CONSELHO ESCOLAR: ESTRATÉGIA DE GESTÃO DEMOCRÁTICA
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- Zilda Garrau Cordeiro
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1 ISSN EDIÇÃO ESPECIAL CONSELHO ESCOLAR: ESTRATÉGIA DE GESTÃO DEMOCRÁTICA Ano XXI Boletim 15 - Novembro 2011
2 SUMÁRIO EDIÇÃO E SPECIAL C ONSELHO E SCOLAR : ESTRATÉGIA DE GESTÃO DEMOCRÁTICA Conselho Escolar: estratégia de gestão democrática... 3 Swamy Soares
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4 EDIÇÃO ESPECIAL C ONSELHO E SCOLAR : ESTRATÉGIA DE GESTÃO DEMOCRÁTICA Swamy Soares1 1.INTRODUÇÃO faz necessário definir e situar o Conselho Escolar no quadro geral da luta pela gestão O Conselho Escolar tem se apresentado democrática nas escolas públicas do Brasil. como um dos elementos centrais na construção da gestão democrática nas escolas de nosso país. Parte-se do princípio de que a gestão das escolas públicas precisa afastar- 2.POR QUE DEMOCRATIZAR A GESTÃO DAS ESCOLAS PÚBLICAS? se de um modelo meramente burocrático, centralizado na figura do gestor. A perspec- No Brasil, como destaca Azevedo (2001), o tiva democrática, amparada em diversos processo de expansão da escola pública re- dispositivos legais, propõe que a gestão do monta à necessidade de industrialização do bem público seja feita por todos aqueles país na década de Há de se destacar que compõem a comunidade escolar e local. que essa expansão, além de tímida e concen- Neste sentido, o Conselho Escolar passaria a trada nos ambientes urbanos, se deu com a ser compreendido como uma estratégia de conservação de um modelo de escola onde gestão participativa. poucos tinham voz. Basta citar que apenas na década de 1990 o país conseguiu atingir Seria importante, entretanto, situar dois ele- patamares superiores a 90% de matrícula no mentos para nossa discussão. O primeiro diz Ensino Fundamental, considerando as crian- respeito aos fatores históricos e sociais que ças e os adolescentes de 6 a 14 anos. Em re- têm sustentado a luta pela democratização lação aos aspectos pedagógicos, a expansão da escola pública brasileira. O outro elemen- dessa mesma escola pública pouco dialogou to está ligado à própria natureza do Conse- com os aspectos culturais e sociais do seu lho Escolar e suas atribuições no cotidiano público alvo. Isso porque, basicamente, as da gestão da escola. Em outros termos, se camadas mais pobres da população foram 1 Pesquisador da UFPB. 3
5 aquelas que participaram da expansão quan- Essa reivindicação por democracia, nunca titativa da escola. O paradoxo se dava, justa- isenta de contradições típicas do próprio mente, pelo fato de essas pessoas não inter- processo democrático, de alguma forma foi ferirem nos rumos da escola pública do país, materializada na legislação nacional, como uma vez que não havia canais de participa- no caso da Constituição Federal de 1988 e da ção dos frequentadores da escola no seu Lei de Diretrizes e Bases da Educação, datada processo de gestão. O termo colocado entre de No tocante à escola, a LDB vai apon- aspas é proposital. Do ponto de vista da ges- tar a gestão democrática como princípio do tão escolar, foi sendo construída a ideia de ensino público, a ser definido pelos sistemas que apenas o corpo de funcionários (espe- de ensino. Ainda em relação aos princípios cialmente diretores e professores) tinha a da gestão democrática, essa lei enfatiza a devida competência para decidir os rumos necessidade de participação da comunidade dessa instituição. Os demais integrantes da escolar e local nos conselhos escolares. comunidade escolar, especialmente alunos e pais, passavam a ocupar um papel secundá- Portanto, temos em diversos aparatos legais rio nos processos decisórios, como se fos- a legitimidade para a criação e o fortaleci- sem apenas passageiros e não constituin- mento dos Conselhos Escolares. Isso refle- tes da escola como instituição pública. te, na verdade, uma luta social pela democratização da escola pública, uma vez que Se a escola é, de alguma forma, influenciada a elaboração de uma legislação nacional é pelo contexto social em que está inserida, sempre permeada de disputas, confrontos a própria instabilidade da democracia brasi- e interesses de diversos grupos e/ou setores leira favorecia um modelo de gestão escolar sociais. Contudo, a base legal que aponta centralizado, não democrático. O contexto mecanismos de gestão democrática não ga- político, após 1964, fortaleceu esse movi- rante por si só a efetivação e o fortalecimen- mento centralizador. Entretanto, não pode- to dos conselhos, na medida em que os pro- mos esquecer que, mesmo em momentos de cessos sociais, vividos dia a dia por pessoas fechamento político, as diversas lutas por que se encontram em seus afazeres, traba- liberdade e democracia nunca cessaram, lhos e atribuições, são os que constroem, dentro e fora da escola. O movimento de re- efetivamente, a democratização da escola democratização do país, na segunda metade em nosso país. dos anos de 1980, impulsionou e potencializou uma série de demandas para a redução Neste caso, o caminho de discussão passa do centralismo e para a democratização das pelas possibilidades que o Conselho Escolar instituições públicas. tem em ser uma estratégia de gestão demo- 4
6 crática na escola pública. Faz-se necessário possui uma dimensão mobilizadora, uma vez um esclarecimento sobre como esses cole- que procura integrar a escola com a comuni- giados podem contribuir efetivamente para dade local e vice-versa. Essa dimensão revela esse processo. o desafio em integrar os participantes da comunidade escolar e local nas ações da esco- 3.CONSELHO ESCOLAR la. É importante ressaltar que o Conselho Escolar, sendo composto por representantes de O Conselho Escolar é um órgão colegiado, todos os segmentos, não deve cultivar o dis- composto por representantes de todos os tanciamento entre eleitores e eleitos. Ou segmentos da escola e também da comuni- seja, é importante que o próprio Conselho dade local. Reside nesse fato a sua primeira esteja ciente da necessidade de divulgar suas singularidade. Diferentemente de outros ór- ações, mobilizar os segmentos e aproximá- gãos colegiados existentes na escola, o Con- los de seu representante, bem como envol- selho Escolar necessita da participação de to- ver a comunidade que está em torno da es- dos os segmentos que, em geral, compõem o cola nas suas ações. As estratégias para isso universo escolar: estudantes, pais, funcioná- são várias. Há experiências exitosas do uso rios, professores e diretor. Destacamos que dos murais da escola, construção coletiva da há uma variedade de legislações estaduais e pauta de reuniões do Conselho Escolar, divul- municipais que rege a composição dos con- gação através das redes sociais na internet selhos nos seus respectivos territórios. En- ou, ainda, nos sítios eletrônicos das secreta- tretanto, cabe esclarecer que a representa- rias de educação. Independente da forma, o ção de todos os segmentos segue o princípio que deve ser sublinhado é a necessidade de de que o que é de todos deve ser decidido dialogarmos com o modelo democrático de por todos, como ressalta Leonardo Boff. representação (democracia representativa) Essa ideia contribui para que todos possam e uma democracia participativa, integrando ser ouvidos e tenham o mesmo poder na di- todos aqueles que querem se expressar em reção dos rumos das unidades escolares. Em relação aos rumos da escola pública. outros termos, se não temos a participação de todos os segmentos da escola, não temos A competência fiscal também faz parte das efetivamente um Conselho Escolar. atribuições do Conselho Escolar. Entende-se, nesse caso, o termo fiscal não como mera Uma questão que sempre aparece quando fiscalização das verbas escolares, mas, so- discutimos o Conselho Escolar é sobre as bretudo, como forma de acompanhamento suas atribuições no cotidiano da gestão da das demandas e da aplicação dos recursos, escola. De modo geral, o Conselho Escolar o que deve ser efetuado pelo diretor de es- 5
7 cola e/ou unidade executora. Muitas vezes, Há ainda outra dimensão que, na verdade, é questionado se o Conselho Escolar dimi- acaba sendo o centro das ações do Conselho nuiria o papel do diretor da escola. Neste Escolar: a dimensão pedagógica. Muitas vezes, caso, deve-se ressaltar que as ações de de- são atribuídas ao conselho competências ad- mocratização da escola potencializam as ministrativas como se elas não tivessem rela- ações dos profissionais que trabalham na ção com os componentes pedagógicos da es- unidade escolar e com o diretor não seria cola. Na verdade, é importante sublinhar que diferente. Nesse sentido, a legitimidade das a participação na escola procura, como fim, a ações tomadas em conjunto potencializa as qualidade na educação escolar. Essa qualidade ações da direção da escola. Isso não significa deve ser construída coletivamente, com base que, necessariamente, o diretor precise ser nas relações que a escola estabelece com a co- o presidente do conselho escolar. O compar- munidade, o sistema de ensino e, de maneira tilhamento das decisões no que diz respeito geral, com os contextos regionais e nacionais à escola é muito mais do que o cumprimen- em que está inserida. Neste caso, a construção to de uma perspectiva legal. Significa uma coletiva do conceito de qualidade deve passar transição de posturas e práticas, no sentido pela discussão do Projeto Político Pedagógico de abranger mais pessoas nos rumos que a (PPP) da escola. O Conselho Escolar deve ser escola toma. O mesmo podemos dizer das um agente responsável para que toda a comu- possíveis relações entre Conselho Escolar e nidade escolar e local discuta o PPP, no sentido unidade executora (nos casos em que o con- de contribuir para sua elaboração e revisão. selho também não cumpre essa função). É Portanto, se o Conselho Escolar não estiver preciso que um Conselho Escolar atuante, atento ao sentido maior da escola como ins- com a participação de todos os segmentos tituição (a aprendizagem e qualidade na educa- da escola, delibere sobre a aplicação dos re- ção) estará perdendo a sua competência mais cursos financeiros, em diálogo com as ins- importante. Ainda é necessário notar que até tâncias de execução desses recursos. mesmo discussões financeiras, sobre estrutura física e melhoramento da escola, devem focar Outras duas dimensões do Conselho Escolar di- a questão da qualidade. Afinal, alocação de re- zem respeito à competência deliberativa e con- cursos pressupõe escolhas e escolhas refletem sultiva. Explicando melhor, esse colegiado deve objetivos em comum. elaborar, decidir, deliberar e aprovar assuntos que dizem respeito à gestão escolar. Da mesma Outra questão relacionada aos aspectos peda- forma, o conselho pode opinar, emitir parecer, gógicos é o acompanhamento, por parte dos discutir e participar de assuntos em que for conselhos, dos indicadores de qualidade da consultado (BORDIGNON, 2004). escola, construídos internamente, pelas redes 6
8 e/ou sistemas de ensino e pelas avaliações de tidiano que requer não só o fortalecimento larga escala. Conhecer esses indicadores de das instituições que fundam um regime de- avaliação, discuti-los, propor ações e envolver mocrático, mas sim a construção de práti- a comunidade nessa discussão é um desafio cas cotidianas que alimentam a ideia de que que se apresenta ao Conselho Escolar. o que é de todos deve ser decidido por todos. O Conselho Escolar, desenvolvido no dia a 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS dia daqueles que fazem a escola pública brasileira, trabalha nessas duas frentes. Por um A constituição dos Conselhos Escolares no lado, deve ser fortalecido como instituição Brasil reflete, em certa medida, uma luta no interior da escola, não sendo enfraque- constante da sociedade brasileira em se cido pela decisão de uma pessoa, um gestor tornar mais democrática, menos dependen- ou grupo partidário. No Brasil, vivemos um te das decisões individuais e mais aberta à momento de consolidação institucional dos construção coletiva dos seus cidadãos. A es- conselhos em diversos municípios e estados cola como instituição pública está inserida da federação. Por outro lado, o desafio de nesse desafio. Muitas vezes, aquilo que é pú- democratização da escola requer o trabalho blico é visto como algo a ser apropriado pri- em outra frente: a construção de práticas vadamente. No nosso país, essa apropriação cotidianas solidárias e democráticas. O de- privada do bem e das instituições públicas safio é, pois, de ordem cultural. Construir tem raízes históricas, ligadas à construção práticas democráticas significa a constru- de relações sociais patrimonialistas. Essas ção de um Conselho Escolar com ampla relações repercutiram, inclusive, na admi- participação dos segmentos, que não negue nistração do Estado, cujo sentido público o conflito, e que, sobretudo, respeite as di- foi, por vezes, subjugado aos interesses de ferenças. Os desafios estão postos e muitos pequenos grupos desejosos em utilizar a brasileiros, em todas as regiões deste país, máquina pública para a satisfação de suas têm aceitado participar desse amplo movi- necessidades. mento. Entretanto, a construção de uma nação se EDIÇÃO ESPECIAL: CONSELHO ESCOLAR: ESTRATÉGIA DE GESTÃO DEMOCRÁTICA dá com as contradições e a vontade de virar o jogo, de não ser refém do passado e construir perspectivas novas para o presente e o futuro. A consolidação da democracia A Edição especial: Conselho Escolar: estraté- no Brasil não é um fato que se encontra em gia de gestão democrática, com veiculação nosso recente passado, mas um desafio co- no programa Salto para o Futuro/TV Escola 7
9 no dia 04/11/2011, pretende debater o papel REFERÊNCIAS do Conselho Escolar enquanto mecanismo de gestão colegiada na escola, que expressa a vontade da comunidade escolar e local na formulação e aplicação do projeto político-pedagógico, bem como na gestão administrativa, financeira e pedagógica. Dessa forma, deve explicitar que a gestão por conselhos representa uma eficiente estratégia AZEVEDO, Janete Maria Lins de. O Estado, a política educacional e a regulação do setor educação no Brasil: uma abordagem histórica. In: Ferreira, Naura Syria Carapeto & AGUIAR, Márcia Ângela da S. (orgs.) Gestão da educação. Impasses, perspectivas e compromissos. 3.ª ed. São Paulo: Cortez, de democratização das ações da escola, uma vez que eles assumem o papel de mediadores entre a sociedade e a escola, de forma a situar as ações do sistema de ensino na lógica da cidadania. BORDIGNON, Genuíno. Conselhos Escolares: uma estratégia de gestão democrática da educação pública. Ministério da Educação Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares. MEC, SEB,
10 Presidência da República Ministério da Educação Secretaria de Educação Básica TV ESCOLA/ SALTO PARA O FUTURO Coordenação-geral da TV Escola Érico da Silveira Coordenação Pedagógica Maria Carolina Mello de Sousa Supervisão Pedagógica Rosa Helena Mendonça Acompanhamento Pedagógico Ana Maria Miguel Coordenação de Utilização e Avaliação Mônica Mufarrej Fernanda Braga Copidesque e Revisão Magda Frediani Martins Diagramação e Editoração Equipe do Núcleo de Produção Gráfica de Mídia Impressa TV Brasil Gerência de Criação e Produção de Arte Consultor especialmente convidado José Roberto Ribeiro Junior (Coordenador CGRP/DAGE/SABE/MEC) salto@mec.gov.br Home page: Rua da Relação, 18, 4o andar Centro. CEP: Rio de Janeiro (RJ) Novembro
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