaram a acenar para mim. Reconhecimento é o que eu tenho de mais gratificante na vida profissional. Eu as respeito, dou atenção e as trato com carinho. Quando chega algum acionista perguntando como a Casas Pernambucanas passou 10 anos faturando um bilhão de vendas brutas e passou para quatro bilhões, eu respondo: por causa das pessoas. AM O senhor falou entre a diferença de ser líder e ser gerente. O que é mais fácil: tornar um líder em gerente ou o gerente em líder? MS Um líder em gerente. Liderança não se impõe, liderança se conquista. O gerente acha que é o dono de tudo, o poder sobe para a cabeça do ser humano, fazendo as pessoas serem autoritárias. É diferente trabalhar com inspiração e motivação do que trabalhar sendo monitorado. AM É possível ter, dentro de um determinado departamento, um bom gerente que traga resultados financeiros e, ao mesmo tempo, um líder na equipe? Isso dá certo? MS O ideal é transformar esse líder em gerente. Se o setor está funcionando bem com o gerente monitorador, mas tem lá um líder, fica complicado, já que dentro de uma mesma área tem um que realmente lidera e outro que só manda. Acaba criando conflito. Eu acho que todo gerente deveria procurar entender o que é ser um líder e praticar isso. E ser líder é, primeiramente, respeitar todas as pessoas. O segundo ponto é dar atenção a elas. Se você der atenção ao cliente, com certeza 90% dos problemas da loja serão resolvidos. Agora, tratar as pessoas com carinho ninguém resiste. Todo gerente deveria procurar entender o que é ser um líder e praticar isso u 2010 novembro 9

10 AM Como surgiu o nome do livro Gente Não é Salame? MS Certa vez eu estava em uma rodada com um grande banco, e alguém falou sobre alguma área salamizada. Essa expressão existe e quer dizer fundir área com área ou cortar áreas para reduzir custos. Então, certo dia, quando eu ocupava a diretoria do Bompreço, o orçamento não fechava. Aí a primeira medida é cortar o quadro de funcionários. O corte seria de 15%. Isso daria três mil pessoas, mas só poderia cortar 5%. Então vem a questão salamônica : cortar 10%. Primeiramente salamizar 10%, depois mais 10%, e assim vai. Então Emílio Carazzai, que estava presente, perguntou se as pessoas estavam falando de gente ou de salame. Ao invés de procurar aumentar as vendas e ser mais produtivos e inovadores, os administradores querem reduzir os custos. Mas gente não é salame. O título é instigador e causou inquietação e questionamentos, principalmente da minha família. AM Como tem sido a repercussão do livro? MS Em dezembro de 2009, quando foi lançado, a primeira edição vendeu cinco mil exemplares. Já a segunda, cerca de livros. Até o final deste ano a estimativa é vender mais AM No seu livro diz assim: se você se sente mal na hora de sair para o trabalho, repense a vida, pois há algo de errado com sua ocupação. MS Exatamente. As pessoas que passam a semana inteira infelizes transmitem a tristeza no ar. Quando o vendedor está feliz, o cliente vai sempre relacionar o produtor que comprou na loja com o vendedor que o ajudou a comprar. As pessoas detectam isso no clima. Se o gerente não for líder, as pessoas percebem que ali tem algum problema. O gerente vai dizer que o funcionário está com problema de Ao invés de procurar aumentar as vendas e ser mais produtivos e inovadores, os administradores querem reduzir os custos Alexandre Albuquerque produtividade. O líder vai perguntar o que está acontecendo com ele. Só a inteligência emocional fornece essa percepção. AM Já tem outro livro seu a caminho? MS Sim, já está sendo elaborado mentalmente. O Gente Não é Salame é voltado para as pessoas, esse outro terá o foco virado para uma experiência de uma gestão profissional em empresas familiares. Uma coisa é você trabalhar em uma empresa multinacional, outra coisa é em uma empresa familiar de grande porte, que está se profissionalizando. Tem fase que as empresas saem do modelo familiar para o profissional, mas continuam sendo familiares. Vou citar os cuidados que as empresas têm que ter com relação a esse aspecto, além de transmitir para os jovens a experiência que eu adquiri profissionalmente. Será um livro sobre gestão. AM Existem casos de gestão familiar mal sucedida? MS O caso Matarazzo foi um deles. Um império industrial que acabou por conta da gestão profissional na empresa que era famíliar. Às vezes os herdeiros pensam que têm o mesmo talento do fundador ou querem suceder o pai só por ser filho. Mas nem sempre é assim, e é aí que mora o perigo. Ter uma empresa com gestão profissional e ser familiar é muito difícil. AM A Magazine Luiza é uma empresa familiar com gestão profissional? MS Sim. Luiza Helena Trajano é a presidente. Ela cuida da instituição como representante, respondendo pela empresa perante o cliente e os colaboradores. Ela criou a diretoria executiva, na qual eu sou o superintendente, e delegou pra mim a responsabilidade de operar a empresa. AM Algumas empresas são bastante criticadas pela precariedade no atendimento aos clientes. Por que isso acontece? MS É tudo uma questão de foco. Se meu foco é atender o cliente, então muitas vezes tomo uma decisão que vai contra os resultados. Se meu foco for os resultados, eu vou consegui-los mesmo que seja em detrimento do cliente ou do funcionário. Você não consegue atender o cliente se você não levar os colaboradores em consideração. Primeiro tem que vir os colaboradores, como consequência os clientes. AM Muitas indústrias estão surgindo em Pernambuco. Qual é o balanço que o senhor faz com relação à nova economia e a questão da mão de obra? MS As empresas estão trazendo muitas pessoas de fora, já que não tivemos tempo de prepará-las. Isso 10 novembro 2010

11 porque as pessoas não estão em primeiro lugar. As empresas crescem e o desenvolvimento dos colaboradores não é prioridade, mas, sim, a loja, O estaleiro e o parque industrial. O crescimento da empresa está diretamente relacionado ao desenvolvimento dos funcionários. Futuramente, Pernambuco, assim como o Brasil, terá problemas de mão de obra. Além disso, nunca existiu uma visão estratégica de desenvolvimento das pessoas no país. O Brasil vai ter que dar prioridade à educação, porque vai precisar. AM Os problemas na administração pública, neste caso, estão relacionados à ideia do foco nos resultados? MS Assim como os empresários focam nos resultados, olhando para os produtos e não dando a mesma ênfase para os colaborados, no serviço público não é diferente. A educação não se mede nem se mostra. O Brasil tem que colocar a educação como número um; já a saúde, em número dois. Porque se a população tem educação, vai diminuir os problemas de saúde. As empresas investem em instalações e equipamentos, mas na hora de destinar verba para o desenvolvimento dos funcionários acham que é despesa. Mas isso é investir no patrimônio real da empresa, que são os colaboradores. O problema é que a máquina nós podemos enxergar, o treinamento não. AM Os jovens inseridos no mercado de trabalha estão entrando com uma visão de líder ou de gerente? MS Hoje em dia, o acesso à informação está cada vez maior. Os jovens começam a demandar mais dos gerentes e diretores para que eles sejam lideres. A relação começa a mudar. Os jovens estão se sentindo mais a vontade para falar e expor as opiniões. Isso vai exigir uma mudança de comportamento Alexandre Albuquerque dos diretores e gerentes. AM Muitas empresas apresentam a questão de valorização do capital humano, mas, na prática, não vemos isso. MS Esse é o problema. É melhor não divulgar uma coisa que não é praticada. Fazer de conta que valoriza sem realmente praticar essa valorização, é querer fazer frente. Recomendo não fazer isso, porque as pessoas percebem que não é verdadeiro e saem mesmo. Só podemos valorizar as pessoas quando as colocamos em primeiro lugar. AM Como é essa questão dos profissionais denominados ficantes, no qual o funcionário começa em uma empresa e depois vai para outra? MS As empresas devem começar a se preocupar com os programas de retenção dos funcionários. A previsão é que haja migração dos jovens e dos maduros de empresa para empresa. O primeiro item de retenção é o respeito, a atenção e o carinho, para o funcionário se sentir valorizado. Depois, os benefícios, que não podem deixar de ter, já que as principais empresas competidoras têm. Em terceiro, o programa de retenção mais especifico, como a participação nos Alexandre Albuquerque lucros. O funcionário começa a perceber que a empresa está se preocupando com o bem-estar dele, bem como o ambiente de trabalho. É o somatório de tudo isso que faz reter as pessoas. AM Como é a sua rotina hoje? MS Eu leio jornais diariamente. Sempre assisto os jornais televisivos também. Gosto de chegar cedo ao escritório, assim posso estruturar minha rotina e ver meus compromissos com calma. Atendo todas as pessoas que me procuram por ou telefone. Recentemente li um livro de Michael Johnson, uma história de superação dos obstáculos. Gosto de ler livros de administração. As empresas investem em instalações e equipamentos, mas na hora de destinar verba para o desenvolvimento dos funcionários acham que é despesa *Participaram da entrevista: Camila Lindoso, Mirela Soane, Ivo Dantas, José Neves Cabral e Roberto Tavares 2010 novembro 11

12 Fuxicos Literários Em depoimento prestado à revista Pressão, Walter Silva nos conta episódio passado entre Antônio Maria e Ary Barroso, dois gigantes da música brasileira. Era notório que os dois não se amavam, Maria acusando Ary de só fazer músicas patrioteiras, sambas militares etc. e Ary nunca o perdoando por aquilo. Até que Ary caíra gravemente doente e Antônio Maria fora visitá-lo, disposto a se reconciliar com o rival no hospital. O diálogo teria sido o seguinte: Ary, vim trazer minha solidariedade a você. Obrigado, Maria. Você me faria o favor de cantar Aquarela do Brasil para mim? Claro, Ary (e Maria cantou, sem qualquer erro, do começo ao fim, a quilométrica letra). Obrigado, Antônio. Agora me pede para cantar Ninguém me ama para você. Claro, Ary, cante para mim Ninguém me ama, por favor. E Ary, doente mas ainda cruel: Não sei a letra, Antônio. Dois dias depois, Ary morria. Naquele mesmo ano, 1964, também morreria, aos 43 anos de idade, Antônio Maria Araújo de Moraes, o Tomba, um dos grandes boêmios do Recife dos anos quarenta. * * * Manuel Bandeira, nosso poeta maior, tinha suas vaidades, entre elas, apesar de fisicamente não ser bem aquinhoado, a de gostar de ser fotografado e receber homenagens. Confessou, certa vez, não ser homem de recusar elogios: Eles (os elogios) fazem bem à alma e ao corpo: as melhores digestões da minha vida são as dos jantares em que sou homenageado. Uma vez, presidindo a Comissão de Justiça, quando um colega dera parecer favorável a um projeto por ele considerado ruinoso ao interesse público, Agamenon não teve dúvida. Concluída a leitura do parecer, em vez de colocá-lo em votação, anunciou: O deputado tal pediu vista. Quem, eu? perguntou, atônito, o deputado em causa. Sim, Vossa Excelência respondeu Agamenon, e, de imediato, deu por encerrada a sessão. * * * Agamenon Magalhães era professor de Geografia no Ginásio Pernambucano. Um dia, à entrada da sala de aula, quando saía Francisco Cabral de Melo, que lecionava Francês, o China Gordo (como o apelidara o poeta Manuel Bandeira) pilheriou: Com o seu Francês, Francisco, esses meninos vão se perder na França. Em cima da bucha, a resposta: Não há perigo, Agamenon. Com sua Geografia, eles não chegam lá. * * * Sobre o jornalista Mário Melo, um episódio que retrata a cidade maravilhosa que era o Recife do século passado. Quando do aniversário do tricentenário da Restauração Pernambucana, a Prefeitura do Recife encomendou ao artista Abelardo da Hora, um painel que homenageasse as figuras de Henrique Dias, Fernandes Vieira e Felipe Camarão. O trabalho, em cimento, foi colocado na Pracinha do Diario, mas não caiu no gosto popular. Os comentários eram de que as figuras eram grandes demais, suas fisionomias muito duras e inexpressivas, e outras coisas mais, e logo elas foram apelidadas de Os monstrengos da Pracinha, a que muitos chamavam, também, de Vicente, Caiçara e Lula, o famoso trio defensivo do Clube Náutico Capibaribe. Rostand Paraíso rparaiso@rhp.com.br Mário Melo também não gostara da alegoria e passou a criticá-la abertamente, sendo raro o dia em que não tecia algum comentário sobre a má homenagem prestada àqueles grandes herois da luta contra o invasor holandês. Certa noite, já entrando pela madrugada, uma caminhonete encostou na Pracinha, junto ao monumento. Parecendo, aos que ali se encontravam, tratar-se de uma ação da Prefeitura, várias pessoas, num esforço conjugado, colocaram, dentro dela, Felipe Camarão, e foram depositá-lo, noutra enorme trabalheira, na calçada defronte à casa de Mário Melo, na esquina da Rua da Hora com a Santo Elias, onde Camarão, de pé, parecia esperar providências de sua parte. Propositadamente, os autores da brincadeira fizeram tal alarde que o jornalista, afinal, acordou, e, preocupado, acendeu as luzes para verificar de que se tratava. Vendo o monstrengo ali colocado, telefonou, de imediato, para a Rádio Patrulha que, chegando ao local, colocou, a muito custo, Camarão numa viatura e o levou para a Delegacia de Ordem Social, depositando-o no seu famoso buque. No dia seguinte, com a foto do heroi depositado num banco do buque, o Diário da Noite noticiava a sua detenção, estampando, para delícia dos seus leitores, a extraordinária manchete: Preso Felipe Camarão! * * * No palanque, já cansado com os muitos discursos proferidos por seus correligionários, Agamenon perdeu a paciência quando um deles puxou do paletó um avantajado pronunciamento. Foi rápido, tomou-lhe o discurso e o pôs no bolso: Me dê, que eu leio depois, com calma. 12 novembro 2010