Destaque Setorial - Bradesco

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1 17 de junho de 2015 Após forte retração, produção e venda de bens de consumo duráveis deverão puxar recuperação da economia brasileira, principalmente a partir de 2016 Leandro de Oliveira Almeida Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos Prevemos que a economia brasileira recuará 1,7% neste ano, puxada pela queda dos investimentos, do lado da demanda, e da produção industrial, pela ótica da oferta. No entanto, acreditamos que o redirecionamento em curso da política econômica e os ajustes em curso irão criar as bases para uma recuperação sustentada mais à frente, especialmente a partir de Historicamente no ,8 90 set/94 mar/95 set/95 99,9 100,0 mar/96 set/96 mar/97 set/97 mar/98 set/98 mar/99 set/99 mar/00 set/00 116,8 Quando analisamos os períodos de queda mais expressivas do PIB ocorridos no Brasil após a estabilização da economia brasileira 1, em 1994, observa-se que os momentos de recuperação foram liderados pela indústria de transformação. Esse movimento, por sua vez, se deve principalmente às fortes quedas, seguidas por expressivas elevações. Em média, a manufatura apresentou crescimento acumulado de 9,8% quatro trimestres após o final da crise, enquanto o PIB apresentou expansão de 5,9%. O segmento industrial liderou a retomada da economia nesses períodos, à exceção do período posterior ao apagão energético de 2001 (quando a economia retomou o crescimento a despeito da continuidade do período de racionamento, que afetou especialmente a indústria). Já a construção mar/01 set/01 mar/02 set/02 mar/03 set/03 mar/04 set/04 mar/05 set/05 Brasil, processos de retomada do PIB costumam ser liderados pela produção e pelo consumo de bens duráveis, tendência que não deverá ser diferente no ciclo atual. O componente pró-cíclico do setor, que mostra tanto queda como retomada mais forte em relação aos demais setores, e a recuperação da confiança dos agentes econômicos estão por trás dessa expectativa. 151,7 142,4 173,5 mar/15 172,8 PIB do Brasil (em número índice dessazonalizado, base 1995=100) civil, apesar de crescer acima do PIB, em média, na recuperação, teve desempenho destacadamente positivo em e 2001, mas comportou-se em linha com o PIB em e , e ficou abaixo na recessão de A administração pública sempre apresentou desempenho abaixo do PIB, com resultado médio de 2,9%. Ou seja, todos os períodos de recuperação econômica foram caracterizados por baixo crescimento das despesas do governo, em função da necessidade de ajuste fiscal (como é o caso atual). Já o setor de serviços tem desempenho inferior à media do PIB, principalmente por sofrer menos durante a crise. Por fim, a agricultura tem ciclos de crescimento deslocado das demais atividades econômicas, mais determinados pelas condições climáticas. 1 Em nossa análise consideramos cinco ocasiões em que o PIB exibiu ao menos duas contrações consecutivas na margem: 1995; ; 2001; ;

2 11,0% 9,0% 7,0% 9,8% 8,6% 7,9% 7,2% 7,0% 6,9% 6,8% Crescimento médio acumulado do PIB 1 ano após o fim das crises 5,9% 5,8% 5,7% 5,0% 4,8% 4,4% 4,2% 3,0% 2,9% 2,3% 1,0% Ind. Transformação Indústria Geral Eletricidade, água, gás Transporte Extrativa Construção Civil Comércio PIB Total Intermediação financeira Serviços de informação Agropecuária Serviços Outros serviços Administração Pública At. Imobil. E aluguéis O papel de destaque da indústria de transformação durante a recuperação econômica nos períodos pós-crise, porém, não é homogêneo entres os seus diversos segmentos. Destaque para a indústria de bens duráveis (automóveis, móveis e eletroeletrônicos), que apresentou desempenho bastante superior ao da indústria geral (aqui incluída a indústria extrativa mineral e de petróleo) em todos os períodos analisados. É claro que o comportamento pró-cíclico dos duráveis também acentua sua queda durante a retração da atividade econômica. Assim, podemos considerar que há um represamento do consumo de duráveis durante a crise e que a recuperação da atividade, juntamente com a confiança, induz à recuperação mais rápida desse segmento. Por outro lado, a produção de bens de capital, em quatro dos cinco períodos analisados, apresentou crescimento abaixo da média da indústria. Isso porque os empresários priorizam a ocupação da sua capacidade ociosa antes de retornar projetos de expansão ou mesmo de renovação e modernização das instalações. 14,0% 12,0% 8,0% 6,0% 4,0% 2,0% 11,6% 5,9% 4,9% 4,4% 3,2% 2,4% 1,2% 0,8% Crescimento acumulado da indústria 1 ano após o fim da crise Bens Duráveis Bens Intermediários Recuperação das crises econômicas - crescimento acumulado após último trimestre de crise (T0) Indústria Geral 118,0 113,0 108,0 103,0 98,0 Indústria de Transformação 115,0 102,6 Bens de Consumo 100,9 Extrativa Mineral 100,0 Bens Semiduráveis e Não Duráveis 105,3 100,9 Bens de Capital 104,7 102,1 PIB Total Ind. De Bens de Consumo Duráveis T(-2) T(-1) T0 T1 T2 T3 T4 107,3 103,6 111,6 105,9 2

3 Esse padrão de recuperação, baseado em bens de consumo duráveis, ocorre não somente na indústria, mas também tem sua contrapartida no comércio. Os segmentos de equipamentos de escritório e informática puxaram a recuperação das duas últimas crises econômicas e o segmento de móveis e eletrodomésticos apresentou desempenho acima da média do comércio em dois dos três últimos períodos analisados (sendo que na crise de 2001 cresceu em linha com o setor varejista como um todo) 2. Por outro lado, o segmento de hipermercados e supermercados costuma crescer abaixo da média do comércio durante a recuperação, isso porque é mais resiliente à crise, e por isso mesmo, se recupera de maneira menos expressiva. 3 25,0% 2 15,0% 28,7% 17,7% 12,2% 11,9% Crescimento médio acumulado das vendas no varejo 1 ano após o fim das crises 5,0% 9,0% 8,7% 7,8% 7,7% 7,4% 5,5% 4,6% Escritório, informática Móveis e eletrodomésticos Outros art. de uso pessoal e dom. Farmácia, perfum. e cosméticos Material de Construção Veículos e Peças Comércio Total Tecidos, vestuário e calçados Combustíveis e lubrificantes Hipermercados e supermercados Livros, jornais, revistas e papelaria Um argumento que poderia surgir contra a tese aqui exposta é que o setor de duráveis nos últimos anos foi beneficiado por estímulos fiscais e creditícios, o que teria induzido a demanda por esses produtos se manter aquecida. Com isso, sua recuperação não seria tão acentuada, insuficiente para liderar a retomada da atividade econômica no próximo ano. No entanto, acreditamos que a expansão das vendas de duráveis na última década está atrelada a uma mudança de padrão de consumo, além de qualquer política de estímulos ao setor. Essa mudança foi proporcionada por novas tecnologias, melhora persistente da renda média das famílias e ampliação do acesso ao crédito. De fato, quando analisamos o estoque existente de automóveis em circulação no País, concluímos que após período de rápida expansão até a crise de 2008, ele se estabilizou em patamar elevado (com queda nos últimos trimestres) 3. Isso indica que apesar da mudança do padrão de consumo de automóveis novos entre 2006 e 2009, houve dali em diante estabilização das vendas desse segmento, independente da política de estímulos adotada. Já o inventário de demais bens de consumo duráveis indica que houve crescimento do consumo desses bens acima da tendência histórica, ou seja, há indício de sobreconsumo desses bens. 1,9 1,7 1,5 1,3 1,1 0,9 0,7 0,92 0,78 0,98 1,00 1,49 1,13 mar/02 jun/02 set/02 dez/02 mar/03 jun/03 set/03 dez/03 mar/04 jun/04 set/04 dez/04 mar/05 jun/05 set/05 dez/05 jun/06 dez/06 jun/07 dez/07 jun/08 dez/08 jun/09 dez/09 jun/10 dez/10 jun/11 dez/11 jun/12 dez/12 jun/13 dez/13 jun/14 dez/14 1,59 1,45 1,70 Frota de automóveis sobre PIB (números índices com base 100 em ) depreciação em 11 anos Fonte: ANFAVEA, IBGE 2 Os dados da Pesquisa Mensal do Comércio permitem analisar nessa desagregação somente as três recessões mais recentes das últimas cinco ocorridas no País. 3 Para tanto, criamos um índice de inventário de automóveis, impondo uma taxa de depreciação de 2,3% ao mês, suficiente para depreciar a frota automobilística em 11 anos e o dividimos pelo PIB, tomando por base 100 março de ,55 1,78 1,65 1,56 1,40 1,55 3

4 Variação em relação à tendência do Inventário de móveis e eletrodomésticos sobre PIB (número índice com base 100 em ) - depreciação em 4 anos 8,0% 6,0% 4,0% 2,0% -2,0% 7,2% 4,1% -0,4% 6,5% 5,5% 5,9% -4,0% -3,3% -6,0% -8,0% - -9,0% Assim, acreditamos que o padrão histórico de recuperação da economia brasileira, puxada pela indústria de transformação, deverá se repetir no ciclo atual. Vale, contudo, destacar que estamos nos referindo às taxas de variação, o que não necessariamente implicará uma retomada rápida e significativa do nível de produção e venda. Mesmo diante da expectativa de aumento da taxa de desemprego neste ano e no próximo, e considerando que (i) há questões específicas na retração da economia de 2015 (como ajuste na cadeia de construção, óleo e gás e segmento imobiliário) e (ii) não deveremos contar com uma demanda externa aquecida, o redirecionamento da política econômica resultará em restauração da confiança dos agentes econômicos, estimulando novamente o consumo dos bens de consumo duráveis. Esse, entretanto, deverá ser limitado pelos ajustes atuais da política monetária, que implicam taxas de juros mais elevadas por um período prolongado. Com isso, prevemos expansão de 2,0% do PIB industrial em 2016, sucedendo e não compensando ainda a queda de 4,0% esperada para este ano. jun/06 dez/06 jun/07 dez/07 jun/08 dez/08 jun/09 dez/09 jun/10 dez/10 jun/11 dez/11 jun/12 dez/12 jun/13 dez/13 jun/14 dez/14 mar/15 4

5 Equipe Técnica Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Marcelo Cirne de Toledo - Superintendente executivo Economia Internacional: Fabiana D Atri / Felipe Wajskop França / Thomas Henrique Schreurs Pires Economia Doméstica: Igor Velecico / Andréa Bastos Damico / Ellen Regina Steter / Myriã Tatiany Neves Bast Análise Setorial: Regina Helena Couto Silva / Priscila Pacheco Trigo / Leandro de Oliveira Almeida Pesquisa Proprietária: Fernando Freitas / Leandro Câmara Negrão / Ana Maria Bonomi Barufi Estagiários: Ariana Stephanie Zerbinatti / Thomaz Lopes Macetti / Victor Hugo Carvalho Alexandrino da Silva / Davi Sacomani Beganskas / Ives Leonardo Dias Fernandes / Henrique Neves Plens / Mizael Silva Alves O BRADESCO não se responsabiliza por quaisquer atos/decisões tomadas com base nas informações disponibilizadas por suas publicações e projeções. Todos os dados ou opiniões dos informativos aqui presentes são rigorosamente apurados e elaborados por profissionais plenamente qualificados, mas não devem ser tomados, em nenhuma hipótese, como base, balizamento, guia ou norma para qualquer documento, avaliações, julgamentos ou tomadas de decisões, sejam de natureza formal ou informal. Desse modo, ressaltamos que todas as consequências ou responsabilidades pelo uso de quaisquer dados ou análises desta publicação são assumidas exclusivamente pelo usuário, eximindo o BRADESCO de todas as ações decorrentes do uso deste material. Lembramos ainda que o acesso a essas informações implica a total aceitação deste termo de responsabilidade e uso. A reprodução total ou parcial desta publicação é expressamente proibida, exceto com a autorização do Banco BRADESCO ou a citação por completo da fonte (nomes dos autores, da publicação e do Banco BRADESCO). 5