A internacionalização do Álcool Carburante: Um Estudo no setor sucro-alcooleiro do Brasil

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1 A internacionalização do Álcool Carburante: Um Estudo no setor sucro-alcooleiro do Brasil HEIDY RODRIGUEZ RAMOS 1 Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) - Departamento de Administração Universidade de São Paulo (USP) Av. Prof. Luciano Gualberto, 908. Sala E112 Cidade Universitária. CEP: São Paulo. Brasil heidy@usp.br MARINA CARRILHO SOARES Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) Departamento de Administração Universidade de São Paulo (USP) Av. Prof. Luciano Gualberto, 908. Sala E112 Cidade Universitária. CEP: São Paulo. Brasil marinacarr@gmail.com MARTINHO ISNARD RIBEIRO DE ALMEIDA Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) - Departamento de Administração Universidade de São Paulo (USP) Av. Prof. Luciano Gualberto, 908. Sala E112 Cidade Universitária. CEP: São Paulo. Brasil martinho@usp.br Resumo A entrada de produtores brasileiros de álcool e açúcar no mercado internacional vem ocorrendo de maneira cada vez maior nos últimos anos, devido à ênfase dada ao processo de internacionalização e às boas perspectivas do mercado internacional de álcool carburante, considerando a crescente preocupação por parte dos países no uso de energias renováveis como substituto do petróleo. Neste artigo procurou-se descrever o mercado brasileiro e internacional de álcool carburante, focando no processo de internacionalização que vem ocorrendo com cinco dos principais produtores nacionais de cana-de-açúcar e relacionando as estratégias adotadas por eles com os principais conceitos abordados pela teoria de internacionalização. Ao longo do estudo foram evidenciados uma série de fatores facilitadores e obstáculos que devem interferir no processo de internacionalização das empresas mencionadas, bem como da internacionalização do produto em si. Abstract The entrance of Brazilian alcohol and sugar producers in the international market has been more and more significant these last years, due to the emphasis given to this process and to the good perspectives of the market, considering the increasing concern of the countries in the use of renewable energies as substitute for the oil. The aim of this article was to describe the Brazilian and international alcohol fuel market, focusing on the internationalization process of five of the major sugar cane producers and also trying to link it with the main related theoretical concepts to the subject. Throughout this study, it became evident that there is a series of aspects that should intervene in the process of internationalization of the mentioned companies, as well as of the internationalization of the product itself. Palavras- chave: álcool carburante, internacionalização, commodities, setor sucroalcooleiro. 1 Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) 1

2 1. INTRODUÇÃO Muito se tem falado sobre o processo de internacionalização de empresas, tendo-se em vista o ambiente econômico em que vivemos, caracterizado por uma grande dinamicidade. Apesar de este fenômeno ter se iniciado em países de economias mais maduras, não é algo que está restrito às mesmas, tendo ganhado cada vez mais destaque em países de economias emergentes, como é o caso do Brasil. Conforme dados publicados recentemente, tem se observado um aumento e mesmo uma intensificação de investimentos diretos de multinacionais brasileiras no exterior. O setor sucro-alcooleiro do Brasil, e em especial, a produção de álcool carburante, é um produto de especial importância para o país, dada a crescente preocupação por parte dos países no uso de energias limpas e renováveis, que permitam suprir a demanda energética futura dos novos players mundiais. O álcool se insere neste contexto, por ser reconhecido como um dos substitutos dos combustíveis fósseis, impactando na redução do efeito estufa. Estes fatores têm refletido num aumento na demanda deste combustível e o Brasil, por ser um dos maiores produtores deste produto, vem recebendo investimentos cada vez mais expressivos, principalmente de grupos estrangeiros. Entretanto, a necessidade da existência de um maior número de países produtores, a disponibilidade das matérias-primas e as atuais políticas protecionistas, entre outros fatores, têm sido alguns entraves que dificultam a internacionalização do álcool carburante no mercado internacional, aspecto este considerado o problema de pesquisa que norteará o estudo. O objetivo do presente trabalho é, portanto, fazer uma caracterização do setor sucro-alcooleiro do Brasil com foco nos principais produtores de açúcar e álcool e no mercado internacional de álcool carburante, assim como analisar como está ocorrendo a internacionalização dos cinco maiores produtores de açúcar e álcool do setor sucro-alcooleiro do Brasil. Finalmente será apresentada uma análise sobre os principais facilitadores e barreiras para a internacionalização do álcool carburante no contexto internacional. 2. REVISÃO DA LITERATURA Nesta seção pretende-se expor os principais conceitos e teorias acerca da internacionalização de empresas, explorando, principalmente, as vantagens e desvantagens deste processo. Tendo-se em vista que o Brasil vem se inserindo cada vez mais na economia mundial através da liberalização das importações e fomento às exportações, além de um maior acesso a mercados internacionais, é importante procurar subsídios teóricos que possam explicar o processo de internacionalização que vêm ocorrendo nas últimas décadas. 2

3 2.1 Conceito de Internacionalização Segundo Iglesias e Veiga (2002), o conceito de internacionalização refere-se à decisão de realizar um investimento em um determinado mercado de destino das exportações para ampliar e fortalecer as vendas nesse mercado. Ainda, segundo Porter, este conceito consiste na habilidade de explorar em novos mercados e a custos baixos, o know-how e a experiência obtidos no país de origem, a fim de compensar os custos extras de se negociar em países estrangeiros (Porter, 1986). Existem diferentes abordagens que tratam do processo de internacionalização de empresas. No entanto, independentemente da abordagem utilizada, existe um consenso quanto a este conceito. Para a maioria dos autores, internacionalização consiste, em um sentido amplo, em exportar e/ou produzir no exterior, sendo um processo contínuo e crescente de atuação de uma empresa em um país que não aquele de sua origem. Este processo pode ser considerado como parte das decisões estratégicas de uma organização, uma vez que se refere ao relacionamento da empresa com seu ambiente, envolvendo decisões de grande importância e comprometimento de recursos, além de ser crucial para o sucesso das organizações e seus países. Em sua condição de exportador de commodities - termo utilizado em transações comerciais de produtos de origem primária nas bolsas de mercadorias - deve-se considerar, ainda, a questão da internacionalização deste tipo de produto. A figura 1 mostra a significativa participação do agribusiness na balança comercial brasileira. Figura 1 Brasil: Participação do Agronegócio na Balança Comercial Fonte: Instituto de Economia Agrícola (2006) O Brasil se destaca como um dos principais players mundiais, sendo o terceiro maior exportador agrícola, em decorrência do investimento em tecnologias tropicais que visam o melhoramento genético, integração entre lavoura e pecuária, entre outros. No entanto, a internacionalização de empresas brasileiras neste segmento ainda não é expressiva o suficiente e não segue o sucesso que vêm ocorrendo em outros países, sendo que estratégias genéricas de liderança em custos e a exploração de economias de escala e escopo são as principais neste caso (Jank e Tachinardi, 2007). 3

4 2.2 Teorias em internacionalização Como mencionado anteriormente, existem algumas abordagens em administração e em economia que tratam do processo de internacionalização de empresas. Estas abordagens propõem formas diferentes de focar este processo. A abordagem econômica, cujo paradigma principal é a teoria eclética da internacionalização desenvolvida por John Dunning (1980), aplica os conceitos de custos de transação para explicar as características das empresas e seus mercados, que podem funcionar como estímulos à internacionalização. Segundo este paradigma, existem três tipos de vantagens para as empresas: de localização, que são proporcionadas por um país ou região; as de propriedade, que são capacidades desenvolvidas pelas organizações, lhes permitindo se posicionar no mercado estrangeiro; e, por fim, as vantagens de internalização, que mostram que se os custos de incorporação e organização da produção em outros países são menores do que os custos de transação associados à transferência destas capacidades a terceiros. Conforme Dunning (1988, 1994) apud Rocha et al. (2007) outro ponto a ser considerado são os processos de internacionalização inward e outward. O primeiro se refere ao processo de internacionalização para dentro, ou seja, investimentos estrangeiros direcionados a um país, enquanto o segundo se refere ao processo contrário, de internacionalização para fora, quando investimentos domésticos são direcionados a um país estrangeiro. Já sob a perspectiva de administração e negócios, vemos, principalmente, as escolas chamadas comportamentalistas, que visualizam o processo de internacionalização como sendo gradual, evolutivo, e com foco principal nas razões e características de tal gradualismo. Uma linha importante destes conceitos é a escola nórdica de Uppsala, cujos principais autores são Vahlne e Johanson, que enxergam o processo de internacionalização como gradual uma vez que existem diferenças culturais e distâncias psicológicas entre os países de origem e os mercados dos países-alvo. Tais divergências geram incertezas acerca dos resultados a serem atingidos, de modo que a única maneira de minimizálas seria através do conhecimento da outra cultura, no decorrer do tempo e com o aumento da experiência da empresa em questão (Johanson e Vahlne, 1977). Como conclusão, o processo de internacionalização possui duas características básicas que são: o conhecimento do mercado e o comprometimento de recursos, sendo que para ser bem sucedida a organização deve se engajar em atividades que lhes permita explorar estes dois pontos. Existem alguns modelos que podem fornecer orientação estratégica à uma organização no momento de sua decisão por se internacionalizar. Um destes modelos consiste na identificação de duas dimensões importantes para o negócio, a saber, pressões por integração global e pressões por respostas locais, que podem variar entre níveis mais altos e mais baixos, sendo representadas ao 4

5 longo dos eixos de um gráfico bidimensional, como ilustrado na figura 2, com suas respectivas características. Figura 2 - Quadro de estratégias internacionais básicas 5

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