Destaque Setorial - Bradesco

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1 Combustíveis 2 de julho de 2015 Queda do consumo de combustíveis neste ano reflete o desempenho fraco da atividade econômica Priscila Pacheco Trigo Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos O nível mais fraco da atividade econômica tem levado a uma redução da demanda por combustíveis nos primeiros meses deste ano. A queda da produção industrial e a contração das importações têm reduzido o fluxo de caminhões nas principais vias brasileiras, sem ser compensado pelo avanço da agropecuária, e consequentemente pelo consumo de diesel. Ao mesmo tempo, a demanda por combustíveis para veículos leves também está enfraquecida, dada a elevação dos preços de gasolina comum ocorrida no início do ano e a retração do consumo das famílias e o menor ritmo das atividades de comércio e serviços. 1 10,0% 8,0% 6,0% 0,0% - 5,7% Vendas combustíveis PIB 0,5% 2,7% 5,% 10,1% 6,5% 1,9% -1,% 8,8% 7,6% Nesse cenário, a mudança do preço relativo entre o etanol e a gasolina favoreceu o consumo do primeiro em detrimento do segundo. O mercado de trabalho menos favorável impacta também o consumo de GLP (gás liquefeito de petróleo gás de cozinha), que acumula queda nos primeiros meses do ano. O enfraquecimento das vendas de combustíveis tende a ser amenizado no segundo semestre deste ano, diante da acomodação da economia brasileira. Ainda assim, projetamos queda de,2% das vendas de combustíveis em A recuperação só ocorrerá em 2016, quando estimamos alta de. 6,1% 7,0% 5,9% 2,8% 2,7% dez/0 mar/05 jun/05 set/05 dez/05 mar/06 jun/06 set/06 dez/06 mar/07 jun/07 set/07 dez/07 mar/08 jun/08 set/08 dez/08 mar/09 jun/09 set/09 dez/09 mar/10 jun/10 set/10 dez/10 mar/11 jun/11 set/11 dez/11 mar/12 jun/12 set/12 dez/12 mar/1 jun/1 set/1 dez/1 mar/1 jun/1 set/1 dez/1 mar/15 Nos primeiros cinco meses do ano, as vendas de diesel pelos distribuidores recuaram,7%, na comparação com o mesmo período do ano passado. A retração de 6,9% da produção industrial entre janeiro e maio deste ano, conforme pesquisa do IBGE, reduziu o fluxo de veículos nas estradas brasileiras. O menor número de obras na construção civil, tanto imobiliárias quanto de infraestrutura, levando à queda de 8,6% do índice de insumos da construção civil, também contribuiu para a menor utilização de caminhões, reduzindo a 5,% 1,5% -0,9% Vendas de combustíveis em distribuidores e PIB variação acumulada em quatro trimestres Fonte: IBGE, ANP demanda por diesel. Ademais, o enfraquecimento do mercado de trabalho acaba impactando de forma negativa a comercialização de bens, reduzindo a demanda por transporte voltado à distribuição desses. Tal desempenho não foi compensado pelo avanço da safra 2015/16 de grãos, que deve subir 6,6%, resultando em crescimento de 2% no PIB agropecuário, segundo nossas expectativas. De fato, observamos um recuo de 5,7% no fluxo de veículos pesados em estradas pedagiadas no primeiro semestre do ano, segundo o índice ABCR 1. 1 O índice ABCR é calculado com base no volume de veículos que trafegam por estradas pedagiadas nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul. 1

2 Além do uso para transporte, o diesel também é usado para geração de energia termelétrica. Vale lembrar que mais de 10% das usinas termoelétricas no País utilizam óleo diesel como combustível, sendo que grande parte está localizada na região Norte do País. Apesar de parte não estar interligada ao Sistema Interligado Nacional (SIN), muitas termelétricas estão acionadas desde Então, a pressão por diesel começou nesse período. Com a melhora das chuvas neste ano, a demanda por diesel para geração térmica tende a ceder ,0% 0,6% -1,6% 8,9% 8,0% 6,6% 7,1% 6,0% 0,0% ,0% Vendas de diesel Fluxo de veículos pesados,% -2,% - 11,% 1 7,5% 5,9% 6,7%,5%,8% 2,6% -,0% nov/0 fev/05 ago/05 nov/05 fev/06 ago/06 fev/07 ago/07 fev/08 ago/08 fev/09 ago/09 fev/10 ago/10 fev/11 ago/11 fev/12 ago/12 fev/1 ago/1 fev/1 ago/1 fev/15-0,% -5,1% Vendas de diesel e fluxo de veículos pesados em estradas pedagiadas variação acumulada em 12 meses, ABCR No mesmo sentido, o fluxo de veículos leves, também está desacelerando, mas o volume comercializado de gasolina comum e etanol hidratado (juntos) registrou alta de,5% entre janeiro e maio deste ano, comparada ao anterior. No entanto, como há um processo de substituição da gasolina comum pelo etanol hidratado, é interessante observarmos que a alta efetiva na demanda por combustíveis para veículos leves aproxima-se de 1,5%, fazendo os ajustes de rendimento de cada combustível. Esse cálculo considera que um litro de etanol hidratado corresponde a 0,7 litro de gasolina, uma vez que o rendimento do etanol é, em média, 0% mais baixo que o da gasolina jan/05 Etanol Hidratado Gasolina Comum set/ jan/06 set/06 jan/ set/07 jan/ Analisando separadamente os dois combustíveis, notase que as vendas de gasolina recuaram 5,%, enquanto as de etanol subiram 5% nos primeiros meses do ano. A substituição teve início após a elevação dos preços da gasolina, em razão de reajustes dos preços set/08 jan/09 set/09 jan/10 set/10 jan/11 set/ jan/12 Volume de vendas de etanol hidratado e gasolina comum em mil m³ - média móvel em três meses dados dessazonalizados da gasolina em novembro de 201 e da elevação de impostos como PIS e COFINS, Cide e ICMS neste ano. Em sentido contrário, o preço do etanol hidratado manteve-se bem comportado 2, diante do crescimento de,1% da produção de cana-de-açúcar na safra 2 O preço do etanol hidratado em maio deste ano estava apenas 0,% acima do mesmo mês de 201, segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). set/12 jan/ set/ jan/ set/1 jan/

3 2015/16 em relação à safra anterior. Dessa forma, o relativo de preços tornou o etanol hidratado mais competitivo nos principais estados consumidores do País. Atualmente, o etanol estava mais vantajoso do que a gasolina em Mato Grosso, São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso do Sul. 90,0% 80,0% 70,0% 60,0% 62,2% 60,1% 69,0% 65,7% 6 72,2% 7,% 75,5% 76,7% 77,0% 77,1% 79,9% 81,5% 8 85,% Diferencial de preços etanol/gasolina por estado julho de ,0% MATO GROSSO SÃO PAULO GOIÁS BRASIL MINAS GERAIS PARANÁ MATO GROSSO DO SUL PERNAMBUCO BAHIA TOCANTINS PARAÍBA RIO DE JANEIRO AMAPÁ RONDÔNIA RIO GRANDE DO SUL AMAZONAS ALAGOAS DISTRITO FEDERAL CEARÁ SERGIPE SANTA CATARINA ACRE RIO GRANDE DO NORTE MARANHÃO PARÁ PIAUÍ ESPÍRITO SANTO RORAIMA Volume de vendas de etanol (milhões m³) e relativo de preços etanol/gasolina Vendas de etanol Relativo de preços 66,% ,2% 70,% 69,6% 1 76% 7% 15 70% 67,5% 67% 9 66,% 10 6% 6 60,8% 59,6% 6 59,7% 57,% 59,6% 61% 58% 55% nov/05 No caso do consumo de GLP, dois fatores motivam a menor demanda. O primeiro, de ordem estrutural, é o avanço da utilização de gás natural nos principais centros brasileiros. O segundo, mais conjuntural, tem suas bases no menor consumo das famílias, dado o atual cenário econômico. Nesse sentido, a alta de 7,7% dos preços de GLP entre maio de 201 e deste ano contribui para pressão adicional no orçamento das famílias. Assim, nos primeiros cinco meses do ano, as vendas de GLP recuaram 0,8%, comparado ao mesmo período de ,0%,8% 2,9%,0% 2,6% 2,% -0,1% 0,1% - -1,2% -2,6% -,0%,1% 1,9% 0,% 0,% -0,1% -0,2% -0,6% -2,% ago/06 fev/07 ago/07 fev/08 ago/08 fev/09 ago/09 fev/10 ago/10 fev/11 ago/11 fev/12 ago/12 fev/1 ago/1 fev/1 ago/1 fev/15 Volume de vendas de GLP variação média em três meses - dados dessazonalizados Devido ao menor rendimento do etanol, em média, seu preço deve estar 70% abaixo do da gasolina comum para que seja vantajoso seu consumo.

4 A recuperação das vendas de combustíveis deverá ocorrer com a retomada da economia brasileira, de forma que esperamos crescimento bastante gradual ao longo dos próximos trimestres. A demanda por diesel está condicionada, em grande medida, à retomada da produção industrial, que deverá permanecer estável em 2016, após queda de 7% neste ano, segundo nossas estimativas. Ademais, o aumento das chuvas nas regiões Sudeste e Sul do País poderão levar à normalização do nível dos reservatórios para geração hídrica no próximo ano, favorecendo o desligamento de parte relevante das térmicas. O setor de construção civil também continuará deprimido, mostrando alguma recuperação no segundo semestre de Dessa forma, somente o agronegócio continuará sendo um impulsionador da demanda por diesel, caso não haja nenhuma quebra de safra agrícola no próximo ano. No mesmo sentido, o mercado de trabalho menos apertado, levando a taxa de desemprego à média de 8,5% no próximo ano, conterá o consumo por gasolina e etanol. A possibilidade de novos reajustes para a gasolina, neste e no próximo ano, deverá manter a competitividade do etanol frente ao derivado de petróleo. Essa estimativa também depende que a próxima safra de cana, 2016/17, seja positiva. Dessa forma, esperamos queda de,2% das vendas de combustíveis neste ano e elevação de em O fraco desempenho das vendas de combustíveis entre 2015 e 2016 deverá favorecer a balança comercial do segmento de petróleo e derivados. Especialmente para o diesel, cujas importações representaram 19% do consumo aparente do combustível em 201. No caso da gasolina, as importações respondem por 7% da demanda doméstica. Sem a entrada de novos projetos de refino no País nos últimos anos, qualquer elevação da demanda representava aumento das importações de combustíveis. No ano passado, entrou em operação o primeiro trem da Refinaria Abreu e Lima, que ao final de todas as fases processará 20 mil barris de petróleo por dia, adicionando 26 mil m³ de diesel. Para os próximos meses, entrará em operação o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), com capacidade de processar outros 165 mil barris por dia. De fato, projetamos saldo negativo de US$ 8 bilhões da balança comercial de petróleo e combustíveis, ante déficit de US$ 19,8 bilhões em 201. Vale reforçar que esse cenário também considera: i) menor dependência do petróleo importado, uma vez que a produção de petróleo deve subir % neste ano e ii) redução dos preços de toda a cadeia do petróleo. Vendas de diesel, gasolina comum, etanol hidratado e GLP por ano milhões m³ variação % Elaboração e (*) projeção: BRADESCO Data Total Óleo Diesel Gasolina C Álcool Hidratado GLP Outros ,69 55,90 9,70 9,85 12,9 11, , 58,57 1, 11,75 1,28 12, ,58 60,0,6 12,99 1, 1, * 18,5 55,2 0,7 16,89 1,18 12, * 19,87 55,78 8,76 19, 1,18 12, ,1% 7,0% 11,9% -9,6% 0,5% 5,6% 201 5,9%,8%,% 19,% 2,7% 8,7% 201 5,% 2,5% 7,1% 10,5% 1,% * -,2% -8,0% -9,0% 0,0% - -6,5% 2016* - 15,0% 0,0% - Projetamos alta dos preços da gasolina comum em 7,5% no segundo semestre deste ano e de 5% em Para o diesel não projetamos novos reajustes neste e no próximo ano.

5 Retrato Setorial O Brasil possui de 200 distribuidores de combustíveis e mais de 0 mil postos de combustíveis. Dos derivados de petróleo, cerca de 22% é proveniente do mercado externo, em especial o diesel e a gasolina. As vendas de combustíveis pelos distribuidores somaram 1,58 milhões de m³ em 201, sendo que grande parcela foi de óleo diesel (1,5%), gasolina (0,7%) e etanol hidratado (9,1%). Isso significa dizer que o setor depende do nível de atividade industrial e agrícola, via diesel, e de massa e renda da população, via gasolina e etanol. Além disso, os demais setores também possuem forte relação com o mercado de trabalho, como querosene de aviação e gás de cozinha. Devido a essa estrutura, as vendas de combustíveis são concentradas no segundo semestre do ano, com o aquecimento da economia. As distribuidoras se concentram no Sudeste, próximas ao centro consumidor do País: São Paulo responde por 28% das vendas domésticas de combustíveis Sudeste (9%), Sul (26%), Nordeste (1%), Centro- Oeste (19%), Norte (8%). Vale destacar a importância da Região Nordeste nas vendas de gás de cozinha, com 25,7% do total de vendas internas. Ademais, a relevância do Sudeste e do Centro-Oeste nas vendas de etanol hidratado é de mais de 80%, resultado motivado principalmente pela proximidade das usinas de açúcar e etanol. Equipe Técnica Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Marcelo Cirne de Toledo - Superintendente executivo Economia Internacional: Fabiana D Atri / Felipe Wajskop França / Thomas Henrique Schreurs Pires Economia Doméstica: Igor Velecico / Andréa Bastos Damico / Ellen Regina Steter / Myriã Tatiany Neves Bast / Ariana Stephanie Zerbinatti Análise Setorial: Regina Helena Couto Silva / Priscila Pacheco Trigo / Leandro de Oliveira Almeida Pesquisa Proprietária: Fernando Freitas / Leandro Câmara Negrão / Ana Maria Bonomi Barufi Estagiários: Thomaz Lopes Macetti / Victor Hugo Carvalho Alexandrino da Silva / Davi Sacomani Beganskas / Ives Leonardo Dias Fernandes / Henrique Neves Plens / Mizael Silva Alves O BRADESCO não se responsabiliza por quaisquer atos/decisões tomadas com base nas informações disponibilizadas por suas publicações e projeções. Todos os dados ou opiniões dos informativos aqui presentes são rigorosamente apurados e elaborados por profissionais plenamente qualificados, mas não devem ser tomados, em nenhuma hipótese, como base, balizamento, guia ou norma para qualquer documento, avaliações, julgamentos ou tomadas de decisões, sejam de natureza formal ou informal. Desse modo, ressaltamos que todas as consequências ou responsabilidades pelo uso de quaisquer dados ou análises desta publicação são assumidas exclusivamente pelo usuário, eximindo o BRADESCO de todas as ações decorrentes do uso deste material. Lembramos ainda que o acesso a essas informações implica a total aceitação deste termo de responsabilidade e uso. A reprodução total ou parcial desta publicação é expressamente proibida, exceto com a autorização do Banco BRADESCO ou a citação por completo da fonte (nomes dos autores, da publicação e do Banco BRADESCO). 5