GERMINAÇÃO E DESENVOLVIMENTO INICIAL DE TENTO CAROLINA (Adenanthera pavonina L.) EM DIFERENTES SUBSTRATOS

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1 Anais da Semana de Engenharia Florestal CESIT/UEA. Volume 7, Número 1. Manaus/AM: UEA Edições, ISSN GERMINAÇÃO E DESENVOLVIMENTO INICIAL DE TENTO CAROLINA (Adenanthera pavonina L.) EM DIFERENTES SUBSTRATOS SOUZA, Marcileia Santos 1 ; BASSINI, Fábio 2 ; VASCONCELOS, Geraldo José Nascimento 2 RESUMO Diante da necessidade de estudos que avaliem o processo de germinação das sementes de tento carolina (Adenanthera pavonina L.), assim como um substrato adequado para a produção de mudas de boa qualidade e em menor tempo, este estudo tem como objetivos avaliar a influência de diferentes substratos na germinação e desenvolvimento inicial de sementes de tento carolina sob o efeito de diferentes tratamentos pré-germinativos. O experimento foi conduzido em viveiro, com sombreado a 30%, obtido através de sombrite da cobertura. Os substratos empregados no experimento foram: terrapreta (terra preta do índio), solo degradado, areia e serragem de madeira. Todas as sementes passaram por tratamento específico pré-germinativo para superar a dormência tegumentar. O tratamento iniciou com a imersão das sementes em água por um período de 24 horas, em seguida escarificadas nas laterais, e novamente imersas em água por mais 12 horas. Foram coletados a altura (cm) da parte aérea, o diâmetro do coleto (mm) e o número de folhas. Os dados obtidos foram utilizados para determinação dos seguintes parâmetros: Porcentagem de germinação, Índice de Velocidade de Germinação, Tempo Médio de Germinação, Crescimento ao longo do tempo. Entre os substratos avaliados, a serragem foi o substrato que possibilitou um maior percentual de germinação. Em relação ao desenvolvimento das mudas, indica-se o substrato terra preta, como uma alternativa de substrato adequado para a produção de mudas de boa qualidade em viveiro. Palavras Chave: escarificação mecânica, produção de mudas, terra preta. ABSTRACT Due to the need of studies to evaluate the germination process of tento carolina (Adenanthera pavonina L.) seeds, as well as a suitable substrate for the production of good quality seedlings in a shorter time, this study aims to evaluate the influence of different substrates in germination and initial development of tento carolina seeds under the effect of different treatments before germination. The experiment was conducted in nursery, with shade coverage at 30%. The substrates used in the experiment were: black land (black Indian soil), degraded soil, sand and sawdust. All seeds underwent before germination specific treatment to overcome integumentary dormancy. The treatment began with the immersion of the seeds in water for a period of 24 hours, then scarified on the sides, and again immersed in water for another 12 hours. The height (cm) of the aerial part, the collection diameter (mm) and the number of leaves were collected. The obtained data were used to determine the following parameters: Percentage of germination, Rate of Germination, Average Time of Germination, Growth over time. 1 Engenheira Florestal, MSc. Agronomia Tropical, Universidade do Estado do Amazonas, marcileia_souza@hotmail.com 2 Professor Dr. da Universidade do Estado do Amazonas: fbassini@bol.com.br; Professor Dr. do Instituto de Ciências Exatas e Tecnologia, Universidade Federal do Amazonas: gjnvasconcelos@yahoo.com.br 1

2 Among the substrates evaluated, the sawdust was the substrate that allowed a higher percentage of germination. In relation to the development of the seedlings, the black soil substrate is indicated as an adequate substrate alternative for the production of good quality seedlings in the nursery. Keywords: mechanical scarification, seedling production, black earth. INTRODUÇÃO A crescente exploração madeireira aliada ao desmatamento para fins agropecuários na Amazônia vem causando o desaparecimento de muitas espécies que apresentam alto potencial de utilização, quer seja pelo valor ornamental, madeireiro, alimentício ou de reflorestamento. A velocidade com que a floresta vem sendo destruída é razão suficiente para incrementar as pesquisas relacionadas com a propagação das espécies com o intuito de que sejam mais bem utilizadas em programas de plantios (VARELA et al., 2004). Pesquisas realizadas com a finalidade de promover a germinação de sementes de espécies florestais tem grande importância no que se refere à aceleração e uniformidade no desenvolvimento das plântulas, além do aumento da disponibilidade de mudas em relação à ausência ou a reduzida reposição das espécies. A melhoria do sistema de produção de mudas é necessária, devido ao aumento da procura para a produção comercial, e até para a recuperação de áreas degradadas (NIETSCHE et al., 2004). Espécies da família Fabaceae vem sendo bastante empregadas em programas de reflorestamento e em recuperação de áreas degradadas, caso este que pode ser da Adenanthera pavonina L., por ser uma espécie de rápido crescimento, adaptável em diferentes condições de climas e solos (ARAUJO, 2010). Assim, tem-se procurado alternativas que sejam ambientalmente corretas, de boa qualidade e de baixo custo para a produção de substratos em propriedades agrícolas, sobretudo em locais de difícil acesso, onde a logística de transporte dos substratos comerciais encarece a produção (SILVA, 2014). Deste modo, tornam-se necessários estudos que avaliem a germinação das sementes de espécies florestais em menor tempo, assim como estabelecer um substrato adequado para a produção e desenvolvimento das mudas, assegurando plantas de boa qualidade e, preferencialmente, de baixo custo para o produtor. Este estudo tem como objetivos avaliar a influência de diferentes substratos na germinação e desenvolvimento inicial de sementes de tento carolina sob o efeito de tratamentos pré-germinativos, visando a determinação de um método adequado para a produção de mudas de boa qualidade. DESENVOLVIMENTO 2

3 As sementes de tento carolina (Adenanthera pavonina L.), foram coletadas no Horto Florestal do município de Itacoatiara-AM. O experimento foi conduzido no viveiro de produção de mudas do Centro de Estudos Superiores de Itacoatiara CESIT, da Universidade do Estado do Amazonas UEA, no respectivo município. O sombreado usado no viveiro foi a 30%, obtido através do sombrite de cobertura. Os substratos empregados no experimento foram: terra preta (terra preta do índio), solo degradado, areia e serragem de madeira. As sementes passaram por tratamento pré-germinativo para superar a dormência tegumentar. O tratamento iniciou com a imersão em água por um período de 24 horas, em seguida, as sementes foram escarificadas nas laterais, com um alicate. E novamente imersas em água por mais 12 horas. Após o tratamento pré-germinativo, as 480 sementes foram postas para germinar em sacos de polietileno (500 g) com os substratos usados isoladamente. Com quatro sementes por saco. Os parâmetros relacionados ao crescimento das mudas começaram a ser coletados a partir do 14º dia após a semeadura, momento onde visualmente se notou a exposição completa dos cotilédones com as primeiras folhas em todos os tratamentos, levando em consideração as mudas com maiores tamanhos e maior vigor, deixando apenas uma muda por recipiente. A partir do 15º dia, foram mensurados a cada dez dias, por um mês, a altura (cm) da parte aérea, o diâmetro do coleto (mm) e o número de folhas. O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado (DIC). As quatro sementes de cada repetição foram utilizadas para determinar o percentual de germinação por repetição (G % = Nº de sementes germinadas x 100 / 4). Para a determinação do Índice de Velocidade de Germinação (IVG) e Tempo Médio de Germinação (TMG), as repetições de cada tratamento foram grupadas em conjuntos de cinco repetições, formando seis grupos, com um total de 20 sementes por grupo, para cada substrato. Os dados para cada parâmetro foram submetidos aos testes de Normalidade (Shapiro-Wilk ou Kolmogorov-Smirnov, conforme o número de repetições) e Homogeneidade (Bartlett). Após atender os pressupostos, para os parâmetros germinação, IVG, TMG, os dados foram submetidos à ANOVA e as médias, quando necessário, comparadas pelo teste de Tukey. Os parâmetros de crescimento, altura, diâmetro e número de folhas, em cada substrato, foram submetidos à análise de regressão linear em função do tempo de avaliação. Para todas as análises foi adotada uma margem de erro de 5%. O percentual de germinação de tento carolina nos substratos em avaliação variou entre 54,17 a 75,00%, para terra preta e serragem de madeira, respectivamente. A germinação em serragem foi a melhor (p = ; CV = 27,26%) entre os quatro substratos, os demais não diferiram entre si. Burés (1997) relata que a qualidade da serragem depende do tipo da madeira, do tempo e da condição de 3

4 armazenamento, do teor de tanino presente e outros compostos poliferiólicos que podem interferir na germinação das sementes. A velocidade média de germinação das sementes de tento carolina variou de 2,00 a 2,83 plântulas/dia, para os substratos solo degradado e serragem de madeira, respectivamente. Não houve diferença no Índice de Velocidade de Germinação (IVG) entre os substratos (p = 0,4610; CV = 36,19%). Quanto ao Tempo Médio de Germinação (TMG), observou-se uma variação mínima de 3,22 a 3,70 dias, para os substratos solo degradado e areia, respectivamente. Para este parâmetro também não houve diferença estatística (p = 0,3157; CV = 14,03%) entre os substratos. A maior germinação obtida no substrato serragem pode estar associada a grande capacidade de retenção de água que a serragem possui, permitindo que as sementes permanecessem em estado úmido por um maior período de tempo, auxiliando assim a quebra de dormência das mesmas. Em contrapartida, o menor percentual de germinação ocorreu no substrato terra preta (54,17%). A baixa germinação nos demais substratos pode estar relacionado a pouca retenção de água no substrato areia e a elevada atividade microbiológica nos substratos solo degradado e, principalmente na terra preta (STEINER et al., 2004). A não diferença no IVG, relativamente baixo, pode está associado a escarificação das sementes, uma vez que a semente passando por tratamentos pré-germinativos, acaba diminuindo sua defesa contra o ataque de agentes patógenos. Também indica que o tento carolina não é muito exigente em relação ao substrato utilizado para a sua germinação. O mesmo pode ser observado para o TMG. Tabela 1. Equações lineares de regressão (Crescimento = a.dia + b), coeficiente de relação (r 2 ) e significância (p ANOVA) para os parâmetros altura, diâmetro e número de folhas de mudas de tento carolina em diferentes substratos. Parâmetro Substrato Coeficiente±IC95% 1 r 2 (%) panova Linear (b) Angular (a) Altura (cm) Terra preta 6,8736±0,3093 a 0,1797±0,0165 a 79,68 2, Solo degradado 5,9646±0,2562 b 0,0974±0,0135 bc 62,65 2, Serragem 6,6816±0,2305 a 0,1213±0,0121 b 76,30 2, Areia 6,4563±0,2122 a 0,0861±0,0113 c 65,65 2, Diâmetro (mm) Terra preta 1,8253±0,0581 b 0,0232±0,0030 a 64,86 2, Solo degradado 2,0792±0,0517 a 0,0108±0,0028 b 33,44 2, Serragem 1,8396±0,0510 b 0,0194±0,0026 a 62,70 2, Areia 1,9002±0,0593 b 0,0176±0,0030 a 50,47 2, Nº folha Terra preta 6,2866±0,6568 a 0,1836±0,0350 a 47,44 2, Solo degradado 4,8500±0,4239 b 0,1200±0,0225 b 48,07 2, Serragem 5,5133±0,4848 ab 0,1413±0,0259 ab 49,52 2, Areia 4,8400±0,4639 b 0,1206±0,0247 b 43,80 2, Coeficientes para os substratos, em cada parâmetro, seguidos pela mesma letra não diferem entre si pela comparação através dos Intervalos de confiança a 95%. Todas as equações de regressão foram significativas (p = 2, ), mostrando que houve relação, tanto para a altura como para o diâmetro e o número de folhas, nos quatro substratos. 4

5 Os coeficientes de relação (r 2 ) foram todos positivos, indicando uma relação crescente ao longo dos 30 dias de avaliação. De forma geral, houve um bom ajuste das medições ao longo do tempo, r 2 variando de 62,65 a 79,68%, 33,44 a 64,86% e 43,80 a 49,52%, respectivamente, para altura, diâmetro e número de folhas. Com base nos coeficientes lineares, observa-se que, 15 dias após a germinação já havia diferença entre as mudas mantidas em cada substrato para os parâmetros altura, diâmetro e número de folhas (Tabela 1). Para a altura das mudas, o menor crescimento ocorreu no substrato solo degradado, onde as mudas apresentavam uma altura média estimada de aproximadamente 5,96 cm. Para os demais substratos não houve diferença no crescimento. O contrário foi observado em relação ao diâmetro, onde a espessura média estimada do colo das mudas mantidas no substrato solo degradado, no início das avaliações era de, aproximadamente 2,08 mm, sendo superior a todos os outros substratos. Nestes, o diâmetro oscilou entre 1,83 a 1,90 mm. Para a quantidade inicial de folhas por mudas, o substrato terra preta apresentou o maior número destas, aproximadamente 6,29 folhas/muda, enquanto que nos substratos areia e solo degradado, as mudas apresentaram a menores quantidades iniciais de folhas, aproximadamente 4,84 a 4,85 folhas/muda. Quantidade, inicial, intermediária de folhas foi constatada nas mudas mantidas no substrato serragem, aproximadamente 5,51 folhas/muda. A taxa média de incremento diário, estimada através do coeficiente angular, demonstrou que houve diferença no crescimento, ao longo dos 30 dias de avaliação (t0 = 15 dias após a germinação), para os três parâmetros avaliados (Tabela 1). Para a altura, a maior taxa de crescimento diário ocorreu no substrato terra preta, onde as mudas cresceram, aproximadamente, 0,18 cm/dia. Para os demais substratos a taxa de crescimento variou, aproximadamente, entre 0,09 a 0,12 cm/dia. Para a taxa de incremento em diâmetro, os substratos terra preta, serragem e areia proporcionaram os melhores incrementos, com uma variação de aproximadamente, 0,018 a 0,023 mm/dia. Já a taxa de incremento para o número de folhas foi maior nas mudas mantidas nos substratos terra preta e serragem, as quais apresentaram um incremento no número de folhas da ordem de, aproximadamente, 0,14 a 0,18 folhas/dia. As equações de regressão para as mudas, demostram afinidade com todos os substratos testados para os parâmetros avaliados. Este fator pode estar relacionado à alta capacidade de adaptabilidade da espécie a diferentes condições de solos. O menor crescimento em altura no substrato solo degradado comprova que, apesar deste substrato ser apropriado para a germinação, não é adequado para o crescimento em altura das mudas, uma vez que não possuiem nutrientes e matéria orgânica suficiente para um bom crescimento em altura de mudas produzidas em viveiro. Para Gomes et al. (2002), a altura da parte aérea, quando avaliado isoladamente é um parâmetro para expressar a qualidade das mudas. 5

6 Para o diâmetro foi observado o oposto da altura. Cunha et al. (2005), explica que a relação altura/diâmetro do colo constitui um dos parâmetros usados para avaliar a qualidade de mudas florestais, além de refletir o acúmulo de reservas, assegurando maior resistência e melhor fixação no solo. A maior quantidade de folhas no substrato terra preta pode estar relacionada a elevada fertilidade deste substrato. Para Glaser et al. (2000), a elevada fertilidade e principalmente a sustentabilidade da fertilidade das terras pretas é atribuída ao elevado nível de matéria orgânica e as suas propriedades físico-químicas como, por exemplo, a elevada reatividade das frações húmicas. CONCLUSÕES Para a germinação das sementes de tento carolina é indicado o substrato serragem, pois possibilita um maior percentual de germinação. Em ralação ao desenvolvimento das mudas de tento carolina indica-se o substrato terra preta para a produção destas, como um método adequado para a produção de mudas de boa qualidade em viveiro. REFERÊNCIAS BIBLOGRÁFICAS ARAUJO, A. C. B. Efeito do pastoreio de ovinos sobre a estrutura da mata ciliar do Arroio Espinilho em Santana do Livramento, Brasil-RS. Dissertação (Mestrado em Silvicultura). Universidade Federal de Santa Maria, p. 93, BURÉS, S. Substratos. Madri: Agrotécnicas, p. 342, CUNHA, A. O. Efeitos de substratos e das dimensões dos recipientes na qualidade das mudas de Tabebuia impetiginosa ( Mart. Ex D.C.) Standl. Revista Árvore, Viçosa, v.29 n.4, p , GLASER, B.; BALASHOV, E.; HAUMAIER, L.; GUGGENBERGER, G.; ZECH, W. Black carbon in density fractions of anthropogenic soils of the Brazilian Amazon region. Organic Geochemistry, 31(7-8): p , GOMES, J. M. Parâmetros morfológicos na avaliação da qualidade de mudas de Eucalyptus grandis. Revista Árvore, v. 26, n. 6, p , NIETSCHE, S.; GONÇALVES, V. D.; PEREIRA, M. C. T.; SANTOS, F. A.; ABREU, S. C.; MOTA, W. F. Tamanho da semente e substratos na germinação e crescimento inicial de mudas de cagaiteira. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 28, n. 6, p , nov./dez SILVA, B. F. J. Substratos alternativos de resíduos da castanha-do-brasil (bertholletia excelsa) para produção de mudas. Trabalho de conclusão de curso (Tecnologia em Agroecologia). Universidade do Estado do Amazonas. AM,

7 STEINER, C; TEIXEIRA, W. G.; LEHMANN, J.; W, ZECH. Microbial response to charcoal amendments of highly weathered soils and Amazonian dark earths in Central Amazonia preliminary results, In: Glaser, B. & WI Woods (eds.). Amazonian Dark Earths: Explorations in space and time. Springer, London. p , VARELA, V. P. Influência da temperatura e do substrato na germinação de sementes de itaubarana (Acosmium nitens (Vog.) Yakovlev) Legumonosae, Caesalpinoideae. Acta Amazônica, v. 30, n. 2, p ,