PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRO GRAU DA 5ª REGIÃO. Seção Judiciária de Pernambuco. 12ª Vara Federal
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- Maria Clara Desconhecida Bernardes
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1 PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRO GRAU DA 5ª REGIÃO Seção Judiciária de Pernambuco 12ª Vara Federal REINTEGRAÇÃO/MANUTENÇÃO DE POSSE Processo (PJE) n.º AUTOR: UNIÃO FEDERAL RÉU: OCUPANTES NÃO IDENTIFICADOS - TERCEIROS INCERTOS E NÃO SABIDOS D E C I S Ã O Cuida-se de ação de reintegração de posse, com pedido de concessão de liminar, proposta pela União Federal em face de ocupantes não identificados. A liminar foi deferida em 07/05/2014. A Infraero, em 20/05/2014, requereu seu ingresso no feito, na condição de assistente da União.
2 Este Juízo, conquanto tenha deferido a liminar de desocupação, buscou, através de reuniões e audiências, uma solução consensual para a lide. Com efeito, foram nestes autos realizadas duas audiências, com a participação de membros da comunidade (intitulada "Cacique Xicão Xucuru), na qual todos tiveram vez e voz, podendo expor suas razões, seus dissabores e suas esperanças. Este Juízo, em ambas as ocasiões, indagou à União (através de sua representação judicial - PRU - e da Superintendência do Patrimônio da União - SPU) se haveria possibilidade de remoção das famílias para outra localidade. A resposta não foi positiva. Segundo a União, não haveria área disponível para a remoção das famílias. O Município do Recife também se fez presente às audiências, através da Secretária Executiva de Regularização Fundiária, Sra. Renata Lucena, a qual disponibilizou a sua equipe para o selamento e cadastramento das famílias. Informou, nada obstante, que não lhes poderia ser concedido auxílio-moradia, porquanto referido benefício somente é outorgado às famílias que já têm uma solução habitacional em vista, dada a sua natureza temporária. A Infraero, através de sua Gerência de Segurança, frisou, sobretudo na audiência de 18 de março de 2015, a necessidade de desocupação imediata do local, haja vista se tratar de área de segurança aérea. Frisou, na oportunidade, que, em razão de a ocupação não possuir tratamento sanitário, existe, ainda, o risco decorrente da fauna (pássaros, em especial), que pode prejudicar o tráfego das aeronaves. A proximidade com o aeroporto (ou, mais especificamente, com a cabeceira da pista respectiva) é, deveras, um fator extremamente preocupante. Registre-se aqui que dois incêndios já ocorreram na
3 ocupação, com destruição de barracos e risco às operações do aeroporto. O primeiro ocorreu na noite do dia 06 de abril (dia em que, coincidentemente, houve uma das audiência de conciliação nesta 12ª Vara), e o segundo ocorreu no último final de semana. Em ambos, o fogo foi debelado pela brigada de incêndio da própria Infraero. Confira-se trecho de notícia veiculada na mídia sobre o primeiro incêndio, ocorrido em 06 de abril de 2015 (cf. Os bombeiros foram acionados às 20h58. Mas, segundo a corporação, as chamas foram controladas rapidamente, às 21h10, pela brigada de incêndio do aeroporto. Devido à proximidade com o aeroporto, o fogo poderia comprometer o pouso e decolagem das aeronaves. Ainda assim, uma viatura de combate ao fogo e outra de resgate foram deslocadas para área. (Grifei.) O segundo incêndio na ocupação, como dito, ocorreu no último fim de semana, segundo informações da Infraero, sendo relevante frisar que, mais uma vez, o fogo foi debelado pela própria brigada da referida empresa pública, dado o risco que representava às operações do aeroporto. A permanência da ocupação, portanto, não é uma alternativa. A saída das famílias do local é um imperativo da segurança da população. Na tentativa de lograr uma solução consensual, promoveu este Juízo, além das audiências, reuniões com os órgãos já mencionados, no afã de encontrar uma solução amigável para a desocupação. Na última reunião, realizada em 24 de abril do ano em curso, com a presença de representantes da União, da Infraero, da Secretaria de Habitação do
4 Estado e da Secretaria de Habitação do Município do Recife, foi reiterado o questionamento quanto à possibilidade de deslocamento das famílias para imóvel disponibilizado pela União, tendo esta reiterado a informação de que não teria imóvel disponível para tanto. Na mesma reunião, em que estava presente o Secretário de Habitação do Município do Recife, Sr. Carlos Fernando Ferreira Filho, foi-lhe indagado se haveria possibilidade de concessão do auxílio-moradia, tendo respondido que, diante da grande demanda habitacional na cidade (de cerca de sessenta mil famílias), somente se faz possível a outorga do benefício pecuniário para as famílias que já possuem solução habitacional encaminhada. Idêntico questionamento foi feito, na mesma reunião, ao representante da Secretaria de Habitação do Estado de Pernambuco e da Companhia de Habitação do Estado de Pernambuco - CEHAB -, Sr. Petrônio Oliveira, o qual proferiu idêntica resposta. Não se pode deixar de mencionar, aqui, que este Juízo também acionou, na busca de uma solução amigável, a Comissão Intersetorial de Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos - CIMCFurb, criada pela Portaria Interministerial nº 17/2014. Assim, em atendimento à solicitação deste Juízo, estiveram presentes, na audiência do dia 06/04/2015, a Sra. Márcia Kumer, da Secretaria Geral da Presidência da República; e o Sr. Jorge Martins, do Ministério das Cidades (o Sr. Jorge Martins também retornou ao Recife para participar da reunião do dia 24 de abril, mencionada acima). A despeito de todas as tentativas, entretanto, não houve acordo. Os membros da Comissão Intersetorial de Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos, já mencionados, frisaram, na ocasião da audiência, que as famílias deveriam promover sua inscrição no Programa Minha Casa Minha Vida (ou no Programa Minha Casa Minha Vida "Entidades"), que vem facilitando a aquisição (subsidiada pelo governo) de moradias populares.
5 Este Juízo, em acréscimo, tornou a frisar, na audiência do dia 06 de abril, a necessidade de cadastramento das famílias, providência imprescindível para que se pudesse incluí-las em qualquer programa habitacional. (Sobre o cadastramento, tornaremos a falar adiante, seja para narrar as dificuldades e resistências enfrentadas na sua realização, seja para avaliar o seu resultado.) O que se buscou demonstrar aqui é que este Juízo esgotou todas as tentativas de buscar uma solução consensual para a desocupação. Entretanto, as entidades envolvidas não dispõem de meios/recursos para arcar com a remoção das famílias para outra localidade ou para pagar algum auxílio enquanto não têm uma solução habitacional definida. Por outro lado, o que salta aos olhos é a urgência da situação, que representa risco para todos, não podendo a sociedade arcar com tais riscos. O preço pode ser muito alto. Convém aqui, entretanto, abrir um parêntesis para traçar um panorama da ocupação. Como dito anteriormente, houve grande resistência, por parte da liderança da ocupação, à realização do cadastramento pela Prefeitura. Como narrado na audiência do dia 06 de abril pela Secretária de Regularização Fundiária da Prefeitura do Recife, as tentativas de cadastramento realizadas no ano de 2014 foram frustradas. Conquanto houvesse a liderança da ocupação, em princípio, acenado positivamente, houve uma mudança de titulares da aludida liderança (houve, inclusive, a mudança do nome da própria ocupação, que se intitulava "Pela fé"), após o que não mais se conseguiu iniciar o
6 cadastramento. A resistência - frise-se - partiu dos próprios líderes da ocupação. Na primeira audiência realizada por este Juízo, em 18 de março, também se percebeu enorme resistência ao cadastramento, como consta da própria ata. Na audiência do dia 06 de abril, enfim, este Juízo conseguiu, com o auxílio dos representantes da Comissão Intersetorial de Mediação de Conflitos Fundiários Urbanos, vencer a resistência e marcar uma data (naquela mesma semana) para ter início o trabalho de selamento e cadastramento pela Prefeitura. É importante esclarecer, aqui, em que consistem o selamento e o cadastramento: o primeiro consiste na quantificação dos imóveis (sendo computadas tanto casas completas como edificações parciais, ou até mesmo meras demarcações de "lotes"), enquanto que o segundo se destina à quantificação das famílias e respectivos membros. Pois bem. Findo o cadastramento pela Prefeitura, percebeu-se que não havia as "quinhentas famílias" mencionadas pela liderança da ocupação na audiência do dia 06 de abril. De acordo com as verificações feitas in loco pela Prefeitura, havia apenas 143 imóveis ocupados, dentre os quais 57 por apenas uma pessoa. É mesmo estranho imaginar que essas 57 pessoas (do sexo masculino, em sua maioria, segundo informado pela Prefeitura) residam, efetivamente, na ocupação, sendo razoável supor que estejam ali apenas para "demarcar um território", mantendo o restante da família em outro local.
7 A maioria dos ocupantes cadastrados, ainda de acordo com o levantamento, está a residir na localidade há cerca de um a dois anos, o que demonstra se cuidar de uma ocupação não consolidada. Feitos estes registros, torno a frisar que, diante dos riscos já mencionados, a desocupação é necessária, tanto no interesse da população (no intuito de evitar acidentes envolvendo as aeronaves), como das próprias famílias que ali se instalaram e que convivem, diariamente, com o perigo. Este Juízo tem conhecimento de que existem muitas pessoas de boa-fé, que têm, efetivamente, um problema habitacional, mas não há como, nos limites deste processo, encontrar a solução. A carência habitacional em nossa cidade é um problema crônico, como já mencionado, é não há como atribuir às famílias aqui envolvidas prioridade sobre as demais. Cumpre a este Juízo, tão-somente, com base no cadastramento elaborado pela Prefeitura, oficiar às Secretarias de Habitação, no intuito de incluir as famílias em algum programa habitacional, conforme a escala de prioridades, cronograma e disponibilidade de cada Secretaria. Cabem aqui, ainda, em atenção a requerimento formulado pelos réus, algumas observações concernentes ao pretendido pagamento de auxílio-moradia pela União. Como esclarecido aos réus na audiência do dia 18 de março, não há previsão orçamentária de tal despesa no âmbito do governo federal. A razão é simples: não existe norma legal determinando/autorizando o pagamento de tal verba pela União. Contrariamente aos Estados e Municípios (ou, mais especificamente, ao Estado de Pernambuco e ao Município de Recife), que têm previsão/autorização legal de pagamento do auxílio-moradia (vide Decreto Municipal nº
8 18.810/2001 e Lei Estadual nº /2008, exemplificadamente), não existe lei ou norma infralegal que disponha sobre o pagamento do auxílio às famílias em situação de vulnerabilidade pela União. Por este motivo, deve ser indeferido o requerimento. À luz de todos os fundamentos acima declinados, mantenho a ordem de desocupação (incluindo a ordem de demolição das construções/edificações irregulares). Cumpra-se (considerando, inclusive, que já decorreu o prazo concedido por este Juízo para a retirada espontânea das famílias do local). Ao Ministério Público Federal, para oferecer parecer, na condição de custos legis. As questões pendentes serão analisadas por ocasião da sentença. Oficie-se à Secretaria de Habitação da Prefeitura do Recife e à Secretaria de Habitação do Estado de Pernambuco, para, diante do cadastramento já realizado pela Prefeitura, incluírem as famílias cadastradas em programa habitacional, conforme a escala de prioridades, cronograma e disponibilidade de cada Secretaria. Intimem-se. Recife, 13 de maio de 2014.
9 JOANA CAROLINA LINS PEREIRA Juíza Federal da 12ª Vara/PE Número do processo: Assinado eletronicamente. A Certificação Digital pertence a: JOANA CAROLINA LINS PEREIRA Data e hora da assinatura: 13/05/ :03:09 Identificador: o/listview.seam
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