Mecanismos de Financiamento ao Comércio Exterior: Uma análise das Empresas Exportadoras do Nordeste Brasileiro
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1 FACULDADE BOA VIAGEM Centro de Pesquisa e Pós-graduação em Administração - CPPA Mestrado em Administração Mecanismos de Financiamento ao Comércio Exterior: Uma análise das Empresas Exportadoras do Nordeste Brasileiro Francisco Carlos Cavalcanti Recife PE 2008
2 FRANCISCO CARLOS CAVALCANTI Mecanismos de Financiamento ao Comércio Exterior: Uma análise das Empresas Exportadoras do Nordeste Brasileiro Dissertação apresentada como requisito complementar para obtenção do grau de Mestre em Administração do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração CPPA da Faculdade Boa Viagem. Orientador: Prof. Olímpio José de Arroxelas Galvão PhD Recife PE 2008
3 FRANCISCO CARLOS CAVALCANTI Mecanismos de Financiamento ao Comércio Exterior: Uma análise das Empresas Exportadoras do Nordeste Brasileiro Dissertação apresentada como requisito complementar para obtenção do grau de Mestre em Administração do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração CPPA da Faculdade Boa Viagem. Aprovado em: / / BANCA EXAMINADORA Prof. Olímpio José de Arroxelas Galvão PhD Orientador Prof. José Raimundo Vergolino PhD Membro Interno Prof. Saumíneo da Silva Nascimento Dr. Membro Externo
4 AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, agradeço a Deus a oportunidade de existir e poder realizar grande sonho de vida. Faço um agradecimento a todos os meus familiares e, em especial, à minha esposa, Ana Paula, pela paciência e apoio durante todo o caminho percorrido, do início ao término do curso, assim como ao meu filho, Paulo Vitor, por entender as ausências momentâneas do pai. Agradeço, de forma especial, à Diretoria do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), empresa onde trabalho, por ter-me facultado o privilégio de participar deste curso de mestrado, apoiando-me de forma incondicional. Também, sou grato a todos os colegas do BNB lotados nas Superintendências Estaduais dos Estados do Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, pelo apoio no envio e coleta dos questionários da pesquisa de campo. Aos colegas da Superintendência Estadual do BNB, na Paraíba, meus sinceros agradecimentos, de modo especial aos colaboradores Artur, Cris Anderson, Izidro, Geraldo Fidelis, Edilúcio, Wagner e Emiliane, que sempre estiveram presentes na construção do presente trabalho. Expresso minha gratidão a todos os professores do Mestrado Augusto, Vergolino, Olímpio, Fernando, James e André Leão pelo excelente nível de ensinamento externado em suas aulas, ao corpo diretivo do Curso, nas pessoas dos professores Walter e Sônia Calado, pela condução do programa, e, também, à Secretaria, através da colega Albina, sempre disponível para colaborar no atendimento às nossas demandas. Externo meus sinceros agradecimentos a todos os colegas do Curso de Mestrado da Faculdade Boa Viagem (FBV), pela convivência fraterna em todo esse período e, de modo especial, aos amigos Paulo, Hélio, Demetrius, Roberta e Suellen que, durante essa trajetória,
5 construíram um relacionamento harmonioso, transformando-se de simples colegas em efetivos membros de uma família unida. Faço um agradecimento especial ao meu orientador, professor Olímpio Galvão que, através dos ensinamentos e, principalmente, das palavras de incentivo e apoio durante todo o transcorrer do curso, de forma mais direta, no período de construção e conclusão da dissertação, exerceu um papel determinante na consecução do meu objetivo. Por fim, deixo aqui meu agradecimento a todos aqueles que, de forma direta ou indireta, estiveram presentes nessa minha jornada, torcendo e vibrando com a minha conquista.
6 RESUMO Esta dissertação apresenta uma abordagem acerca do papel exercido pelos mecanismos de financiamento à exportação, analisados enquanto suporte às empresas exportadoras do Nordeste brasileiro. Neste contexto, procurou enfatizar o tema e, para tanto, partiu de um relato sobre o histórico do regime cambial brasileiro para chegar ao entendimento dos instrumentos de apoio financeiro à exportação disponíveis no mercado. Verificou também o nível de utilização das principais linhas existentes, bem como a apresentação de mecanismos garantidores e de seguro de crédito, criados com o objetivo de incentivar a demanda por créditos à exportação. Como produto deste trabalho, foi realizada pesquisa de campo que envolveu uma amostra representativa de empresas exportadoras do Nordeste brasileiro. Dessa amostra foram inferidas situações que identificam o nível de conhecimento dos mecanismos de crédito à exportação existentes e o grau de utilização desses mecanismos. O trabalho sinaliza, enfim, que os produtos existentes não estão adequados às necessidades apresentadas pelas empresas exportadoras do Nordeste brasileiro e que a simples oferta de mecanismos de financiamento à exportação, apesar de necessária, não é suficiente para o incremento do comércio exterior. Palavras-chave: Financiamento à exportação, empresas exportadoras nordestinas.
7 ABSTRACT This dissertation shows an approach about the role of the exportation s financing mechanisms, verified as a support to the Brazilian s northeast export companies. In this context, was highlighted the theme, and, although, it came from a historic account from Brazil s exchange regime to understand about the financial support instruments to the exportation available in the market. Was verified, the level of utilization of the main existent lines, also the presentation of mechanisms that assure, and, credit insurances. Those were created as an incentive for the search of exportation credits. As a part of this dissertation, a research in the area that involved a representative sample from some Brazilian s northeast export companies. From this sample were inferred situations that identify the knowledge s level about the credit s mechanisms related to the existent exportations and the level of utilization of these mechanisms. The research shows that the products that already exist are not adequate to the shown needs of the Brazilian s northeast export companies and that the simple fact that exportation s financing mechanisms even though is something necessary, isn t enough for the increment of the foreign trade. Key Words: Exportation s financing, northeast export companies.
8 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 EXPORTAÇÕES MUNDIAIS Evolução (Em US$ bilhões)...13 Gráfico 2 EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS Evolução (1999 a 2007)...14 Gráfico 3 PARTICIPAÇÃO DOS PAÍSES NAS EXPORTAÇÕES TOTAIS DO MUNDO...15 Gráfico 4 EXPORTAÇÕES NORDESTINAS Evolução (1999 a 2007)...16 Gráfico 5 EXPORTAÇÕES DO NORDESTE Por Estado (Em US$ milhões)...16 Gráfico 6 BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA - Evolução (1999 a 2007)...23 Gráfico 7 EXPORTAÇÕES CONTRATADAS X CRÉDITOS À EXPORTAÇÃO...25 Gráfico 8 Evolução dos Valores contratados em Exportação...56 Gráfico 9 Evolução das exportações contratadas X Desembolsos do BNDES à exportação...57 Gráfico 10 EMPRESAS EXPORTADORAS PESQUISADAS (Em %) - Por porte...76 Gráfico 11 LINHAS DE FINANCIAMENTO Nível de utilização...78 Gráfico 12 LINHAS DE FINANCIAMENTO Utilização por porte de Empresas...78 Gráfico 13 LINHAS DE FINANCIAMENTO Perfil de utilização...79 Gráfico 14 LINHAS DE FINANCIAMENTO - Nível de importância para as Empresas...80 Gráfico 15 LINHAS DE FINANCIAMENTO Razão de não utilização de outro tipo...80 Gráfico 16 OPORTUNIDADES DE FINANCIAMENTO faixas de valores (Em %)...81 Gráfico 17 PONTOS CRÍTICOS Visão das empresas exportadoras...82 Gráfico 18 ACESSO ÀS INFORMAÇÕES SOBRE MECANISMOS DE FINANCIAMENTO...82
9 LISTA DE TABELAS Tabela 1 NÚMERO DE EMPRESAS EXPORTADORAS - Por Estado e Volume de Exportação...70 Tabela 2 DISTRIBUIÇÃO DAS EMPRESAS Por Unidade da Federação...75 Tabela 3 DISTRIBUIÇÃO DAS EMPRESAS Por Setor de Atividade...75 Tabela 4 PARTICIPAÇÃO DAS EMPRESAS AVALIADAS Por porte e Estado...76 Tabela 5 FREQUÊNCIA DE EXPORTAÇÃO Por nível...77 Tabela 6 PERFIL DAS EMPRESAS Presença de Especialista em Comércio Exterior...77 Tabela 7 MECANISMOS DE FINANCIAMENTO À EXPORTAÇÃO Nível de conhecimento e utilização (Em %)...83 Tabela 8 MECANISMOS DE FINANCIAMENTO Nível de Conhecimento (Por porte Em % - dentre as empresas que utilizam algum tipo de financiamento)...84 Tabela 9 MECANISMOS DE FINANCIAMENTO Nível de Conhecimento (Por freqüência nas exportações Em % - dentre as empresas que utilizam algum tipo de financiamento)...85 Tabela 10 MECANISMOS DE FINANCIAMENTO Nível de utilização (Por porte Em % - dentre as empresas que utilizam algum tipo de financiamento)...86 Tabela 11 MECANISMOS DE FINANCIAMENTO Nível de utilização (Por freqüência nas exportações Em % - dentre as empresas que utilizam algum tipo de financiamento)...87
10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO CONTEXTUALIZAÇÃO PERGUNTA DE PESQUISA JUSTIFICATIVA / MOTIVAÇÃO OBJETIVOS DA PESQUISA Geral: Específicos: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA REGIME CAMBIAL BRASILEIRO ENTENDENDO OS MECANISMOS DE FINANCIAMENTO À EXPORTAÇÃO MECANISMOS DE FINANCIAMENTO ÀS EXPORTAÇÕES DISPONÍVEIS NO MERCADO UTILIZAÇÃO DOS MECANISMOS DE FINANCIAMENTO À EXPORTAÇÃO GARANTIAS / SEGUROS DE CRÉDITO COMO LASTRO DOS MECANISMOS DE FINANCIAMENTO À EXPORTAÇÃO Cartas de Crédito (Pós-embarque) Fundo de Garantia para a promoção da competitividade (FGPC) - Préembarque e Pré-embarque Especial Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos (CCR) (Pós-embarque) Seguro de Crédito (Pré e Pós-embarque) Fundo de Garantia à Exportação (FGE) METODOLOGIA DELINEAMENTO DA PESQUISA POPULAÇÃO E AMOSTRA COLETAS DE DADOS Instrumento Processo MÉTODOS DE ANÁLISE LIMITES E LIMITAÇÕES...73
11 3.5.1 Limites Limitações RESULTADO E ANÁLISE DOS DADOS OBJETIVOS ESPECÍFICOS X PESQUISA Pesquisar o nível de conhecimento sobre os mecanismos de financiamento existentes e que podem ser utilizados pelas empresas Identificar pontos fortes e fracos, na visão da classe empresarial pesquisada, sobre os instrumentos de financiamento à exportação Analisar as sugestões de melhoria e criação de novos instrumentos de suporte ao comércio exterior que se coadune com as condições e exigências impostas pelo mercado atual OBJETIVO GERAL X PESQUISA Investigar se os mecanismos de financiamento disponibilizados no mercado estão atendendo às necessidades das Empresas Exportadoras do Nordeste Brasileiro CONCLUSÕES E SUGESTÕES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APÊNDICE QUESTIONÁRIO DA PESQUISA...101
12 12 1 INTRODUÇÃO 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO O processo de globalização tem-se apresentado como um grande instrumento de interação entre a população do mundo contemporâneo, tanto no aspecto cultural quanto no aspecto econômico-financeiro. A dinâmica preconizada a partir dos primeiros passos da globalização trouxe mudanças nos diversos segmentos da sociedade humana, sejam elas nos aspectos e dimensões culturais, organizacionais, políticas, comerciais e financeiras. No contexto sócio-econômico, Prado (2001) relata que a globalização pode ser entendida como o processo de integração de mercados domésticos na formação de um mercado mundial integrado. O argumento de Prado (2001) reside na divisão da globalização em três processos distintos que têm ocorrido ao longo dos últimos 20 anos. Esses processos são: a expansão extraordinária dos fluxos internacionais de bens, serviços e capitais; o acirramento da concorrência nos mercados internacionais; e a maior integração entre os sistemas econômicos nacionais. Em relação aos fluxos internacionais de bens, serviços e de capitais, pode-se afirmar que o mundo experimentou, principalmente a partir da década de 80, uma verdadeira revolução em termos de crescimento. O processo de globalização é considerado o grande responsável por tal incremento. O Gráfico 1 demonstra a evolução das exportações mundiais entre os anos de 1950 e 2007.
13 13 EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES MUNDIAIS (Em US$ bilhões) Valores em US$ bilhões ANO Gráfico 1 EXPORTAÇÕES MUNDIAIS Evolução (Em US$ bilhões) Fonte: MDIC (2008) - Elaboração do autor Segundo os dados mais recentes do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), as exportações no mundo atingiram, em 2006, a cifra de US$ 11,920 trilhões, o que representa um incremento de 113,5% quando comparado aos US$ 5,583 trilhões observados em Em relação ao Brasil, os números sobre a exportação de seus produtos e serviços mostram que o país vem expandindo, significativamente, o seu volume de negócios com o exterior. De 1999 para 2007, as exportações brasileiras saltaram dos US$ 48,0 bilhões para US$ 160,6 bilhões, o que representa um crescimento de aproximadamente 235% em nove anos, enquanto o crescimento mundial, neste mesmo período, atingiu o patamar de 143% - US$ trilhões em 1999 e US$ trilhões em 2007 (previsão do FMI, out / 2007). O Gráfico 2 mostra a curva de crescimento das exportações brasileiras entre os anos de 1999 e 2007.
14 14 EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS (Em US$ bilhões) Valores em US$ bilhões 180,0 160,0 140,0 120,0 100,0 80,0 60,0 40,0 20,0 0,0 160,6 137,5 118,3 96,5 73,1 48,0 55,1 58,2 60, ANO Gráfico 2 EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS Evolução (1999 a 2007) Fonte: MDIC (2008) Elaboração do autor Em que pesem os números otimistas apresentados pelo Brasil, a sua corrente de comércio exterior, que representa o somatório de tudo realizado pelo país em exportações e importações, ainda se apresenta bastante inexpressiva, quando comparada ao total de negócios realizados no comércio internacional, sob a ótica mundial. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a corrente de comércio exterior brasileira ainda situa-se no patamar de 1% sobre a mundial. O Brasil, em 2006, registrou uma cifra de US$ 234 bilhões, enquanto que o comércio mundial alcançou o montante de US$ 24,555 trilhões. É importante frisar que, mesmo observando a expansão de seus negócios no comércio internacional, o Brasil encontra-se distante de países como os Estados Unidos que, somente no mês de fevereiro de 2005, exportaram U$ 100,48 bilhões. Segundo dados publicados no relatório anual da Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2006, o Brasil obteve um crescimento da ordem de 4% em suas exportações, comparado ao ano de 2005, percentual este inferior a elevação experimentada pelo comércio
15 15 mundial, que alcançou o patamar de 8%. Esta diferença representou a queda da 23ª para a 24ª posição no ranking dos países exportadores mundiais, no qual a Alemanha desponta em primeiro lugar, seguida por Estados Unidos e China (CHADE, 2007). O Gráfico 3 abaixo mostra a participação dos países nas exportações totais do mundo, com posição em PARTICIPAÇÃO DOS PAÍSES NAS EXPORTAÇÕES TOTAIS DO MUNDO (Em 2005) 9,30% 53,60% 8,70% 3,90% 3,60% 3,50% 7,30% 5,70% 4,40% Alemanha Estados Unidos China Japão França Holanda Reino Unido Itália Outros países Gráfico 3 PARTICIPAÇÃO DOS PAÍSES NAS EXPORTAÇÕES TOTAIS DO MUNDO Fonte: Relatório OMC (2006) Elaboração do autor Em consonância com os números de exportação apresentados pelo Brasil, a região Nordeste mostra, também, uma evolução. O montante de negócios firmados com o exterior alcançou, em 2007, a cifra de US$ 13,086 bilhões, o que representa um crescimento de aproximadamente 290% quando comparado aos US$ bilhões realizados em O gráfico 4 representa a curva de evolução das exportações da região Nordeste entre os anos de 1999 e 2007.
16 16 EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES NORDESTINAS (Em US$ bilhões) Valores em US$ bilhões 14,0 12,0 10,0 8,0 6,0 4,0 2,0 3,4 4,0 4,2 4,7 6,1 8,0 10,6 11,6 13,1 0, ANO Gráfico 4 EXPORTAÇÕES NORDESTINAS Evolução (1999 a 2007) Fonte: MDIC (2008) Elaboração do autor Internamente, o Nordeste ainda apresenta disparidades econômicas intra-regionais, o que resulta em baixo relacionamento negocial, por parte de alguns de seus Estados, com o exterior. Como pode ser observado no Gráfico 5, o Estado da Bahia foi responsável, em 2007, por quase 57% do total das exportações da região. EXPORTAÇÕES DO NORDESTE - POR ESTADO (Em 2007) ALAGOAS BAHIA CEARÁ MARANHÃO PARAÍBA PERNAMBUCO PIAUI R.G.DO NORTE SERGIPE Gráfico 5 EXPORTAÇÕES DO NORDESTE Por Estado (Em US$ milhões) Fonte: MDIC (2008) Elaboração do autor
17 17 As exportações nordestinas representam cerca de 8% das exportações totais do Brasil, conforme números divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Segundo Fontenele e Melo (2007), as exportações nordestinas, relativas às brasileiras, começam a esboçar comportamento ascendente a partir de 2001, levando a que, no período recente (1997 a 2004), seja evidenciado um aumento de quase 12% nessa participação. Ainda, segundo Fontenele e Melo (2007), a pauta de exportações nordestinas em 2004, pela ótica das contas nacionais, caracteriza-se por forte concentração nos bens intermediários (62,15%), sobretudo insumos industriais, seguidos dos bens de consumo (25,63%), destacando-se os bens de consumo não duráveis. Segundo Galvão e Vergolino (2004), as relações de comércio do Brasil com o exterior, o país, e a região Nordeste ainda mais, registram, nos dias atuais, reduzido coeficiente de abertura de suas economias ao exterior. O grau de abertura da economia nacional e regional, todavia, era, até a primeira metade do século passado, muito mais elevado. A relativamente drástica introversão, ainda conforme Galvão e Vergolino (2004), que ocorreu na economia do país é revelada pelo fato de que a relação exportações / PIB chegou a alcançar um valor próximo dos 25%, por volta dos anos de 1930, em contraste com menos de 10% observado no início do novo milênio. Nesse contexto, verifica-se que o Brasil e, principalmente a região Nordeste, ainda precisa melhorar o seu desempenho enquanto proponente exportador. Vale salientar que, nas últimas quatro décadas, o governo brasileiro, na busca por elevação do percentual de participação no comércio internacional, estabeleceu um conjunto de ações e medidas voltadas para tal objetivo, dentre as quais destacamos: A implantação, a partir da década de 60, de regime especial aduaneiro, contemplando as seguintes modalidades (REGIMES ADUANEIROS ESPECIAIS, 2008): 1. Admissão Temporária
18 18 É o regime que permite a importação de bens que devam permanecer no país durante prazo fixado, com suspensão de tributos, retornando ao exterior, sem sofrer modificações que lhes confiram nova individualidade; 2. Depósito Aduaneiro de Distribuição - DAD Permite, mediante termo de responsabilidade, o entrepostamento de mercadorias estrangeiras importadas sem cobertura cambial e destinadas à exportação, à reexportação para terceiros países e a despacho para consumo; 3. Depósito Afiançado DAF O DAF permite a estocagem, com suspensão do pagamento de impostos, de materiais importados sem cobertura cambial, destinados à manutenção e ao reparo de embarcação ou de aeronave pertencentes à empresa autorizada a operar no transporte comercial internacional; 4. Depósito Alfandegado Certificado DAC O regime de DAC permite considerar exportada, para todos os efeitos fiscais, creditícios e cambiais, a mercadoria nacional depositada em recinto alfandegado, vendida à pessoa sediada no exterior, mediante contrato de entrega no território nacional e à ordem do adquirente; 5. Depósito Especial DE Permite a estocagem de partes, peças e materiais de reposição ou manutenção, com suspensão do pagamento de imposto, para veículos, máquinas, equipamentos,
19 19 aparelhos e instrumentos, estrangeiros, nacionalizados ou não, nos casos definidos pelo Ministro da Fazenda; 6. Depósito Franco Permite, em recinto alfandegado, a armazenagem de mercadoria estrangeira para atender ao fluxo comercial de países limítrofes com terceiros países. O regime de depósito franco será concedido somente quando autorizado em acordo ou convênio internacional firmado pelo Brasil; 7. Drawback O regime aduaneiro especial de drawback consiste na suspensão ou eliminação de tributos incidentes sobre insumos importados para utilização em produto exportado. O mecanismo funciona como um incentivo às exportações, pois reduz os custos de produção de produtos exportáveis; 8. Entreposto Aduaneiro O regime de entreposto aduaneiro é o que permite, na importação e na exportação, o depósito de mercadoria, em local determinado, com suspensão do pagamento de tributos e sob controle fiscal; 9. Entreposto em Plataformas O regime de entreposto aduaneiro aplicado à construção ou conversão das plataformas poderá ser aplicado aos materiais, partes, peças e componentes a serem utilizados na construção ou conversão dos bens, com suspensão dos impostos incidentes na importação e do IPI;
20 Exportação Temporária É o regime que permite a saída, do país, com suspensão de imposto de exportação, de mercadoria nacional ou nacionalizada, condicionada à reimportação em prazo determinado, no mesmo estado em que foi exportada; 11. Linha Azul O Linha Azul é um regime aduaneiro que, sem comprometer os controles, reduz o tempo das liberações das mercadorias de empresas que operem no comércio exterior mediante a racionalização da movimentação da carga, nas operações de importação, exportação e de trânsito aduaneiro; 12. Loja Franca Permite a estabelecimento instalado em zona primária de porto ou de aeroporto alfandegado vender mercadoria nacional ou estrangeira a passageiro em viagem internacional, contra pagamento em cheque de viagem ou em moeda estrangeira conversível; 13. Recof O RECOF é um Regime Especial criado pela Receita Federal que permite, dentre outras coisas, que os insumos da produção sejam importados com suspensão de II, IPI e PIS/Cofins. Permite ainda que os insumos adquiridos no mercado interno tenham suspensão de IPI;
21 Recom O regime aduaneiro especial de importação de insumos, destinados a industrialização por encomenda de produtos classificados nas posições 8701 a 8705, da Nomenclatura Comum do Mercosul (RECOM), é o que permite a importação de chassis, carroçarias, peças, partes, componentes; 15. Repetro O regime aduaneiro especial de exportação e de importação de bens destinados às atividades de pesquisa e de lavra das jazidas de petróleo e de gás natural (Repetro), previsto na Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997; 16. Repex O regime aduaneiro especial de importação de petróleo bruto e seus derivados (Repex) é o que permite a importação desses produtos, com suspensão do pagamento de impostos, para posterior exportação, no mesmo estado em que foram importados; 17. Trânsito Aduaneiro O regime especial de trânsito aduaneiro é o que permite o transporte de mercadorias, sob controle aduaneiro, de um ponto a outro do território aduaneiro, com suspensão de tributos; A criação, ainda na década de 60, de uma linha de crédito para capital de giro (FUNDECE), como medida de suporte ao financiamento do comércio exterior; A implantação de uma linha de crédito pré-embarque à exportação (FINEX); e
22 22 Redução de impostos como o antigo Imposto sobre Circulação de Mercadorias - ICM, posteriormente substituído pelo Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS e o Imposto sobre produtos industrializados - IPI. Surgimento da figura jurídica das Trading Companies, através do Decreto-Lei 1.248, de 29 de novembro de 1972, posteriormente modificado pelo Decreto-Lei , de 26 de fevereiro de 1973, e pela Portaria nr. 13 do Ministério da Fazenda, de 14 de junho de No Brasil, a legislação das trading companies foi criada pelo governo de forma objetiva nos moldes da legislação japonesa e americana. Porém diferentemente dos EUA e Japão, onde a presença de trading company é numerosa e atua intensamente no desenvolvimento econômico desses países, aqui ela demorou a deslanchar devido aos erros de conceituação e compreensão de seu papel e não conseguindo ter uma representatividade expressiva no cenário econômico (GRISI, 2003). As empresas comerciais exportadoras e trading companies são utilizadas como intermediárias na representação e comercialização de produtos entre Brasil e o exterior. Elas atuam como consultoras na área de comércio exterior, tanto em relação a aspectos legais de exportação, quanto nos estudos de mercado, viabilidade econômica e a inserção de produtos nos diversos mercados internacionais. Essas Empresas podem servir de canal de acesso das micro e pequenas empresas ao comércio internacional, principalmente em decorrência destas não possuírem estrutura logística, departamento capacitado ou até mesmo pela dificuldade ao acesso dos programas de incentivo à exportação do governo e de iniciativas privadas. Entre 1995 e 1998, principalmente em decorrência das medidas de política cambial implementadas, o Brasil experimentou um período de déficits sucessivos na balança comercial. Segundo Pinheiro (2002), com o objetivo de compensar o viés anti-exportador da
23 23 política cambial e, por conseguinte, amenizar os resultados negativos da balança comercial, o país realizou algumas tentativas mais ou menos bem-sucedidas, como a maior desoneração tributária e a ampliação do crédito às exportações. Já a partir de 1999, convivendo sob a égide de uma política de câmbio flutuante, o Brasil começou a apresentar melhores resultados na balança comercial, obtendo o primeiro superávit em O Gráfico 6 mostra a evolução do saldo da balança comercial brasileira de 1999 a EVOLUÇÃO DO SALDO DA BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA Valores em US$ bilhões ,8 46,1 40,0 33,7 24,8 13,1 2,7-1,3-0, ANO Gráfico 6 BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA - Evolução (1999 a 2007) Fonte: MDIC (2008) - Elaboração do autor Na prática, tem-se observado que o Governo Federal está preocupado com o assunto e tem tomado medidas concretas no sentido de tornar o país uma potência exportadora. Um exemplo é a criação da Câmara de Comércio Exterior (CAMEX) que, juntamente com a Agência de Promoções de Exportações (APEX) e com o Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty, vem tentando fomentar o comércio exterior brasileiro.
24 24 É importante ressaltar o trabalho realizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), enquanto fonte financeira de recursos federais destinados ao financiamento do comércio exterior brasileiro, bem como da Associação Brasileira de Comércio Exterior (ABRACEX), dentre outros. Nesse contexto, pode-se afirmar que as relações comerciais com o exterior têm exercido papel preponderante para a expansão da produção e, por conseguinte, para o crescimento da economia do país. Através dessa interação com o mercado internacional tornou-se possível absorver novas culturas, captar novas tecnologias, aprimorar o processo de produção, aumentar a geração de empregos, enfim melhorar a dinâmica econômica empresarial. Convicto dessa importância, oportuno se faz refletir sobre que variável pode ser induzida e até mesmo melhorada com o objetivo de aumentar o nível de integração com o comércio internacional. Nesse sentido, destaca-se, dentre as diversas variáveis de suporte à atuação no segmento em pauta, o papel dos instrumentos de financiamento. Embora presente sob várias modalidades, sejam elas de origem pública ou privada, os mecanismos de financiamento de apoio à exportação ainda carecem de mais ampla utilização, seja através do uso dos diversos tipos disponíveis no mercado, que se concentram, principalmente, na demanda pelo Adiantamento sobre contratos de Câmbio (ACC) e Adiantamento sobre cambiais entregues (ACE), ou mesmo pelo montante financiado anualmente, ainda distante do valor total contratado a título de exportação. Fazendo uma correlação direta entre as exportações contratadas, de 2000 a 2007, e os créditos à exportação concedidos nesse mesmo período, é possível deduzir que existe uma forte correlação positiva (0,97) entre essas variáveis.
25 25 O Gráfico 7, a seguir, mostra o montante de exportação contratado anualmente, de 2000 a 2007, e sua relação com os valores alocados a título de créditos à exportação. EXPORTAÇÕES CONTRATADAS X CRÉDITOS À EXPORTAÇÃO ,1 Valores em US$ bilhões ,1 126,0 94,9 52,9 58,5 60,5 74,3 29,7 26,9 23,5 27,7 32,7 41,2 45,4 51, ANO EXPORTAÇÕES CONTRATADAS CRÉDITOS À EXPORTAÇÃO (ACC+ACE+PROEX+BNDES) Gráfico 7 EXPORTAÇÕES CONTRATADAS X CRÉDITOS À EXPORTAÇÃO Fonte: BACEN e BNDES (2008) Elaboração do autor Diante desse contexto, mostra-se oportuno analisar o que vem determinando a baixa demanda por recursos disponibilizados, bem como a ausência de demanda por outros instrumentos de apoio financeiro à exportação diferente do ACC / ACE, principalmente em relação às empresas exportadoras da região Nordeste do Brasil.
26 PERGUNTA DE PESQUISA Até que ponto os mecanismos de financiamento disponibilizados no mercado se apresentam adequados à necessidade das empresas exportadoras do Nordeste brasileiro?
27 JUSTIFICATIVA / MOTIVAÇÃO A justificativa / motivação para a realização do presente trabalho está amparada em função das diversas tentativas de apoio à expansão da corrente de comércio exterior realizadas pelo governo federal, principalmente quanto à criação e ajustes de instrumentos de apoio ao financiamento das empresas exportadoras, perseguindo, principalmente, o aumento na participação relativa do fluxo comercial do Brasil com o mundo. Observa-se no mercado, todavia, um verdadeiro desconhecimento e reclamação por parte da classe empresarial, notadamente daquelas empresas que ainda não experimentaram o processo de negociação de sua produção e comercialização com o exterior, alegando falta de informação e orientação precisa, bem como a existência de um elevado nível de burocracia no processo de apoio à internacionalização das empresas, principalmente quanto ao acesso aos instrumentos de financiamento.
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