UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL DOUTORADO EM SERVIÇO SOCIAL

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1 0 UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL DOUTORADO EM SERVIÇO SOCIAL NAÍRES RAIMUNDA GOMES FARIAS O SINDICALISMO NO TEMPO: as estratégias do Sindicato dos Metalúrgicos do Maranhão no trato dos trabalhadores vinculados ao chão de fábrica Recife 2012

2 1 NAÍRES RAIMUNDA GOMES FARIAS O SINDICALISMO NO TEMPO: as estratégias do Sindicato dos Metalúrgicos do Maranhão no trato dos trabalhadores vinculados ao chão de fábrica Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial à obtenção do título de Doutora em Serviço Social. Orientação: Profª Drª Edelweiss Falcão de Oliveira Recife 2012

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4 3 Aos que ainda protestam e reivindicam. A Antônia Viana Gomes Farias, mãe querida. Em memória Artur Farias, por impulsionar conhecimentos, sonhos e conquistas. Ao saudoso pai. Faní, que se foi ficando, presença acolhedora no processo; no retornar do coração, a saudade.

5 4 AGRADECIMENTOS A Antônia Viana Gomes Farias, a Mãe Tunica de todos, mãe querida, presente em todo o processo. Muito obrigada. A Miúcha, Titico e Papaco pela trajetória. A Daniel Serra pela alegria. A Rai Soares, amiga e companheira nas caminhadas acadêmicas à fora, pelo compartilhar. A Jocélia, pelo cuidado com a minha mãe, principalmente quando estava ausente. A Dona Nevinha, pela presença acolhedora durante os horários noturnos de trabalho. Muito Obrigada. [ A orientadora Profª Edelweiss Falcão de Oliveira pelo empenho e interlocução. A Flávio Farias, Profº do Curso de Economia da UFMA e militante do movimento sindical docente, pelo crédito, troca e disponibilidade para compor as bancas e pré-bancas de defesa desta tese. Ao Sindicato dos Metalúrgicos no Maranhão por disponibilizar documentações e interlocuções. Um agradecimento especial a Valdir pelo estímulo, contatos e interlocuções no resgate da história do sindicato, inclusive a história contemporânea. A Júlio Guterres pelas informações disponibilizadas. A Viviane Farias e Marlon Albuquerque, geógrafos, pela seriedade no trato da coleta de dados. Ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da UFPE, gestões e , em especial aos professores que ministraram as disciplinas nos semestres letivos de e Um especial agradecimento à professora Anita Aline pelos momentos de problematização, troca e descobertas do objeto, junto a colegas que compartilhavam o processo de elaboração de uma tese.

6 5 A Valfrido pela generosidade acolhedora, companheirismo amigo e singularidade de ser, por exemplo, interdisciplinar. A Aurineida Cunha e Claudia Gomes pela vivência acadêmica e cumplicidade no processo de capacitação e de lazer. A Edístia Maria, professora do Curso de Serviço Social da UFPE, pelo empenho na tramitação final de depósito da tese junto ao Programa de Pós-Graduação e a Biblioteca Central da UFPE. As colegas do DESES/UFMA, pelo seu trabalho, enquanto fazia jus à capacitação docente. A colega Maria do Amparo pelo estímulo, além de compartilhar com a sabedoria de uma grande mestra. As autoras e autores das referências recorridas para elucidar e problematizar o objeto. A todos e todas, que mesmo de longe, estiveram perto contribuindo com o processo. Um agradecimento especial aos trabalhadores que protagonizaram a pesquisa na condição de chão de fábrica, disponibilizando tempo e informações.

7 6 Papai, não vás à guerra. Na guerra, ou terás de matar os pais de outras meninas como eu, ou serás morto por eles. E que será de mim, se morreres; que será delas se lhe matares os seus pais? Federação Operária de S. Paulo, A Plebe,

8 7 RESUMO Este trabalho analisa o encaminhamento das estratégias do SINDMETAL, Sindicato dos Metalúrgicos do Maranhão, no trato dos trabalhadores vinculados ao chão de fábrica da ALUMAR (Alumínio/Maranhão), gestões e Tem como condução investigativa inicial a realização de uma pesquisa bibliográfica, documental e de campo constituída de entrevistas com 25 trabalhadores do processo imediato da produção do alumínio, a Redução. A organização do objeto de estudo encontra-se subsidiada por uma categorização dos dados coletados, seguida por uma preliminar problematização da temática. Os resultados da pesquisa asseveraram requisições de estratégias do âmbito fabril ao extramuros. Destaque para melhorias salariais, condições de trabalho, relações sindicatosociedade, parada na entrada da fábrica e negociação entre representação patronal e sindical. O arranque da questão remete para o aspecto mudança na história do SINDMETAL. Propõese substituição da estratégia confronto com o capital pelo trinômio proposição/negociação/participação; no contraponto, a compreensão de uma proposta regida pelo capital e distante dos movimentos autônomos da classe. A tendência é evitar manifestações prolongadas. Os movimentos de curta duração são avaliados como viáveis frente ao mercado maranhense, onde a ALUMAR oferece melhores condições de trabalho e salário, além do investimento tecnológico. Os dados sinalizam um sindicalismo possível às requisições do capital. Em vez de greve, prioriza-se parada de horas na entrada da empresa. Detalhe: desde que esgotadas todas as possibilidades de negociação. O diferencial: a produção não pára, dada a dinâmica ininterrupta do processo produtivo. As conclusões do estudo assinalam mudanças no trato das divergências entre partes e enfatizam a negociação e o confronto como importantes estratégias sindicais, registrando a relevância de atuações parciais, desde que articuladas a um horizonte além das demandas empresariais com capacidade de generalizar-se para um movimento de confronto à lógica do capital na produção. Mudanças nas formas, mas considerando o componente oposicionista como vital na dinâmica sindical. Palavras-chave: Sindicalismo, Trabalhador e Chão de Fábrica

9 8 ABSTRACT This work analyzes the strategies of the SINDMETAL, Maranhão Metalworker Union, on tract of laborer from factory floor of ALUMAR (Aluminum/Maranhão), in the periods of and Bibliographical, register and field researchs had been carried through; this last one was constituted of interviews with 25 workers of the immediate process of the production of aluminum, the Reduction. After that, the study object was organized, subsidized for a categorizing of collected data and, after that, a preliminary analysis of the thematic was developed. The results had shown solicitations of strategies inside and out of the factory environment; amongst which they are wage improvements, work conditions, relations between the union and the society, stopping in the factory entrance and negotiation between the employer representatives and the employees. The starting point of this work indicates changes in the history of SINDMETAL. The substitution of the strategy of confrontation with the capital for the one with proposition/negociation/participation is proposal. The understanding of a proposal guided by the capital and distant of independent movements is also detached. The trend is to prevent drawn out manifestations. The movements of short duration are evaluated as viable ahead of the maranhense market, in whch ALUMAR offers to better conditions of work and wage, beyond the technological investment. The data show a possible unionism to the capital demands. Instead of strike, stopping hours in the entrance of the company is prioritized. Detail: if the negotiation possibilities are depleted. The differential: the production doesn't stop, because of the uninterrupted dynamics of the productive process. At last, changes of strategies and tactics are a context question. The relevance of others and new tactics is understood and a class project is created, which foresees this partial characteristic, since that articulated to a horizon beyond the enterprise picture with capacity of generalizing itself for a movement of confrontation to the capital logic in the production. Changes in the forms are observed, considering the opposition component as vital in the syndical dynamics. Keywords: Syndicalism, Laborer end Factory Floor

10 9 LISTA DE SIGLAS AFL CIO - Central Sindical Norte-Americana ALCOA - Alumínio S.A (Aluminium Company of América) ALCAN - Alumínio Canadá ALUMAR - Alumínio/Maranhão CDI - Companhia de Distritos Industriais CGT - Central Gral dos Trabalhadores CSC - Corrente Sindical classista CUT - Central Única dos Trabalhadores DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos DRT - Diretoria Regional do Trabalho EUA - Estados Unidos da América FHC - Fernando Henrique Cardoso FMI - Fundo Monetário Internacional IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística LTM - Central Sindical Mexicana MST - Movimento dos Sem Terra NAFTA - Acordo de Livre Comércio OIT - Organização Internacional do Trabalho ONU - Organização das Nações Unidas PC do B - Partido Comunista do Brasil PSTU - Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados PT - Partido dos Trabalhadores USP - United Parcel Service SINDMETAL - Sindicato dos Metalúrgicos UFMA - Universidade Federal do Maranhão UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro UNICAMP - Universidade de Campinas

11 10 SUMÁRIO INTRODUÇÃO CAPÍTULO I DA APOLOGIA À CRÍTICA: as estratégias sindicais O processo de produção ampliada do capital Da apologia ao sindicalismo propositivo e negociador A proposta A crítica à proposta A crítica a proposta de negociação CAPÍTULO II As Estratégias do SINDMETAL: do âmbito fabril ao extramuros O âmbito internacional da organização sindical Da dinâmica sindical à proposta de atuação de base internacional Estratégia Sindical: ir além dos muros da empresa A questão em Marx e Engels A proposta no debate contemporâneo Do âmbito fabril ao extramuros: as estratégias do SINDMETAL O universo da ALUMAR O discurso empresarial e sua concretização: o outro lado da moeda O medo como motor de produção Sobre o Sindicato dos Metalúrgicos em São Luís O encaminhamento estratégico A negociação como estratégia CAPÍTULO III O SINDMETAL E O CAMPO DAS REIVINDICAÇÕES E PROTESTOS Tempos modernos em um novo tempo: o tempo do SINDMETAL Mudanças de estratégias e táticas: uma questão de contexto O tempo do SINDMETAL: um novo tempo apesar dos perigos Outras táticas, novas táticas, e um projeto de classe delineado Estratégia de reivindicação e de protesto: a parada na porta da Fábrica Entre novas e clássicas estratégias: a potencialidade sindical CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS ANEXOS

12 11 INTRODUÇÃO A proposta em apresentação objetiva analisar o encaminhamento estratégico do Sindicato dos Metalúrgicos do Maranhão (SINDMETAL) no trato dos trabalhadores representativos de sua base no universo produtivo da ALUMAR (Alumínio/MA), procurando captar possibilidades da luta de classes. Eixos da pesquisa: o SINDMETAL e a base sindical localizada no chão da fábrica, supondo uma avaliação sobre o discurso organizacional da empresa. Sob a ótica do SINDMETAL, procurei elucidar as estratégias e táticas que este prioriza frente às demandas da categoria, atentando sua conveniência às requisições desta e se asseguram legitimidade à entidade. Sob o prisma da base do sindicato, o intento foi identificar as demandas que o trabalhador considera representar seus interesses e a interpretação do trato mediatizado pela política sindical e empresarial. Preocupa-me captar as demandas, estratégias e avaliações priorizadas pelo sindicato, bem como dispor de elementos relativos aos interesses dos trabalhadores. Por que a temática? A começar por não se tratar de um estudo em fase de iniciação. A prioridade pela pesquisa, além de proporcionar retorno como pesquisadora na área, ainda que com outra delimitação de estudo, parte do propósito em sistematizar questões sobre a atuação estratégico-tática sindical frente às atuais requisições da sociabilidade do capital, sugerindo algumas questões para o debate sobre a temática. Além disso, propõe-se a contribuir com âmbitos como: formação profissional, dinâmica sindical, debate sobre os desafios postos ao SINDMETAL nos anos contemporâneos e sobre o perfil dos trabalhadores vinculados à atividade fim, sobretudo, no que tange à potencialidade da luta que pode empreender no espaço intra e extrafabril, entre outras singularidades. Considero que, ao trabalhar o perfil do trabalhador vinculado ao processo produtivo da ALUMAR, estou sistematizando importante subsídio para o debate sobre o perfil do trabalhador alvo da atuação do assistente social no ambiente produtivo. Entendo que o Serviço Social se insere na divisão técnica do trabalho para lidar com as relações sociais e as questões daí oriundas. No âmbito empresarial, seu fazer participa ao lado de outras profissões no processo de obtenção das metas almejadas pela política organizacional compreendendo, é claro, a sua contribuição peculiar no resultado geral do trabalho atingido. Lida com uma peculiaridade paradoxal de atuação: por um lado, trabalha com programas de qualificação, treinamento, desenvolvimento, qualidade de vida, entre outras modalidades divulgadas pela

13 12 empresa; por outro, depara-se com um ponto de vista do trabalhador em forma de uma contraface do discurso oficial, um contradiscurso manifesto na situação de achatamento salarial, sobrecarga, redução de emprego e aumento do desemprego, terceirização, precarização, pressão por produção, inclusive sob coação, entre outras expressões de impactos da contemporaneidade do capital industrial sobre a força de trabalho. Uma preocupação em termos do fazer profissional: o assistente social tem encontrado espaços para trabalhar as requisições do capital, ao dispor das demandas do trabalhador alvo de sua atuação, inclusive, o vinculado ao ambiente produtivo? No horizonte, a perspectiva de reversão do sofrimento vivenciado pelo trabalhador em instrumento de recusa ante situações que não concorda. Reversão até no sentido de trabalhar o coletivo requisitado empresarialmente como espaço, sobretudo, para amadurecimento em inserções de âmbitos mais amplos, para além da empresa e com uma perspectiva de luta para além dos marcos nacionais, além do capital. Para que pesquisar? Com essa indagação busquei alcançar os seguintes objetivos com a pesquisa. Em termos gerais, procuro analisar os encaminhamentos das estratégias dos SINDMETAL no trato dos interesses dos trabalhadores da ALUMAR nas gestões e Para ter assegurado essa intenção o que pretendo alcançar com a realização da pesquisa, especifico dois objetivos a alcançar: 1-Identificar as principais estratégias que o SINDMETAL considera representar os interesses da categoria no âmbito fabril e extrafabril, procurando captar a avaliação dos trabalhadores e dos diretores do sindicato; 2-Esboçar considerações relativas à atuação estratégico-tática do SINDMETAL no campo das manifestações de reivindicações e protestos. Com essa perspectiva, conduzi o percurso investigativo iniciando com o levantamento bibliográfico e documental sobre a temática, acompanhado pelo estudo que foi se construindo e se efetuando em todo o processo da pesquisa. Em seguida, realizei um levantamento exploratório sobre o campo priorizado como empírico, seguido pelo levantamento e análise de estudos acadêmicos e/ou resultados de pesquisas empíricas

14 13 realizadas sobre a temática. Categorias alvo do levantamento: transformações no trabalho, sindicalismo e manifestações de reivindicação e protesto. Mediatizaram o rastreamento as bibliotecas da Universidade Federal de Pernambuco, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Universidade de São Paulo, Universidade de Campinas e Arquivo Edgar Leuenroth/UNICAMP. Processo que durou dez meses de coleta de dados, somando a disciplina cursada na UNICAMP: Marx e sua ontologia crítica, em especial a discussão sobre os sindicatos. Além do rastreamento em livrarias, sebos, debates e outras dessa natureza. Logo após, parti para o levantamento, seleção, estudo e análise de dados que pudessem subsidiar a configuração do objeto. E aí a pertinência da documentação ao dispor do SINDMETAL. Entre os limites da perda de relevantes documentos referentes à história desse sindicato, foram trabalhados com apreciável cautela: Lista de Desconto em Folha, Pasta de Demitidos, Pasta de Convenções Coletivas, Pasta de Estudos Estatísticos, Livro de Associados na gestão de , Ficha de Sindicalização e Taxa Confederativa. O passo seguinte deu-se com a elaboração dos instrumentos de coleta de dados, seguida pela realização da pesquisa de campo e com amostra. Para facilitar maior conhecimento sobre a questão, delimitei o universo produtivo da ALUMAR, especificamente o setor responsável pela produção do alumínio, a Redução. Essa delimitação pelo universo da ALUMAR justifica pela prioridade em estudar empreendimentos de ponta. Trata-se de uma indústria pioneira na implantação do arsenal tecnológico e de políticas de gestão compatíveis com as exigências do capital monopolista industrial, o que a posiciona no mercado como empresa de ponta em termos mundial e local. Mundial, por apresentar resultados relativos às requisições de metas produtivas de qualidade com um determinado número de horas homemmáquina sem afastamento no trabalho. Local por oferecer melhores condições de trabalho e salário, ainda que achatado em um quadro de expansão de precarização e desemprego. A prioridade pelo Setor Redução parte da intenção de pesquisar setores representativos da produção, localizando-se o setor da produção de alumínio no coração da empresa e por onde transitam os operários vinculados à atividade fim. Além desse setor, que aglutina trabalhadores, 480 distribuídos na Sala de Cubas, 127 no Lingotamento e os demais na área terceirizada de Eletrodos, a empresa mantém 354 trabalhadores em exercício na Refinaria, dispondo de 48 no Porto e 117 na Administração, totalizando 1669 trabalhadores vinculados funcionalmente à empresa.

15 14 Os critérios para seleção dos entrevistados tomaram como referência os trabalhadores vinculados regularmente na ALUMAR e na ativa no chão de fábrica em situação de associados e não associados ao SINDMETAL durante as duas últimas gestões conclusas do nos anos de 1997 a 2000 e 2000 a Período que considero proporcionar uma avaliação do início do século XXI com o final do século anterior. Foram priorizados como instrumentos de coleta e organização de dados um roteiro de observação, de entrevistas e de análise das questões. A dinâmica da pesquisa de campo procedeu-se mediante: entrevistas no sindicato e nas residências dos trabalhadores, reuniões informais com dirigentes sindicais e contatos com estudiosos do tema. Ao todo foram 25 entrevistados, 13 associados e 12 não associados, respectivamente, localizados na pasta de demitidos da empresa e nos registros da taxa confederativa onde constam os não associados. Os trabalhadores associados foram selecionados pela pasta de demitidos, uma vez que a lista de desconto em folha da mensalidade sindical na primeira gestão não se encontrava nos arquivos do sindicato. Nela, do total de 331 associados, 130 são representativos da produção e do período das gestões em estudo. Foram entrevistados 07 trabalhadores vinculados ao Lingotamento e 06 da Sala de Cubas. Dos 690 trabalhadores registrados na taxa confederativa, 79 foram priorizados por representar a produção no período das gestões em análise, totalizando 06 entrevistados representando a Sala de Cubas e 06 do Lingotamento. Em seguida, deu-se o encaminhamento da entrevista semi estruturada. E aí uma indagação importante de Cecília Minayo: quais indivíduos têm uma vinculação mais significativa para o problema a ser investigado? (1994:43). Tomando essa perspectiva, selecionei os entrevistados utilizando a técnica de bola de neve, que requisita a cada entrevistado uma indicação de um outro possívelmente entrevistado; este por sua vez indica outro que leva a outros, assegurando a efetivação da pesquisa junto aos operários e a sua conclusão assim que as questões se apresentavam saturadas. Ao observar que as informações estavam se repetindo, encerrei a coleta de dados na 25ª entrevista. Utilizei também, em caráter complementar, entrevistas com dirigentes do SINDMETAL e gestores dos Setores de Recursos Humanos da ALUMAR. As entrevistas duraram em média de 30 a 40 minutos.

16 15 Realizadas as entrevistas, deram-se os momentos: transcrição das fitas utilizadas na entrevista, organização do objeto de estudo e tratamento dos resultados apontados na pesquisa. Para isso, percorri por etapas que envolveram categorização dos dados coletados, seguindo por uma preliminar problematização com base nas indicações bibliográficas trabalhadas e nas demais referências apontadas na pesquisa empírica, mesmo que não previstas nas hipóteses iniciais do projeto. No mais, coloco-me no campo marxiano de investigação e análise sem distanciar-me da perspectiva plural do debate que proponho no desenrolar da questão. Minha relação com o objeto orienta-se pelo método dialético em Marx, tomando como referência a análise sobre o movimento histórico real, o que já supõe ser antagônico. Um movimento aqui explicitado, em termos formais, em dois procedimentos: o método de investigação e o método de exposição. Com o método de investigação compreendo a forma pela qual o pesquisador capta os dados empíricos, perpassando questões que vão do abstrato ao concreto. O abstrato é o momento do concreto, e este a unidade do diverso, a síntese de múltiplas determinações, observa Marx na Crítica da Economia Política-prefácio da primeira edição e posfácio da segunda edição (1983). Pela via do abstrato, o sujeito reconstrói situações histórico sociais e se apropria do concreto para reproduzi-lo em seus detalhes, em suas distintas formas de desenvolvimento (1983:14). Nos termos de Marx em Para Crítica da Economia Política (1991): [...], o método que consiste em elevar-se do abstrato ao concreto não é senão a maneira de proceder o pensamento para se apropriar do concreto, para reproduzi-lo como concreto pensado. Isto significa partir do dado e, pela reflexão, apanhar as determinações que o constituem. Paulatinamente, a realidade em questão aparece viva em movimento. Por isso o concreto aparece no pensamento como o processo da síntese, como resultado, não como ponto de partida, ainda que seja o ponto de partida efetivo e, portanto, o ponto de partida também da intuição e da representação (MARX, 1991, p ). Com o método de exposição, encontro elementos para tratar a organização desses dados empíricos, partindo de categorias e princípios rigorosos, considerados produtos das condições históricas e, portanto, transitórios, tais como tratados no Prefácio a critica da Economia Política (1983), Para Crítica da Economia Política (1991) e Miséria da Filosofia (2001). Quais sejam: totalidade no trato do movimento capitalista como um todo e não soma de partes; antes articulação das partes; negatividade, que vê esse movimento como campo de forças contraditórias; mediaticidade por remeter à análise de suas particularidades na trama

17 16 das relações postas pelo capital e práxis social. Esta categoria, além das objetivações, permite desvelar trabalhadores alienados de seus atos de criação, de suas relações e exploração posta; como o seu contrário, por acreditarem no potencial de classe, até mesmo, na possibilidade de uma subversão ao sujeitamento requisitado. Considero que, de posse das categorias constitutivas do método dialético em Marx, o pesquisador possa refletir a realidade apanhando suas relações, processos, estruturas e descobrir nelas a trama das contradições imersas no seu movimento. Vale lembrar que o desvelamento das questões apontadas propõe-se a registrar situações de exploração, indignação e até recusa dos trabalhadores face ao cenário posto pela trama do capital. Partindo dessa perspectiva, cabe perguntar: os objetivos da pesquisa foram alcançados? Os resultados asseveraram uma direção estratégico-tática posicionada para o âmbito fabril e extramuros. Salário é a temática mais solicitada pelos trabalhadores, tanto em termos da negociação, como das manifestações de reivindicações e de protestos. O SINDMETAL atua ainda com a proposta de negociação entre representação patronal e sindical, paralisação na entrada da fábrica, estreitamento das relações do sindicato às questões que afetam a sociedade. Além disso, tem investido no âmbito da comunicação, especificamente, o Jornal Marreta Neles e Rádio Capital, da educação via descontos a associados em faculdades particulares, da luta pela manutenção dos cinco turnos de revezamento, lazer, sindicalização, saúde e segurança do trabalhador e serviços médicoodontológicos e jurídicos. E a proposta que apregoa negociação entre representação patronal e representação sindical? Algumas opiniões sinalizam haver; outras não; como também há vezes em que nem prevalecem os interesses da representação patronal, nem da representação sindical, a questão vai para dissídio. As observações indicam divergências no processo da negociação, havendo quem assinale a postura de aceitação do sindicato face às deliberações da empresa e quem observe a perspectiva de incompatibilidade nas relações entre representação patronal e SINDMTAL. Neste caso, os dados indicam tratar-se de interesses opostos, forças contrárias, com percepções e anseios que, no caso dos trabalhadores, são diferentes da empresa. A tendência desta, aliás, na sua busca incessantemente pelo lucro, é explorar mais a classe trabalhadora. Ademais, do discurso que apregoa negociação entre representação patronal/representação sindical à perspectiva do trabalhador que vivencia a concretude desse discurso, diversas vezes em forma de contradiscurso, um outro discurso, o formato é de uma

18 17 proposta falaciosa. O que pesa é a produtividade a atingir. Os dados são de que os trabalhadores, antes de se sentirem em uma posição de troca, podendo usufruir das recompensas pelos resultados empreendidos, consideram-se receptores de metas, por vezes, em forma de imposição e coação. Essa é uma outra face percorrida pela indústria em sua busca por metas e certificados que lhe assegurem a condição de ponta no mercado mundial de alumínio. Os dados apresentam a pressão por produtividade como um aspecto inovador nas gestões organizacionais nos últimos anos. Ela representa produtividade do trabalhador sob constantes ameaças de redução de pessoal em um quadro de acirramento de terceirização, precarização, desemprego e, sobretudo, considerando a situação de instabilidade no mercado. É a aflição e ou tensão em não atingir o ritmo produtivo previsto. É o medo de ser demitido, dado o significativo contingente recrutado como reserva no setor de pessoal da empresa, jovens considerados saudáveis para a produção e em situação de troca inferior ao que o trabalhador da área percebe. É o temor em fazer parte de uma avaliação de causas de acidentes pela possibilidade de ser apontado como infrator da política de segurança, o que pode levá-lo a demissão. Entendo que o contemporâneo da questão dá-se no contexto histórico em que atua o capital monopolista, e pressupõe mudanças de algumas estratégias, táticas e objetivos da atuação sindical, assim como um largo debate sobre as concepções de organização. Daí as questões: tempos modernos em um novo tempo: o tempo do SINDMETAL; mudanças de estratégias e táticas: uma questão de contexto; um novo tempo, apesar dos perigos e outras táticas, novas táticas e um projeto de classe delineado. Com a questão mudanças de estratégias e táticas: uma questão de contexto abordo uma panorâmica da processualidade da organização sindical em Marx e Engels e em termos contemporâneos. A singularidades dessa abordagem é o contexto em que ela se realiza, donde entendo resultarem diferentes concepções de atuação sindical. A princípio, são as requisições de organização em âmbito nacional, como previam as coligações operárias permanentes. Posteriormente, a proposta de organização internacional, enfatizando a necessidade de um centro de comunicação e cooperação entre as sociedades operárias de diversos países, tal como observam os Estatutos da Associação Operária (1977b). Em termos contemporâneos, os dados são de mudanças na intervenção estratégicotática do SINDMETAL. Reivindica-se a substituição da estratégia de confronto com o capital

19 18 pela proposta proposição/negociação/participação dentro do ordenamento possível do capital. Concomitantemente, as mudanças se efetuam em queda de sindicalização, aumento de demissão, o que não se trata de uma realidade dos trabalhadores da ALUMAR, mas parte de uma tendência mundial que incentiva recordes de produção, perdas de postos de trabalho e aprofundamento da situação de desemprego. Os estudos destacam a tendência a evitar manifestações prolongadas. Em uma empresa considerada de ponta como ALUMAR, uma indústria que oferece as melhores condições de trabalho e salário no mercado local, além do investimento no fator tecnológico, a proposta de greve não mais se apresenta viável como no início dos anos 90. Até pela ausência de condições concretas para sua realização, sobretudo, no que tange ao exercício de uma organização interna dos trabalhadores dentro da fábrica. Em vez de greve, a parada na entrada da fábrica aparece como manifestação viável diante do contexto mercadológico, desde que esgotadas todas as possibilidades de negociação com a representação patronal. A questão é atrasar a entrada dos trabalhadores na fábrica. Além da hora, tempo e o próprio processo, outra peculiaridade da manifestação parada na porta da fábrica é a produção que não pára, mesmo com o bloqueio do trecho da BR que dá acesso aos ônibus da empresa. A justificativa é a dinâmica direta de funcionamento da ALUMAR, demandando operadores ininterruptos no processo produtivo. Os dados são de uma paralisação que pode até parar a maioria vinculada ao sindicato, mas não a totalidade dos trabalhadores. Algumas observações sinalizaram entrada substantiva de funcionários para trabalhar enquanto a parada acontece. Alguns ignorando-a, outros criticando inclusive a obrigação delegada de permanecer na manifestação. Mudanças de estratégias, acompanhadas por uma variedade de interpretações sobre a postura do SINDMETAL. Em termos gerais, duas são as manifestações de atuação sindical no cenário contemporâneo: uma que requisita um sindicato mais duro na resistência às pressões da empresas; outra que propõe um sindicalismo possível no quadro do capital, buscando alternativas dentro dele, inclusive, de forma menos divergente. Alguns dados apontam o predomínio de uma proposta que se caracteriza propositiva; outros conflitiva, ou de confronto, e outros de defensiva no sentido de manter conquistas, a exemplo da luta pela manutenção do turno de revezamento atual. No geral, as observações são de uma postura sindical que se propõe negociadora, havendo divergências no que tange a ganhos. Enfim, referenciando-me em uma análise ampliada de trabalho e dentro de uma visão de centralidade, proponho estimular o debate sobre os desafios que a

20 19 contemporaneidade aponta para o encaminhamento estratégico do SINDMETAL, captando as possibilidades de embates de classe na metalurgia de ponta localizada no solo maranhense, entendendo daí as concepções, estratégias e ações engendradas. A exposição dos resultados da pesquisa se encontra esboçado em três capítulos na tese. No primeiro, observo o processo de produção ampliada do capital, a apologia à proposta propositiva e de negociação no espaço sindical e os aspectos relativos à crítica a essa apologia, ressaltando a perspectiva de retrocesso para o contexto. No segundo, destaco a intervenção estratégico-tática do SINDMETAL do âmbito fabril ao extramuros da empresa, esboçando algumas análises relativas à proposta de organização dos trabalhadores em âmbito internacional e uma ligeira panorâmica da questão em Marx e Engels e no debate contemporâneo. Prossigo esboçando a atuação estratégico-tática que o SINDMETAL considera representar os interesses dos trabalhadores, destacando duas peculiaridades de intervenção: a proposta de negociação entre partes, tratada da ótica do discurso à sua concretização; e o aspecto pressão por produção recorrido nos últimos anos pela indústria. O medo daí oriundo representa produtividade sob a ameaça de represália, demissão, sem contar com a terceirização presente no pátio da empresa e o desemprego, que se tornou estrutural, além da instabilidade, sobretudo, considerando o mercado local. No terceiro capítulo, esboço a atuação do SINDMETAL no campo das reivindicações e protestos. Inicio com a questão tempos modernos em um novo tempo: o tempo do SINDMETAL, onde brevemente pincelo as principais reivindicações e conquistas desse sindicato em um quadro que reivindica outras estratégias e táticas, ou mesmo mudanças de estratégias e táticas, a exemplo da substituição da postura confronto pelo trinômio proposição, participação e negociação dentro da ordem possível do capital. Com a questão mudanças de estratégias e táticas, uma questão de contexto, destaco a processualidade da organização sindical e as demandas apontadas no debate contemporâneo. A abordagem o tempo do SINDMETAL: um novo tempo, apesar dos perigos, trabalha o contexto de intensificação de trabalho, terceirização, precarização, além da pressão face ao exército recrutado como reserva no setor de recrutamento da empresa. Com a questão outras táticas, novas táticas, e um projeto de classe delineado, abordo o componente oposicionista como vital no processo de atuação sindical, mesmo que a prioridade seja por movimentos de curta duração, avaliados como viáveis frente ao contexto mercadológico maranhense.

21 20 Na seqüência, esboço uma breve discussão sobre a parada na porta da fábrica, atentando a peculiaridade tempo, espaço e limites dessa manifestação, comparando à dinâmica da greve. Ao término do estudo, apresento as considerações finais, onde assevero mudanças na intervenção estratégico-tática do SINDMETAL, entendendo tratar-se de uma questão de contexto. Considero relevante a perspectiva que analisa SINDMETAL tomando como referência a questão outras e novas táticas, e um projeto de classe delineado, a um horizonte além do quadro empresarial requisitado, com capacidade de extrapolar o espaço da produção e generalizar-se para um movimento de confronto à lógica do capital. Mudanças nas formas, mas considerando o componente oposicionista como força vital na dinâmica sindical e o confronto como importante estratégia de intervenção. Por fim, apresento a bibliografia recorrida, entendendo tratar-se de uma aproximação à temática.

22 21 CAPÍTULO I - DA APOLOGIA À CRÍTICA: as estratégias sindicais É certo que a arma da crítica não pode substituir a crítica das armas [...], mas também a teoria transforma-se em poder material logo que se apodera das massas. A teoria é capaz de apoderar-se das massas quando argumenta e demonstra ad hominem, e argumenta e demonstra ad hominem quando se torna radical; ser radical é tomar as coisas pela raiz. (MARX, Crítica da filosofia do direito de Hegel). 1.1 O processo de produção ampliada do capital A contemporaneidade do processo de produção ampliada do capital se expressa no delineamento do capitalismo de porte supranacional. Os dados apontados por Marilda Iamamoto (2001), que cita Piore e Sabel (1984) ao se reportar à especialização flexível ou mesmo à acumulação flexível trabalhada por Harvey (1993), mostram a liderança do novo padrão de acumulação no capitalismo contemporâneo. Iamamoto considera tratar-se de um padrão direcionado por um processo de reestruturação de indústrias e destruição de parte do aparato industrial que não resiste à competitividade de grandes oligopólios. Sob sua condução, movimentam-se alterações no processo de trabalho, formas de gestão da força de trabalho, mercado de trabalho, relações de emprego, direitos sociais e organizações sindicais. José Paulo Netto (1996) também se refere ao capitalismo contemporâneo como novo padrão de acumulação flexível. Padrão esse direcionado por uma produção segmentada, horizontalizada e descentralizada, encadeada por redes supranacionais. Sob ele, conjugam-se as estratégias de economia de trabalho vivo e as modalidades de contratos flexíveis de trabalho, tipo emprego precário. O autor enfatiza a naturalização da política de redução de custos em forma de redução de emprego, compressão salarial e conseqüente aviltamento do padrão de vida. Enfim, vigora na dinâmica contemporânea o processo de produção ampliada do capital sob condução da demanda, aumento de produtividade em um quadro de redução do capital variável e aumento do capital constante. Segundo Iamamoto (2001), a acumulação ampliada do capital se contemporaneiza reduzindo o tempo de trabalho socialmente necessário à produção e ampliando o trabalho excedente. É possível dizer que a produção

23 22 assume um porte peculiar na cena contemporânea por articular meios de extração de maisvalia absoluta com relativa, assentando-se na exploração, como trata Marx (1994, p. 477). Como? Substituindo-se força de trabalho e prolongando jornada de trabalho de outras categorias suscetíveis à exploração 1. O âmbito industrial de ponta, em suas estratégias de gestão, por exemplo, requisita redução de custo, mas como política que incentiva enxugamento de pessoal e sobrecarga de trabalho. A meta é aumentar a produção, com um número reduzido de trabalhadores em um menor tempo de trabalho socialmente necessário, ampliando-se o trabalho excedente. Acresce a isso o exército de indivíduos em situações de reserva no mercado, sobretudo, considerando o significativo contingente recrutado como reserva no setor de pessoal dos parques industriais. Simultaneamente, estimulam-se trabalhos terceirizados e precarizados para cumprir tarefas em troca de um salário rebaixado. A propósito, essa parece ser a direção incentivada pelo projeto neoliberal no cenário contemporâneo. Em vez do Estado, responsabiliza-se a sociedade civil e os próprios indivíduos pelo enfrentamento das mazelas oriundas da sociabilidade do capital. Além do retrocesso, há o desconhecimento das responsabilidades travadas pelos sujeitos políticos. É melhor trabalhar com categorias, como vagabundos, miseráveis, pauperizados, traficantes. Isso obstaculiza o trato da temática partindo de requisições do capital, principalmente, sob uma ótica de classe, fetichizando em estigmatizações a situação dos sobrecarregados, terceirizados, precarizados, desempregados, como os de longa duração, entre outras singularidades contemporâneas da exploração do capital 2. 1 Com a maquinaria e a indústria moderna, Marx elenca duas conseqüências da produção mecanizada para o trabalhador: o encarecimento de sua vida e de sua família e o aumento intensivo e extensivo da jornada de trabalho. A taxa da mais-valia aumenta porque reduz o número de trabalhadores. Essa situação impele o capital de prolongar a jornada de trabalho, recorrendo a exploração direta da força de trabalho, largamente desvalorizada, de mulheres e crianças. Detalhe: requisita-se crescimento de produção em um tempo menor. Mais ainda, em forma de aumento de trabalho não só relativo, como também absoluto (MARX, 1994, p.477). 2 No campo estatal propõe-se o Estado Mínimo, o que requer ausência de intervenção no campo econômico e social, bem como incentivo à privatização e à desregulamentação. Podemos dizer que o neoliberalismo à brasileira, termo utilizado por Francisco de Oliveira (1995), apresenta um balanço francamente favorável às deliberações neoliberais traçadas pelos países capitalistas avançados. Diria francamente exagerado, se considerarmos a pregação anti-social promovida pelo governo Collor de Mello. Ou seja, uma pregação que responsabiliza a ação da estatal pela má distribuição da renda e depredação da saúde, educação e de outras políticas sociais. Com isso, o neoliberalismo à brasileira põe em cheque as funções estatais e o pouco que existia em termos de serviços que não chegavam a se consubstanciar em Estado de Bem Estar Social. Os governos Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso parecem apontar uma situação diversa da ideologia neoliberal outrora tratada. Propagam-se planos de recuperação econômica quase sempre as vésperas, independente da opinião pública e das forças sociais organizadas. E mais, ora ignorando ou mesmo atacando o movimento organizativo.

24 23 Simultaneamente, dá-se o aspecto mundialização do capital entendido como nova fase da internacionalização do capital, marcada por um regime de acumulação sob dominância financeira, sobretudo, nos Estados Unidos onde se encontra a hegemonia dos que personificam o capital produtor de juros 3 (CHESNAIS, apud FARIAS, 2003, p.156-7). Tomando essa referência, Flávio Farias (2003) observa a subsunção e a dominação do capital também efetivada na capacidade de o capitalismo se apropriar do saber dos assalariados, incluindo aí os conhecimentos que considera não pagos na forma salário. O objeto da acumulação, observa o autor, constitui-se principalmente pelo trabalho intelectual que é tido como nova fonte do excedente. Farias está se referindo aqui ao capitalismo cognitivo, tratado como forma histórica emergente de capitalismo, na qual a acumulação fundamenta-se na exploração sistemática do conhecimento e das informações novas (PAULRÉ apud FARIAS, 2003, p.145). No contradiscurso, Farias (2003) critica os teóricos desse capitalismo por não trabalharem com clareza questões referentes à exploração atual sob a base valor e, então, da mais-valia (absoluta e relativa), assim como da subsunção (formal e real) ao capital. Em sua análise, a atual concentração de poder não é mero produto de aspectos cognitivos, mas resultado direto do desenvolvimento desigual da produção e de reprodução do capital que entende ser inerente ao imperialismo. Isto implica a impossibilidade de constituição homogênea das classes, que estariam polarizadas sob uma relação mundial de dominação e de exploração. Para os que acreditam na possibilidade de uma outra mundialização (simultaneamente antiliberal e anticapitalista), é coerente tomar a perspectiva marxista da conquista de relações sócio-econômicas duplamente liberadas da exploração e da dominação capitalistas na escala mundial, destaca Farias (2003, p.142). Nesse cenário de mundialização do capital, oportuna é a atenção para o trato da segurança pública no cenário contemporâneo. A recorrência à repressão face às mazelas 3 Dados do jornal Financial Times, no suplemento de 10/05/2002 apontam: quase 48% das empresas e bancos mais importantes do mundo são dos Estados Unidos e 30% são da União Européia, somente 10% pertencem ao Japão [...] O poder econômico se concentra nestas três unidades econômico-geográficas e não em conceitos vazios como império sem imperialismo ou corporações multinacionais sem território [...] Dentro deste sistema, o poder econômico imperial dos Estados Unidos continua sendo dominante [...pois,] as gigantescas companhias americanas possuem uma rede poderosa que controla os setores da nova economia, as finanças e o comércio. A concentração do poder econômico nos Estados Unidos fica mais evidente se levarmos em consideração estes números: das 10 principais empresas mundiais, nove são de origem norte-americana; entre as 25 principais, 72% são de propriedade dos Estados Unidos; das 50 mais importantes, 70% são deste país; e das 100 empresas líderes, 57% são concentradas nele. (PETRAS apud FARIAS, 2003, p. 148).

25 24 oriundas dessa sociabilidade do capital, a volta da polícia para o trato de suas manifestações, é uma peculiaridade do que ainda restou de degradante na intervenção pública. Por meio do degradante, repassa-se um discurso preocupado em combater a questão social, sem problematizar o cerne do capital e, com ele, a ordem econômica estabelecida, do qual não é senão sua expressão. Um discurso que desconhece o caráter político da atuação da esfera pública no enfrentamento da questão social em termos de respostas concretas. Até porque essas respostas requerem transformações nas relações societárias do capital, pondo em cheque o desemprego estrutural, as condições precárias de emprego, trabalho e salário em um cenário expressivo de indivíduos em condições de reserva. Melhor amenizar, omitir, ou mesmo reprimir suas seqüelas, tornando-as, no mais das vezes, crônicos problemas desprovidos de reconhecimento de caráter social, como se expressa Pereira (2001, p.59). É como se a essência da instrumentalidade do capital ficasse adormecida e com ela a questão social perdesse os nexos da relação capital/trabalho, passando a ser analisada sob o foco da repressão. Nos termos de Ianni (1989), há uma naturalização da questão social. O autor considera não haver empenho visível em revelar a trama das relações que produzem e reproduzem as desigualdades sociais. Para Ianni, culpabilizar, criminalizar ou mesmo responsabilizar um amplo segmento da sociedade civil, e não o sistema, é defender a ordem estabelecida, sobretudo, quando se apresentam as desigualdades sociais como manifestações de fatalidades, carências etc 4. Uma das dimensões desse debate refere-se à contemporaneidade do trato coercitivo para com aqueles que mediatizam sua força de trabalho no tráfico de entorpecentes químicos, ou não químicos, negociados por setores subalternizados, considerados partícipes das camadas já tidas como perigosas. Isso é considerado situação que põe em risco a segurança da população, ou insegurança daqueles que sobrevivem nesse universo. Com essa perspectiva analítica, a mídia sensacionalista burguesa tem procurado envolver a população em um discurso fetichizante, mantendo imune de avaliações a acumulação ampliada do capital. O que pesa são os enfoques pulverizados. Ainda mais quando conservadoramente tratados 4 Entre as questões peculiares de nosso tempo está o trato da questão social, ou não questão, sob a via da criminalização, à volta da polícia como meio de sua intervenção. Diria que o trato da questão social se contemporaneiza, reciclando a noção de classes perigosas, não mais laboriosas, sujeitas à repressão e à extinção, como expressa Iamamoto (2001). Ou seja, há um retrocesso comparando com o trato de outrora. Algo parecido ao que Cerqueira (1982) observa como caráter ilegal da questão social no Brasil, destacando seu reconhecimento político, via intervenção de poderes públicos, no final dos anos 30. Até então, é tida como desordem e criminalidade a serem enfrentadas mediante repressão policial em resposta aos que infringirem a segurança requisitada.

26 25 recuperam valores morais já superados, o bem e o mal a peleja apocalíptica apontada por Martins (1997). Pesa a manutenção da ordem burguesa. Assim, sob olhares de crianças psicologicamente violentadas de sua dimensão infantil trafegam espécies de invasores fardados com munição, capazes de desmoronar até mesmo a sua relação de pertença, o seu lar. E haja tensão, aflição, medo e temor. Longe de desqualificar a situação de violência encenada por setores pertencentes às camadas consideradas perigosas, considero limitadas as análises fincadas na pura imediacidade reificada. Exemplo: a mera fenomeneidade do referencial que denuncia atividades dos meninos aviõezinhos do tráfico. O que nos dirão as pesquisas relativas à subjetividade da população que vive no espaço do tráfico, vendo nele a condição de trabalho para sobreviver? Mas o que significa ir além da imedicidade fenomênica nesse debate? Enquanto isso, assiste-se à reprodução da repressão como um dos enfoques de soberania oficializado pelo governo dos Estados Unidos, mesmo que às custas de vidas humanas, mantendo-se imune de análise o caráter concentrador da economia norte-americana, ainda que alvo de contestações de diversas dimensões de movimentos, inclusive no interior da sociedade do referido país. Nos termos de Dias (2002), busca-se ocultar os determinantes reais dos problemas, desconhecendo-se o que representa a governabilidade de Bush e seu arsenal nuclear e financeiro para o planeta. Desconhecendo, até mesmo, a participação e vitória do então presidente em uma eleição contestadíssima. Diante disso, o silêncio do governo e da mídia, sobretudo, no que se refere à visão dos antagonistas, porque o discurso oficialista é abundante. O que importa é a construção do governo de união sagrada nacional que se legitime pela repressão ao terrorismo, observa o autor, que propõe o desvelamento do significado das relações de hegemonia entre os Estados Unidos e o resto do mundo. No contraponto à repressão, o trato institucional da questão social também se contemporaneiza com requisições de solidarismo, colaboracionismo, campanhas esperanças, cotidiano sem fome, etc, como trabalha Iamamoto (2001). Ou seja, com questões que não tocam na essência da sociabilidade erguida pelo capital e, com ela, as requisições da financeirização, globolização, neoliberalismo, restruturação da produção e impactos nas relações de emprego e renda, onde pecarização e desemprego assumem magnitudes. Algo que Castel (1995), ao reportar-se à realidade francesa, apontou como conseqüências do ciclo monopolista do final do século: a desestabilização dos estáveis, a instalação de uma precariedade nas condições de trabalho e a geração de um déficit de lugares ocupáveis na

27 26 estrutura social. Considera tratar-se de uma perda da hegemonia do contrato de trabalho por tempo indeterminado que, cada vez mais, vê-se substituído por contrato de duração determinada, de tempo parcial e de relações de ajuda. É sob essa condição de integrabilidade, ou inintegrabilidade, que o autor enfatiza o núcleo da nova questão social 5. A condição de excedência assume pilar básico por apresentar um estado que não deixa ao menos os indivíduos vivenciarem a posição de explorados; pelo contrário, encontram-se inscritos numa dinâmica que os requer supérfluos. Dinâmica essa que equipara à realidade vivenciada pelos considerados vagabundos do contexto anterior à revolução industrial, ou mesmo pelos miseráveis do século XIX. Aliás, essa é uma realidade que Silva (1996) considera inevitável e necessária para o funcionamento do sistema capitalista. Entende que, se em alguns estudos sua compreensão requer contextualizar a teoria da marginalidade, para o autor necessário se faz remeter às condições de exclusão social geradas pela crise econômica. Por esse rumo também caminham as análises de Castells e Portes (1991), quando mencionam o setor informal como um componente integral das economias nacionais e não das economias marginais. Silva (1996) aponta, ainda, a necessidade de averiguar se o caráter da informalidade de fato expressa um peso morto para o crescimento econômico ou se contribui positivamente com o mesmo. E mais, em que medida seu contingente de trabalhadores assume a condição supérflua ou útil para a acumulação capitalista, ainda que como reserva 6. Enfim, vigora na cena contemporânea o predomínio de um padrão de acumulação ampliada do capital que, sob o sustentáculo de inovações tecnológicas, deixa rastros na diminuição do índice de trabalhadores empregaticiamente estáveis, estímulo à precarização e 5 Castel (1995) enfatiza a condição de desemprego evidente, a situação deficitária e a condição de excedência vivenciada por muitos indivíduos, estigmatizados sob a marca da inutilidade. São alvos desse cenário: os trabalhadores em envelhecimento que, por se encontrarem na faixa dos cinqüenta anos, perdem lugar no processo produtivo e não o encontram em outros espaços; os empregados de longa duração; os jovens à procura do primeiro emprego e que vagam de estágio a estágio e de um pequeno emprego a outro. 6 Os dados históricos vêm apontando o trabalho informal como uma atividade extremamente importante do ponto de vista econômico, diria até político para o crescimento das economias desenvolvidas. Casos como Japão e Itália são exemplos que nos últimos anos têm na subcontratação de pequenas empresas, restaurantes, serviços pessoais, vigilância, etc, respostas para o rápido desenvolvimento produtivo, como ilustram as análises de Piore e Sabel (1984), Hirst e Zeitlin (1991) e Kern e Shumann (1989). A FIAT, por exemplo, diminuiu a produção nas suas grandes fábricas para aumentar a subcontratação e, assim, lograr sua volta na competição internacional, (CASTELLS e PORTES, 1991, p. 38). Agora, trata-se de uma forma de trabalho que envolve, ao mesmo tempo, flexibilidade e exploração e, com ela, a situação de perdas para os trabalhadores, como apontam Castells e Portes. A começar pela falta de regulamentação total, seguida pela perda de status no trabalho e a conseqüente perda de benefícios sociais a que têm direito; além de trazer à tona condições de trabalho nocivas à saúde e alterações nas relações de poder do trabalho organizado, que vê reverter um conjunto de reivindicações historicamente conquistadas.

28 27 reforço ao alargamento do desemprego. Na esfera estatal, retira-se de cena do Estado necessário para gerir as peculiaridades da questão social, até mesmo para a população que se encontra fora do mercado oligopolizado em um contexto de mundialização do capital. Um mercado em que predomina a força de trabalho não homogeneizada, como o operário massa, mas heterogeneizada, o que Bihr (1998) chamou de operário social 7 8 e, com ela, a população excedente que Castel (1995) denomina de núcleo da questão social. As considerações de Iamamoto (2001) discordam da inutilidade posto como núcleo da questão social, como também questionado por Silva (1996) em outra abordagem. Sua análise distancia-se, de certa forma, do que Castel (1995) equipara aos vagabundos do século XVIII e miseráveis do século XIX, o que em Martins (1997) é denominado de população sobrante. Iamamoto chama de uma superpopulação relativa, constituída pelos supérfluos para o capital, algo que no surgimento da revolução industrial era configurado como exército industrial de reserva. Recorrendo às suas palavras: a lei da acumulação expressa-se na órbita capitalista às avessas, gerando uma acumulação de miséria relativa à acumulação do capital, encontrando-se aí a raiz da produção e reprodução da questão social na sociedade contemporânea (IAMAMOTO, 2001, p. 15-6). 1.2 Da apologia ao sindicalismo propositivo e negociador Sindicalismo propositivo como tratam Leite (1997) e Bresciani (1997), concertacão social nos termos de Ramalho (1994), defensivismo de novo tipo, como atribui Alves (2000), ou mesmo o sindicalismo neocorporativo de participação tratado por Boito (1999), enfim, estas são algumas abordagens que problematizam a institucionalidade sindical na cena contemporânea. 7 Expressão dos estudiosos do operariado italiano, considerada resultado da heterogeneização do proletariado (BIHR,1998). 8 Bihr (1998) destaca três peculiaridades de operário na cena contemporânea. A primeira refere-se aos proletários estáveis e com garantia; a segunda remete aos proletariados excluídos do trabalho e até do mercado de trabalho e, como tais, condenados ao desemprego, à pobreza e à miséria; a terceira diz respeito à massa flutuante de trabalhadores instáveis, manifesta nas diferentes categorias: subcontrato, tempo parcial, trabalho temporário, estágio e economia subterrânea. O aspecto comum dessas categorias traz à cena uma submissão à instabilidade de emprego e renda, desregulamentação das condições jurídicas de emprego e trabalho, regressão de conquistas e direitos e ausência de qualquer proteção sindical. Enfim, há uma tendência à individualização extrema da relação salarial. A gravidade disso é a perspectiva de isolamento de interesses, estimulando interesses corporativos pela preservação de conquistas de uma determinada categoria em detrimento da unidade de classe, além de reforçar divisões e desigualdades no seio do próprio proletariado, destaca o autor.

29 28 Da análise de Bresciani (1997) à Antunes (1995,1995a, 1999 e 2002), Alves (2000), e Boito (1999), os dados são de predomínio da proposta propositiva no espaço sindical no Brasil. Bresciani (1997), referindo-se ao acordo tripartite da proposta propositiva, cita o I Congresso dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema em 1974, o III congresso e sua requisição pela implantação de comissões de fábrica e o IV Congresso. Considera tratar-se de eventos deliberativos da necessidade de grupos e comissões de fábricas, delegados sindicais, comissões de prevenção de acidentes, comissões de mobilização e outras formas de representação nos locais de trabalho. Do VI Congresso de 1991, o autor ressalta a aprovação da participação dos trabalhadores na definição das inovações nas fábricas, mediante comissões sindicais. Bresciani também destaca o Departamento Nacional dos Metalúrgicos da CUT, em 1989, que se posiciona pela criação de mecanismos de acompanhamento e controle pelos trabalhadores sobre questões, como: introdução de novas tecnologias, condições de trabalho, saúde do trabalhador, meio ambiente, formação profissional, terceirização e novas formas de organização do trabalho. O autor faz alusão ao seminário de março de 1992 e o novo acordo assinado em 1993, como instâncias em que são requisitadas formas de organização tripartite resultantes de um acordo que envolva governo, trabalhadores e empregados. Como Bresciani (1997), ainda que em outra perspectiva, Antunes (1995), Boito (1999) e Alves (2000) destacam as últimas plenárias que institucionalizaram o predomínio da estratégia propositiva ou defensiva no espaço sindical. Alves (200) aponta o III Congresso da CUT, em 1988, como arranque de potenciais neocorporativistas no setor dirigente do que denominam de novo sindicalismo. Entende que a partir de suas resoluções, a Central passa de uma orientação de confronto com o capital para uma orientação propositiva que privilegia o diálogo. No dizer de Antunes (1995), essa é uma deliberação que se diferencia do II Congresso em 1986, quando define o compromisso histórico da CUT em impulsionar a luta sindical dos trabalhadores na perspectiva de construir uma sociedade socialista. Fato que se diferencia sobremaneira do Congresso de 1991, dada a tendência crescente de burocratização daquela Central, como também observa Bresciani (1997). Como fazem Antunes (1995) e Alves (2000), Boito (1999) destaca as exigências de abandono da postura sindical exclusivamente de oposição, passando a apresentar propostas de abrangência nacional. Entende tratar-se de uma postura de esquecimento do ideário básico da CUT: a luta pelos interesses históricos da classe trabalhadora. Como Leite (1997), Bresciani

30 29 (1997) e Ramalho (1994), que recorre a Grana (1993), Diaz C (1990), Jacome Rodrigues (1993) e Medeiros (1993), Boito (1999) alude à perspectiva de Jair Meneguelli, outrora presidente da CUT. Eixo de discussão: a necessidade do sindicalismo cutista deixar de dizer apenas não e começar a dizer sim, apresentando propostas alternativas. Um ano depois, a IV Plenária Nacional dessa central ratifica essa proposta, não sem oposição da corrente de esquerda da central, assinala Boito. Firma-se uma pauta de participação sindical, não mais centrada por uma postura exclusivamente reivindicativa e de valorização de protestos e de campanhas contrárias à política econômica do governo que teria predominado nos anos 80. Propõe-se o desempenho de propostas políticas a serem negociadas em fóruns tripartites constituídos por empresários, sindicalistas e representantes de governos neoliberais, em âmbito nacional e setorial A proposta Os estudos de Leite (1997) e Bresciani (1997) e Ramalho (1994) apontam a ação propositiva sindical como estratégia fundamental para o atual contexto, destacando-se a proposta de acompanhamento e negociação do sindicato em questões, como: inovações organizacionais, redução de custos, diminuição do percentual de demitidos etc. Trabalho em grupo, comissão de fábrica, câmara setorial, entre outras, somam-se às instâncias coletivas recorridas pela política organizacional ao trabalhador. Ramalho (1994) traz ao debate a estratégia sindical de concertacão coletiva como expressão das experiências vivenciadas pelo movimento sindical no México, Argentina e Chile. Veio condutivo: a indicação de entendimento entre capital e trabalho 9. O autor entende tratar-se de um movimento institucionalizado e legitimado pelas lutas dos últimos dez anos e, portanto, forte. A proposta é de uma atuação sindical sócio-política de mais consciência, compromisso e menos ideologizada politicamente, ou melhor, desideologizada, não se orientando por uma perspectiva de transcendência da ordem do capital. Nas palavras de um apologista em 1992: desideologizar as relações de trabalho significa que patrões e 9 Ramalho (1994) discute as formas de relacionamento entre capital e trabalho como uma peculiaridade do movimento sindical na América Latina. Cita o México, a Argentina e, sobretudo, o Chile, como países que aplicaram o receituário econômico neoliberal mais estrito, além de serem objeto de debate no que concerne ao movimento sindical e ao processo de negociação econômica e política. O termo concertación social é trabalhado como indicação de entendimento entre setores antagônicos na história.

31 30 empregados não se defrontarão como inimigos e sim como parceiros (CARDOSO apud RAMALHO, 1994, p. 165). Segundo Ramalho (2000), a proposta de negociação do sindicato com o empresariado constitui-se em uma fase interessante e amadurecida das relações capital/trabalho no Brasil. Suas pretensões postulam-se em ir além das categorias profissionais, interferindo em questões que afetam o conjunto da sociedade e procurando incorporar suas demandas. Os acordos em câmaras setoriais, por exemplo, são vistos como alternativa efetiva para se abordarem problemas que afetam salário, emprego, formação profissional e, com pouca visibilidade, questões que atingem a sociedade em termos de fome, saúde, habitação, transporte, educação e distribuição de renda. Ramalho (2000) também traz o debate sobre as perspectivas sobre movimento sindical de Diaz C, presidente da CUT chilena (1990), Carlos Alberto Grana, presidente da Federação dos Metalúrgicos do Estado de São Paulo (1993), Luís Antônio Medeiros, líder expressivo da Força Sindical (1992) e Francisco de Oliveira, em entrevista à Folha de São Paulo (1993). De Grana, o autor destaca a necessidade do papel afirmativo do sindicalismo para a sociedade: um sindicalismo que não diz só não, mas apresente propostas alternativas. De Diaz C, Ramalho (2000) trabalha a concertación enquanto estratégia resultante do sindicalismo moderno e que tem a ver com as relações trabalhistas, variando conforme a conjuntura de cada país. Principais sujeitos: empresários e trabalhadores, em cujas relações se misturam acordos e conflitos, que devem ficar equilibrados. Predominando o conflito, a relação trabalhista não se refere à concertación, mas à guerra, à confrontação, assevera o autor. De Medeiros, Ramalho (2000) enfatiza que o crescimento do sindicalismo na região do ABCD partiu da fase inicial de conflito, até pela necessidade de se impor em um primeiro momento, amadurecendo ao passar para a negociação na perspectiva de assegurar a participação dos trabalhadores nos lucros. De Oliveira, que analisa as câmaras setoriais, Ramalho (2000) destaca a positividade da perspectiva de negociação entre capital e trabalho que se defrontam como portadores de interesses divergentes, mas não irreconciliáveis. Oliveira chama de antagonismo convergente. Cita, como exemplo positivo disso, o reconhecimento dos trabalhadores como interlocutores legítimos na discussão efetivada pelo setor automotivo em 1993, cuja pauta referiu-se a questões como salário, emprego, investimento, importação, exportação, lucro e preço.

32 31 Leite (1997), observando os últimos anos, aponta a pressão pela negociação por empresa. De um lado pelos setores majoritários do empresariado brasileiro; de outro pelos setores do sindicalismo sob adesão da CUT e da Força Sindical. A autora entende tratar-se de objetivos sociais e projetos de sociedade opostos. A negociação empresarial, por exemplo, pode ignorar até mesmo os princípios legais, como a efetivação de um sistema democrático de relações 10. Leite, que recorre a Siqueira Netto (1994), destaca como uma prioridade relevante dessa proposta: a organização dos trabalhadores nos locais de trabalho através da implementação de um sistema de representação permanente nas empresas, constituído pela eleição direta dos trabalhadores, com poderes, deveres e prerrogativas bem definidas (SIQUEIRA NETTO apud LEITE, 1997, p.26). A autora especifica a ação sindical do setor automotivo como fundamental nessa discussão, especialmente para a consolidação de uma nova prática sindical no país. Caminho também percorrido por Bresciani (1997), que aponta a hegemonia sindical da proposta proposiva dos metalúrgicos, especialmente do setor automotivo. Como Ramalho (2000) e Leite (1997), Bresciani (1997) observa o caráter positivo da proposta. Entende tratarse de uma concepção amadurecida ao longo de quase vinte anos de investimento em conhecimento, em apoio a militantes, comissões de fábrica, delegados sindicais, os dez anos enfatizados por Ramalho (2000). O autor cita o plano de trabalho do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo e Diadema para as comissões de fábrica. Entre outras tarefas, requisita-se um mapeamento constante de todas as informações sobre a produção da empresa, trazendo para conhecimento do sindicato e iniciando cada trabalhador no aprendizado capaz de torná-lo apto a dirigir o processo produtivo, além da formação disponibilizada. Bresciani (1997) assevera interrupção dessa proposta com a demissão em massa efetivada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso em Considera romper abruptamente uma relação permanente e avançada de negociação, como nas câmaras setoriais. E mais, mostra os limites de uma ação sindical isolada em uma fábrica, sem um marco institucional que sustente a articulação de ações a uma concepção de sociedade, políticas estruturais, como industrial, econômica, agrária e educacional etc. Ou seja, mostra os limites 10 Leite (1994, p ) aponta duas propostas de contratação coletiva: a proposta hegemônica entre os empresários e a proposta hegemônica no movimento sindical. A primeira concentra-se na realização ou poder absoluto da negociação coletiva, entendida como superior a qualquer tipo de legislação. Livre negociação, por exemplo, implica uma concepção mais flexível dos direitos, podendo ignorar até mesmo os princípios legais. A segunda, que conta com a adesão da CUT e da força sindical, fundamenta-se em uma visão positiva de contrato de trabalho como base para um sistema democrático de relações de trabalho.

33 32 de uma ação desprovida de respaldo das outras fábricas, do sindicato, confederação e central sindical. Daí a necessidade de a ação sindical desenvolver uma visão nacional e internacional, alerta o autor. Algo que nos parece somar às análises de Leite (1997) e Grana (apud Ramalho,1995), quando se reportam ao âmbito nacional apregoado pela proposta. Leite (1997), ao tratar da proposta de contratação coletiva defendida pelo movimento sindical, destaca a prioridade de uma negociação, não por empresa, mas articulada em âmbito nacional e por ramo de atividade. Propõe que os níveis superiores definam as condições mais gerais e os inferiores as mais específicas, respeitando sempre os patamares mínimos acordados nos níveis superiores. Prisma também percorrido por Grana (1993), ao destacar a saída negociação da câmara setorial do âmbito local para o nacional. Antunes (1995), assim como Alves (2000) e Boito (1999), aponta uma perspectiva de classe no trato dessa abordagem. O autor observa o apologético da questão em debate, quando se refere ao próprio discurso institucional sindical centrado no sindicalismo de participação que privilegia estratégias propositivas nos anos de De suas recorrências a Medeiros, em entrevista à Folha de São Paulo (1987), Antunes resgata o discurso do sindicato como um fator de mercado, devendo valorizar preço da mão-de-obra e participação dos trabalhadores nos lucros das empresas. Entende tratar-se de um novo sindicalismo, cada vez mais defensivo, atado à imediaticidade e que faz parceria com o capital, privilegiando greves por empresas. Boito (1999) refere-se ao sindicalismo propositivo como um método de ação sindical fundamentado em uma perspectiva de acordo entre trabalhadores, empresas e governos neoliberais. Sua atuação direciona-se a buscar soluções setorializadas via negociação entre partes tomadas isoladamente por sindicatos subdivididos, na luta prática, em setores e por empresa. O autor destaca dois argumentos apresentados por defensores da proposta. Um que considera as câmaras como estratégia capaz de permitir a democratização do processo de tomada de decisão sobre a política econômica. Outro, por entendê-las que permitiriam ao movimento sindical contrapor-se à política recessiva e de desindustrialização. Alves (2000) destaca de Leite (1997) a perspectiva de convergência de interesses entre sindicato, trabalhadores e empresa, por intermédio da busca de trabalho mais qualificado, estável, participativo e bem pago. De suas recorrências à autora, Alves observa o caráter apologético da proposta propositiva na dinâmica sindical, mencionando as exigências postas às empresas. Ou seja, estabilização da mão-de-obra, investimentos em qualificação e

34 33 treinamento, política de carreira e de compensação financeiras, a exemplo da participação nos lucros ou resultados compatíveis com os esforços empreendidos pelos trabalhadores no espaço da produção. Alves (2000) enfatiza, ainda em Leite (1997), a perspectiva de uma nova orientação sindical: a negociação com o capital. Enfatiza os investimentos em novas programações culturais, planos de formação sindical e política, projetos de comunicação, imprensa, pesquisa, atividades de lazer e assessoria sindical. Ao se reportar à luta metalúrgica no ABC, no decorrer dos anos de 1990, Leite aborda o discurso de um sindicato que tende a exigir dos capitalistas direitos à informação e à consulta prévias nos planos de inovações, formas de participação e negociação capazes de influenciar, no sentido propositivo, nas transformações técnico-organizacionais. Garantia de emprego, salário e condições de trabalho podem ser alcançados, por exemplo, pela melhoria da produtividade, versa a proposta. Sob essa perspectiva, a greve é uma questão a ser repensada, considerando uma dada correlação de forças em um quadro conjuntural. A concertação social, ou preposição, anteriormente defendida em seu aspecto positivo por Bresciani (1997) e Ramalho (1994), em Leite (1997) assume porte de um novo contrato social. Ou seja, um contrato em que o sindicato, por meio das representações nos locais de trabalho, procuraria contribuir com a melhoria da produtividade das empresas, isto é, ser um parceiro do capital (LEITE apud ALVES, 2000, p.344-5). Como Leite (1997), Bresciani (1997) e Ramalho (1994), Alves (2000) destaca de Leite, o discurso sobre a importância das comissões de trabalhadores para a proposta. Trata-se de um espaço que viabiliza o acesso a informações relativas ao processo de inovação efetivado, além de assegurar controle sindical sobre as mudanças técnicas e organizacionais que afetam emprego, salário e qualificação dos trabalhadores. Trabalho e capital são parceiros nesse processo, assevera o discurso apologético recorrido de Leite por Alves. As câmaras setoriais, por exemplo, exprimem êxito da proposta hegemônica institucional sindical, apesar de esvaziadas com o governo de FHC. A começar pela positividade contida na proposta, o antagonismo convergente observado por Oliveira (1993), ao exemplificar o acordo estabelecido entre metalúrgicos e montadoras de automóveis no Brasil em Leite (1997) destaca o acordo estabelecido entre sindicato, patronato e governo na experiência da câmara do setor automotivo, cujas repercussões permitiram os interesses dos trabalhadores no processo de reestruturação das empresas.

35 34 Bresciani (1997) refere-se a câmara setorial automotiva como experiência inovadora, tanto por respeitar a autonomia das partes envolvidas, como reconhecer a heterogeneidade dos interesses defendidos. O autor resgata como diretrizes do primeiro acordo em 1992: manutenção e recuperação dos níveis de emprego e salário; aumento da produção; democratização das relações de trabalho; programas de treinamento e reciclagem; melhoria das condições de trabalho. Daí a proposta de investimento na formação dos trabalhadores de forma a torná-los aptos a dirigir o processo produtivo e, assim, assegurar um maior grau de democracia no âmbito do complexo automotivo. Em sua recorrência ao ensaio negociações tripartites na Itália e no Brasil em 1996: [...] por seu caráter tripartite, a Câmara Setorial materializa uma nova dinâmica nas relações entre os Sindicatos e Estado. O respeito à autonomia das partes, por um lado, e o reconhecimento da heterogeneidade de interesses a serem defendidos, por outro lado, são peças-chave desse novo tipo de relacionamento. Certamente, a experiência ainda carece de outros elementos que permitam sua evolução. A transparência das negociações, a participação do consumidor e a fiscalização da sociedade são aspectos que devem ser aprofundados para o aperfeiçoamento desse processo de democratização da gestão da coisa pública. (BRESCIANI; BENITES apud BRESCIANI, 1997, p. 105). Essas são algumas considerações relativas à institucionalidade sindical no quadro contemporâneo do capital. Não sem rigorosas críticas dos setores contrários à proposta, o discurso é de uma proposta de participação que apregoa ganhos para todos. Trabalhadores, empresários e até Estado são convidados a serem parceiros das relações aí engendradas. Negociação, comissões de fábrica, comissões setoriais, entre outras, sintetizam algumas das peculiaridades de estratégias sindicais, mesmo que alguma parte envolvida compartilhe com menor intensidade desse processo. Afinal, participa-se ou não se participa? 1.3 A crítica à proposta A crítica não é uma paixão da cabeça, mas a cabeça da paixão. (MARX, Crítica da filosofia do direito de Hegel). Em um outro prisma de abordagem, estudos como Antunes (1995 e 1995a), Boito (1999) e Alves (2000) possibilitam tratar as estratégias sindicais no Brasil em uma perspectiva de classe. Observam duas posturas sindicais: uma de confronto, hegemônica na década de 80;

36 35 outra que se propõe a fazer acordo, predominante a partir da década de 90. Os autores esboçam uma crítica contundente à tendência do sindicalismo no Brasil reproduzir a intervenção sindical dos países capitalistas centrais, principalmente o sindicalismo europeu de cariz social democrata. Em vez de avanços e contribuições com questões que afetam salário, emprego, formação profissional e até sociedade, como interpretam Ramalho (1994), Leite (1997) e Bresciani (1997), Antunes (1995 e 1995a), Boito (1999) e Alves (2000), destacam as categorias retrocesso e debilitação. Um eixo peculiar na literatura trabalhada: o entendimento do que chamam de sindicalismo propositivo enquanto proposta regida pelo capital, subordinada ao mercado e distante do movimento autônomo de classe. Aliás, classe é uma questão às escusas na proposta, sobretudo, quando o horizonte de análise se volta para uma perspectiva anticapitalista. Prima-se por um sindicalismo que se apóie em uma política para o conjunto do país, o país integrado do capital ao trabalho, como lembra Antunes (1995 e 1995a), mesmo que os documentos da CUT ocultem a existência de interesses de classe em confronto na sociedade, observa Boito (1999). Alves (2000) destaca o desprezo da literatura crítica de esquerda pela análise da reestruturação produtiva como processo de hegemonia do capital na produção. Segundo o autor, o próprio campo da produção tende a perder o potencial de negatividade, quebrando qualquer possibilidade objetiva além do capital, ou de negá-lo. Diferente da perspectiva defendida por Leite (1997), Bresciani (1997) e Ramalho (1994), Antunes (1995 e 1995a) observa o caráter social democrata predominante na CUT como uma postura não mais centrada em concepções socialistas e anticapitalistas, que aliás devem ser abandonadas, mas direcionada por uma atuação mais defensiva e atada a imediaticidade, regredindo sua já limitada defesa de classe no universo do capital. Boito (1999) se refere à social democracia, enfatizando o ocultamento de interesses de classes em confronto por essa central, que agora aspira representar a sociedade. Entende tratar-se de um retrocesso político, típico de um movimento específico de despolitização do sindicalismo. Em sua análise, a CUT, que outrora procurava intervir na política de desenvolvimento do Estado e na política salarial engendrada, hoje circunscreve o interesse político dos trabalhadores às medidas que afetam diretamente o setor da economia no qual estão inseridos. Boito (1999) também se diferencia das análises de Leite (1997) e Bresciani (1997), ao tratar o acordo e resultado da câmara setorial do complexo automotivo brasileiro como retrocesso político que, em vez de representar interesses, evidencia-se em forma de dominação.

37 36 Alves (2000), que se refere a proposta propositiva como um defensivismo de novo tipo, também apresenta diferenciais das análises de Ramalho(1994), Leite (1997) e Bresciani (1997). Antes de considerar um avanço nas relações sindicais no Brasil, como apontam os autores, Alves destaca a postura sindical de influência propositiva enquanto sintoma de uma debilitação estrutural da contestação operária à lógica do capital, com tendências a cortar elos reais do sindicalismo operário com o movimento sindical anticapitalista. Em sua análise, a proposta privilegia negociar por segmentos apenas os efeitos do movimento do capital em processo, não indo às verdadeiras causas que tendem a debilitar o mundo do trabalho e incrementar a irracionalidade societária. Mantém-se impotente, a longo prazo, tanto para preservar a estrutura do mundo trabalho como para contribuir com o movimento social e político de contestação a ordem capitalista. Não é redundante assinalar que para o autor a crise do sindicalismo não significa derrota institucional dos sindicatos, mas sim e principalmente o reconhecimento cada vez maior do sindicalismo à sua esfera corporativista, o defensivismo de novo tipo. Ou seja: um sindicalismo incapaz de pôr no seu horizonte algo que vá além do plano econômico corporativo. Nos termos do autor: É incapaz de realizar, pelo menos no campo da produção, no qual se exerce uma dimensão central do estranhamento capitalista, a hegemonia de classe, a catarse ético política da classe (GRAMSCI apud ALVES, 2000, p.347). Segundo Alves, a proposta pode até conduzir a alguns avanços, operacionais, relativos à intervenção operária no campo da produção; mas aceita os termos do capital, legitimando a sua própria lógica destrutiva. Isto é, aceita ser co-participante da gestão da produção requisitada, tendendo a assumir uma suposta eficácia tática que, em última instância, tende a perverter a dimensão estratégica da luta anticapitalista no campo da produção. Antunes (1995a) destaca a inviabilidade da proposta social democrata em países de terceiro mundo marcados por traços agudos de miserabilidade, estando o Brasil na liderança dos países mais embrutecidos. Algo que Boito (1999:151) assinala como dificuldade em imaginar que no Brasil o processo negociação poderia se passar de maneira italiana. Nos termos de Antunes (1995a), é como visualizar a Suécia num solo africanizado. Sem contar que os socialistas de inspiração anticapitalista não vêem ruptura do projeto social democrata com a lógica do capital e sua produção destrutiva e socialmente nefasta. Em suas palavras:

38 37 Considerando que a crise do sindicalismo social-democrata, no centro, é expressão da crise que atingiu os países que implementaram o chamado Welfare State e as conseqüentes perdas agudas para os trabalhadores, será factível pensar na sua implementação aqui entre nós, onde as condições de miserabilidade são ainda muito mais intensas? Se há recusa, pelos setores do capital, em manter estas conquistas sociais no centro, será razoável imaginar que as classes dominantes na era da globalização, façam concessões reais, no sentido de, pela via da negociação, permitir avanços fortes neste lado do mundo[...]. Ou será por acaso que não existe projeto social-democrático em vigência significativa fora do primeiro mundo? (ANTUNES, 1995a, p. 54) A crítica à proposta de negociação Sob uma perspectiva de classe, a proposta de negociação entre partes e com ganhos para todos, como asseveram seus apologistas, remete a uma perspectiva de negociação nos moldes do capital e com o capital. E aí, mais uma vez, a proposta é analisada como retrocesso e debilitamento. A começar com a divisão e segmentação oriunda, como tratada por Boito (1999) e Alves (2000). Nos termos de Boito (op cit), substitui-se a luta unificada pela negociação entre partes. A negociação por segmento, como trabalha Alves. A discussão de Antunes (1995 e 1995a) aponta diferenciais da análise de Ramalho (1995), Leite (1997) e Bresciani (1997), ao considerar retrocesso a proposta de negociação e participação defendida pela CUT. Retrocesso, tanto pelo distanciamento ousado de outrora, como pelo encaminhamento de uma negociação atada a um acordo e a um projeto com o capital, impedindo respostas que efetivamente representem o conjunto dos trabalhadores. Entende tratar-se de uma postura tendente a aceitar as regras da sociabilidade do capital e os imperativos do mercado. Postura que, embora aparentando avanço em participar junto com o capital de decisões político-setoriais, não questiona o mercado, a legitimidade do lucro, etc. Alves (2000) chama atenção para uma espécie de rendição ideológico-política do trabalho organizado à lógica do capital no campo da produção. Sob ela, o defensivismo de novo tipo se apresenta como alternativa ao movimento de contestação a essa lógica. O autor considera que a participação prevista na proposta tende a desprezar um aspecto ineliminável da lógica da participação nas relações capitalistas de produção: seu caráter parcial. E mais, alerta para a impossibilidade de uma participação democrática, no sentido rigoroso do termo. Entende que a participação existente se define segundo a perspectiva que Pateman (1992)

39 38 denomina participação parcial. Ou seja, uma participação apenas no aspecto operacional e não estratégico, resumindo-se a uma influência e participação desprovidas de poder 11. Boito (1999) remete à compreensão de que o sindicalismo propositivo condiciona uma proposta conciliatória como neoliberalismo. A começar, logrando manter a ação reivindicativa dos trabalhadores dentro dos limites compatíveis com a hegemonia neoliberal, além de enfatizar que os valores capitalistas de mercado, como lucratividade, produtividade, qualidade e eficiência, são assumidos pelos sindicatos. Estes, por sua vez, colocam-se na tarefa de gerir, juntamente com os empresários, o setor onde estão alocados os trabalhadores de sua base. Nos termos do autor, trata-se de um neocorporativismo setorial que desvaloriza a mobilização e a luta de massas. O autor, que se refere à atuação do sindicato dos metalúrgicos do ABC face às demissões nas montadoras, observa uma concepção fatalista no trato das estratégias sindicais por parte da direção sindical, quando enfatiza a concepção de inevitabilidade da abertura comercial, justificando a ação do sindicato e da CUT na discussão do ritmo dessa abertura. Entende também a inevitabilidade do enxugamento nas grandes montadoras, até para preservar competitividade, podendo o sindicato negociar o montante, as condições e os critérios dessas demissões, descartando a luta contra elas, interpreta Boito. Em uma abordagem diferente de Leite (1997), Bresciani (1997) e Ramalho (1994), os estudos de Alves (2000) e Boito (1999) apresentam contrastes em termos de propostas de acordo, contrato coletivo, câmara setorial, apontando inclusive desdobramentos em termos de contraproposta. Boito, por exemplo, fazendo um balanço do acordo e do resultado da câmara setorial automotiva, levada a cabo pelo sindicato dos metalúrgicos do ABC, no período de , destaca diferenciais de análise das abordagens de Leite e Bresciani, que tratam a proposta em sua positividade. Recorrendo aos argumentos em defesa da câmara setorial de Guimarães (1994) e Martin (1994), o autor destaca elementos de crítica à estratégia que se propõe democratizar as decisões sobre a política econômica e contrapor-se à política recessiva e de desindustrialização. Considera tratar-se de uma proposta que ignora a presença de um bloco no poder sob a hegemonia do capital financeiro internacional e do grande capital. E mais, supõe ser possível mudar a política econômica sem mudar o bloco no poder e sem substituir a equipe governamental. 11 Sobre o assunto ver Carole Pateman em Participação e Teoria Democrática, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1992.

40 39 Por essa direção vai a crítica do autor às questões apresentadas por Francisco de Oliveira (1993) sobre a capacidade propositiva do setor automotivo. Oliveira, como Guimarães e Martin, destaca a democratização do processo de decisões relativo à política econômica, quando a burguesia reconhece a classe operária como interlocutora de tomada de decisão sobre a política econômica. Nos termos de Boito (2000), trata-se de deslocar do terreno dos interesses de classe e de fração e da correlação política de forças para o terreno idealizado dos valores democráticos. O autor destaca o irrealismo da pretensão em democratizar o processo decisório sob o atual bloco no poder e, ainda mais, em aliança com sua fração hegemônica. Alves (2000), tratando do acordo protagonizado pelo sindicato dos metalúrgicos do ABC e a Mercedes Benz em 1995, especifica em Leite (1994) elementos de defesa da proposta que justifica o discurso da plena participação e parceria entre capital e trabalho. De Oliveira (1993), resgata a apologia sobre o acordo tripartite das montadoras, tido como marco nas relações de trabalho no Brasil, que passa a contar com a participação operária. Nos termos de Oliveira, modernizam-se as relações de trabalho no país: a contestação grevista estaria cedendo lugar à politização e à publicização das relações econômicas (OLIVEIRA apud ALVES, 2000, p.343). Diferente dessa concepção, Alves (2000) contesta a tática do acordo das montadoras em negociar proteção de empregos e salários na indústria automobilística, entendendo as posições apologéticas como mais um recurso de marketing político da proposta, antes de ser compreendida como caminho estratégico para a luta sindical. Remetendo às interrogações do autor: Será que o acordo das montadoras conseguiu pelo menos resistir, nos anos 90, a uma tendência generalizada na indústria automobilística internacional à dissociação de ritmos de crescimento entre produção e empregos? Os dados indicam a tendência de crescimento de produção associada à perda de postos de trabalho. Nos termos do presidente do sindicato dos metalúrgicos do ABC, em entrevista à Folha de São Paulo em 1994: a indústria vem batendo recordes de produção, sem alterar a nível de emprego. (ALVES, 2000, p.344-5). Mas, da proposta à crítica muita tinta se esvai, deixando pendências. Encontramos nas recorrências de Alves (2000) a Leite (1997) o entendimento da estratégia propositiva como única saída da crise do sindicato diante da reestruturação produtiva. A autora critica a estratégia sindical de confronto com o capital, por considerá-la contribuir com a marginalização de mais sindicatos. Em um outro leque de análise, Alves observa uma

41 40 visão contrária ao acordo das montadoras, particularmente oriunda da tendência CUT pela base. Primeiro por visar obter resultados concretos para uma parcela de classe à custa da diminuição de impostos para empresas que acabam tirando dinheiro destinado às obrigações sociais do Estado com educação, saúde, saneamento, moradia, etc. Depois porque a política das câmaras setoriais reconhece o direito de existir e explorar por parte do capitalista, contanto que pague um reajuste mensal, de acordo com a inflação e um reduzido aumento real. E mais, reconhece o dever de os trabalhadores serem explorados pelos capitalistas, desde que se obriguem a respeitar algumas condições. Ao se referir à realidade brasileira, Boito (1999) destaca a evidência de garantias desiguais e segmentadas entre desempregados e empregados sem carteira, em oposição aos empregados com carteira, trabalhadores de classe média, operariado urbano e trabalhadores rurais. O autor alude a uma segmentação em termos de divisão e contraposição entre essas parcelas de classe, podendo um setor ver no direito conquistado pelo outro um privilégio que ameaça seus próprios direitos. O caso da câmara do setor automotivo ilustra essa segmentação, quando o operariado do setor automobilístico se viu separado do resto do operariado metalúrgico, do operariado das montadoras e do setor de autopeças. Boito (1999) observa como agente dessa proposta não a classe operária e tampouco a classe trabalhadora, mas os metalúrgicos, pensados como parte funcional de um todo mais importante, que é o setor automotivo. Em última instância, o agente do discurso é o setor automotivo. Conseqüências: além do compromisso de parceria, as câmaras alimentam um exclusivismo ou egoísmo de fração, insulando os diferentes setores das classes trabalhadoras. Por esse rumo também caminha a análise de Alves (2000), ao observar a estrutura sindical descentrada, descentralizada, desraizada e, principalmente, verticalizada, propícia à metamorfose do egoísmo de fração para um neocorporativismo setorial no qual as categorias assalariadas tenderiam a preservar sua institucionalidade no meio da precariedade de classe. Boito (1999) aborda, ainda, duas questões relevantes para o trato das estratégias sindicais. Uma refere-se à proposta de contrato coletivo de trabalho e à prática da câmara setorial por valorizarem a negociação de convênios de saúde com grupos privados, aposentadoria complementar, auxílio educação, etc. Com isso, o movimento sindical é levado a legitimar um dos principais objetivos políticos da política neoliberal em relação às classes trabalhadoras: a restrição dos direitos sociais. A outra questão diz respeito à ineficácia do organismo triparte em barrar o crescimento do desemprego e da desindustrialização, não

42 41 cumprindo a meta de aumentar postos de trabalho e recuperar salários. Ademais, a CUT não assumiu uma luta conseqüente contra a desindustrialização e o desemprego, até por ter aceito a idéia de que seria inevitável uma certa modernização da economia, o que ficou claro na sua estratégia frente às montadoras de veículos e, particularmente, na sua participação nas câmaras setoriais, assevera o autor. Uma das peculiaridades de crítica à proposta propositiva refere-se ao caráter nacional requisitado como base de organização. A começar, por inspirar-se em prática sindical de um país central, cuja realidade diferencia-se consideravelmente de países de terceiro mundo, como o Brasil, apesar de comportar um parque industrial relevante. Recorrendo a um trecho já mencionado por um estudioso: [...] seria difícil imaginar, no Brasil, que o processo poderia se passar à maneira italiana. (BOITO,1999, p.151). Diferente de Leite (1997) e Bresciani (1997), ou mesmo Ramalho (1994) que cita Grana (1993), Boito (1999) aponta limites à negociação de âmbito nacional sob inspiração da prática sindical italiana. A proposta prevê uma contratação articulada, prevendo um primeiro nível de negociação centralizada entre central sindical, associações patronais e governo. E daí o processo de negociação desce para Estado, regiões, categorias, setores e empresas, adicionando cláusulas de acordos entre as partes. O autor contesta a proposta por compreender a CUT como uma federação frouxamente articulada de sindicatos, assumindo preponderância um pequeno número de grandes sindicatos em sua direção. Entende que, diferente das centrais sindicais italianas, atua no interior dessa central uma heterogeneidade de correntes, inclusive, no plano da organização partidária. Nestes termos, Boito enfatiza a não unidade, centralização e força da central para conduzir o processo negociação, em nível nacional, com autoridade frente ao patronato e à sua própria base. Além do que, contrastando com a situação italiana, o movimento operário e popular no Brasil não parece usufruir de força organizada para controlar um processo de negociação sindical no plano nacional, assinala o autor Boito (1999) resgata uma palestra proferida em 1990 com Marino Ruzzenenti, dirigente sindical italiano, sobre a experiência italiana de contrato coletivo. Segundo o sindicalista, na Itália a proposta se evidencia por haver a nível regional uma estrutura confederal de cada uma das centrais. A nível local, existe a organização de base de cada uma das centrais. O trabalhador se filia antes de tudo à central, em qualquer local de trabalho [...]. E, claro, escolhendo uma central ele está escolhendo toda a sua estrutura. Ruzzenenti destaca sua dificuldade para entender a estrutura sindical brasileira. Na Itália não existe sindicato de município. E não existe porque não tem sentido para a atuação e para a negociação, [...] na minha cidade para encontrar o sindicato dos metalúrgicos da CGIL você tem que ir a CGIL: o sindicato da categoria fica no mesmo prédio da central, onde tem uma secretaria geral.

43 42 Por essa análise, percorre Alves (2000), que partindo da demissão em massa promovida pela Mercedes Benz no segundo semestre de 1995, contesta o caráter nacional contido na proposta. Segundo o autor, o caso da Mercedes Benz aponta os limites de uma ação sindical isolada, não só em uma fábrica, mas nos marcos nacionais, tendo em vista que a decisão pela demissão de operários pode ter sido orientada pela matriz da Mercedes na Alemanha. Considera, ainda, a ineficácia dessa ação no campo da resistência de classe, especialmente diante do poder do capital transnacional. Por outro lado, Alves acentua que, apesar de necessária, a ação sindical de contestação à lógica do capital não é suficiente para permitir elaborar uma contra-hegemonia a essa lógica e resistir à sua nova ofensiva na produção. Para tanto, exige-se ir além do campo da produção, articulando-se com um movimento político mais amplo, capaz de possibilitar a consciência de classe, além de permitir o sentido contestador da ação sindical à lógica do capital na produção. Enfim, da apologia á crítica. Sob o âmbito do discurso institucional, requisita-se a proposta de um sindicalismo que se denomina propositivo. Sob o ponto de vista da crítica a esse discurso, trata-se de retrocesso, controvérsia, debilitação, entre outras peculiaridades dessa natureza. A denominação é de um sindicalismo de participação, neocorporativista, o defensivismo de novo tipo. Classe, diga-se de passagem, é uma referência diferencial entre essas propostas: uma por não se remeter a essa discussão quando trata do objeto; outra, porque parte dessa remissão para conduzir a análise que se propõe. O trato das estratégias sindicais em uma perspectiva de classe, por exemplo, analisa as requisições do capital internacional, inclusive, no sentido de manter o movimento sindical desconectado da luta de contestação à lógica do capital. O que interessa é a setorialização, mesmo que mediatizada por sentimentos de egoísmo, ainda que incentive recordes de produção, acompanhados por perdas de postos de trabalho, desemprego, além da privatização e precarização.

44 43 CAPÍTULO II AS ESTRATÉGIAS DO SINDMETAL: do âmbito fabril ao extramuros A prática de lutas dos sindicatos é posta para ser negada, enquanto movimento operário parcial, limitado de forma radical pelas próprias condições criadas pelos mecanismos da economia capitalista. (AlVES, 1992). 2.1 O âmbito internacional da organização sindical Passando pelos estudos de Bihr (1998), que alude à realidade francesa, Bargas (1994), Leite (1997) a estudiosos que trabalham a temática em uma perspectiva de classe, como Antunes (1995), Boito (1999), Alves (2000) e Mészáros (2002), que trabalha o contexto sindical europeu, uma questão apresenta-se peculiar de análise: a perspectiva de organização sindical de âmbito internacional. Essa requisião não provém de agora. Estudos, como Miséria da Filosofia (2001), observam as coligações operárias de caráter permanente e nacional. Questões como os motins e o movimento de destruição de máquinas, o movimento ludista, são tratadas em O Manifesto do Partido Comunista (1977b). Os Estatutos da Associação Operária (1977b) abordam uma proposta de organização internacional. Em algumas observações que, segundo Marx, encontram-se à margem do Programa de Gotha, (19-), A crítica ao programa de Gotha, há uma crítica à redução do internacionalismo ao nacionalismo. Em uma perspectiva contemporânea, observando suas peculiaridades de abordagens e contextos, estudos como Birh (1998) e Bargas (1994) discorrem sobre os limites do movimento sindical ao se esbarrar com o caráter internacional. Birh, por exemplo, aponta o movimento operário solapado: o movimento que tem um abismo, por um lado, os trabalhadores estáveis; por outro, os desempregados e instáveis, destacando a dificuldade do movimento sindical em organizá-los. Primeiro, devido a uma possível indiferença e hostilidade dos trabalhadores com garantias empregatícias. Segundo, pela própria instabilidade dos instáveis e desempregados, tornando quase impossível sua integração em estruturas sindicais. Além do mais, essa nova organização do capital afeta a própria representatividade e legitimidade do movimento sindical, obstaculizando históricas estratégias, e luta, como negociação coletiva, greve, etc, enfatiza o autor.

45 44 Bargas (1994) observa diferenciais de abordagens no trato dos canais de representação e sindicalização dos trabalhadores, a exemplo da transferência de fábricas dos Estados Unidos da América (E.U.A) e Canadá para o México. Por um lado a AFL-CIO, Central Sindical Norte-Americana, que se posiciona contra o acordo de livre comércio (NAFTA), propondo ao Congresso dos E.U.A a responsabilidade de todas as empresas norteamericanas, instaladas no México, pela garantia dos mesmos direitos trabalhistas conquistados pelos trabalhadores norte-americanos aos mexicanos, e no concreto não alcança um terço do que ganhavam os que perderam emprego nos EUA e Canadá. Por outro, a Central Sindical Mexicana (LTM), que rejeita essa proposta, argumentando tratar-se de ingerência norte-americana em seu país e defendendo a implantação dessas empresas (1994, p.175). Daí o autor questionar o limite das concessões que trabalhadores poderão acordar para garantir a continuidade das empresas em seu país. Contrariando os críticos, Bargas (1994) enfatiza como grande desafio para sindicalismo: a compreensão da necessidade de redefinir seu papel histórico. Entende que a questão a ser colocada não é se o sindicalismo tem ou não futuro, e sim qual será seu papel no quadro mundial (BARGAS, 1994, p.176-7). O autor aponta como desafio crucial a construção de uma prática sindical baseada na solidariedade de ações conjuntas entre trabalhadores de diversos países, onde atuam as empresas multinacionais e os setores que sofrem os efeitos do processo de reestruturação econômica e industrial. Propõe o intercâmbio e troca de informações sobre a realidade de cada país e o aprofundamento do conhecimento do sobre as estratégias multinacionais às quais estão ligados. Birh (1998) aponta a proposta de organização de bases internacionais que aglutine os interesses dos trabalhadores estáveis, instáveis e desempregados. Em sua análise, o desenvolvimento do desemprego e instabilidade, além da chantagem e ameaça postas pela dinâmica capitalista contemporânea, enfraquece a capacidade conflitual dos trabalhadores. Gera sentimentos de insegurança e relativa exclusão e segregação. O autor considera caduca a constituição do movimento operário de bases nacionais face à situação de transnacionalização do capital no seio de empresas, de redes financeiras multinacionais e instituições financeiras, como FMI e Banco Mundial. Nos estudos de Antunes (1995), Boito (1999), Alves (2000), também observo o indicativo da estratégia sindical de base internacional; só que em uma perspectiva de classe. Boito remete à discussão de que o sindicalismo propositivo, concilia com o neoliberalismo. A

46 45 começar, por lograr manter a ação reivindicativa dos trabalhadores dentro dos limites compatíveis com a hegemonia neoliberal. Valores capitalistas de mercado, como lucratividade, produtividade, qualidade e eficiência são assumidos pelos sindicatos que, por sua vez, colocam-se na tarefa de gerir, juntamente com os empresários, o setor onde estão alocados os trabalhadores de sua base. Nos termos do autor, trata-se de um neocorporativismo que desvaloriza a mobilização e a luta de massas 13. Alves (2000) remete a discussão sobre o movimento de contestação à lógica do capital em termos mundiais, apontando para o percurso de uma ação sindical, sob o contexto de mundialização do capital, o que considera percorrer da resistência operária à negação do capital. O autor propõe uma perspectiva de atuação além da produção, articulada a um movimento político mais amplo, capaz de possibilitar e preservar a consciência de classe necessária, além de permitir o sentido contestador da ação sindical à lógica do capital na produção. Possibilidade que considera objetiva no sentido de contribuir para uma ação política que busque ir além dos próprios limites do sindicalismo. Nos termos do autor: É preciso acentuar que a ação sindical [...] enquanto permanecer meramente no espaço da produção e não contribuir e generalizar-se para o movimento social e político de contestação à lógica do capital, possui limites estruturais, particularmente sob a mundialização do capital. A própria prévia idealização política (e ideológica) de contestação à lógica do capital, característica da prática sindical das tendências políticas do socialismo revolucionário, não é suficiente, apesar de necessária, para permitir que a luta sindical consiga elaborar, com sucesso, uma contra-hegemonia à lógica do capital e resistir à nova ofensiva do capital na produção, o que exigiria ir além do campo da produção. (ALVES, 2000, p. 333). A título de considerações finais, o autor propõe a constituição de uma resistência estratégica da classe trabalhadora, fundamentada em uma idéia-valor, capaz de preservar a consciência de classe necessária, vinculada aos interesses (e ao ser) objetivos da classe. Uma resistência que impulsione a solidariedade como valor universal do proletariado, na perspectiva de reagir à fragmentação e à banalização cultural; cultivando o internacionalismo sem desprezar as tarefas nacional-populares, cujo terreno está sob o assalto das políticas neoliberais. (ALVES, 2000, p.352). 13 O autor propõe uma plataforma antiliberal que contemple o objetivo de suspender e reverter a política econômica e social neoliberal, além de reestatizar questões, como saúde, educação, previdência e serviços sociais urbanos e fortalecer o direito do trabalho, restaurando normas ignoradas e criando novas que contemplem a miríade de situações nas quais trabalham os brasileiros.

47 46 Nos estudos de Antunes (1995a, p.54-55), as observações apontam importância de o sindicalismo articular as necessidades imediatas do mundo do trabalho a um projeto que veja a sociedade além do capital. Dispensas, perdas de empregos, fechamento de empresas, aceleração de ritmos produtivos, ataques ao salário, à seguridade e aos direitos sindicais e políticos são questões enfrentadas pelos trabalhadores. Nada de se contentar com oposições e lutas anticapitalistas, nem tampouco recusar o combate defensivo via reivindicações imediatas, alegando não haver saída no quadro do capitalismo. Isso significa condenar toda a classe operária à impotência, observa o autor. Daí propor a efetivação dos combates defensivos orientados por uma perspectiva anticapitalista. Mészáros (2002), em sua peculiaridade de abordagem e realidade, também aponta algumas singularidades para o debate sobre a organização sindical de âmbito internacional. Propõe a reconstituição radical do movimento do trabalho na sua integridade e em escala internacional: uma reconstituição que combine demandas parciais com o objetivo de negação radical e transformação do modo de reprodução sócio-metabólico do capital. Considera daí poder questionar e mesmo contestar questões como aumento de diferenciais de renda, procura de emprego abaixo do nível de subsistência, deterioração das condições da força de trabalho e submissão estrutural do trabalho. Pode-se, mais, retificar o papel do modo de controle sóciometabólico do capital, justificado por slogans tipo aumento da produtividade, vantagem competitiva, disciplina de mercado, globalização, eficiência de custo, entre outras circunstâncias, observa o autor. Essa retificação somente terá sucesso mediante uma intervenção radical na economia perdulária do processo reprodutivo material da ordem estabelecida, assevera o autor, que trata essa mediação como atualidade histórica da ofensiva socialista 14. Mészáros (2002) chama de mediações históricas necessárias os passos viáveis para a realização da ordem sócio-metabólica alternativa do trabalho. Considera perpassarem tanto pela contestação como pelo movimento extraparlamentar. O primeiro é inerente à contestação da subsunção do trabalho às condições reificadas e alienadas de seu exercício. O papel do movimento extraparlamentar do trabalho é tratado pelo confronto, negação e contestação. Em 14 Segundo Mészáros (2002, p.789), os instrumentos e organizações do movimento da classe trabalhadora existiram para superar alguns dos obstáculos principais para a via da emancipação. Em um primeiro momento foram resultado de explosões espontâneas, representando um momento de ataque. Posteriormente, como resultado de esforços conscientes, estruturas coordenadas emergiram tanto em países particulares como em escala internacional. Mas, nenhuma delas iam além do horizonte de lutar por objetivos específicos, até mesmo se o objetivo último estratégico fosse uma transformação socialista radical de toda sociedade.

48 47 outras palavras, o movimento deve, por um lado, afirmar seus interesses estratégicos como alternativa sócio-metabólica pelo confronto e pela negação das determinações estruturais da ordem estabelecida que se manifestam na relação-capital e na concomitante subordinação do trabalho no processo sócio econômico de reprodução material. Por outro lado, deve contestar, por meio de pressão, o poder político do capital dominante no parlamento, seja em termos legislativo como executivo. Com essa perspectiva, o autor propõe a constituição de um movimento socialista extraparlamentar de massas estrategicamente viável em conjunção com as formas tradicionais de organização política do trabalho, como uma precondição vital para a contraposição ao maciço poder extraparlamentar do capital. Em suas palavras: O que está em jogo [...] é a constituição de uma estrutura organizativa capaz não só de negar a ordem dominante, mas também, simultaneamente, de exercer as funções vitais positivas de controle na nova forma de auto-atividade e auto-gestão do capital. (MÉSZÁROS, 2002, p. 1067). O horizonte é reforçar a proposta de uma intervenção sindical de âmbito internacional no sentido de se fazer face às determinações do capital. Pode-se perceber elementos dessa proposta nas questões trabalhadas por Bargas (1994), Birh (1998), assim como por Boito (1999), Antunes (1995 e 1995a), Alves (2000) e Mészáros (2002), entendendo as peculiaridades das realidades que os estudos apontam. Diga-se de passagem, essa requisição não é recente. Os Estatutos da Associação Operária Internacional dos Trabalhadores em 1871 e A Crítica ao Programa de Gotha, escrito em 1875, são exemplos plausíveis de esboço dessa proposta 15. Entendo que os Estatutos esboçam uma proposta além dos objetivos apontados pela National Trade Association em seu propósito de reunir de forma nacional as trades uniões locais, as coligações operárias que realizavam os interesses da classe na Inglaterra, como observa Marx na Miséria da Filosofia em Com os Estatutos a ênfase recai sobre a Associação Operária Internacional dos Trabalhadores, instância voltada a estabelecer um centro de comunicação e cooperação entre as Sociedades Operárias existentes em diferentes países, como já dito 16. Dentro dela, relevantes se apresentam as atribuições do Conselho Geral 15 Os Estatutos foram adotados em 1871 na Conferência da Associação Operária Internacional. Basearam-se nos Estatutos Provisórios elaborados por Marx em O texto final foi publicado por Engels em A Crítica ao programa de Gotha foi escrita por Marx, em 1875, e publicada pela primeira vez por Engels em Na Crítica ao Programa de Gotha (19-, p ) Marx observa que a ação internacional das classes trabalhadoras não depende, de modo algum, da existência da Associação Internacional dos trabalhadores. Esta constitui somente uma primeira tentativa para fornecer àquela ação um órgão central.

49 48 dessa Associação, órgão central de ação dos trabalhadores. Constitui-se de operários dos diferentes países representados na Associação Operária Internacional, com objetivos voltados a reunir diferentes grupos nacionais e locais da associação, inclusive as associações operárias isoladas de seus respectivos países. Nos termos da proposta: O Conselho Geral atuará como órgão internacional de ligação entre os diferentes grupos nacionais e locais da Associação, a fim de que os operários de cada país possam estar constantemente informados sobre o movimento de sua classe nos demais países; [...] de que questões de interesse geral debatidas em uma sociedade sejam ventiladas por todos; e que quando medidas práticas e imediatas se fizerem necessárias - como, por exemplo, em caso de conflitos internacionais - a atuação das organizações associadas seja simultânea e uniforme. (MARX, 1977b, p. 323). A crítica ao Programa de Gotha (19-), entendo tratar-se de raros textos que desenham a sociedade além do capital. Há aqui a crítica de Marx e Engels, por cartas, sobre o conteúdo do programa do Partido Operário Social Democrata Alemão realizado em Gotha em Entre outros aspectos, que chama de Observações à margem do Programa do Partido Operário Alemão, Marx critica a forma como é tratada a proposta internacional de organização, exemplificando sua redução a um ponto de vista nacional mais estreito. Em suas palavras: E a que reduz seu internacionalismo? À consciência de que o resultado de suas aspirações será a fraternização internacional dos povos, uma frase tomada de Liga Burguesa pela paz e liberdade, não se dizendo nada dos deveres internacionais da classe operária alemã. A Liga Mundial pela Paz e Liberdade é aqui entendida como uma organização de democratas e pacifistas burgueses. A crítica de Marx e Engels (19-, p ) ao programa extrapola o aspecto nacional contido na proposta. Consideram a organização da classe operária partindo de seu próprio país, uma vez que se constitui o campo imediato de suas lutas, desde que não perca de vista as requisições do mercado mundial. Engels observa a inexistência de informações sobre a organização da classe operária por meio dos sindicatos. E este é um ponto muito essencial, pois trata da verdadeira organização da classe do proletariado, na qual esta trava suas lutas diárias contra o capital, na qual se educa e se disciplina a si mesmo [...].(19-, p.229). Mas mercado mundial supõe organização sindical internacional. Os trabalhadores da Mercedes Benz no Brasil que o digam. As requisições em termos de política organizacional provêm da matriz na Alemanha e, com ela, o direcionamento dos processos de reestruturação na produção e suas políticas de corte, como demissão de pessoal que tem atingido metalúrgicos brasileiros. E assim ocorre em outras empresas, principalmente as de grande

50 49 porte, supondo existência de organizações sindicais de âmbito internacional para se fazerem face às exigências do capital. Algo aproximado ao que Engels, observando sobre a consciência da solidariedade do Partido Operário Alemão com os operários de todos os países, aponta como deveres oriundos dessa solidariedade. São estes: O dever de ajudar em caso de greve e impedir o envio de fura-greves, preocupar-se em que os órgãos do partido informem os operários alemães sobre o movimento estrangeiro, organizar campanhas de agitação contra as guerras dinásticas iminentes ou que já eclodiram, uma atitude diante destas como a exemplarmente mantida em 1870 e 1871, etc. (19-, p. 228). Na mira, o reforço à proposta de uma intervenção sindical além da fábrica e de âmbito internacional no quadro contemporâneo do capital. Como observado, a proposta de organização sindical de âmbito internacional não é algo recente, mas resultado do desenvolvimento das forças produtivas em um plano histórico-mundial, tal como Marx e Engels observam em A Ideologia Alemã (1993). Nos termos do autor, os indivíduos são empiricamente universais, histórico-mundiais, no lugar de indivíduos locais. [...] o proletariado só pode, pois, existir mundial e historicamente [...]. Existência histórico-mundial de indivíduos, isto é, existência de indivíduos diretamente vinculada à história mundial (MARX e ENGELS,1993, p.52). E o debate prossegue Da dinâmica sindical à proposta de atuação de base internacional A temática se inscreve na dinâmica histórica das relações capital/trabalho e em uma perspectiva que possibilite problematizá-la a partir das relações de classes. Mas, diferente dos argumentos que requisitam a atuação em questões que afetam os anseios da sociedade, as requisições são de uma perspectiva de intervenção sindical com ganhos em discussões sobre emprego e renda dos trabalhadores que o movimento sindical representa. E mais, em uma perspectiva de atuação de âmbito internacional, visto que a demissão de um número considerável de operários das multinacionais da Mercedes Benz, por exemplo, tem partido das matrizes, no caso da Alemanha. Concordo com o exercício de estratégias defensivas, desde que articulado a uma perspectiva de luta mais abrangente que os marcos nacionais com horizontes além do capital. Negociar como? Em que condições? Negociação ou imposição? Entendo que a imposição

51 50 pode se manifestar nas pressões e, até, coações por metas produtivas, sobretudo, quando acompanhadas por normas disciplinares que, em última instância, objetivam controlar o trabalhador. Pesam para isso os serviços terceirizados instalados nas empresas, a política de redução de custo, como de pessoal, o exército de indivíduos recrutados como reserva no setor de pessoal, as progressivas demissões, o desemprego que se tornou vitalício em um quadro de precarização evidente, entre outras singularidades. O quadro vivenciado pelo operário no limiar do século XXI parece diferenciar sobremaneira do capitalismo de outrora, quando os impactos rebatiam em termos de conquistas coletivas. As observações são de que hoje há requisições de outra ordem, embora o contexto já sinalize horizontes de retomada desse espírito de luta em âmbito mundial. Os dados apontam um debilitamento sindical que se expressa, na maior parte dos casos, em desindicalização e perda do poder de negociação e de luta das diversas entidades. A questão é reportar-se à estratégia de negociação entre as partes, embora seja patente a hegemonia dos setores representativos da hierarquia organizacional. Os dados apontados pelas distintas análises de Ramalho (1994), Leite (1997), Mattoso (1999), Antunes (1995, 1995a e 1999), Boito (1999) e Alves (2000) mostram uma situação de refluxo do movimento sindical no quadro contemporâneo do capital, enfatizando o significado da luta de e dos anos 90 para o movimento sindical. Ramalho (1994) discute o movimento sindical partindo da conjuntura nacional e internacional e da crise estrutural do mundo industrial que atinge as relações de trabalho com evidente institucionalização sindical. Leite (1997) também tece seu argumento partindo das tendências internacionais e, com elas, as novas relações industriais engendradas no contexto da reestruturação produtiva nas últimas duas décadas. Conseqüências: enfraquecimento sindical, expresso na maior parte dos casos em dessindicalização e perda do poder de negociação das entidades sindicais, assevera a autora. No caso do Brasil, Leite (1997) observa o ressurgimento do movimento sindical na cena política em 1978, sobretudo, tomando como referência a vivência de violência e repressão pelo golpe militar em Estende-se daí até o final da década de 1980 sob recrudescimento do movimento grevista, crescimento dos sindicatos em representatividade e organização em centrais sindicais, federações, confederações fora da estrutura sindical e negociação direta com o patronato. Essa realidade muda nos anos 90. Segundo a autora, o processo de ajuste, além de provocar aumento de desemprego, precarização, desverticalização

52 51 das empresas e terceirização de setores de suas atividades produtivas, investe contra o poder sindical, ocasionando significativas perdas de suas bases. Em outro recorte, Mattoso (1999), que discute a destruição regressiva da produção e do mercado de trabalho, destaca baixa dos níveis de sindicalização daí proveniente. Em sua análise, os sindicatos e as centrais que estavam à beira de uma ação propositiva nacional, a exemplo das câmaras setoriais, entraram em um movimento defensivo, evidenciando desaceleração da quantidade de greves e maior dispersão e fragmentação. Daí enfatizar que a ação sindical não levou à conquista de novos direitos, mas apenas à defesa dos existentes, cada vez mais ameaçados pela desregulamentação promovida e pela ofensiva governamental, assinala o autor. Antunes (1995) observa o fator arrefecimento do sindicalismo dos últimos anos da década de O autor que parte do fator desproletarização dos operários, como a indústria metalúrgica, enfatiza a existência de uma situação de refluxo da ação sindical. Refluxo em especial naqueles setores que, até então, encontravam-se à frente de ações reivindicatórias, como os metalúrgicos do ABC paulista e suas greves vitoriosas nos anos de 1978/9. O autor assevera uma inversão do movimento operário, que nos anos de 1980 intentou paralisações de âmbito nacional, contrapondo-se à política econômica assentada no arrocho salarial e reivindicando o ressarcimento de perdas salariais. No mais, entende expressar um movimento de rebeldia do trabalho também em relação a um cotidiano marcado pelo ritmo fabril, como no caso das greves operárias, ou contra as diversas formas de subtração dos salários, como no caso das greves desencadeadas pelos assalariados médios. Alves (2000), ao reportar-se à crescente recessão e desemprego decorrentes do plano Collor I, destaca as requisições de práticas intituladas inovadoras no movimento sindical, principalmente no setor industrial. Em sua análise, as demandas por livre negociação de salários, concessão de abonos e antecipações salariais, de acordo com o espírito do toyotismo, têm colaborado com a queda acentuada de greves. Recorrendo ao balanço do DIEESE relativo às greves no Brasil, entre 1990 a 1997, Alves (op cit) ratifica a queda acentuada de greves e a não freqüência de mobilizações gerais envolvendo categorias de trabalhadores ou todos os trabalhadores de uma grande empresa. Até porque, não como requisição democrática, mas imposição, a proposta é repensar a estratégia de ação sindical de confronto, observa o autor. Em suas palavras: o que é decisivo na análise das greves é perceber não apenas seus dados quantitativos, como é comum no decorrer nas análises sociológicas; mas sim alteração nas

53 52 formas de ser das greves, o que refletiria, de certo modo, na manutenção de estratégias sindicais no país. (ALVES, 2000, p.286). Boito (1999) destaca as dificuldades do movimento sindical desde a década de 1980 em escala internacional. O autor assevera o contexto de refluxo do movimento de massa e de confronto vivenciado em 1978 na realidade brasileira. Refluxo, sobretudo, considerando as oposições à política de desenvolvimento pró-monopolista e pró-imperialista do Estado burguês brasileiro e a política salarial engendrada. Considera vigorar uma ação sindical que isola os diferentes setores da classe trabalhadora em suas reivindicações específicas pela redução de perdas, evidenciando declínio da atividade grevista, diminuição do número de filiados e afirmação, entre as direções sindicais, da tendência à moderação da luta. Enfim, diferenciando os anos oitenta, que consideram momento marcante para o coletivo sindical, autores como Antunes (1995, 1995a e 1999), Alves (2000), Boito (1999), entre outros citados, apontam vigorar nos anos noventa do século XX uma situação de debilitamento sindical sintonizada às requisições neoliberais. Consideram a década de oitenta como momento positivo e forte da dinâmica sindical, dado o enorme movimento de greves em suas mais variadas expressões, diferenciando-se dos anos noventa que vivenciam enfraquecimento sindical centrado em estratégias defensivas. Os estudos destacam predominar nas relações de trabalho um sindicalismo de participação, manifesto nos limites das condições postas pelo capital, o que entendem contribuir com a negação de classes e segmentação da vida sindical. Aliás, essa é uma discussão que se diferencia sobremaneira da apologia do chamado sindicalismo de participação, justificado como alternativa necessária para o atual contexto, com resultados na diminuição do percentual de trabalhadores a ser demitido, no diálogo pela não privatização, entre outras estratégias administradas pelo trabalho em grupo, como alertam Leite (1997), Bresciani (1997) e Ramalho (1994). Ademais, têm-se apresentado também ao debate os estudos que observam a perspectiva de reviravolta da configuração de debilitamento sindical, apresentando a retomada da luta dos trabalhadores no final dos anos de No Brasil, em termos concretos, vemos esboçarem-se, nos últimos, anos o movimento dos Sem-Terras (MST), as ações unificadas por interesses de classe, como os professores das universidades federais, o setor da previdência, os funcionários públicos em geral, os operários da Volkswagem, da General Motors, entre outras manifestações.

54 53 Boito (1999) aponta recuperação do movimento sindical na segunda metade da década de Antunes (2002) observa as novas formas de confrontos em curso contra a lógica destrutiva que preside a (dês)sociabilidade contemporânea, sintetizando os embates mundiais desencadeados pelos trabalhadores e desempregados na contemporaneidade 18. Em sua análise, uma nova fase de mundialização das lutas sociais já se mostra como traço característico do novo século que se inicia, com suas novas lutas e com sua nova morfologia decorrente do caráter multifacetado do trabalho. Uma singularidade de análise: o autor observa, no plano da materialidade, um menor relevo nas lutas anticapitalistas dos trabalhadores precários, parciais, temporários e enorme contingente de desempregados. Por outro lado, diz o autor, a sua própria condição de despossuídos os coloca potencialmente como um pólo social capaz de assumir ações mais ousadas, até por não ter mais nada a perder. Em uma outra ponta de estudo, Coggiola (2004), que assinala uma perspectiva de atuação sindical além do capital na trama contemporânea, atenta para questões pertinentes à necessidade dos sindicatos. Tais como: o direito à greve, à contratação coletiva, à renovação das cláusulas preexistentes, à proteção contra as práticas negociais desleais, à informação sobre as finanças da empresa, à representação sindical por local de trabalho, à criação de uma legislação que regule as despedidas em massa e que coloque restrições à destruição de postos de trabalho em razão da automação e novas técnicas de reengenharia (COGIOLLA, 2004, p. 14). Ao se referir à política do governo Lula, o autor aponta a perspectiva da luta pela autonomia e liberdade sindical combater as alterações introduzidas pelo governo FHC na legislação trabalhista, cujas conseqüências iniciaram a desregulamentação de direitos sociais e criaram condições para a intensificação da exploração do trabalho, além da desregulamentação e precarização do trabalho. 17 São exemplos citados por Boito (1999, p ): o movimento dos desempregados da Europa; a greve francesa dos trabalhadores do setor público, em novembro/dezembro de 1995; o movimento dos caminhoneiros, tido como um dos setores mais antigos e poderosos do sindicalismo francês; a greve dos operários de General Motors em 1998; a greve prolongada e vitoriosa dos 185 mil funcionários da United Parcel Service (USP), em 1997 nos EUA, e a onda de greves na Coréia em São exemplos citados: os movimentos sociais de desempregados; a explosão de Los Angeles; a rebelião de Chiapas no México; o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) no Brasil; as greves dos trabalhadores das empresas públicas na França no final de 1995; a greve dos trabalhadores portuários em Liverpool, de 1995 a 1998; a greve de cerca de dois milhões de metalúrgicos da Coréia do Sul em 1997 contra a precarização e flexibilização do trabalho; a greve dos transportadores da United Parcel Service em 1997 nos Estados Unidos, com 185 mil paralisados, articulando uma ação conjunta entre trabalhadores estáveis e precários na luta por um único contrato de trabalho na empresa; as explosões de Seattle, passando por Praga, Nice, pela confrontação acirrada em Gênova, pelas ações do Fórum Social Mundial e pela rebelião social que destituiu o presidente da República na Argentina, em fim de 2001 e início de 2002 (ANTUNES, 2002, p ).

55 54 Na mira, o horizonte de que galo gaulês ainda há de cantar em seu despertar, divulgando o predomínio de um horizonte de luta sindical além das requisições do capital. 19 Dinâmica sindical: das mudanças de estratégias e táticas às requisições de embates em termos internacionais. Em se tratando da realidade brasileira, as estratégias do movimento sindical perpassam por situações de repressões no contexto de 1964, passando pelo ressurgimento do movimento nos anos de 1980 e no final da década seu enfraquecimento, delineando-se no limiar do século uma nova configuração de luta sindical: as requisições de embates em termos internacionais. A perspectiva é que, junto a esse empenho, somem esforços às intervenções sindicais pautadas nos interesses dos trabalhadores localizados nos diversos países onde se concentra o movimento multinacional do capital. Dentre elas, entendo que a massa posta em condição de reserva pode consubstanciar-se em uma força de organização capaz de pôr em relevo a lógica destrutiva do capital, inclusive no que toca à diminuição de postos de trabalho, às progressivas demissões e ao alargamento da precarização e do desemprego, que se tornou estrutural. Recorrendo a um trecho já citado de A Ideologia Alemã: o desenvolvimento das forças produtivas dá-se em um plano histórico-mundial, pressupondo análise de mercado em termos mundiais em um quadro no qual os trabalhadores são tratados como universais, histórico-mundiais. (MARX e ENGELS, 1993, p.53). No mais, fica o horizonte de atuação sindical de base internacional. 2.2 Estratégia Sindical: ir além dos muros da empresa Além dos muros da empresa, esse é um objetivo peculiar no debate sobre o desempenho das estratrégias sindicais na trama contemporânea. De setores que requisitam a articulação sindicato/sociedade aos que a interpretam como projeto direcionado pelo capital, fazem-se presentes as requisições de uma proposta de organização representativa dos interesses dos trabalhadores assalariados e dos não assalariados. Bargas (1994), por exemplo, aponta a perspectiva de a ação sindical unir-se aos interesses mais amplos da população, o que entende aumentar a possibilidade de ampliar os direitos dos trabalhadores e contribuir para a 19 O canto do galo gaulês é uma expressão utilizada por Marx ao se referir às condições de insurreição da Alemanha, no final do século XVIII, em um contexto não de legitimação do monopólio, como assim se manifesta esse país, mas de contestação, tal como se desenrola na França e na Inglaterra (Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, 1977, p.15.).

56 55 formação política do conjunto das pessoas envolvidas. Lojkine (1989), tratando da realidade francesa, observa essa perspectiva quando propõe abertura sindical a todos assalariados, operários e não operários considerados majoritários, como técnicos, engenheiros, jovens diplomados, executivos, particularmente executivos gestionários. Birh (1998), ao trabalhar o movimento operário europeu, aborda a proposta de organização que aglutine os interesses dos trabalhadores estáveis, instáveis e desempregados. Os estudos de Antunes (1995) ratificam a perspectiva que articula contestação a combates defensivos norteados por um prisma anticapitalista. Diferente de Lojkine (1989), Bargas (1994) e Leite (1997), Antunes (1995), Alves (2000) e Boito (1999) apontam elementos de uma atuação sindical posicionada para além das requisições do capital e em uma perspectiva de classe. Algo que Mészáros (2002), ao se referir aos países de capitalismo avançado, trata como articulação de demandas parciais com o objetivo de negação e transformação do capital, o modo de reprodução sócio-metabólico. Lojkine (1989) considera o trato dos desafios sindicais como expressão do debate democrático e pluralista entre assalariados, sindicato e direção. O autor considera que as requisições de organização coletiva, no atual contexto, não mais demandam movimentos de contestação e muito menos de negociação institucional, em que o sindicato se contenta em acompanhar uma mudança econômica dependente do monopólio incontestado da gestão patronal ou estatal. Requisitam, sim, um sindicalismo de terceiro tipo, fundamentado na informação, no debate, na comunicação, na troca de informações, na conquista democrática da opinião pública, o que interpreta como mobilização de novo tipo. Em outros estudos, como Mészáros (2002), a discussão sobre pluralismo de estratégias aparece como condição elementar para o sucesso do projeto socialista. A proposta tem em vista combinar uma grande variedade de demandas e estratégias parciais como parte do complexo global, devendo estar articulada ao objetivo de negação radical e à transformação positiva do modo de reprodução sócio-metabólico, adverte o autor (2002:843). São demandas que variam de necessidades vitais, como empregos, educação, assistência médica, serviços sociais, a luta pela libertação das mulheres, contra a discriminação racial, pela preservação da paz, contra os interesses do complexo industrial-militar, pela restrição ao poder das transnacionais, pelo estabelecimento de uma base de cooperação e troca que assegure as condições de desenvolvimento real no terceiro mundo, entre outras preocupações.

57 56 É possível dizer que a proposta hegemônica institucional convive com uma pluralidade de abordagens em suas diversidades de perspectivas, até mesmo de um modo diametralmente oposto. No mais, pretendo abordar a temática de um modo plural e com um procedimento de investigação e análise apoiado na perspectiva marxiana A questão em Marx e Engels Largo apresenta-se o debate sobre a proposta de atuação sindical que se posiciona para além de requisições econômicas, demandando uma intervenção política em defesa dos interesses de classe. As obras do período revolucionário de , trabalhadas por Marx, esboçam intervenções que ultrapassam as questões econômicas, objetivando o aspecto político. Em estudos, como Miséria da Filosofia, publicado em 1847, e junto com Engels, no Manifesto do Partido Comunista, publicado em 1848, o autor aborda o imbricamento dos aspectos econômico e político do movimento sindical e mesmo a ultrapassagem daquele por este. O trato das Trades Uunions, reunidas na Association Of United Trades na Inglaterra dos anos 1845, pressupõe uma perspectiva de atuação além da fábrica, e de uma forma permanente, o que para Marx já contém um significado político. O autor observa uma perspectiva de movimento onde os interesses dos trabalhadores são postos para além da luta salarial, visto ter assegurado o direito de associação. A abordagem enfatiza uma proposta de atuação não restrita a greves passageiras e emergentes, mas voltada para a luta permanente com os industriais em defesa dos interesses da classe 20. Nas obras citadas, o salário aparece como uma de suas questões cruciais, sendo considerado elemento primeiro de associação e de organização a aglutinar interesses de parcela significativa dos trabalhadores. Detalhe: a proposta não se restringe à questão salarial, que é tratada como meio, tal como se desenrola o debate na Miséria da Filosofia e no Manifesto do Partido Comunista, discussão que se estende a outras obras tratadas por Marx 21. Nos Estatutos da Associação Internacional dos Trabalhadores, publicado em 1871, Marx e Engels esboçam a proposta de emancipação econômica da classe trabalhadora como objetivo 20 Marx toma como referência de consciência e luta do proletariado o movimento operário na Inglaterra, por se tratar de um país onde a indústria atingiu seu mais alto grau de desenvolvimento, apresentando vastas e as mais bem organizadas coligações em relação às organizações da época. 21 Outra obra, entre as já citadas, que perfaz o conjunto dos escritos do período revolucionário, refere-se ao Trabalho Assalariado e Capital, São Paulo, Global,1987.

58 57 primordial a que todo movimento político deve subordinar-se como meio. Até porque propõem que a coligação de forças da classe operária, já alcançada pela luta econômica, na mão dessa classe, sirva como uma alavanca em sua luta contra o poder político de seus exploradores (1977b, p.324). É oportuno lembrar o aspecto coligação no debate: trata-se da primeira tentativa dos trabalhadores no sentido de se associarem (2001, p ). Enfim, a requisição econômica, como a luta por melhoria salarial, é fundamental na processualidade da dinâmica sindical, desde que articulada a uma perspectiva mais ampla, direcionada por interesses da classe. Uma questão peculiar de análise, discorrida na Miséria da Filosofia e no Manifesto do Partido Comunista, diz respeito aos impactos ocasionados pelo desenvolvimento industrial em termos de diminuição salarial, que se torna objeto de luta e organização de operários, concentrando-os em massas cada vez mais consideráveis. No Manifesto do Partido Comunista, por exemplo, Marx e Engels observam, entre outros impactos do desenvolvimento da indústria, a redução salarial e conseqüente precariedade na condição de vida do proletário. Em contrapartida, formam-se uniões em defesa de salário e associações permanentes. Nos termos do autor: o desenvolvimento da grande indústria socava o terreno em que a burguesia assentou o seu regime de produção e apropriação de produtos. A burguesia produz seus próprios coveiros, sua queda e vitória do proletariado são igualmente inevitáveis (1977b, p.31). Os coveiros da burguesia para Marx e Engels seriam a classe do proletariado, equivale entender: a ordem capitalista desenvolvida, em seu interior, produz a sua própria negação, a sua superação. As lutas operárias por melhoria salarial e redução da jornada de trabalho, os confrontos entre operários e capitalistas, que tendiam a se generalizar na maioria dos países capitalistas, são considerados expressão da contradição latente e insuperável posta pelo capital 22. Observando um trecho do Manifesto: Em virtude da concorrência crescente dos burgueses entre si e devido às crises comerciais que disso resultam, os salários se tornam cada vez mais instáveis; o aperfeiçoamento constante e cada vez mais rápido das máquinas torna a condição de vida do operário cada vez mais precária; os choques individuais entre o operário e o 22 Vale lembrar, no Manifesto Comunista a sociedade divide-se em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado. A burguesia é compreendida como a classe dos capitalistas modernos, proprietários dos meios de produção social que empregam o trabalho assalariado. Os proletários compreendem a classes dos trabalhadores assalariados modernos que, privados de meios de produção próprios, se vêem obrigados a vender sua força de trabalho para então existirem (1977b, p. 22).

59 58 burguês tomam cada vez mais o caráter de choque entre duas classes. Os operários começam a formar uniões contra os burgueses e atuam em comum na defesa de seus salários; chegam a fundar associações permanentes a fim de se prepararem, na previsão daqueles choques eventuais. Aqui e ali a luta se transforma em motim 23. (1970b, p. 28). Em um outro trecho na Miséria da Filosofia: A grande indústria aglomera num único lugar uma multidão de pessoas desconhecidas uma das outras. A concorrência divide seus interesses. Mas a manutenção do salário, esse interesse comum que possuem contra o patrão, reúne-as num mesmo pensamento de resistência-coligação, pondo a coligação enquanto instrumento de resistência. Por isso, a coligação tem sempre um duplo objetivo, o de fazer cessar a concorrência entre os operários, para que possam fazer uma concorrência geral ao capitalista 24. (2001, p.150/1). Como se vê, Marx já na Miséria da Filosofia e, junto com Engels, no Manifesto do Partido Comunista, observa a constituição de organizações sindicais, uniões operárias, a união operária permanente de caráter nacional nos anos de 1847 na Inglaterra, a luta pela defesa do salário, os motins. O autor propõe uma perspectiva de intervenção que extrapole o êxito imediato, como melhoria salarial e legislação fabril para os proletários, direcionando-se primordialmente para obter união cada vez mais ampla dos trabalhadores. A National Association Of United Trades, como observado na Miséria da Filosofia, é um exemplo histórico dessa perspectiva de intervenção nos anos de 1847, o que para Marx continha significado de luta política. Tratava-se da união das coligações operárias. Objetivo: assegurar concentração das lutas locais em uma luta nacional, luta de classes, em uma luta política direcionada para além do aspecto econômico. Mas a luta pelo salário é fundamental no quadro da sociabilidade do capital, desde que articulada aos interesses da classe O Manifesto Comunista também observa o Luddismo como esboço de uma primeira fase de desenvolvimento do proletariado, tido como primeira forma de oposição de classe dos operários à burguesia, logo no início do movimento industrial. Trata-se de uma resistência violenta à introdução das máquinas, em que os operários não se limitam a atacar as relações burguesas de produção, atacam os instrumentos de produção, resistem violentamente à introdução das máquinas, queimando-as e destruindo as mercadorias que lhes fazem concorrência (1977b, p.27-28). 24 Em resposta à Filosofia da Miséria, Marx na Miséria da Filosofia, em 1847 aponta uma visão contrária à análise de Proudhon, que proíbe a atuação dos sindicatos e as greves em sua luta por melhores salários, receando que a uma coligação se siga uma alta de salários, provocando uma carestia geral. Ao invés de encarecimento geral, Marx observa baixa no preço das mercadorias. E mais, ao criticar o ponto de vista de Proudhon, expõe pala primeira vez o seu ponto de vista sobre a importância da luta por melhores salários e das coligações operárias. O autor considera os sindicatos como parte da própria natureza do capitalismo industrial e da condição do trabalho assalariado. 25 Vale lembrar o comentário de que a National Association Of United Trades, criada em 1845, desenvolveu mobilização de caráter sindical, com vistas a defender melhorias na legislação fabril e nas condições de venda da força de trabalho. Existiu até início de 1860, mas desde 1851 não desempenhou mais qualquer papel importante no movimento sindical, adotando posturas demasiadamente moderadas (ALVES,1992, p.72).

60 A proposta no debate contemporâneo Ganha força no debate contemporâneo a proposta de atuação sindical posicionada para além dos muros da empresa, podendo intervir em questões que também afetam a sociedade e os interesses dos trabalhadores em geral, sejam eles assalariados ou não assalariados. Vasto é o campo de atuação e análise nesse debate. Ele perpassa por estudos que abordam o prisma da perspectiva institucional aos que a analisam em uma perspectiva de classe. E haja propostas! Lojkine (1989) observa a perspectiva de uma organização sindical além da fábrica, o sair da empresa, pressupondo relações com assalariados e executivos, cooperações com a população local, outros sindicatos e outros estabelecimentos. O autor, que se refere à realidade francesa, aborda aspectos de intermediação do movimento sindical a questões relativas à supressão de demissões, ausência de demissões abruptas, recuperação de empregos, desemprego etc. Birh (1998), que se refere ao movimento operário europeu, propõe um sindicalismo com estruturas horizontais que privilegie a dimensão interprofissional e estabeleça a identidade política e cultural do proletariado em uma base mais ampla. Como tal, extrapole os muros da empresa, abarcando questões relativas à habitação, acesso aos meios sociais de consumo, etc. A necessidade de redefinição do papel do sindicato de forma a se ocupar com defesa dos direitos das minorias, meio ambiente, luta contra a fome, desigualdades sociais, etc, é uma questão posta nos estudos de Bargas (1994). O autor observa que as atuais contradições e conflitos de classes não se restringem às relações de trabalho, mas também aos interesses mais amplos da população. Nestes termos, propõe junção da ação sindical a esses interesses, o que entende contribuir com a formação política dos envolvidos. Considera que, para os trabalhadores, esta formação pode traduzir-se em conscientização, no sentido de compreender que fazem parte de uma coletividade maior da sociedade, podendo intervir enquanto cidadãos e consumidores, com direito à saúde, educação, transporte, moradia, lazer, etc. Pode, até mesmo, influir nas definições sobre o desenvolvimento econômico, político e social do país. Bargas fundamenta seu argumento observando que a luta pelo emprego em uma fábrica poluente pode encontrar-se em conflito com a defesa do meio ambiente, que é de interesse da população.

61 60 Por essa perspectiva, Leite (1997) direciona sua análise sobre os desafios sindicais. Segundo a autora, o movimento sindical brasileiro enfrenta, desde o início dos anos de 1990, um conjunto de desafios que pode levá-lo a diferentes caminhos. Um no sentido de dar um salto de qualidade em direção à construção de um sindicalismo profundamente enraizado nas bases, democrático, criativo, propositivo e com grande capacidade de mobilização. Outro que pode retroceder para uma situação de baixa capacidade de representação e fraco poder de mobilização e de negociação. E um terceiro que pode aprofundar a segmentação das duas tendências citadas entre os distintos setores. Leite aponta como novo desafio para o movimento sindical o enfrentamento de questões que abarquem desemprego, terceirização, trabalho informal, deterioração das condições de trabalho, baixos salários e mão-de-obra pouco qualificada. Propõe também o estreitamento de relações dos sindicatos com as organizações de bairro, ampliando esforços em direção à organização dos trabalhadores nas fábricas, criando cursos de qualificação para estes, investindo em infra-estrutura, em canais de comunicação, entre outros. Outros estudos, como Boito (1999), Antunes (1995) e Alves (2000) observam elementos de crítica a essa perspectiva de atuação sindical, tida como proposta imediata, subordinada às requisições do capital e que reforça o movimento de despolitização do sindicalismo. Os autores ratificam a perspectiva defensiva do sindicalismo, desde que articulada a um movimento de contestação à lógica do capital. Observam uma singularidade de análise, ao abordarem as estratégias sindicais no Brasil partindo do prisma além das requisições fabris: a questão é tratada em uma perspectiva de classe. Antunes sugere como desafio para o sindicalismo, a articulação de necessidades imediatas do mundo do trabalho, como salários, direitos, dispensas, fechamento de empresas, aumento de ritmos produtivos a de um projeto além do capital. Boito (1997) assevera uma plataforma antiliberal que reveja a desregulamentação e elimine contratos de trabalho sem carteira profissional, contemplando uma política de recuperação de emprego e salário e de reestatização de direitos, como saúde, educação, previdência e serviços sociais urbanos. Além de sustar as privatizações de empresas e reexaminar as já realizadas. Alves (2000) sinaliza para uma articulação entre os obstáculos resistentes à sanha do capital e o movimento político mais amplo de contestação à lógica do capital. O autor aponta a proposta de uma ação sindical que extrapole o espaço da produção e generalize-se para o movimento social (político) de contestação à lógica do capital e elevação da consciência de classe.

62 61 Enfim, diversas são as questões que justificam a proposta sindical para além dos muros da empresa. Birh (1998) aborda a ruptura do compromisso fordista e os limites da organização sindical, outrora vista como mediadora das relações capital/trabalho. Considera tratar-se de uma intervenção inadaptada tanto em termos de atuação como representação, diferenciando-se de quando o sindicato intermediava distribuição de ganhos de produtividade entre salários, lucros, legalização da relação salarial, garantias coletivas sobre a reprodução da força de trabalho, etc 26. O autor observa uma tendência à individualização extrema da relação salarial acompanhada pela tendência de isolamento de interesses, o que considera estimular demandas corporativas pela preservação de conquistas de uma determinada categoria em detrimento da unidade de classe, além de reforçar divisões e desigualdades no seio do próprio proletariado. A perspectiva de distribuição de papéis entre um patronato que gere salários e condições de trabalho e sindicatos que os discutam teve seu tempo para Lojkine (1989). A experiência da Fábrica de Radares, em 1991 na França, entre outros exemplos citados pelo autor, ratifica essa realidade. Por lá, enquanto uma declaração de greve contra demissões reunia oitenta pessoas no pátio da fábrica, lugar tradicionalmente simbólico de manifestação de forças, a petição recolhia 589 assinaturas em um efetivo de 977 assalariados (1989, p.244). Lojkine traz ao debate algumas táticas recorridas pelo movimento sindical, tais como: a batalha de opinião - até como estratégia de infiltração que solicita da direção um debate em relação aos custos; o trabalho formiga, voltado a persuadir o assalariado para conquistar a opinião da categoria e da população; a emergência de um espaço público de discussão nas empresas em que assalariados, sindicato e direção são reconhecidos como parceiros iguais; a apreciação positiva das lutas cotidianas e do papel do panfleto, tido como instrumento de confrontação e convocação para o debate As reações a essa crise e ofensiva às conquistas do proletariado são resumidas em duas estratégias que Birh (1998) intitula de antiga e moderna. A antiga prioriza defender conquistas, direitos e benefícios adquiridos pelo proletariado no quadro do compromisso fordista. A moderna aponta limites do acordo firmado, assinalando a necessidade de um novo compromisso que dê acesso a novos benefícios em termos de redução do tempo de trabalho, participação e controle na vida da empresa etc. Segundo o autor, trata-se de estratégias limitadas. A antiga traz em cena o fetichismo dos benefícios e direitos adquiridos como se estes constituíssem o cerne da reivindicação proletária no capitalismo, além de deixar de fora os que não têm acesso à esses benefícios. A moderna sacrifica as conquistas do compromisso anterior, tornando-se cúmplice da classe capitalista em sua ofensiva contra o proletariado. Em suma, trata-se de estratégias que privam o movimento operário de estabelecer horizontes compatíveis com a dinâmica contemporânea do capital, contribuindo com a fragmentação crescente do proletariado ocidental no final dos anos de Lojkine (1989, p.15) toma como referência de pesquisa o movimento sindical da CGT (Central Gral dos Trabalhadores), especificamente a sua participação voltada a influir na escolha gestionária das empresas, onde os sindicatos são confrontados por reestruturações devastadoras e demissões maciças. Essa nova cultura de intervenção na gestão não é própria do sindicalismo francês nem da CGT, que se reclama abertamente ser um sindicalismo de classe, mas de um sindicalismo co-gestionário à moda alemã ou à moda sueca, observa.

63 62 O autor sinaliza as pequenas vitórias cotidianas como pontos de referência para conquistas importantes do movimento. Considera tratar-se de uma organização permanente com obrigações e engajamentos, em uma responsabilidade coletiva, chocando-se com a visão individualista de carreira e de trabalho. Mas isso é apenas um aspecto do problema, assinala Lojkine, observando que, talvez, o tabu mais difícil de suprimir seja a necessidade de pôr em questão a estratégia da pretensa infalibilidade da direção. O autor enfatiza a necessidade de o movimento sindical ultrapassar a estratégia defensiva, que entende contentar-se em responder às iniciativas da direção, para uma ofensiva (LOJKINE, 1987, p.24), discussão um tanto aberta, até pela ausência de uma análise substantiva, deixando elementos para continuidade do debate. Bargas (1994), que fundamenta seu argumento apontando a relação ação sindical e interesses mais amplos da população, observa a CUT como um exemplo dessa perspectiva de atuação sindical, citando sua participação na campanha pelo impeachment de Collor, contra a fome, com os meninos de rua, meio ambiente, etc. O autor atenta para o enfrentamento de uma resistência interna no interior da própria central sob alegação de que, ao assumir tais iniciativas, a CUT trai os princípios que levaram à sua criação, prendendo-se a saídas paliativas no enfrentamento dos problemas colocados para a classe trabalhadora, contribuindo assim com o capitalismo. Na contracorrente, observa o autor: o que essas forças, presas a critérios tradicionais de análise de classe, não compreendem é que as atuais contradições e conflitos de classe não se restringem às relações de trabalho, o que já comentamos, mas também a necessidade de articulação de suas lutas com setores mais amplos da sociedade através de suas instituições representativas. (BARGAS, 1994, p.180). Entre essas forças de resistência citadas pelo autor, percebemos nas análises de Antunes (1995) e Boito (1999) diferenciais de abordagens em relação à proposta apresentada. Retrocesso e debilitação são as categorias recorridas para se fazer face à política institucional sindical que apregoa avanços e contribuições com aspectos que afetam salário, emprego, formação profissional e até sociedade. Antunes aponta para uma atuação defensiva e atada à imediaticidade, regredindo sua já limitada defesa de classe no universo do capital, mesmo que a nível do discurso proponha um sindicalismo apoiado por uma política para o conjunto do país, o país integrado do capital e do trabalho. Boito destaca a questão do ocultamento de interesses de classe por essa central, que aspira representar a sociedade reforçando um movimento de despolitização do sindicalismo.

64 63 Assim, faz-se presente no debate contemporâneo uma proposta de organização sindical posicionada para além dos muros empresariais, abrangendo interesses dos assalariados e não assalariados. Diria tratar-se de um debate plural. Alguns estudos propõem junção dos interesses sindicato/sociedade no trato da CUT, enfatizando sua participação em campanhas nos últimos anos. Outros estudos criticam essa proposta, interpretando-a como estratégia regida pelo capital, subordinada ao mercado e distante do movimento autônomo de classe. Enfim, estratégia Sindical: ir além dos muros da empresa, essa é uma ótica a ser percorrida no resgate da pluralidade de abordagens apresentadas. Do apologético a uma perspectiva de classe, percebo que o além se apresenta como uma questão evidente, valendo ressaltar a preocupação com as peculiaridades de análise dos autores que podem apresentar diferenciais de abordagens. E como podem! Agora, pertinente para o contexto parecem trabalhar as requisições contemporâneas de mobilização coletiva em termos de estratégias defensivas e de contestação com horizontes além do capital. Entendo que a temática se inscreve na dinâmica do movimento histórico da trama do capital e seu suporte neoliberal. Compreendo tratar-se de uma proposta regida pelo capital e direcionada para distanciar-se dos movimentos autônomos de classe. Outrossim, considero relevante a proposta de atuação sindical que relaciona estratégias de lutas locais, como a luta por salários e contra a extensão da jornada de trabalho, a uma perspectiva mais ampla em defesa dos interesses da classe. Recorrendo aos estudos de Losovski: A política sindical de classe deve ter seu ponto de partida na luta por uma jornada de trabalho reduzida, por elevados salários, pela proteção do trabalho feminino e infantil, por uma ampla legislação fabril, etc. [...] Porém, para iniciar a luta por essas reivindicações parciais, é preciso compreender seu papel e significado na luta geral da classe proletária e, ao mesmo tempo, estudar as causas da legislação social (1989, p.124) Ou seja, não se trata de estratégias excludentes, em que a existência de uma supõe necessariamente a inexistência da outra. Entendo que a sobrevalorização de uma perspectiva em relação a outra, a exemplo do aspecto parcial de uma proposta em detrimento dos interesses da classe trabalhadora, tende a limitar-se às próprias condições criadas pelos mecanismos da economia capitalista. Como observa Marx e Engels (1977b, p.28) no Manifesto do Partido Comunista: O verdadeiro resultado dessas lutas não é o êxito imediato, mas a união cada vez mais ampla dos trabalhadores.

65 Do âmbito fabril ao extramuros: as estratégias do SINDMETAL O universo da ALUMAR A prioridade pelo universo da ALUMAR (Alumínio Maranhão) parte do interesse em estudar o pólo industrial de ponta no mercado, haja vista a mesma ocupar uma posição de liderança no mercado mundial de alumínio, destacando-se nas certificações de qualidade e de venda. Destaca-se, sobretudo, considerando a situação de decréscimo de emprego no setor metalúrgico, crescente desemprego, precarização do trabalho e acréscimo de indivíduos aquém da linha de pauperização posta pelo capital, enquanto a empresa desponta no mercado maranhense com um relevante arsenal tecnológico e uma das melhores faixas salariais, embora achatadas. Sua política empresarial difunde o discurso que requisita polivalência, criatividade e participação do trabalhador como parte fundamental de sua programática, mesmo que interpretadas como sobrecarga de trabalho, redução de pessoal e apropriação de idéias por parte daqueles que a vivenciam no ambiente produtivo. A proposta de participação, por exemplo, pode ser vista de forma adversa ao que aponta o discurso oficial, podendo significar empenho por metas produtivas, mesmo de uma forma coagida em que o trabalhador vê-se conduzido a cumprir essas metas, sob um quadro reduzido de pessoal e exigência de uma produção maior que outrora. O Consórcio ALUMAR, como a empresa é denominada, localiza-se no Distrito Industrial de São Luís, precisamente na BR-135 Pedrinhas. Área de intervenção: produção da alumina e alumínio, ficando sua administração a cargo de uma acionária majoritária do consórcio, a ALCOA Alumínio S.A. Conjugam também o consórcio a ALCAN, Alumínio do Brasil, uma empresa canadense, a Billiton Metais S.A. e a ABALCO S.A. 28 A empresa dispõe das fábricas de Refinaria e de Redução, respectivamente, responsáveis pela produção da alumina e do alumínio, contando com um complexo portuário para tráfego da matéria-prima e dos produtos. Esse complexo se encontra localizado na confluência do Estreito dos Coqueiros com o Rio dos Cachorros. Sua atuação dá-se por meio das correias transportadoras, a exemplo da bauxita, uma matéria necessária na extração do alumínio, que é enviada do Porto à Refinaria para tornar-se alumina caucionada. A maior 28 Em documentação oficial, Perfil da ALUMAR, participação dos membros do Consórcio se encontra assim distribuída: a ALCOA com 54% na Redução e 35,1% na Refinaria; a Billiton metais com 46% na Redução e 36% na Refinaria, setor que conta, ainda, com 18,9% da ABALCO S.A. e 10% da ALCAN Alumínio do Brasil..

66 65 parte desse produto é enviada à Redução para fabricação do alumínio, ficando os excedentes a serem encaminhados ao Porto para fins de comercialização (anexo1). Por que uma indústria desse porte é instalada no solo maranhense? Em São Luís, a ALUMAR encontra os componentes fundamentais para a sua produção: a bauxita como matéria prima, a eletricidade como material auxiliar relevante e a vasta disponibilidade de mão-de-obra barata, além de contar com insenção de tributos e com um quinto da área da ilha, doado pelo governo estadual em Diga-se de passagem, nos anos 80, São Luís tornouse uma ponta de lança em termos de indústria pesada, diferenciando-se dos ciclos de industrialização outrora vivenciados: o ciclo do açúcar, algodão e babaçu. A começar com o maquinário que se tornou obsoleto face à concorrência da industrialização em escala multinacional e sua mais avançada tecnologia no setor de mineração, de beneficiamento (p.e. alumínio) e de exportação (ferrovia, porto), observa Frans Gistelink (1989, p.132). Com a industrialização instalada no Estado, os maiores navios do mundo transportam minério de ferro para todos os grandes centros industrializados. O alumínio, por exemplo, é vendido para o mercado externo e interno. Em 1989, a base espacial de Alcântara lança seu primeiro satélite no espaço. As informações apresentam a inserção do Estado na era industrial e espacial, tornando-se um atrativo palco para os interesses internacionais e nacionais. A questão é que a instalação da ALUMAR no distrito industrial de São Luís foge aos critérios de localização de fábricas de alumínio defendidos pela ONU (Organização das Nações Unidas). Ao invés de se distanciar em torno de 200km do núcleo urbano da cidade, distancia-se em média de 35km, além de movimentar-se em um terreno arenoso, o que é condenado pela referida organização 30. Por esses e outros motivos a instalação da ALUMAR foi alvo de contestação pelo movimento popular. Os registros são de que sua localização no Maranhão ocasionou conseqüências danosas à população situada em sua área de concentração. Cerca de cinco mil famílias foram desapropriadas de seu local de moradia e de trabalho 31 - um locus tipicamente rural, movimentado por pequenos produtores de atividades hortigranjeiras. Ao serem desapropriadas, essas famílias vieram somar de uma forma precarizada, às periferias do centro urbano, onde é alarmante o alto índice de analfabetismo e 29 Sobre o assunto ver o desenvolvimento industrial no Maranhão de Frans Gistelink. In: Carajás, usinas e favelas. São Luís, A esse respeito ver Tendências da economia e ajustes nacionais de regionais de Moacir Feitosa. São Luís, Dissertação de Mestrado, Dados cadastrais do CDI (Companhia de Distritos Industriais). In: Feitosa, op. cit

67 66 de doenças oriundas das nefastas condições de infra-estrutura, como paralisia, subnutrição e desnutrição. Essa é uma realidade que contradiz a política empresarial difundida durante a instalação da ALUMAR em São Luís. O discurso é de uma empresa se auto-referênciando como uma massa de investimentos para a Ilha, com capacidade de gerar emprego e qualificação técnica ao homem maranhense, choca-se com o acirramento das situações de desemprego, precarização, aumento da periferização, além da abundante força de trabalho jovem, saudável para os padrões de produtividade requesitados e suscetível a protagonizar o chão de fábrica sob condições inferiores as que o trabalhador do ramo vivencia 32. Enfim, do discurso empresarial à sua crítica: a dinâmica da ALUMAR O discurso empresarial e sua concretização: o outro lado da moeda O outro lado da moeda, como já expressa a terminologia, sintetiza a existência de ideários e realidades diferenciados nos últimos anos na metalurgia de ponta localizada na ALUMAR. Faces que considero de uma mesma moeda. Sob ela, o discurso empresarial que advoga eficiência, competitividade, qualidade, polivalência e inovação esbarra com a situação concreta de sobrecarga de trabalho e caracteres de sentimentos de aflição, tensão, medo e temor. No jogo da negociação, pesa a manutenção empregatícia para o trabalhador, ainda que se subordine às exigências da rentabilidade necessária para assegurar à empresa uma posição de ponta no mercado embora por vezes discorde do processo. Essa não é uma peculiaridade da ALUMAR, mas partícipe da dinâmica contemporânea do capital. Diversos estudos assinalam a concretização de organizações de trabalhos opostas aos discursos oficialmente difundidos. Host Kern e Michael Schumann (1989), por exemplo, analisando as repercussões das políticas demandadas pelo modelo de especialização flexível, apontam para caminhos diferenciados no mercado de trabalho industrial. Entendem que a formação, a proteção contra dispensas, as motivações 32 A grande arma utilizada como publicidade para sua implantação foi a possibilidade de geração de cerca de empregos diretos e empregos indiretos, além de alavancar o desenvolvimento do Estado. Esse discurso foi encampado pelo governador indicado pelos militares, João Castelo Ribeiro Gonçalves (GUTERRES, 2003).

68 67 salariais e os acordos previstos na política de racionalização de custos atingem somente os setores considerados chaves da indústria, ou seja, aqueles que constituem a mão-de-obra base das empresas. Em contrapartida, devem assumir a convicção de que o alcance da produtividade é condição para garantia de sua estabilidade. Aos outros setores, resta efetivar funções de detalhes, limitadas e repetitivas, convivendo com o risco de desemprego. Trazendo essa questão para a realidade brasileira, destaco de Maria Elizabeth Lima (1994) o caráter de arremedo grotesco dessas políticas quando difundidas em empresas que não possuem recursos para efetivá-las. Segundo a autora, em vez de participação, há um participacionismo sob um quadro que prima pela redução da capacidade do trabalhador criticar e questionar a empresa e pelo crescimento de rivalidades entre os pares. Aliado a isso, ocasiona um processo de exclusão de uma grande massa assalariada que não faz jus às vantagens oferecidas pela empresa, como: estabilidade de emprego, salário acima da média do mercado, investimento na formação e participação dos empregados nas decisões relativas ao seu setor do trabalho, entre outras. Portanto, reforça o desemprego, precariedade do emprego e insegurança de uma maioria. Ao estudar especificamente as formas de gerenciamento efetivadas nas indústrias brasileiras nos últimos anos, Humphrey (l989) indica a distância entre o discurso e o uso das estratégias gerenciais de orientação japonesa a partir dos anos de Conclui tratar-se de um "just-in-time" taylorizado, ou seja, uma estratégia de gestão que, ao invés de contar com o envolvimento e o compromisso do trabalhador com as demandas produtivas, concretiza-se mediante modalidades de pressão e controle. Em um outro ensaio, Humphrey (1993) também aponta o caráter de controle, fiscalização e disciplinamento inerentes a esse padrão de gerenciamento, apresentando a seguinte questão: estaríamos vivenciando uma gestão japonesa à lá brasileira? A metalurgia de ponta, a exemplo da ALUMAR, advoga estratégias de gestão que primam pela participação do trabalhador no processo produtivo. No entanto, as metas são previamente determinadas e o controle e as decisões são deliberados verticalmente pela hierarquia superior. Ou seja, o que pesam são os interesses empresariais, a começar com a produtividade que nesse processo fala mais alto, mesmo que viabilizada sob condições factíveis a originar acidentes de trabalho. Não interessa o sujeito alvo dessa situação; mas os agravos que poderá ocasionar aos resultados produtivos. Aliás, aqui a situação é apresentada sob níveis agravantes. O setor responsável em assegurar segurança no trabalho retorna ao

69 68 acidentado não para compensá-lo pelos danos emergentes, mas para culpabilizá-lo e penalizálo por um ato, já considerado de sua autoria, cujas conseqüências acabam por ameaçar sua manutenção empregatícia 33. Um diferencial produtivo peculiarmente recorrido pela gestão empresarial da ALUMAR é a pressão psicológica. Entendo que essa estratégia sempre se fez presente no gerenciamento organizacional, atuando ao lado das consideráveis formas de exploração direta de mão-de-obra. Mas nunca como hoje o capital manifestou tamanha solicitude com o aspecto psíquico do trabalhador. Ele representa produtividade sob constantes ameaças de desemprego e precarização, sobretudo, considerando a situação de instabilidade empregatícia e de incerteza em voga no mercado. Nada como o que um estudioso chamou de instrumento de intensificação de trabalho. Um instrumento que requer aceitação de medidas disciplinares, assim como submissão ou acomodação ao gerenciamento posto, o que a indústria interpreta como satisfação. No caso da ALUMAR, as pesquisas destacam a existência do aspecto aflição e/ou tensão do trabalhador não atingir o ritmo produtivo. É a tensão e ou aflição face ao acréscimo de terceiras no canteiro da indústria, trazendo à tona o quadro de redução de pessoal e de formas de trabalho e salário precarizadas, suscetíveis a abrir mão de direitos conquistados historicamente pela organização sindical. É o temor em fazer parte de uma avaliação de causas de acidentes e dela ser considerado infrator da política de segurança, não pelos danos físicos que aí possam ser originados, mas pela maquinaria. Essa é uma atuação que pode leválo a vivenciar situações de autoritarismos em forma de imposição e até demissão, mesmo se tratando de um gerenciamento que desvirtua o direito do acidentado, interpretado como incidentado. Enfim, largas são as proporções assumidas pelo medo do operário, sobretudo, considerando o exército de indivíduos em situações de excedência no mercado maranhense, além do significativo contingente recrutado como reserva no setor de pessoal da empresa. Medo, temor, tensão, aflição e seus impactos em termos de atuação operária! Impactos, sobretudo, considerando a vasta literatura que sinaliza a marca da individualidade 33 Em pesquisa junto ao trabalhador de chão de fábrica da grande indústria, observei a situação que, ao invés de apresentar segurança, retorna para o trabalhador em forma de insegurança. O trabalhador não se preocupa com o seu corpo, mas em vivenciar algum ato que possa danificar a maquinaria, retardar a produção, ameaçar a condição de ponta na qual a empresa se encontra no cálculo horas-homem trabalhando sem acidente, entre outras razões. Para não pôr em xeque a posição de liderança, há anos protagonizada na área de segurança, os acidentes de trabalho são interpretados como incidentes, trazendo à tona o aprofundamento da perda de direitos, assim como a adoção de culpas e penalidades aos considerados vitimados por essa situação. Cf. Naíres Farias, Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro, UFRJ, 2000.

70 69 no perfil contemporâneo de posicionamento operário. O posicionamento individual é considerado uma alternativa para assegurar vínculos empregatícios. Os impactos daí oriundos trazem à cena o perfil de trabalhador individualizado em seus interesses, salário e produtividade. Seus esforços podem estender-se no máximo para cumprir metas grupais, mesmo que para isso se subordine às exigências produtivas, embora discordando. Melhor ainda se for de uma forma silenciada, significa não se posicionar explicitamente no quadro da organização posta. Recorrendo aos estudos de Thereza Carvalho (1997), o silêncio é o momento em que o operário manipula seu saber para resistir a toda uma lógica que ele nem sempre compreende ou aceita, mas se conforma, por compreendê-la como alternativa viável de posicionamento à tolerância vigente. Paradoxalmente, recorrentes vêm sendo as solicitudes da política organizacional da ALUMAR com a atuação coletiva do operário. Esta significa produtividade, acompanhada por uma dimensão de face e contraface. Por um lado, localiza-se o discurso que requisita envolvimento do operário com o processo produtivo, sua motivação em atingir o desempenho ocupacional requisitado, obtendo, em troca, investimentos no âmbito da qualificação, participação, premiação e reconhecimento do operário pelos esforços desprendidos. Por outro, manifestam-se os argumentos do operário que vivencia a concretude desses programas em forma de recepção de metas previamente estabelecidas pelo planejamento operacional, onde são traçadas situações de sobrecarga de trabalho, apropriação de idéias, redução de pessoal sob a exigência produtiva maior que outrora, entre outras singularidades. Trabalho em equipe, por exemplo, é visto como estratégia contraditória. Sob a ótica oficial, trata-se de uma modalidade de gestão cujo empenho por metas retorna tanto para a rentabilidade da empresa como para o conhecimento e experiência do operário. Sob a perspectiva do operário, o significado dessa modalidade equipara-se a cansaço físico. Nos termos do Jornal União Metalúrgica (1997), trata-se de uma superexploração. A ênfase recai sobre o índice de sobrecarga de tarefas atribuído ao trabalhador que, além de suas atividades normais, passa a fazer limpeza ou regulagem de máquinas e, com isso, a ocupar postos de trabalho de outros. Produções, como as de Castro e Guimarães (1995), Agier e Guimarães (1995) e Antunes (1999), destacam o caráter mistificador aí contido, mediatizado por situações de patrulhamento, vigilância e denúncia no próprio ambiente, cujas metas são verticalmente estabelecidas como obrigações.

71 70 O outro lado da moeda sintetiza a existência da política organizacional da ALUMAR e sua concretização do ponto de vista de quem o vivencia. Significa que a concretude da política organizacional no ambiente produtivo assume proporção aquém do discurso empresarial, muitas das vezes de um modo adverso. Os estudos e pesquisas relativos à política de negociação divulgada pela gestão organizacional, por exemplo, assinalam ganhos para a indústria e perdas para o trabalhador. Ganhos em termos de recordes de produtividade e certificações de qualidade no mercado. Perdas entendidas tanto do ponto de vista estrutural, que tem estimulado consideravelmente o quadro de terceirização, precarização, segmentação e desemprego, como no que toca às necessidades imediatas do trabalhador, evidenciadas em forma de sobrecarga, redução de custos, em especial de pessoal e de salário O medo como motor de produção O estudo parte de uma singularidade peculiar nas estratégias de gestão nos últimos oito anos na ALUMAR: a maior solicitude pelo aspecto psíquico do trabalhador. A intenção é assegurar lucratividade do operário para a indústria e desativar seu potencial de contestação. É bem verdade que essa estratégia sempre se fez presente no gerenciamento organizacional, atuando ao lado das consideráveis formas de exploração direta de mão-de-obra. Mas, jamais como hoje fora tão requisitada. Ela representa produtividade sob impacto das ameaças de desemprego e precarização, principalmente, considerando a situação de instabilidade empregatícia em voga no mercado. Para o operário que o vivencia ficam as marcas de sua concretização em forma de mal-estar psicológico no trabalho, nos termos de Christophe Dejours (2000). Mal estar esse direcionado pela demanda empenho produtividade, assim como mediatizado em forma de aflição, tensão, medo, temor, insegurança, entre outros sentimentos dessa natureza. No âmbito sindical, as repercussões não são diferentes, mas partícipes de um mesmo projeto do capital. Recorrentes são os métodos para pressionar o trabalhador, inclusive sob a forma de uma coação mediatizada por ameaças de represálias, de não promoção e demissão caso ele participe de movimentos coordenados pelo sindicato ou até mesmo sindicalizar-se: se não fizer, tu vai pra rua, não sindicalize porque não será promovido, se participar de assembléia será punido, se participar de um movimento pode ser demitido, de movimento grevista piorou. A política é, ou você aceita ou não aceita; caso não comungue da nossa

72 71 filosofia, as portas estão abertas pra você se retirar. Diante da instabilidade empregatícia, os trabalhadores acabam aceitando, porque temem em dizer eu não vou fazer, dado o medo generalizado de perder seu emprego. Em pesquisa realizada em 1998, a pedido da Conferência Nacional das Indústrias, o IBOPE apresentou o medo em perder emprego como característica fundante do perfil de trabalhador nos últimos tempos. Tomando uma amostra de treze entrevistados, aproximadamente 63% representaram a categoria que vivencia esse tipo de sentimento; os outros se distribuíram entre os que não possuem medo (36%) e não sabem informar( 1%). Medo: eis a estratégia que nos últimos anos vem sendo trabalhada pelo capital monopolista em sua busca por rentabilidade. Diga-se de passagem, essa é uma questão inovadora quando se trata de gestão operária nos últimos anos. Vale dizer, não estamos tratando de uma nova modalidade de gestão de pessoal. A história do trabalho sempre pontuou a figura de um trabalhador temeroso em ultrapassar requisitos estabelecidos institucionalmente. Agora, jamais como hoje, o medo vem sendo recorrentemente requisitado como instrumento de rendimentos: um instrumento direcionado a produzir comportamentos favoráveis à produção. Como assinalou o estudioso Dejours (1992), trata-se de um sofrimento útil que, em certas ocasiões, pode tornar-se instrumento de exploração e desenvolvimento do capital, atingindo seu ápice quando impactua em uma situação de desemprego acirrado. Pesquisas no ramo da metalurgia apontam maior solicitude desse sentimento em chão de fábrica nos últimos anos. Ele é tido como motor de produtividade. Pesa a progressão do índice de trabalhadores demitidos, sobretudo, considerando o exército industrial de reserva recrutado no setor de pessoal da empresa. Ou seja, um contingente de mão-deobra jovem, saudável, cinco vezes superior ao número dos trabalhadores da ativa e em condição de prontidão para atuar a qualquer momento que o processo produtivo requisitar, em condições de troca inferior em termos de salário e direitos que os da área percebem. Nessa situação, o trabalhador, sob o gerenciamento vertical e autoritário de uma hierarquia superior, vê-se conduzido a cumprir metas produtivas, sob um quadro reduzido de pessoal e exigência de uma produção maior que outrora. Esta condição requer aceitação de medidas disciplinares - uma forma de submissão ou acomodação que a empresa interpreta como satisfação. Para alguns sábios trabalhadores, a demanda por produção também pode ser discutida a partir do discurso de segurança da empresa. Agora, têm presente a necessidade de cumprimentos de metas. Nas palavras de um entrevistado:

73 72 Às vezes quando tá muita pressão por produtividade se usa uma própria ferramenta da empresa para a chefia: olha a empresa não tá querendo que se trabalhe correndo, ela tá pedindo pra gente levar primeiro em consideração o item segurança. É claro que se eu não fizer isso aqui, vem o meu colega do lado e faz, então eu sou obrigado a fazer essa determinada coisa, porque se eu não fizer, no outro dia eu tô na rua. Então, é melhor eu fazer meu serviço, não me envolver com sindicato, porque pelo menos eu tenho uma vida aqui na empresa mais prolongada. (entrevistado 13). No campo sindical, o desencadeamento dessa questão não se faz diferente. Os dados mostram o medo em pôr em risco a manutenção empregatícia como dilema e, até, empecilho à organização, à participação do trabalhador nas mobilizações de protesto organizadas pelo sindicato. A indicação é de que os trabalhadores, em sua maioria, temem participar de greves, paradas, movimentos reivindicatórios e, até se sindicalizar dada a possibilidade do risco de perderem o seu emprego. Segundo o relato de um diretor do sindicato: Diante do quadro de redução de pessoal o trabalhador fica amedrontado: amanhã deve ser eu, aí ele se retrai mais ainda. Ainda há casos de indiferença. A gente vê demissão na ALUMAR, o cara é bom funcionário, nunca faltou, recebeu o prêmio de melhor sugestão de mês, é demitido, ele tende é ficar retraído. O pessoal, principalmente quem não é sindicalizado tem até medo de se sindicalizar. Porque você vê o cidadão ta aqui do lado de fora, ele lutou e ralou muito para conseguir o emprego[...] venceu a experiência de três meses, ele já tá no quarto mês, pinta um negocio desse aí de greve, ele vai lembrar do tempo que ele passou aqui fora ralando para conseguir esse emprego. Então ele não vai querer participar de um negocio assim, porque tá em jogo o emprego dele. Ele vai dançar com certeza. (entrevistado 12). Parto da compreensão não de fim da sociedade do trabalho, mas de intensificação do trabalho, em um quadro de transformações de porte considerável nas relações de emprego. Nesse ambiente, o alcance de metas apresenta-se como mola propulsora da engrenagem industrial. Para isso, a empresa investe em estratégias que atribuem uma atenção especial à estrutura mental do trabalhador. Entre impactos como tensão, aflição, temor, e outros dessa natureza, o medo é trabalhado como sentimento voltado a modular o trabalhador a agir em conformidade com a produtividade requisitada pela empresa. Para a totalidade dos operários entrevistados (100%) significa vivenciar uma forma de sofrimento mediatizada pela possibilidade de perda de vínculos empregatícios com a empresa e, conseqüentemente, de vir a engrossar as fileiras dos desempregados. Aqui, a análise é reportada como vivência de estarrecimento face à onda de desemprego estrutural vigente no mundo do trabalho, principalmente, considerando a situação de decréscimo do número de trabalhadores

74 73 vinculados às indústrias monopolistas, especificamente ao setor metalúrgico, aliada ao estímulo à precariedade posta no mercado. De fato, as atuais determinações do mercado, em sua corrida por metas, têm demandado um perfil de trabalhador preocupado em pôr em xeque seu emprego: um trabalhador que atribua considerável significado às condições de insegurança gestadas nas relações de trabalho, sobretudo, ao deparar-se com os serviços de empresas terceiras em um cenário de acirrado desemprego. Pesa para esse sentimento a posição de liderança que a empresa ocupa no mercado mundial de alumínio, quando se destaca pela obtenção de certificações de qualidade, assim como no mercado maranhense, onde oferece uma das vantajosas faixas salariais, embora achatadas em um contexto de intenso desemprego, precarização de trabalho e acréscimo de indivíduos situados aquém da linha de pauperização posta pelo capital. Decerto, essa não é uma peculiaridade exclusiva da indústria metalúrgica, mas conseqüente da perda de hegemonia do contrato de trabalho por tempo indeterminado no mercado dos monopólios. Conseqüências: aprofundamento da precariedade e situação de exclusão social que não deixa, ao menos, os trabalhadores vivenciarem a posição de explorados; pelo contrário, os requer supérfluos e submersos em uma situação de insegurança, como assinalou Robert Castel (1995). Aliás, vários estudos problematizam essa realidade: insegurança em Jorge Mattoso (1995 e 1999); incerteza em Maria Inês Rosa (1994) e medo em Cristophe Dejours (1992 e1999). A situação que ameaça a estabilidade no trabalho se apresenta relevante nessa análise. Mattoso (1995) aponta para a insegurança derivada da reestruturação do capital no chão de fábrica. Insegurança face à elevação de desemprego, à redução de empregos estáveis e à maior concentração de trabalhadores em condições de trabalho por tempo determinado e de um modo precarizado, despojando-os involuntariamente de garantias sociais. E, finalmente, em relação à renda e à organização dos trabalhadores que considera vivenciar declínio de reivindicações e redução do número de sindicalizados. Em um outro recorte, Mattoso (1999), que discute a destruição regressiva da produção e do mercado de trabalho, observa uma situação de refluxo do movimento sindical no quadro contemporâneo do capital. Em sua análise, os sindicatos e as centrais que estavam à beira de uma ação propositiva nacional, a exemplo das câmaras setoriais, entraram em um movimento defensivo, com evidente desaceleração da quantidade de greves e maior dispersão e fragmentação. Nestes

75 74 termos, a ação sindical não levou à conquista de novos direitos, mas apenas à defesa dos existentes, cada vez mais ameaçados pela desregulamentação promovida pela ofensiva governamental, assinala o autor. A perda de hegemonia de vínculos empregatícios considerados estáveis no mercado, como problematizam as diferentes abordagens de Mattoso (1995) e Rosa (1994), que trabalha o ramo ótico, e dos franceses Castel, (1995) e Dejours (1992 e 1999), sob a perspectiva dos operários entrevistados, significa comportar-se de acordo quando as disciplinas organizacionais, requisitando o posicionamento de aceitação à política verticalmente traçada e aos vários requisitos apresentados pela indústria. São eles: intensificação e exploração do trabalho; redução de custo com destaque para a redução de pessoal; perda de direitos que outrora contribuíam com o bem estar; jornada de trabalho e sua remuneração marcada pelo achatamento salarial e correções arbitrárias direcionadas aos ditos infratores da política organizacional. Mais ainda, significa conviver em um ambiente que se apresenta extremamente inseguro, onde a coação, sob o véu da ameaça difundida pela hierarquia superior, sobrepõe-se nas relações de trabalho. Sem embargo, o medo se apresenta como mola propulsora de empenho operário pelo alcance das metas previstas, sobretudo, no que diz respeito à possibilidade de perda de emprego. Considero tratar-se de um sofrimento traduzido em forma de aflição silenciada e vivenciada com considerável preocupação e ansiedade, ou mesmo sob forma de conflitos invisíveis, como sentimentos de raiva e nervosismos. Maria Inês Rosa (1994) assinala a incerteza de vínculos empregatícios de trabalhos considerados estáveis devido à crescente demanda pela redução de pessoal na empresa, com destaque para os antigos de casa. O francês Dejours (1992 e 1999) aponta o medo do trabalhador diante do progressivo número de indivíduos em situação de reserva no mercado formal, observando o sentimento de pavor à política de demissão e conseqüente precarização de trabalho e de vida. Cibele Rizek (1996) também trabalha o instrumento ameaça como força motriz de produção do operário, enfatizando o medo centrado quase sempre na dimensão da perda de emprego. Nos termos de Dejours, o medo é problematizado como primeiro elemento estruturado de trabalho face às atuais requisições do capital contemporâneo. Para isso, pesam na consciência do trabalhador as constantes ameaças de não manutenção do emprego e da condição de trabalhador produtivo e, com ela, a possibilidade de não acompanhar os ritmos de trabalho, produção e velocidade. Em outras palavras, não acompanhar os requisitos

76 75 necessários para mantê-lo submisso à política estabelecida. Em suas palavras: Em um outro trecho: Hoje, o primeiro elemento estruturado do trabalho é o medo, é a ameaça de desemprego e de precarização. Essa ameaça se combina com o temor pessoal de não conseguir manter o desempenho, o ritmo, os objetivos de não estar à altura da situação e das mudanças tecnológicas. Nesse quadro tudo o que você fizer será avaliado. Mas você não vai ser apenas avaliado, também deverá provar que é produtivo. (DEJOURS, 1999, p.2). O medo é utilizado pela produção como uma verdadeira alavanca para fazer trabalhar [...] Efetivamente o medo serve à produtividade, pois com esse tipo de atmosfera do trabalho, os operários estão especialmente sensíveis a qualquer anomalia, a qualquer incidente no processo de produção. Ficam atentos e ativos, de modo que em caso de quebra e vazamento intervêm imediatamente, mesmo se a ocorrência não for diretamente ligada a suas atribuições diretas.[...]. (DEJOURS, 1999, p.2). É possível dizer que o auge do medo se manifesta em forma de temor que se conjuga à tensão, aflição, nervosismo, agonia e, até mesmo, pânico do trabalhador, dada a possibilidade de ser considerado infrator da política de segurança, podendo, com isso, pôr em risco a manutenção de seu emprego. È o temor em ocasionar algum problema na maquinaria, retardar a produção, pôr em xeque a condição de ponta em que a empresa se encontra no cálculo horas-homem trabalhando sem acidente, entre outras razões. O ideário difundido pela ALUMAR enfatiza acidentes no trabalho como uma situação que ameaça o índice de homemmáquina trabalhando sob segurança e, com ele, as certificações de qualidade recebidas pela área. A certificação, por exemplo, é uma meta alcançada à custa de sofrimentos e obscurecimentos. Para não contrariar a cobiçada posição de liderança na área de segurança, há anos protagonizada pela empresa, os acidentes de trabalho são interpretados como incidentes e, portanto, em perda 34. De partida, o trabalhador já perde o direito que assegura ao acidentado uma posição de estabilidade de doze meses, após retorno da licença, assim como o direito de entrar com ação indenizatória pelos danos provenientes da falta de segurança no trabalho. Pelo contrário, quando retorna ao trabalho, quase sempre o operário é demitido sob alegação de redução de pessoal (FALEIROS,1992). Como 34 A ALUMAR detém certificação de excelência nessa área, portando o índice zero sem acidente com afastamento. Contrariamente, o Relatório de Segurança e Higiene no trabalho realizado pelo SINDIMETAL (1997) enfatiza ser freqüente, no chão de fábrica da indústria, a ocorrência de acidentes de trabalho, uma realidade que atribui à situação de risco e insalubridade evidente nas condições de trabalho postas, o que considera contribuir com o aumento corrente de doenças ocupacionais.

77 76 incidentado, ao invés de ser afastado do local de trabalho por sofrer um acidente, o operário é obrigado a bater o ponto na empresa e nela permanecer, mesmo que seja só para não constar como afastamento por acidente. Sob o prisma do trabalhador, a vivência de acidentes no trabalho significa uma possível protagonização de estratégias de disciplinamentos em forma de culpabilização e perda de direitos e, até mesmo, demissão, podendo vir a engrossar o quadro de precarizados de trabalho e salário no mercado. Com essa preocupação, seu objetivo maior se volta para evitar possíveis situações que possam lhe ocasionar sofrimentos, não em vivenciar algum dano físico, mas ser alvo de uma investigação que, de partida, o responsabilize pela ocorrência de desvio de segurança. Aí a questão é relatada sob interpretações estarrecedoras. O que no nível do discurso organizacional se volta para estudar e prevenir a ocorrência de acidentes, é traduzido pelo operário como espaço propício a constrangimentos em forma de pressão, tensão, aflição, nervosismos e medo, acirrados muitas vezes por situações de autoritarismos e humilhações. Essa realidade permite sublinhar os limites expressos na política de segurança vigente na empresa. Mais ainda, enfatizar a situação em que o operário se vê eminentemente coagido a aceitar responsabilidade pelo acidente, de antemão, considerado ato inseguro, ao mesmo tempo em que é posto às ruas um considerável número de acidentados no trabalho, sobretudo, os trabalhadores torturados mentalmente na investigação das causas do acidente. Para um diretor do sindicato: Há um temor à ameaça de redução de trabalhadores no período de negociação com a empresa. O sindicato, por sua vez, sempre se posiciona contra a qualquer demissão de trabalhadores, mas fica de mãos atadas quando vai para justiça com a empresa sempre ganhando, porque o serviço privado chega e diz eu vou enxugar o quadro e o sindicato não pode impedir de demitir. (entrevistado 7).. Pressão psicológica, medo e temor no atual perfil de trabalhador requisitado pela indústria, enfim, a questão é o fazer produzir. O medo em pôr em xeque uma pretensa segurança empregatícia é um sentimento que tem condicionado o trabalhador a agir em conformidade com as exigências apresentadas pela empresa, induzindo um consentimento coagido Sobre o Sindicato dos Metalúrgicos em São Luís O Sindicato dos Metalúrgicos no Maranhão, enquanto entidade sindical surgiu de uma Assembléia Geral realizada no dia 07/08/1959, quando foi deliberada a transformação do

78 77 caráter de associação em sindicato. Esse caráter só foi reconhecido pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social em 11/01/1962, então intitulado de Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de São Luís. Sua fundação data de 21/05/59, como Associação Profissional dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas de São Luís, em um contexto de incipiente desenvolvimento industrial no Maranhão 35. Os dados são de que nessa época, as indústrias têxteis do Estado se encontravam em declínio; as de sabão e velas, de curtume e calçados tentavam sobreviver e o setor metalúrgico contava apenas com algumas fundições, pequenas oficinas mecânicas e algumas retíficas. Em termos nacionais o contexto é de relativa liberdade de organização no país. Data desse período, a luta travada pelos camponeses em Pernambuco, Sergipe e Alagoas e em menor proporção nos outros Estados da região. Organizaram-se nas Ligas Camponeses, lutando por Reforma Agrária na lei ou na marra, como diziam os trabalhadores do campo, para expressar sua disposição de levar a luta em frente até a conquista de seus objetivos, sinaliza Júlio Guterres (2003). No âmbito sindical a perspectiva é de ascenso do movimento, incentivado pelos calorosos congressos da categoria em âmbito nacional, regional e local com a realização do I Congresso Sindical dos Trabalhadores do Estado do Maranhão 36. Conforme manifesto convocatório publicado na imprensa local como no Diário da Manhã em 10/04/1959: Os dirigentes sindicais que subscrevem o presente manifesto, representando a maioria das classes obreiras do nosso Estado, tendo em vista a angustiosa situação que aflige os trabalhadores maranhenses, e a necessidade de revigorar o sentido da sua luta pelas suas reivindicações e aspirações, ao deliberarem realizar o I CONGRESSO DOS TRABALHADORES DO MARANHÃO, conclamam todas as categorias profissionais, liberais e autônomas a prestigiarem o referido conclave, que terá lugar de 13 a 15 de novembro próximo, nesta capital. Nessa ocasião serão debatidos assuntos de vital importância para unificação e ampliação da nossa luta em prol dos direitos dos trabalhadores através do desenvolvimento e fortalecimento da unidade sindical, o que contará do seguinte: 35 A diretoria da entidade foi composta pelas funções: presidente, vice, 1º e 2º secretários e 1º e 2º tesoureiros (TRIBUNA DO POVO apud GUTERRES, 2003, p.23). 36 O Congresso Nacional dos Metalúrgicos, realizado no Rio de Janeiro em 1959, requisitou dentre outras reivindicações: reforma agrária e limitação da remessa de lucros para o estrangeiro, demonstrando claramente o grau de politização que as lutas sindicais assumiram no país. Além desse, aconteceu o Congresso Sindical Norte e Nordeste do país, também no ano de 1959, objetivando unificar o movimento operário na região e no país via instituição de conselhos sindicais. O I Congresso Sindical dos Trabalhadores do Estado do Maranhão, também em cena em 1959, ocorre em meio a um intenso debate entre os setores oposicionistas que identificavam a existência de uma crise e dificuldades para os trabalhadores e os setores governistas que contavam, em verso e prosa, o grande surto desenvolvimentista pelo qual passava o Maranhão, a exemplo do Brasil de Juscelino. (DIÁRIO DA MANHÃ apud GUTERRES, 2003).

79 78 TEMÁRIO I SALÁRIO E CUSTO DE VIDA: a) Problema salarial; b) A questão do abastecimento e controle de preços. II ORGANIZAÇÃO SINDICAL: a) Liberdade sindical; b) Fortalecimento da unidade sindical. III legislação trabalhista: a) Reforma da Consolidação das Leis de Trabalho; b) Direito de Greve; Trabalho; b) Direito de Greve; c) Justiça do Trabalho. IV PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA: a) Lei Orgânica da Previdência; b) A situação dos Institutos e Caixas do Estado; c) construção da casa própria. V SITUAÇÃO ECONÔMICA DO MARANHÃO: a) Melhor amparo assistência à lavoura e a pecuária do Maranhão; b) Reforma Agrária; c) A defesa do babaçu e outras riquezas nativas do Maranhão. São Luís, 5 de setembro de 1959 (DIARIO DA MANHÃA apud GUTERRES, 2003, p.21) Na esteira do debate, a análise de uma estrutura pulverizada de organização sindical. Por ser estruturada como associação profissional, a entidade não dispunha de uma categoria organizada e nem tinha condições de travar uma luta salarial que reunisse um numero maior de trabalhadores. Em seu quadro de associados encontravam-se, por exemplo, mecânicos ou eletricista da Coca-Cola, mecânicos da 1001, uma empresa de transporte coletivo, trabalhadores vinculados ao Departamento Estadual de Estrada de Rodagem etc. Com a entrada da ALUMAR no mercado maranhense, essa realidade muda. O SINDMETAL deixa de ser de oficinas mecânicas e de profissionais soltos nas várias empresas para manter um caráter reivindicatório, inclusive, no período de campanha salarial, diferenciando-se de outrora, quando o salário já vinha pré-determinado pela hierarquia superior da empresa. A justificativa dessa mudança de perfil sindical se encontra nos anos de 1984, especificamente com a filiação dos metalúrgicos da ALUMAR no sindicato, uma força de trabalho qualificada e egressa de outros Estados, em especial de Minas Gerais e São Paulo. E mais, detentora de uma vivência sindical, o que em certa medida coloca novos desafios para a trajetória do sindicato, inclusive propondo mudança de rota. Ou seja, a trajetória do SINDMETAL, a princípio, se singulariza por um direcionamento estratégico-tático, interpretado de conciliação ou colaboração com a grande empresa multinacional que estava se instalando no solo maranhense, passando para a estratégia reivindicação no final dos anos 80 e início de 90, quando propõe-se a cumprir o papel de defesa dos interesses da categoria. O divisor de águas localiza-se no processo eleitoral vivenciado no ano de 1988, vencendo o grupo de oposição a gestão que consideram de situação, apoiada pela direção da ALUMAR. Uma peculiaridade da chapa da oposição denominada União Metalúrgica: ela contava com o apoio da base na empresa. Com a posse da nova diretoria, em 20 de outubro de 1988, o SINDMETAL publicou o primeiro número do

80 79 Jornal União Metalúrgica (anexo 2) em substituição ao Jornal anterior Nossa Luta (anexo 3). Segundo um dirigente da chapa vencedora: A diretoria anterior não tinha qualquer planejamento de atividades. Limitava-se a ratear o imposto sindical durante os doze meses do ano, mantendo a mensalidade sindical como instrumento de sustentação da entidade. Tal fato demonstra claramente a orientação que teve a entidade durante vários anos, quando predominava basicamente uma visão assistencialista e uma política de conciliação com o patronato, as quais resultaram em acordos de cúpula nas Campanhas Salariais, sem discussão com o conjunto dos trabalhadores. A atividade sindical se baseava, então, em algumas poucas ações judiciais, homologações de rescisão de contratos de trabalho, fornecimento de assistência médica e odontológica, além de algumas festas e torneios de futebol. (entrevistado 4). Os dados são de que, entre 1988 a 1994, o SINDMETAL vivenciou um período de lutas e mobilizações por temáticas como a melhoria salarial, pagamento de insalubridade, participação nos lucros da empresa, manutenção de emprego, implantação e manutenção dos cinco turnos de revezamento, além do empenho junto a questões que afetam a sociedade, da filiação e participação nas greve gerais coordenadas pela CUT, inclusive, com bloqueio de BR, quando é paralisado um contingente significativo da empresa e das empreiteiras instaladas no canteiro produtivo dela. A partir de 1994 esse perfil retrocede, inclusive, com queda de sindicalização, dada a ruptura da diretoria em um quadro de demissão de lideranças vinculadas à oposição sindical. No final dos anos de 1990, há uma reconfiguração desse perfil, sobretudo, com aumento de sindicalização nas gestões sindicais de 1997 a 2000 e 2000 a 2003, conforme assinala um diretor sindical dessas duas gestões 37. Nesse período, os dados mostraram o encaminhamento de estratégias direcionadas para o âmbito fabril e extramuros da empresa. Salário é a temática mais requisitada pelos trabalhadores, perpassando dos espaços de negociação entre a representação sindical e patronal à manifestação de reivindicação e protesto na entrada da ALUMAR. Além disso, o SINDMETAL conta com o Jornal Marreta Neles ( anexo 3), a Rádio Capital, as atividades no âmbito do lazer, saúde e segurança no trabalho, descontos para sócios em faculdades particulares, campanhas de sindicalização, serviços médicos, odontológicos e jurídicos estendidos à família do trabalhador associado. Conta também com as investidas no âmbito das questões que afetam a sociedade, da negociação entre as relações capital/trabalho e da 37 Constitui-se a diretoria da III e IV gestão do SINDMETAL: presedente, vice, secretário geral, 1º e 2º secretários, tesoureiro, 1º e 2º tesoureiros, 9 diretores de departamentos efetivos e 14 diretores suplentes, 3 efetivos e 3 suplentes no Conselho Fiscal.

81 80 paralisação na porta da fábrica, com panfletagem e carro de som informando sobre o sindicato O encaminhamento estratégico Atividades seguidas por encaminhamentos que explicitam o como e de que forma o SINDMETAL atua no trato dos trabalhadores que representa é uma questão fundamental para delinear o fazer desse sindicato na sociabilidade do trabalho. Tomo como referência a noção de estratégia de Ana Cláudia Cardoso (1998, p.175) entendida como ação no sentido de escolha dos meios disponíveis para atingir objetivos específicos. Como observado, salário aparece como principal temática de atuação do sindicato, perpassando da negociação às manifestações de protestos. Os dados apontam a real participação dos trabalhadores na luta travada quando se trata dessa questão, em especial, no período da database do salário. Então, é possível dizer que a luta por reajustes salariais aglutina trabalhadores? Há ênfases no não, sinalizando que o sindicato só atua para demarcar espaços. Mas a maioria dos entrevistados observa que aglutina. A começar pela mobilização feita com repasse de informações sobre negociação salarial, o que acaba ocasionando uma movimentação maior dos trabalhadores nas paralisações. O objetivo é assegurar um valor acima da inflação. Paradoxalmente, relutante se apresenta o empenho da empresa em manter um reajuste abaixo da inflação, mas geralmente a consecução é pela inflação, como observa um dirigente sindical. Em suas palavras: O que o trabalhador quer é melhoria salarial, é o aumento. Estão todos virados em busca daquela causa. Quando a gente começa a campanha de negociação, os trabalhadores são informados a todo tempo. Aquilo ali eles ficam na expectativa, até pela situação de arrocho salarial que vive o Brasil. E você tendo um aumento já é uma esperança de vida melhor, aí o trabalhador se envolve para conseguir. (entrevistado 5). No âmbito da comunicação, o SINDMETAL mediatiza sua intervenção por meio do Jornal Marreta Neles, entregue nas mãos dos trabalhadores na porta da fábrica, e do programa de uma hora aos sábados na Rádio Capital via TV Educadora, quando divulga os principais acontecimentos e atividades programadas pelo sindicato. Além disso, faz panfletagem e repasse discreto boca-boca no espaço intrafábrica, como refeitório, banheiro, ambiente produtivo e no caminho até o ponto de ônibus.

82 81 Na parte interna da fábrica, as estratégias do SINDMETAL perpassam da proposta de um trabalho de base ao incentivo à recorrência da ferramenta Eu queria Saber, uma estratégia cujo discurso predispõe o trabalhador a se comunicar com o presidente de uma forma sigilosa. Condução: dirigentes vinculados empregaticiamente no ambiente produtivo. E aí a ênfase recai no trabalho boca-boca no espaço intrafábrica, inclusive no que se refere ao trabalho educativo de base, um trabalho repassado discretamente no refeitório, banheiro e caminho até o ponto de ônibus na empresa. Segundo a ótica da institucionalidade sindical: [...] Entre a tática do SINDMETAL está atuar na parte individual conversando diretamente com o colega sem chamar a atenção. É porque muitas das vezes houve situações que você quando tá com o colega não poder falar. Daí a chamada individual. Você muitas das vezes fica colado com aquele colega quando ele vai para o vestuário, quando ele sai pra ir para o ônibus no sentido de explicar o que o sindicato tá fazendo. O restaurante é um outro palco para o trabalho boca a boca do sindicato junto a várias pessoas reunidas. Os coletivos acontecem mais nos locais de encontro, de troca de turno. (entrevistado 7). Outra estratégia de atuação do SINDMETAL direciona-se para o índice de sindicalização com fins de aumentar seu número de associados. Aos não associados, a estratégia se efetiva durante a campanha anual de sindicalização, especificamente, no período de convenção, quando o sindicato reúne um considerável número de trabalhadores na porta da fábrica e nas assembléias gerais realizadas. A questão é: se, por um lado, o SINDMETAL intervém para sindicalizar trabalhadores; por outro, a empresa se empenha no sentido de o trabalhador não se sindicalizar ou se desindicalizar. É repressão através de algumas chefias que passam o discurso de não sindicalização em forma de pressão, principalmente quando o trabalhador entra na fábrica. Os que já são associados sofrem repressão em termos de promoção, existindo período em que o funcionário para ser promovido abria mão de sua sindicalização. A empresa oferecia até cargos para os trabalhadores que não se sindicalizassem, ou então sugeria o desligamento do trabalhador como sócio da entidade para ter acesso a essa promoção 38. Nos termos dos entrevistados: Teve um caso de um rapaz que queria ser promovido, mas por fazer parte da diretoria, foi condicionado que, se saísse da diretoria, seria promovido. Ou seja, a empresa cria certos subterfúgios para impedir a sindicalização do trabalhador. Isso não é de hoje, antes de ser diretor, já tive que passar por esse tipo de situação: ou você se sindicaliza, ou você não é promovido. Hoje esse tipo de discriminação é feito de uma forma mais restrita. (entrevistado 1). 38 Os dados também mostram o valor financeiro da taxa de contribuição sindical como empecilho à proposta de sindicalização e, até, estímulo a desligamento de sócios do sindicato.

83 82 Há colegas que têm medo de se sindicalizar. Ele não quer se envolver com medo de perder o emprego, de ser, digamos, assim como a gente fala, marcado lá naquele processo de promoção. (entrevistado 2). O sindicato atua ainda no âmbito da educação, lazer, serviços jurídicos e médicoodontológicos. No campo da educação, destaque para o convênio do SINDMETAL com as faculdades particulares, concedendo bolsas com desconto de 30% a 50% a trabalhadores associados. Em troca, divulga as faculdades em seus veículos de comunicação. A preocupação com o lazer concretiza-se na melhoria da sede recreativa do sindicato, a exemplo da construção das piscinas para o trabalhador que quiser levar a sua família à associação nos períodos de folga. As questões relacionadas à saúde do trabalhador variam do atendimento médico-odontológico, que se estende também à família do associado, convênios com farmácias, à preocupação com a segurança do trabalhador, incluindo esforços pela construção de um Centro de Referência de Saúde para o Trabalhador. Os serviços jurídicos estão previstos para serem viabilizados dois dias na semana, mediante plantão de advogados no sindicato, orientando sobre seguridade, aposentadoria, descontos nas faculdades particulares, entre outras questões. O estreitamento das relações do sindicato com as questões que afetam a sociedade nos últimos tempos viabiliza-se mediante reuniões junto à DRT, à previdência e a outras entidades, estímulo a debates sobre o pólo siderúrgico, participação de diretores em Associações de Moradores, Conselho do Trabalho e Central Única dos Trabalhadores CUT. Destaque na programação, junto à CUT, do I Fórum Estadual sobre Saúde do Trabalhador, criado em Ocasião em que pela primeira vez foi tratada a necessidade de um Centro de Referência de Saúde do Trabalhador no Maranhão, incluindo na pauta a questão do acidente de trabalho e saúde ocupacional. Depois desse fórum, foi constituído o Fórum Carajás, tratando dentre outras questões da saúde ocupacional. Nesse contexto, o sindicato passou a ter relação institucional com a prefeitura e o governo do Estado. Em 1997, o sindicato se insere no debate sobre o desenvolvimento econômico do Estado, em especial, o desenvolvimento industrial no Maranhão. Além disso, o SINDMETAL dedicou-se junto à CUT na programação do seminário sobre saúde do trabalhador em 2002 e empenhou-se na campanha pelo impeachment de Collor, organizando manifestações, cartazes e adesivos. Na seqüência, precisamente de 1994 a 1998, em gestões diferenciadas, participou da campanha eleitoral para presidente, apoiando

84 83 Lula, que segundo relatos esteve na fábrica e, na porta desta, posou com os sindicalistas para fotografias. O sindicato também apoiou candidaturas para deputado estadual, federal e governador, apontando Jackson Lago como candidato predileto para prefeitura da cidade. E aí a história prossegue com Lula, Jackson candidata-se no tempo seguinte, entre outras particularidades, além da inserção em lutas contra a terceirização. Na história, a singularidade de uma proposta com preocupações voltadas para os interesses da sociedade. Ou seja, faz-se evidente na atual dinâmica do SINDMETAL a proposta que prevê articular empenho sindical com questões que afetam a sociedade. Do discurso à critica, a atuação estratégico-tática do Sindicato dos Metalúrgicos do Maranhão no trato dos interesses dos trabalhadores dinamiza-se pelos temas: salário, comunicação, educação, lazer, sindicalização, serviços médico-odontológicos e jurídicos, condições de trabalho, negociação da representação patronal e sindical, parada na entrada da fábrica e relação sindicato/sociedade. Diga-se de passagem, as paradas de hora na porta da fábrica também se constituem área de intervenção do SINDMETAL, desde que esgotadas todas as possibilidades de negociação com a representação patronal. Ocasião em que a militância repassa panfletos, jornal do sindicato e, com o carro de som, os informes, as denúncias e as chamadas para reuniões e assembléias em outros locais. Da negociação à manifestação de reivindicação e de protesto via mobilização na porta da fábrica, tais são as estratégias do SINDMETAL no quadro contemporâneo do capital. Preocupa-me ver no exercício dessas ações questões que Boito (1999) trabalha como neocorporativismo sindical ou defensivismo de novo tipo que trata Alves (2000), interpretando-o como reconhecimento cada vez maior do sindicalismo à sua esfera corporativa. O perigo é a possibilidade de o SINDMTAL vir a reforçar a mera atividade de prestação de assistência, desviando-se do papel de dirigente das lutas da classe que ele representa. É limitar-se às condições criadas pela lógica do capital, sob um véu que confunde subalternidade com unidade de trabalhadores. O que ao nível do discurso postula um direcionamento estratégico tático que aglutine trabalhadores, a crítica sob o ponto de vista de sua concretização enfatiza os limites de uma ação que não se permite vislumbrar nada mais do que é posto pela empresa. E aí a relevância da análise de Rodrigues (2002), ao destacar a viabilidade do componente oposição na dinâmica sindical, partindo das divergências de interesses entre a administração das empresas e empregados, o que requer excluir

85 84 das características de uma associação, como sindicato, funções relativas a cooperativas e sociedades de auxílio mútuo. Com essa perspectiva entendo a viabilidade da estratégia confronto e contestação para o contexto, convivendo ao lado das requisições cotidianas que se supõem articuladas a uma perspectiva para além das requisições fabris, até mesmo no sentido de reverter as demandas do capital ao dispor dos trabalhadores. Considero tratar-se de uma proposta que supera os limites restritos à própria fábrica, direcionando-se para além das requisições do capital e em uma perspectiva de classe, como trabalham Antunes (1995), Boito (1999) e Alves (2000) ao abordarem as estratégias sindicais no Brasil. Antunes (1995), por exemplo, propõe como desafio para o sindicalismo articular contestação a combates defensivos norteados por um prisma anticapitalista. A sugestão é de que temáticas como salários, direitos, dispensas, aumento de ritmos produtivos, entre outras, estejam articuladas a um projeto direcionado para além do capital. Algo que Mészáros (2002), ao se referir aos países de capitalismo avançado, sugere articular demandas parciais com o objetivo de negação e transformação do capital. Enfim, considero haver mudanças nas estratégias do SINDMETAL, entendendo a relevância de trabalhos parciais, desde que articulados a um horizonte além do quadro empresarial com capacidade de generalizar-se para um movimento de confronto à lógica do capital. Mudanças nas formas, mas considerando o componente oposicionista como vital na dinâmica sindical A negociação como estratégia A negociação também se constitui estratégia do SINDMETAL. Os dados observam vigorar no âmbito das relações capital-trabalho uma proposta que apregoa negociação entre representação patronal e o sindical dos metalúrgicos/ma. Sua condução dá-se todo ano em um movimento que pressupõe ao sindicato expor o que deseja alcançar e à empresa apresentar os interesses da produção. Mas o discurso é de uma negociação que almeja consenso. Entretanto, um contraponto: a perspectiva de que a empresa chama o sindicato para negociar mas a mesma não comparece na data prevista da reunião. Uma vez presente, apresenta um discurso confuso sobre os saldos contabilísticos, na tentativa de não atender as reivindicações, destoando os objetivos do sindicato, que por vezes se retirara da sala. Sob a ótica de dirigentes do sindicato:

86 85 Geralmente, no início, o sindicato expõe a meta que deseja alcançar e a empresa sempre dá uma contra proposta. Daí vão fechando, com o sindicato tentando puxar para o lado do funcionário e a empresa para o seu. Portanto, a negociação é onde se chega a um consenso para o trabalhador, uma negociação democrática, onde todos participam. (entrevistado 12). A negociação se expressa assim: a empresa chama o sindicato para negociar e propõe um valor x e o sindicato leva a proposta para a categoria decidir. Se esta não aceita, ele volta a negociar até a maioria concordar. Aí está fechado, o sindicato bate o martelo. (entrevistado 5). Nas palavras de um representante da oposição sindical: A empresa chama o sindicato para negociar, mas não comparece na data da negociação, até no sentido de desestabilizá-la e enfraquecê-la. Quando não, traz uma proposta que destoa os objetivos do sindicato que já chegou a se retirar da sala. Muitas vezes, o meio de comunicação faz a negociação por salário ficar confusa, porque hora diz que a inflação deu x e o supermercado y ; não deu isso, deu aquilo. Mas, depois volta a negociar em outra data, até conseguir uma besteirinha fora da ação. Ou seja, a empresa cria alguns artifícios. Olha o lucro não foi bem, não sei o que, e tal. (entrevistado 25). Há negociação nas relações capital/trabalho? Em algumas análises há; outras não. Os estudos de Ramalho (1994), Bresciani (1997), e Leite (1997) enfatizam a proposta da negociação entre patronato e sindicato e o novo contrato daí oriundo, onde o sindicato se apresenta como parceiro do capital, podendo contribuir com a produtividade das empresas. Não esqueçamos do antagonismo convergente de Francisco de Oliveira, lembrado por Ramalho. Ou seja, o delineamento de uma negociação entre capital e trabalho que se defrontam como portadores de interesses divergentes, mas não irreconciliáveis. E pode-se supor negociar se uma das partes não se dispõe a cumprir o acordo? O perigo é reforçar o protagonismo de uma negociação nos moldes do capital e com o capital, o que Antunes (1995 e 1995a) interpreta como um encaminhamento tendente a aceitar as regras da sociabilidade do capital. É vir reafirmar o defensivismo de novo tipo, analisado por Alves (2000), com o sindicato, muitas das vezes, sendo chamado a ser co-participante da gestão produtiva, não indo às verdadeiras causas que tendem a debilitar o mundo do trabalho, privilegiando negociar por segmentos apenas os efeitos do movimento do capital em processo. Mas há negociação nas relações capital/trabalho? Em pesquisa sobre gestão de mãode-obra na ALUMAR, no período de 1998 a 2000, 85% dos operários entrevistados consideram falaciosa a negociação apregoada pela política empresarial. Não se sentem parceiros de uma troca em que operário e empresa são recompensados pelos resultados

87 86 alcançados; antes, posicionam-se como meros receptores de metas verticalmente estabelecidas no plano operacional 39. Nas palavras dos entrevistados: No ambiente produtivo da empresa não existe nenhum meio que assegure negociação entre as partes envolvidas com a produção. A empresa age só em função de seus objetivos e o operário é deixado de lado como mera máquina descartável ou ferramenta sem uso [...]. Quem cresce é a empresa, o trabalhador fica sufocado cada vez mais. (entrevistado 18). Na empresa não existe negociação ou consenso entre a partes, mas imposição. A troca só mesmo em trabalho, produzindo da maneira que ela quer. Nunca chegaram para mim e disseram: tu fazes isso aqui que tu ganhas isso e aquilo. Mas, deves fazer, senão é rua. Não tem negócio de acordo não. (entrevistado 19). Na condução do estudo duas questões se destacaram: por um lado, o discurso oficial da empresa; por outro, a correspondente visão do operário que vivencia a concretude desse discurso, diversas vezes, em forma de contradiscurso, o outro discurso pode-se dizer, embora sejam evidentes as investidas da empresa para neutralizar situações de conflitos existentes. No real, o que é repassado como instrumento de estímulo a certo reconhecimento, ou mesmo status por parte da política difundida na empresa, segundo um considerável número de entrevistados, é vivenciado como instrumento de penalização e sofrimento. A começar pelas exigências por metas produtivas, seguidas pelas certificações que a empresa investe para ter acesso no mercado. A ALUMAR, por exemplo, posiciona-se no mercado mundial sob uma condição de ponta às custas de empenhos operários, consideravelmente maiores que outrora. São maiores tanto em termos de rendimentos superiores ao ano anterior, como pelo número reduzido de trabalhadores requisitados para o processo produtivo. Como estratégia de gestão, a indústria apregoa uma política de motivação desvirtuada, trazendo em cena um certo caráter perverso da modalidade de gerenciamento vigente. A certificação, por exemplo, é uma meta alcançada às custas de sofrimento e obscurecimentos. Para não pôr em xeque a posição de liderança na área de segurança, há anos protagonizada pela empresa, os acidentes de trabalho são interpretados como incidentes, trazendo à tona o aprofundamento da perda de direitos, assim como a adoção de culpas e penalidades aos sujeitos vitimados por essa situação. 39 A participação nos resultados exemplifica essa situação. Ao invés de os trabalhadores apresentarem sua pauta reivindicatória para os patrões é a empresa que apresenta a sua pauta para os trabalhadores, estabelecendo medidas de produção, período de trabalho, não absenteísmo, segurança, aprimoramento do processo de produção e LME, que é um índice exterior que varia de acordo com a Bolsa de Metal de Londres. Cf. Naíres Farias, Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro, UFRJ, 2000.

88 87 Em seu discurso, a empresa advoga estratégias de gestão que primam pela participação do trabalhador no processo produtivo. Mas as metas são previamente determinadas, o controle e as decisões são deliberados verticalmente pela hierarquia superior 40. O que pesa são os interesses empresariais, a começar com a produtividade que nesse processo fala mais alto, mesmo que viabilizada sob condições, de partida, factíveis a ocasionar acidentes de trabalho. Não interessa o sujeito alvo dessa situação; mas os agravos que este possa ocasionar aos resultados produtivos, sobretudo, no que diz respeito à época de considerável procura. Aliás, aqui a situação é apresentada sob níveis agravantes. O setor responsável em assegurar segurança no trabalho retorna ao acidentado não para compensá-lo pelos danos emergentes, mas culpabilizá-lo e penalizá-lo por um ato já considerado de sua autoria, cujas conseqüências acabam por ameaçar sua manutenção empregatícia. O trabalhador não se preocupa prioritariamente com o seu corpo, mas em vivenciar algum ato que possa danificar a maquinaria, retardar a produção, pôr em xeque a condição de ponta em que a empresa se encontra no cálculo horas-homem trabalhando sem acidente, entre outras razões dessa natureza. Com essa preocupação, seu objetivo maior se volta para evitar possíveis situações que possam lhe ocasionar sofrimentos. Consideráveis são as situações responsáveis por esse tipo de posicionamento. Mas, um aspecto nos parece inovador nas gestões organizacionais vigentes nos últimos cinco anos: a pressão psicológica. Trata-se de uma modalidade organizativa com fins de assegurar níveis de rendimento e lucratividade do operário para a indústria, assim como desativar seu potencial de contestação. É bem verdade que essa estratégia sempre se fez presente no gerenciamento organizacional, atuando ao lado das consideráveis formas de exploração direta de mão-deobra. Mas nunca como hoje o capital manifestou tamanha solicitude com o aspecto psíquico do trabalhador. Ele representa produtividade sob constantes ameaças de desemprego e precarização, sobretudo, considerando a situação de instabilidade empregatícia e de incerteza em voga no mercado. 40 Em pesquisa no ramo da metalurgia, a maioria dos entrevistados (aproximadamente 93%) não reconhece a concretização da política de participação como parte de uma perspectiva mais ampla. Refere-se ao planejamento, ao controle, à decisão e à avaliação como esferas restritas aos que ocupam posições hierárquicas superiores na empresa. Diria tratar-se de esferas realizadas de forma indireta no ambiente produtivo. Os operários planejam em cima de metas previamente estabelecidas no plano operacional, controlam porque têm acesso às anotações, às tabelas e aos gráficos de acompanhamento dos resultados que se encontram anexados próximos ao ambiente de trabalho, decidem como efetivar da melhor forma o ordenamento verticalmente estabelecido na política organizacional da empresa e avaliam a partir das diretrizes impositivamente postas. Cf. Naíres Farias, Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro, UFRJ, 2000.

89 88 É possível dizer que o trato da gestão de mão-de-obra na ALUMAR requer ter presente o discurso da negociação e participação, recorrentemente requisitado pela política organizacional, em sintonia com as requisições contemporâneas do capitalismo avançado. Mais ainda, compreender que sua efetivação no ambiente produtivo só assume porte concreto quando viabilizada mediante estratégia de imposição e coação. Essa é a metodologia que tem por fim fazer cumprir, de uma forma incômoda para o operariado, os interesses eminentemente empresariais. Esses dados retratam a outra face percorrida pela empresa em sua busca de metas e certificados que lhe assegurem a posição de ponta no mercado mundial de alumínio. Então, pode-se supor que a efetivação dessas propostas dar-se de um modo adverso? Negociação, participação, qualificação são estratégias que, sob o ponto de vista do discurso, estão presentes tanto na proposta empresarial como sindical. Mas, do ponto de vista de sua concretização por parte do trabalhador, podem ser vivenciadas em forma de sobrecarga, pressão, imposição, terceirização, precarização e redução de pessoal, sob a exigência produtiva maior e em um tempo inferior que outrora. Participação, por exemplo, pode ser uma estratégia requisitada verticalmente em planos operacionais, previamente estabelecidos por grandes matrizes, com fins de assegurar a produtividade prevista. Planejar, controlar, decidir e avaliar são procedimentos que podem se efetivar, de uma forma indireta, em conveniência com as diretrizes postas pela política organizacional. Mas, poder-se-ia supor participar de forma indireta? Essa perspectiva não nega os suportes basilares da questão? Negociando ou não negociando, em pesquisa sobre formas de gestão de mão-deobra no chão de fábrica, no período de 1998 a 2000, grande parte dos entrevistados (aproximadamente 71%) avalia como negativa a competição difundida por essa perspectiva de proposta. Considera que o trabalho de grupo gera disputa entre seus integrantes, depois entre as linhas, salas, e aí rumando para a tarefa até atingir a meta demandada, dando vazão a vetores de vigilância entre os próprios trabalhadores que protagonizam o cenário produtivo. Destaque para mecanismos de patrulhamento que fazem emergir situações de denúncias de colegas e, muitas vezes, suspensão em forma de disciplinamento. Além das cobranças da direção estimularem o controle da equipe pelo colega que chega pressioná-lo a trabalhar condizente com a meta prevista, de forma a obter o nível de rendimento desejado para o grupo. Segundo um trabalhador entrevistado:

90 89 Participar na ALUMAR acaba gerando disputa. Todo mês nós temos que saber qual grupo que está melhor, qual que ficou em primeiro lugar. Depois disso há uma disputa por linha, por sala, e aí acaba indo para tarefa que chegou ao objetivo, aos 100%, [...], porque, ao mesmo tempo, que eles socializam, o que é socializado é o resultado comum entre todos. (entrevistado 12). Em pesquisa sobre as perspectivas para o SINDMETAL no quadro das mudanças contemporâneas em 2006, a questão da negociação também se apresenta como estratégia do sindicato no quadro da sociabilidade do capital. São questões alvo da proposta: melhoria salarial, condições de trabalho, a exemplo do aumento do número dos turnos de revezamento, participação nos resultados e na avaliação sobre redução do número de trabalhadores a serem demitidos, entre tantas. A negociação por melhoria salarial acontece a partir de março na discussão sobre data base, concretizando-se depois de muitas rodadas de discussões, seguidas de 3 a 4 paradas. Na maioria das vezes, o sindicato cede em uma proporção que se aproxima a uma proposta mais favorável. Até por ter um patamar suportável de aceitação. Por exemplo, o sindicato propõe 30% de reajuste, a empresa contrapropõe 20%, até chegarem a um acordo, em determinadas ocasiões, acompanhada de expressivas discussões. Caso a representação sindical não aceite, há uma margem de discussão que, ao extremo, chega à ameaça de greve. No geral, não havendo consenso na negociação a questão se estende para a mobilização na entrada da fábrica, primeiro parando a entrada do ônibus por horas como forma de alerta para o patronato. Do concreto ao debate, várias as denominações sobre a proposta de negociação entre partes. Há dados que sinalizam tratar-se de uma negociação que não tem força na disputa, ficando a empresa com a condução do processo. Questões sobre salário são definidas em conformidade com a política empresarial, diferenciando-se dos anos de 1992 e 1993, quando o sindicato ia pra mesa de negociação em pé, inclusive, para dizer que não aceitava, em um contexto em que o patronato conseqüentemente o chamava para negociar. Nas palavras dos trabalhadores representativos da oposição sindical durante o período de estudo: Esse modelo de gestão do sindicato atual, mais voltada para uma negociação sindical, em que o sindicato entrega os trabalhadores para a empresa fazer o que bem entender. E ela apenas cria a situação de suposta negociação na data-base, mas não tem forças na disputa. A empresa dá o aumento que ela quer, por conta de sua política salarial. A ALUMAR hoje impõe a sua política salarial da maneira que bem entender. Por quê? O sindicato não tem força na disputa. A luta de classes, no caso, específico da ALUMAR hoje é totalmente favorável para ela. (entrevistado 19).

91 90 Negociação verdadeira é aquela que ocorria em 1992 e 1993, quando nós íamos pra mesa de negociação, a empresa chegava com a proposta a gente dizia não aceitamos! O sindicato marcava assembléia geral e deliberava greve e a empresa chamava para negociar, vamos começar a conversar, a gente dá tanto, isso é diferente, você negocia em pé.(entrevistado 20). Acordos e desacordos com a proposta de negociação? Em algumas estimativas, há acordo, outras não. Há vezes que não prevalecem nem os interesses da representação patronal, nem da representação sindical, a questão vai para dissídio. Outras vezes, o sindicato faz determinada proposta que não é aceita pela empresa, assim como a empresa com uma proposta não concernente com o reivindicado. Ou seja, os dados indicam existência de divergências no processo da negociação, atentando a preocupação em chegar a um consenso, embora as observações sejam de que geralmente o sindicato aceita as deliberações da empresa; caso contrário, não sai acordo. No horizonte, a força política no processo, em um quadro onde as negociações locais se encontram integradas ou respaldadas por negociações nacionais de âmbito, inclusive, internacional.

92 91 CAPÍTULO III O SINDMETAL E O CAMPO DAS REIVINDICAÇÕES E PROTESTOS Os operários triunfam às vezes, mas é um triunfo efêmero. O verdadeiro resultado de suas lutas, não é o êxito imediato, mas a união cada vez mais ampla dos trabalhadores. (MARX, Manifesto do Partido Comunista). 3.1 Tempos modernos em um novo tempo: o tempo do SINDMETAL Os porquês da proposta? Tempos Modernos em um novo tempo: o tempo do Sindicato dos Metalúrgicos, novas e também clássicas estratégias, a perspectiva de extrapolar os muros da empresa. Enfim, diversas são as questões que protagonizam o debate sobre a atuação sindical no quadro contemporâneo. O encaminhamento das estratégias do SINDMETAL, sob o prisma das reivindicações, conquistas e manifestações de lutas, travadas no período deste estudo, apresenta-se pertinente na delimitação do objeto 41. A questão é conhecer a dinâmica do SINDMETAL no trato dessas reivindicações, captando aquelas que se tornaram conquistas e as conquistas reivindicadas. Os dados observam como principais reivindicações no período de e : melhorias salariais, saúde do trabalhador, manutenção dos cinco turnos ininterruptos de revezamento, participação do trabalhador nos lucros e resultados da empresa, esforços contrários à terceirização e pelo adicional de periculosidade dos eletricistas demitidos da empresa há treze anos. São apontadas como principais conquistas: melhoria salarial e mudança de quatro para cinco do número de turnos ininterruptos de revezamento. A melhoria salarial aparece como principal reivindicação e conquista, uma reivindicação que se tornou conquista, uma conquista reivindicada. Diga-se de passagem, o salário é tratado como questão que aglutina trabalhadores, perpassando por processos que variam da negociação à parada na porta da fábrica. A mudança de quatro para cinco do número de turnos ininterruptos de revezamento, e sua manutenção, também aparece como uma maior reivindicação e conquista do sindicato no período de 1997 a Vale dizer, uma luta permanente, dada a persistência da empresa em 41 As manifestações de lutas do SINDMETAL se viabilizam mediante palestras, conversas na rodoviária e no trajeto até o ponto do ônibus; panfletagem e piquete na porta externa da fabrica; assembléias gerais; passeatas com caminhadas de 2, 3 e, até, 4 km em direção à entrada da empresa e paradas na porta de fábrica.

93 92 querer acabar com essa proposta de trabalho e implantar o turnão 42. Na contracorrente, o entendimento de que caso a empresa consiga substituir essa modalidade de revezamento por um turnão poderá ocorrer mais desfiliação de sócios do sindicato. Sob o ângulo do trabalhador, a atual proposta de turnos supera a anterior, considerada cansativa para o mesmo, que lidava 18 dias no mês para ter acesso a uma folga, sendo seis dias nos horários: de 6 de 7:30 às 15:30; 6 de 15:30 às 23:30 e 6 de 23:30 às 7:30. Com os cinco turnos, o trabalhador passou de 48 horas para 32,6 horas semanais de trabalho. A jornada dá-se em seis dias: dois pela manhã, dois à tarde e dois à noite com folga de três dias e algumas horas. O adicional de periculosidade dos eletricistas demitidos por reivindicarem esse direito judicialmente também aparece como uma maior reivindicação do sindicato, ou mesmo conquista não consolidada. Em especial, a luta dos eletricistas terceirizados que não estão na fábrica como metalúrgicos, mas vinculados à construção civil. O típico exemplo de uma empresa que contrata o trabalhador como sendo da construção civil, tipo soldador ou mecânico, mas lhe atribui a função de metalúrgico, remunerando-o com salário mais baixo. O anseio é tornar a razão salarial desses trabalhadores, considerados da construção civil, em metalúrgicos.também foram apontadas como reivindicação do sindicato as questões: permanência de quarenta minutos no restaurante, tempo considerado suficiente para o lanche e o descanso dos trabalhadores, que a empresa tenta diminuir para trinta, e a participação dos trabalhadores nos resultados da empresa. Vale dizer, uma quantia que se aproxima da casa de 19% do salário, ou no mínimo R$ 150,00, repassados semestralmente, em janeiro e julho. Enfim, algumas com maior, outras com menor intensidade, somam à melhoria salarial questões como: aumento do número de turnos de revezamento, adicional de periculosidade dos eletricistas da área de Eletrodos que se encontra sob direção de uma empreiteira, entre outros. Reivindicações que se tornaram conquistas e conquistas reivindicadas? Também. No bojo dessa questão, a luta se dá no processo! 42 A indústria mantém várias jornadas de trabalho, perfazendo do horário administrativo (40 horas semanais) à tabela de turno de revezamento (32,6 horas) que congrega o nível de carreira horista, variando de I a IV, e o nível básico e I e II para especializado.

94 Mudanças de estratégias e táticas: uma questão de contexto Do tempo do SINDMETAL ao trato dos interesses dos trabalhadores nos últimos tempos: mudanças de estratégias e táticas. Entendo que o contemporâneo da questão dá-se no contexto histórico em que atua o capital monopolista e pressupõe mudanças de estratégias, táticas e objetivos de atuação sindical, assim como um largo debate sobre as diferentes concepções de organização. Essas mudanças não significam uma singularidade do cenário contemporâneo. Talvez porque o contemporâneo se contemporaneize com o tempo. Nada é perene, até porque há um contexto (anexo 5). O percurso marx-engelsiano, por exemplo, aponta diferenciais de análise no trato das estratégias e táticas sindicais, a começar pelos momentos históricos distintos a que se refere o debate. Em As Lutas de Classes na França, de Karl Marx, Engels (1977b) observa mudanças nas estratégias e táticas do movimento dos trabalhadores no contexto francês de 1895 em relação a Em vez da rebelião, estilo antigo, considerada ultrapassada, requisitam-se sufrágio universal, vontade popular, agitação eleitoral, propaganda, atividade parlamentar e conquista de conselhos municipais de tribunais e de trabalho. Já na Miséria da Filosofia (2001), Marx observa as coligações operárias de caráter permanente e nacional. Questões como motins e movimento de destruição de máquinas, o movimento luddista, são tratadas no Manifesto do Partido Comunista (1977b). Uma peculiaridade de abordagem nesse debate é o contexto em que ele se realiza, donde entendo provirem as diferentes concepções de atuação sindical. Coligações operárias, motins, movimento de destruição de máquinas diferem das estratégias que recorrem ao sufrágio, à agitação eleitoral, à propaganda, até por se tratarem de questões pertinentes à época histórica vivenciada por Marx e Engels. É oportuno ressaltar, o contexto reportado por Marx na Miséria da Filosofia e, junto com Engels, no Manifesto do Partido Comunista como o momento de ascensão e instauração do mercado mundial capitalista, movimentado pela mais-valia absoluta. Nesse cenário, convivia um proletariado pauperizado, suscetível a somar fileiras na luta contra o aparato repressivo do Estado. Daí a proposta de ditadura do proletariado em sua meta pela instauração de uma sociedade cujas riquezas fossem coletivosocializadas por todos. Na Miséria da Filosofia, Marx faz alusão à condição de libertação da classe trabalhadora como abolição de todas as classes e antagonismos engendrados. Em seu entender, a classe trabalhadora substituirá a antiga sociedade civil por uma sociedade sem

95 94 classes. No período de espera, o antagonismo entre o proletariado e a burguesia é uma luta de classe contra classe, luta que, levada à sua mais alta expressão, sinaliza uma revolução total, manifesta por choque corpo-a-corpo. No Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels apresentam a crença de que o movimento do proletariado anunciaria a dissolução da ordem social existente. Essa era a idéia formada durante a década de 1840, uma época marcada por crises e efervescências políticas nas sociedades industriais em constituição. É possível dizer que as expressões clássicas do movimento do proletariado, como sindicatos e greves, para Marx e Engels, eram trabalhadas a partir da tese de que o proletariado industrial, os operários das grandes fábricas pertenciam à classe cujo movimento social tenderia a negar a velha sociedade. Em um outro momento, até mesmo de ampliação da teoria marx-engelsiana de Estado, como em A Introdução às Lutas de Classe na França de 1895, obra originalmente publicada por Marx em 1850, Engels trabalha o papel da luta da classe operária no cenário da legalidade democrática e adota uma concepção de revolução enquanto processo longo e perseverante. Entende que a dominação de classe se efetiva através da coerção e do consenso dos governados. Engels observa o cenário em que a grande indústria atinge o direito de cidadania, em um quadro de transferência do centro de gravitação do movimento europeu da França para Alemanha, país com prática de sufrágio universal e com menor condição de organização e insurreição do que a França. Engels adverte para o papel da indústria de armamentos nas alterações das condições de combate do proletariado. Em trecho citado: O que em 1848 era a simples espingarda de percussão; hoje é espingarda de cartuchos de pequeno calibre, que atira quatro vezes mais longe, dez vezes mais depressa e é dez vezes mais precisa. Ademais, até 1848 qualquer um podia fazer, com pólvora e chumbo, as munições necessárias; hoje, os cartuchos diferem para cada espingarda e todas têm apenas um aspecto em comum: o fato de serem produtos técnicos da grande indústria. Finalmente, os bairros construídos após 1848 nas grandes cidades, com suas ruas compridas, retas e largas, aparecem adaptados ao efeito dos novos canhões e das novas espingardas. Isto quer dizer apenas que, desde 1848, as condições se tornaram muito melhores para as tropas e muito desfavoráveis para os combatentes civis. (ENGELS, 1981, p.221). Em uma perspectiva contemporânea de abordagem, o esboçar dessa discussão se encontra nas análises de Mészáros (2002). O autor, que se refere aos países de capitalismo avançado na última terça parte do séc XIX, observa os anos de 1859 como contexto de retrocessos para o movimento dos trabalhadores. O parlamento que, entre outras estratégias objetivava substituir rebeliões e barricadas, é considerado responsável pelo total

96 95 enfraquecimento estrutural da potencialidade de luta do movimento da classe trabalhadora. Mészáros aponta para um contexto de divisão do movimento nos denominados braço político e braço sindical de trabalho. A idéia era de que o braço político pudesse servir ou representar os interesses da classe trabalhadora organizada nas empresas industriais capitalistas pelos sindicatos de cada ramo do braço sindical. Na prática, assinala Mészáros, o braço político subordinou os sindicatos em função de seus interesses e das determinações políticas finais do capital, impostas por esse parlamento. Assim, em vez de reforçar politicamente a luta do braço sindical, em suas disputas com as empresas, confinou os sindicatos às disputas estritamente econômicas do trabalho, observa o autor que entende tratar-se de um anacronismo histórico irremediável (MÉSZÁROS, 2002, p. 834). 43 Ênfases para os aspectos contestação e movimento extraparlamentar tratados por Mészáros (2002) quando trabalha a ordem sócio-metabólica alternativa do trabalho. A contestação direciona-se à subsunção do trabalho à condições reificadas e alienadas de seu exercício. O papel do movimento extraparlamentar do trabalho é tratado pelo confronto, negação e contestação. A compreensão é de que o movimento, por um lado, afirme seus interesses estratégicos pelo confronto e negação das determinações estruturais manifestas pelo capital e pela concomitante subordinação do trabalho ao processo sócio-econômico de reprodução material. Por outro lado, deve contestar, por meio de pressão, o poder político do capital no parlamento, seja em termos legislativo, seja executivo. O autor propõe a constituição de um movimento socialista extraparlamentar de massas estrategicamente viável em conjunção com as formas tradicionais de organização política do trabalho, como uma precondição vital para a contraposição ao maciço poder extraparlamentar do capital. Em suas palavras: O que está em jogo [...] é a constituição de uma estrutura organizativa capaz não só de negar a ordem dominante, mas também, simultaneamente, de exercer as funções vitais positivas de controle na nova forma de auto-atividade e auto-gestão do capital (MÉSZÁROS, 2002, p. 1067). 43 Mészáros (2002, p. 835) aponta as perdas oriundas dessa divisão tanto para o braço político como para o braço sindical. Em sua análise, o braço político perde o apoio material por meio do qual o movimento dos trabalhadores poderia efetivamente opor-se à lógica do capital e à sua força de auto-afirmação. E mais, perde o poder de lutar não apenas por concessões mínimas, que podiam ser contidas e revertidas pelo capital, mas pela instituição de uma ordem alternativa da reprodução social. O braço sindical é obrigado a abandonar a perspectiva por uma mudança estrutural maior e qualquer objetivo político, obrigando-se a resignar-se por melhorias marginais, subordinadas às mudanças conjunturais e às limitações das unidades particulares do capital.

97 96 Enfim, vasta vem se dando a processualidade da organização sindical. Ela perpassa por estratégias como coligações operárias, movimento luddista, ditadura do proletariado, a questões que abarcam sufrágio, agitação eleitoral, propaganda. Uma peculiaridade da abordagem: sua viabilidade para uma determinada época histórica. Em termos contemporâneos, vigoram requisições de estratégias e táticas sindicais que reivindicam substituição do confronto sindical com o capital por uma estratégia que propõe negociação entre partes. Nesse debate, entendo o confronto e a contestação como estratégias viáveis para o contexto, convivendo ao lado das requisições cotidianas. Entendendo também que o cunho parcial e defensivo pode ser trabalhado, desde que articulado a um horizonte mais amplo, além do quadro empresarialmente requisitado e no sentido de reverter as demandas do capital ao dispor dos trabalhadores, ainda que mudando de estratégias. Em suma, esboço do sindicalismo na contemporaneidade: mudanças de estratégias e táticas. O sindicalismo retrocedeu? Essa é uma questão que, de partida, requer um não quando analisada como partícipe das mudanças estruturais travadas no contexto contemporâneo do capital. Ademais, a potencialidade de luta tem se manifestado forte em alguns dos diferentes segmentos que compõem a classe trabalhadora. Mas traduzindo isso para o âmbito das perdas, até mesmo de conquistas históricas dos trabalhadores, é possível dizer que os sindicatos vivenciam retrocessos de direitos. Essa perspectiva, não ratifica a concepção de perenidade das relações capital/trabalho, e nem tampouco que tenham cessado os horizontes por conquistas. Até porque, considero a negociação apregoada pela política empresarial como proposta subordinada ao monopólio do capital. Estão aí os avanços conquistados pelo movimento em sua processualidade histórica. A princípio, as requisições de organização em âmbito nacional, como previam as coligações operárias permanentes, seguidas pela proposta de organização internacional, enfatizando a necessidade de um centro de comunicação e cooperação entre as sociedades operárias de diversos países, tal como observam os Estatutos da Associação Operária (1977b). Destaque para a expressão mudança de estratégias sindicais, tratada em uma ótica de classe e com horizonte de estratégias além das requisições empresariais e de âmbito internacional.

98 O tempo do SINDMETAL: um novo tempo, apesar dos perigos Tempos modernos em um novo tempo: o tempo do SINDMETAL. O arranque da questão remete para o aspecto mudança como partícipe da história do sindicato. Negociação entre partes, se hoje é uma estratégia recorrida tanto no discurso institucional da ALUMAR como do sindicato, em um primeiro momento a tática da empresa foi de confronto com este no sentido de esvaziá-lo e perseguir trabalhadores sindicalizados. Para ilustrar, os primeiros sindicalizados foram clandestinos, permanecendo como sócios do SINDMETAL sob a condição de que a diretoria não publicizasse a lista de associados na fábrica. São mudanças que perpassam de uma gestão considerada de colaboração com a grande empresa que estava chegando, a ALUMAR, para outra que a institucionalidade sindical denomina de reivindicação dos direitos dos trabalhadores, iniciada em 1988, por diferenciá-la do contexto em que o reajuste salarial era fixado sem campanha. No contra discurso, as considerações de uma gestão sindical que lida com dificuldades diante da oposição de lideranças vinculadas à base em A começar, pelos permanentes contatos que estas mantém com os trabalhadores, diferenciando-se da representação majoritária da diretoria, uns cinco dirigentes à disposição do sindicato, alguns desprovidos de vínculos empregatícios com a própria empresa, observa o discurso da oposição. Além disso, soma às manifestações direcionadas pelo SINDMETAL a representatividade dos trabalhadores de outras empresas 44. Nos termos de um entrevistado: O grupo da oposição, os 14, era da ALUMAR. O grupo que era ligado à institucionalidade sindical contava com trabalhadores de outras empresas, a exemplo da Enco que somava com a direção do sindicato. Uma assembléia que tivesse 500 trabalhadores 350 vinha da Enco, 100 das outras empresas e 50 da ALUMAR. O grupo ligado à base levava vantagem por ser estratégico, tendo gente em todos os setores dentro da fábrica.(entrevistado 25). Com o acirramento das divergências entre as lideranças vinculadas à diretoria majoritária do sindicato e àquelas que atuavam diretamente no ambiente produtivo, em 1993, há uma ruptura na diretoria do SINDMETAL 45. Os dados mostram desfiliação de sócios e 44 As empresas presentes no jardim da ALUMAR entre 1997 a 2003 são: Aimoré, Edson Costa Metalurgica, Hidráulica, Pavel, P.R.Santos, Santo Antônio, Vidralma, Engegrup, Gercina, Elétrica, F. M. Silva, Andrade e Batista, Eletromac, Ref. Exclusiva, Scopus, Empresa de Serviços Técnicos, Empreendimentos, Ideal, Margusa, Encozolczack, Consórcio, Remo, Sobral, Marajó, Bramital, Hidromac, RHS Recursos, Uniper, Forte Aço, Padrão, Estil, Montreal, Metalus, Sercong, Enteste. 45 Dois blocos protagonizaram essa ruptura: um reunindo a direção majoritária de vínculos com Partido Comunista do Brasil (PCdoB); outro representando a oposição, fazendo-se presentes militantes do PT (Partido dos Trabalhadores), PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados) e independentes.

99 98 conseqüente enfraquecimento no movimento. A justificativa dessa situação, parte da demissão de lideranças não vinculadas ao grupo majoritário da direção, como as da oposição em Diga-se de passagem, uma realidade que não se dá à toa, considerando a composição da diretoria do sindicato. Da parte da política empresarial, a preocupação é com quem tem força, peso e influência dentro da empresa, pois o que importa para um capitalista é a organização, o nível de influência e respeito de dirigentes dentro da empresa, nos termos de um entrevistado. Para enfraquecer o sindicato, demissões de dirigentes como os da oposição que lutavam e levantavam bandeira dentro da fábrica. Depois disso, a empresa reforçou a barreira que bloqueia o acesso à empresa. Se antes podia fazer política, panfletagem e movimento na ALUMAR, hoje já não há mais esse acesso, observa um entrevistado. Essa situação de enfraquecimento do movimento não é uma peculiaridade exclusiva do SINDMETAL, mas reflexo do refluxo do movimento de massa e de confronto vivenciado nos anos de 1980 na realidade brasileira. A propósito, um período propício às lutas sindicais, dado o forte movimento de greves, diferenciando-se do início dos anos de 1990, quando vivencia a hegemonia da perspectiva de abandono da postura exclusivamente de oposição. Os saldos são: declínio da atividade grevista, diminuição do número de filiados e tendência à moderação da luta. Nos termos de Ana Cláudia Cardoso (1998), que analisa estratégias e ação sindical nos anos de 1990, os sindicatos vivem hoje um de seus piores momentos, observando: queda relativa e absoluta do número de trabalhadores sindicalizados; dificuldade de representação das camadas cada vez mais heterogêneas em termos de salário e condições de trabalho; baixa disposição dos trabalhadores em participar de mobilizações; queda na quantidade de greves e diminuição do número de trabalhadores contemplados pelas negociações coletivas. Os estudos de Antunes (1995, 1995a e 1999), Alves (2000) e Boito (1999) apontam uma situação de debilitamento sindical centrado em estratégias manifestas nos limites das condições postas pelo capital, embora justificadas como alternativas para o contexto. Alves, observando os dados do DIEESE sobre as greves no Brasil, entre 1990 a 1997, ilustra queda acentuada de greves e não freqüência de mobilizações gerais envolvendo a categoria dos trabalhadores ou todos os trabalhadores de uma grande empresa. As tendências de análise registram uma inversão estratégica que não mais enfatiza resistência sindical, mas negociação e até composição com o capital. Enfim, passando pela ruptura na diretoria do SINDMETAL e, com ela, pelo enfraquecimento do movimento que vivencia aumento de desfiliação, interessa

100 99 entender o período pós-demissão das lideranças vinculadas à oposição do SINDMETAL. Segundo a diretoria do sindicato, as duas gestões prosseguiram com avanços, sinalizando inexistência de decadências, o que houve foi um rompimento com o pessoal radical. Os dados apontam que o período de avança em termos da representação sindical: sentar com a representação patronal, negociar e obter conquistas, como o acordo coletivo de trabalho, além de dar continuidade ao projeto político implementado pela gestão anterior de vínculos partidários com o PCdoB. Agora, são avanços precedidos por momentos de dificuldades, a exemplo da proposta empresarial de promoção do trabalhador na condição de retirada do seu nome do sindicato, uma realidade que tem alargado o aspecto desindicalização de associados. No real, o trabalhador se desfilia. Uma particularidade citada sobre a gestão de é não saber trabalhar com as diferentes visões dos dirigentes que acabaram se desfiliando do sindicato. A gestão de 2000 a 2003 já não enfrenta oposição, mostram os dados. Até por conter, entre seus 36 diretores, 28 da ALUMAR, o que acaba por fortalecer as reivindicações dos trabalhadores vinculados a ela. As considerações são de aumento de sindicalização decorrente de um trabalho de conscientização. Na contraface, às observações de aumento de sindicalização, outros dados enfatizam uma maior diminuição de associados durante o período de 1994 até 2003, diferenciando-se de outrora quando o sindicato chegou a filiar 70% dos funcionários da ALUMAR. O motivo da baixa, segundo um dirigente do sindicato, justifica-se pela maior rotatividade de funcionários, destacando-se no rol dos contratados pela empresa, o perfil de um trabalhador que não tem interesse em filiar-se, o que poderia manter ou aumentar a arrecadação. Os dados apontados pela Pasta de Demitidos das empresas vinculadas ao SINDMETAL, em especial da ALUMAR, asseveram queda do número de associados na gestão de , que já vinha sofrendo conseqüências da gestão anterior em termos de baixa. A gestão de apresenta uma alta. Queda e alta de sindicalização, acompanhada pelo aspecto demissão! O que, aliás, não é um quadro exclusivo da realidade dos trabalhadores da ALUMAR, mas parte da tendência mundial que incentiva recordes de produção, perdas de postos de trabalho e aprofundamento da situação de desemprego. Os dados do IBGE (1998), ao fazerem um balanço da realidade brasileira, são unânimes em precisar a taxa de desemprego de 1998, 50% maior que a de Taxa essa que tem sua ressonância, sobretudo, no setor metalúrgico, em uma realidade de diminuição de emprego e crescimento do setor de serviços, a exemplo do

101 100 mercado maranhense. Os dados fornecidos pela União metalúrgica e o jornal O Imparcial apresentaram queda brutal dos trabalhadores da metalurgia na realidade de São Luis. Destacam, que no período de 1990 a 1997, cerca de vinte empresas fecharam sua portas, evidenciando um número aproximado de 1200 metalúrgicos em contraste com os que se fizeram presentes no inicio da década de Os dados recentes do IBGE (2003) assinalam uma perspectiva de queda da taxa de desemprego, precisamente em termos de 0,7 ponto percentual. Essa situação é justificada como decorrente do aumento de vagas no setor informal, o que significa emprego sem carteira assinada e factível à precarização em termos de renda, condições de trabalho e direitos. Em se tratando da ALUMAR, a realidade não se faz diferente, registrando-se o ano de 1997 como período de crescente demissão de trabalhadores, retrocedendo nos anos de 1998 a 2001 e radicalizando-se nos anos de 2002, até por conta da política de redução de custos do grupo ALCOA. Gráfico 3 - Percentagem do total de trabalhadores da ALUMAR demitidos no período de

102 101 Alta e baixa da sindicalização, conscientização e negociação, com esse percurso caminha o discurso institucional que assevera mudanças nas relações capital/trabalho, especificamente em questões relacionados à empresa, trabalhador e sindicato. À empresa pela proposta de conscientização, diálogo e negociação, mesmo que contrastando com a interpretação de uma proposta de conciliação e coação concretizada no ambiente produtivo. Ao sindicato, pela postura mais flexível à negociação, diferenciando-se da gestão considerada de colaboração, ou mesmo conciliação com a grande empresa, como denominam alguns críticos. Ao trabalhador porque, além da sobrecarga e achatamento salarial, vê somar ao cotidiano fabril o discurso da conscientização, inclusive, para dialogar melhor com a direção da empresa, diferenciando-se de outrora, quando a manifestação recorria à estratégia de furar pneus de ônibus. Nas palavras de um entrevistado: Hoje, as estratégias mudaram, conseguem parar os carros sem depredar, furar pneus. A questão é conscientizar os trabalhadores de forma a descerem do ônibus bloqueado pelo movimento, sem causar danos para o patrimônio da empresa. (entrevistado 5). Os dados indicam que o movimento de furar pneus, em auge no início dos anos 90, hoje está abrandado. Antes de 1993, aconteciam mais paradas e o sindicato detinha um maior número de associados; agora é mais formal na negociação, observa um trabalhador representativo do grupo da oposição sindical. As considerações são de que o SINDMETAL procura trabalhar todas as possibilidades de diálogo, até partir para a parada como último recurso. Mudanças de estratégias, acompanhadas por uma variedade de interpretações sobre a postura do SINDMETAL. Por esse trilho, percorre o debate sobre as perspectivas de atuação sindical no quadro contemporâneo do capital. Alguns dados sinalizam o predomínio de uma proposta que se caracteriza propositiva; outros conflitiva e outros defensiva. É propositiva com o sindicato opinando, por exemplo, no plano operacional da fábrica. No outro lado da moeda, há quem trate de uma proposta que concilia com interesses da empresa, enfatizando ser inviável conciliar os interesses dos trabalhadores com os interesses da empresa no sistema atual. É conflitiva, a exemplo das paralisações que procedem o período da negociação, além das inúmeras queixas em litígio na justiça do trabalho contra a ALUMAR. É defensiva por direcionar-se exclusivamente à manutenção do já conquistado, a exemplo da luta pela manutenção do turno atual. Outros dados enfatizam tratar-se de uma perspectiva ora conflitiva, ora negociadora, ora defensiva na relação sindicato empresa. A justificativa é o

103 102 contexto histórico vivenciado pelo sindicato. Entendem que em um determinado tempo o sindicato consegue algumas melhorias via negociação; em outros, vai para o confronto. No geral, as observações são de uma perspectiva institucional sindical negociadora, havendo divergências no que tange a ganhos. Negociadora, propositiva, conciliatória, defensiva, confronto, enfim, interpretações é que não faltam sobre a postura do SINDMETAL. Ramalho (1994), Bresciani (1997) e Leite (1997) trabalham a estratégia propositiva como alternativa sindical viável no quadro possível do capital, destacando a participação e negociação como modalidade positiva para as partes envolvidas. Leite (1997), reportando-se ao pluralismo sindical no Brasil, observa três posturas sindicais: uma denominada propositiva, destinada a pressionar o patronato a negociar um sistema democrático de relações de trabalho tida como hegemônica; outra que se caracteriza por uma atitude pouco crítica em relação ao processo e a postura defensiva, por compreendêla resistir às inovações, evidenciando um caráter suicida. Distinta dessa análise, Alves (2000) aponta a discussão do pluralismo sindical como acirramento da luta político-ideológica no Brasil. Três são as estratégias sindicais destacadas pelo autor: a resistência operária, a influência defensiva e a influência propositiva. A estratégia de resistência operária, que compreende estar presente na postura radical de esquerda de Salerno (1993) 46, é considerada intrínseca à própria condição da prática sindical, cuja existência pressupõe algum tipo de resistência à usurpação do capital. A estratégia de influência defensiva, que entende estar presente na postura resistência sindical de Salerno, é vista como sujeita a assumir uma forma de participação parcial, ou mesmo de mera influência sem participação, como se refere Pateman (1992). A estratégia da influência propositiva, que considera presente na terceira postura de Salerno (1993), propõe-se a intervir antecipadamente sobre o processo de reestruturação produtiva. Perspectiva que para o autor tende a efetivar-se de modo acrítico, ao sabor das condições pressupostas pela lógica do capital, além de resumir-se a uma influência e participação desprovida de poder. 46 Alves (1992) traz ao debate três estratégias sindicais propostas pela tipologia das práticas sindicais de Salerno (1993): a radical de esquerda, a resistência sindical e o sindicalismo propositivo. A primeira que é peculiarizada por se recusar a gerenciar o capitalismo, deixando à direção da empresa a definição dos rumos da reestruturação produtiva. A segunda atua a posteriori sobre o fatos consumados, procurando negociar para minimizar impactos, o que Salerno considera predominar no sindicalismo brasileiro. A terceira caracteriza-se pela intervenção/negociação antecipada diante do processo de reestruturação produtiva.

104 103 Antunes (1995), Boito (1999), Alves (2000) e, em leitura mais recente, Túmulo (2002) enfatizam o ocultamento de interesses divergentes e a imediaticidade posta na proposta. Antunes (1995), quando observa o discurso sindical centrado no sindicalismo de participação que faz parceria com o capital privilegiando estratégias propositivas, refere-se a uma proposta defensiva e atada à imediaticidade. Alves (2000), que chama de postura de influência propositiva, destaca suas conseqüências em termos de debilitação estrutural da contestação operária à lógica do capital, com tendências a cortar elos reais do sindicalismo operário com o movimento sindical anticapitalista. Túmulo (2002), fazendo alusão à Central Única dos Trabalhadores, a CUT, vislumbra três fases em sua trajetória. A primeira que considera percorrer os anos de 1978 a 1983 e desse período até aproximadamente 1988, caracterizando-se por uma ação sindical combativa e de confronto; a segunda, cujo período aproximado é de 1988 a 1991, caracteriza-se como a fase de transição; e por último a mais recente, caracterizada de sindicalismo propositivo e de negociação 47. Em suas palavras: Partindo do pressuposto de vitória do capital no plano mundial, através da consolidação do novo padrão de acumulação, cuja manifestação aparente são as metamorfoses no mundo do trabalho, e tendo em vista o fracasso da construção do socialismo, a estratégia tem sido, em linhas gerais, a de conviver com o capitalismo, buscando oferecer alternativas por dentro dele, baseada na crença de que é possível reformá-lo estruturalmente, dessa forma, arrancar, através da negociação, benefícios para os trabalhadores. Isso explica a CUT do sim dos anos 90 como superação da CUT do não dos anos 80. Entretanto, não quer dizer que existiu ou existe somente tal alternativa, mas esta tem sido a que realmente logrou ser vitoriosa e se consolidar (TÚMULO, 2002, p.132) 48. De suas incorrências a Lopes Neto e Gianotti (1993), Túmulo (2002) resgata a interpretação de um sindicalismo de concertação social, resultado da incapacidade global da CUT, que passa de um sindicalismo classista, de confronto, com uma perspectiva estratégica socialista, para uma ação pautada pela parceria entre capital e trabalho. Um sindicalismo vislumbrado pelo trinômio proposição/negociação/participação dentro da ordem capitalista. 47 Os dados sinalizados por Túmulo (2002) mostram que no primeiro período, apesar de todos os problemas e limites, a formação sindical buscou se direcionar sob uma perspectiva de corte classista e anticapitalista, articulando temas de bases estruturais com temas conjunturais, sob determinação dos primeiros. O objetivo era oferecer aos quadros militantes e dirigentes um aporte teórico-político necessário para municiá-los, não só para a luta estritamente cotidiana sindical, mas, sobretudo, para o combate ao sistema capitalista com vistas à construção de uma sociedade socialista. Com o passar do tempo, enfatiza o autor, a formação sindical cutista foi se modificando e, gradativamente, adquirindo um caráter de formação instrumental sindicalista, vale dizer, que busca preparar seus militantes para atender às demandas da conjuntura e do cotidiano sindical, ou ainda, por abordar questões específicas. No terceiro momento, a formação assume a característica de um sindicalismo propositivo e negociador, dentro da ordem capitalista. A estratégia é conviver com o capital, buscando as alternativas dentro dele, o que Túmulo considera ser a resposta política construída por essa central para atuar na realidade presente. 48 Nos termos do autor: se a atual estratégia da CUT, como de resto de quase todos os movimentos sociais do "espectro da esquerda', em escala mundial, tem-se constituído como a resposta possível e mais viável diante do grave quadro que se apresenta para os trabalhadores, é necessário considerar, contudo, que existiam e continuam a existir outras possibilidades de respostas, outras estratégias políticas, que por razões histórico-políticas foram preteridas em favor daquela determinada opção. (TÚMULO, 2002, p ).

105 104 (TÚMULO, 2002, p ). De Costa (1995), Túmulo (2002) resgata as considerações de que, nos últimos anos, delineou-se, articulou-se e estruturou-se na CUT a concepção do sindicalismo de negociação e participação, dentro da ordem, como solução para a crise capitalista. Em suas palavras: [...] A ação ofensiva e destacada da CUT encontra-se obstaculizada pela opção reformista de privilegiar as negociações tripartites e as câmaras setoriais limitandose à conquista de reformas na ordem capitalista. Essa compreensão, majoritária na CUT, é responsável pela gradativa substituição das mobilizações e greves por entendimentos com o patronato, levando ao defensismo e à perda de sua representatividade política e ideológica, como um dos instrumentos de transformação revolucionária da sociedade. (TÚMULO, 2002, p ). No horizonte, a proposta de inversão radical da estratégia sindical possível, tendo como referência a perspectiva de um sindicalismo combativo, de confronto e de corte classista e anticapitalista, outrora vivenciado. (TÚMULO, 2002). Do ponto de vista dos interesses de classe do proletariado, o autor observa a imprescindibilidade de a CUT reencontrar suas raízes, retomar sua garra e combatividade e repensar sua atual trajetória política, no sentido de construir sua estratégia em uma perspectiva de cunho classista. Que a CUT, para além das lutas especificamente sindicais, voltasse a inscrever em sua bandeira a insígnia revolucionária: Pelo fim do trabalho assalariado! (TÚMULO, 2002, p.255). Enfim, em um quadro de intensa acumulação do capital, as propostas de atuação sindical perpassam da perspectiva propositiva, como observa Ramalho (1994), Leite (1997) e Bresciani (1997), à crítica apresentada por Antunes (1995), Boito (1999), Alves (2000) e Túmulo (2002). O detalhe é que se no final dos anos de 1980 e início de 1990 desenrolava-se um contexto propício às lutas sindicais, nos anos noventa desenvolve-se a perspectiva de abandono da postura sindical exclusivamente centrada na oposição. A partir daqui, como lembra Boito (1999), dá-se a IV Plenária Nacional da CUT, que embora sob a oposição da corrente de esquerda dessa central, firma uma pauta de reivindicação sindical, não mais centrada por postura exclusivamente reivindicativa e de ações de protestos, mas na participação e negociação. O perigo é que o defensivismo de novo tipo como trata Alves (2000), ou neocorporativismo de participação interpretado por Boito, manifeste-se no sentido de manter o movimento sindical desconectado da contestação à lógica do capital, obstaculizando qualquer possibilidade objetiva de ir além do capital, ou de negá-lo.

106 Outras táticas, novas táticas e um projeto de classe delineado Outras táticas, novas táticas, e um projeto de classe delineado! É a processualidade da dinâmica sindical. Apontando para a tendência de mudanças na organização sindical, a história do SINDMETAL observa um momento em que o sindicato recorria a atitudes consideradas radicais, como furar pneus de ônibus, embora a contragosto de uma parte da direção do sindicato que entendia não ser este o melhor caminho. Hoje, vigora uma perspectiva sindical que não vê viabilidade nessa perspectiva, priorizando a tática conscientização dos trabalhadores, tal como asseveram as análises de Ramalho (1994), Bresciane (1997) e Leite (1997). No contraponto, as considerações de Antunes (1995), Boito (1999) e Alves ((2000), sinalizando tratar-se de uma postura subserviente às determinações do empresariado. Em uma outra ponta de análise, Leôncio Rodrigues (2002, p.106) observa duas propostas: uma de um sindicato mais duro na resistência às pressões da empresas e outra de um sindicalismo possível que recorre a novas formas de atuação, até menos conflitivas, além de conservar posições obtidas anteriormente. De Wolfgang Streeck (1994) 49, Rodrigues aponta duas perspectivas de atuação sindical: uma que reitera a necessidade de atuações agressivas, inclusive de natureza política, de controle do comportamento do empresariado, e outra que considera não ser a melhor alternativa, enfatizando a necessidade de novas orientações adaptadas à época da produção flexível, isto é, relações menos conflitivas. O conflito, por exemplo, não diminuiria necessariamente, mas mudaria de forma, deixando a greve de ser o principal instrumento de pressão sobre as empresas. De Charles Heckscher (1996), Rodrigues (2002) resgata o entendimento de que os movimentos grevistas na época atual tenderiam a produzir cada vez menos resultados positivos. Para Rodrigues, além da paralisação do funcionamento de setores de atividades, ganha espaços nas formas de pressão do sindicato uma diversidade de táticas. São denúncias públicas de atos contrários aos empregados da parte de empresas; atuação junto a organismos legislativos e governamentais; uso intenso da publicidade; manifestações de rua; sabotagem; boicote; seqüestro e detenção de dirigentes das empresas, ou de autoridades públicas; pressões diretas sobre estâncias do poder; ocupação dos locais de trabalho; bloqueio de estradas e vias públicas; quebra-quebras e ações 49 STREECK, Wolfgang (1994). Training and the new industrial relations: strategic role for unions? In: REGINI, Marino (eds). The future of labour movemnts. London, Sage.

107 106 destinadas a influenciar a opinião pública. Diga-se de passagem, táticas que remetem às considerações de Lojkine (1989), embora se tratando de contextos diferenciados: Rodrigues (2002) reportando-se à realidade da América do Norte e Europa e Lojkine (1989) à França. Como já apontado, a proposta do um sindicalismo de terceiro tipo de Lojkine fundamenta-se na informação, no debate, na comunicação, na troca de informações, na conquista democrática da opinião pública, o que interpreta como mobilização de novo tipo. Ainda há pouco enfatizava a alusão do autor à experiência da Fábrica de Radares, em 1991 na França. As considerações são de que, enquanto uma declaração de greve contra demissões reunia oitenta pessoas no pátio da fábrica, lugar tradicionalmente simbólico de manifestação de forças, a petição recolhia 589 assinaturas em um efetivo de 977 assalariados (LOJKINE, 1989, p. 244). Também ainda pouco citava táticas como: batalha de opinião, trabalho formiga no sentido de conquistar a opinião da categoria e da população, emergência de um espaço público de discussão nas empresas e apreciação positiva das lutas cotidianas e do papel do panfleto, tido como instrumento de confrontação e convocação para o debate 50. Destaque para a tendência evitar conflitos prolongados. Segundo Rodrigues (2002, p. 132), os sindicatos têm dificuldades para sustentar greves prolongadas, preferindo movimentos de curta duração e que envolvam trabalhadores geralmente nãosindicalizados. Entende que essa opção não exclui necessariamente atos mais radicais, como, sabotagem dos equipamentos, danificação da produção e das instalações das empresas e uso da violência física contra empregados que furem o movimento. Em sua análise, há mudança no padrão de greve. A tendência dos sindicatos hoje é procurar paralisar pontos estratégicos das empresas que envolvam um número pequeno de trabalhadores de forma a prejudicar toda a cadeia produtiva. Daí a razão de os sindicatos procurarem reduzir o número de trabalhadores formalmente paralisados. Os custos desses combates fazem com que a decisão de recorrer a greve seja ponderada muito seriamente, o que leva à tentativa de esgotar todos os recursos na mesa de negociação antes que o início do movimento seja ordenado (2002, p ). Rodrigues (2002) sugere as paralisações por empresa isolada como estratégia mais adequada para o contexto. De outro ângulo, o 50 Lojkine (1989, p.15) toma como referência de pesquisa o movimento sindical da CGT (Central Geral dos Trabalhadores), especificamente a sua participação voltada a influir na escolha gestionária das empresas, onde os sindicatos são confrontados por reestruturações devastadoras e demissão maciças. Essa nova cultura de intervenção na gestão não é própria do sindicalismo francês nem da CGT, que se reclama abertamente ser um sindicalismo de classe, mas de um sindicalismo co-gestionário à moda alemã ou à moda sueca, observa.

108 107 autor assevera que os movimentos sindicais mais centralizados e mais poderosos tendem a fazer menos greve e a moderar as exigências 51. Enfim, passando pela proposta de Alves (2000), em suas recorrências a Salerno (1993), de Rodrigues que observa a proposta de negociação capital/trabalho e de Tumulo (2002) que trabalha a questão do ponto de vista da Central Única dos Trabalhadores, os dados enfatizam mudanças na trajetória do sindicalismo nos últimos anos. Essas mudanças, se reportadas para o ângulo do SINDMETAL nos últimos tempos, lembram o trajeto chamado de estratégia sindical de colaboração com a ALUMAR logo na instalação dessa empresa, seguido pela proposta de negociação entre as relações capital trabalho; na contracorrente, o entendimento de uma proposta que concilia com o capital. No mais, conciliar com os interesses do capital é uma perspectiva que limita o SINDMETAL de um horizonte além dos muros fabris, impossibilitando vislumbrar uma atuação além do capital. Um espaço para a crítica à postura defensiva exclusivamente assumida pela dinâmica sindical. Aliás, um debate que não é recente. Alves (1992), que trata dos desafios do sindicalismo em Marx e Engels, resgata a crítica à postura defensiva diante do capital, mesmo em se tratando do período de expansão do sindicalismo de indústria na última década do século XIX. Segundo o autor, o sindicalismo, embora se tratasse de um movimento de massa vinculado à agitação política por melhores condições de vida para as classes trabalhadoras, não deixava de ser apenas uma reação operária diante da ação anterior do capital. Observa Alves, interpretando Marx e Engels (1992, p.211): Os sindicatos podiam erguer obstáculos à dinâmica do capital, mas não podiam impedir seu avanço contínuo [...]. O poder sindical nada poderia fazer contra a condição da própria mercadoria-força de trabalho: a precariedade e estranhamento que ganhariam novas formas sob o capitalismo organizado. Daí a proposta de conversão dos sindicatos em centros de organização da classe operária. A idéia defendida por Marx durante as suas intervenções na Internacional, em 1866, implicava transformar os sindicatos em uniões de operários que organizassem trabalhadores assalariados empregados e desempregados, não apenas enquanto vendedores, reais ou virtuais, da mercadoria-força-de 51 Essa classificação foi construída considerando as médias do período Para a evolução das freqüências, convém confrontar o qüinqüênio de com o de A comparação indica que, entre os 17 países, somente em três (Espanha, Dinamarca e Suíça) houve aumento da média de greves. No caso da Espanha e da Suíça, os aumentos foram muito pequenos. Mas nesse bloco de países, nos quais houve elevação da média de disputas, as situações foram muito diferenciadas, pois o bloco contém um país com elevadíssimo número de paralisações, a Espanha; outro com um número que poderíamos classificar de médio, a Dinamarca; e outro de freqüência muito baixa, a Suíça. (RODRIGUES, 2002, p.150).

109 108 trabalho, mas sim como indivíduos-produtores, potenciais criadores de uma nova sociedade, sem explorados e exploradores. Em outra ponta de abordagem, tempo e contexto específico, Antunes (1995) observa a necessidade de uma articulação entre o sentido contestador do movimento sindical e os combates defensivos orientados por uma perspectiva anticapitalista. Nada de se contentar com oposições e lutas anticapitalistas, nem tampouco recusar o combate defensivo via reivindicações imediatas, alegando não haver saída no quadro do capitalismo. Isso significa condenar toda classe operária à impotência, assevera o autor. Alves (1992) acentua que, apesar de necessária, a ação sindical de contestação à lógica do capital não é suficiente para permitir elaborar uma contra-hegemonia a essa lógica e resistir à sua nova ofensiva na produção. Para tanto, exige-se ir além do campo da produção, articulando-se com um movimento político mais amplo, capaz de possibilitar a consciência de classe, além de permitir o sentido contestador da ação sindical à lógica do capital na produção. Enfim, criticando o mero defensivismo na dinâmica sindical, interpretando o contexto em que esta se concretiza, uma questão parece relevante nas análises que perfazem o debate contemporâneo: a pertinência das estratégias defensivas no sindicalismo, desde que articuladas a uma perspectiva além do capital. Na esteira do debate, alguns dados apontam a existência, em suas distintas maneiras, de reações dos trabalhadores que não concordam com a política organizacional. Outros não vêem reação por entenderem não ser o posicionamento mais viável para um ambiente que só requisita produção. Entendem tratar-se de um sindicato menos resistente, considerado até inexistente para alguns. As considerações são de que, de 1993 para cá, o sindicato manteve-se exclusivamente na perspectiva da conciliação. Há quem justifique perdas em termos da correlação de forças, onde tecnologia, com a instalação de uma máquina nova, combina com redução de pessoal. Há uma minoria indiferente. E há os que reclamam para colegas e diretores do sindicato a fim de que este, como órgão competente para defender a categoria, tome as devidas providências. Outros dados apontam uma reação de forma silenciosa, o guardar consigo mesmo, não se posicionar de modo a não afetar a manutenção do emprego. Recorrendo a um trecho já citado por Carvalho (1997), o silêncio é a forma mais explícita de vivência do medo. O momento do silêncio é o momento em que o operário manipula seu saber para resistir a toda uma lógica que ele nem sempre compreende, ou aceita,

110 109 mas se conforma por compreendê-la como única alternativa de posicionamento viável ao quadro posto 52. Recorrendo aos dados da pesquisa: O trabalhador reclama, faz cara feia, conversa com o colega, mas não quer nunca que chegue ao ouvido do chefe. Fica calado principalmente se for por algum problema de saúde, se tá sentindo algum tipo de dor, dado o medo de se afastar por 15 (quinze dias) e quando retornar tá na rua.. (entrevistado 13). Os dados também assinalam como peculiaridade de trabalhador o evitar atritos, considerado posicionamento adotado pela maioria na fábrica. Pesa o quadro de reserva, maior que outrora. Pesa o setor de recrutamento instalado na empresa, jovens suscetíveis a trabalhar sob condições inferiores que os da área e a perder direitos já conquistados pela organização sindical. Sob o ângulo da institucionalidade sindical, o evitar atritos também pode ser explicado pela maior flexibilidade da empresa em dialogar e negociar questões que envolvem os trabalhadores, inclusive, para não haver demissão. Pesa o medo de perder emprego, sobretudo, considerando a condição de ponta da empresa em âmbito mundial e local, em um quadro de estímulo à terceirização e acirramento de desemprego. Se o trabalhador detém consciência de classe? Essa é uma ponta do debate que pretendo trabalhar. Considero que ele entenda o cenário lhe é apresentado e, por isso, prefira não optar. No mais, trato de um sujeito histórico, portador de uma visão de mundo e que, para fazer face às condições postas pelo mercado, pode até omitir sua visão de classe e não estabelecer vínculos com a organização sindical. Esta é vista como ameaça de emprego, embora existam relatos que acreditam nas relações de forças da organização sindical no quadro contemporâneo do capital. 3.2 Estratégia de reivindicação e protesto: a parada na porta da Fábrica Uma parada para uma breve retrospectiva sobre o objeto em questão. Os dados mostram mudanças de estratégias. Em vez de greve, as manifestações reivindicatórias e de 52 Em pesquisa realizada junto à população metalúrgica da ALUMAR entre o período de , grande parte dos operários entrevistados (77%) definiu o silêncio como momento em que o trabalhador se vê induzido estrategicamente a não se posicionar face à onda de penalidades e arbitrariedades presentes nos últimos anos na grande indústria. Significa dizer não à possibilidade de vir a fazer parte do quadro de trabalhadores precarizados no mercado. Significa não às condições que possam afetar sua empregabilidade no quadro funcional da empresa. Não à possibilidade de vir a engrossar as fileiras de desempregados do setor metalúrgico do Estado, quando se faz evidente a redução de industrias do setor e o crescimento de trabalhadores demitidos em um quadro em que a metalurgia atinge a casa de 50%. (FARIAS, 2000).

111 110 protesto na entrada da fábrica aparecem como estratégia viável diante do contexto mercadológico. Detalhe: desde que esgotadas todas as possibilidades de negociação, a série de rodadas sem êxitos de acordo com o empresariado. O pressuposto é que a paralisação partiu de uma proposta de negociação, manifestando-se como último recurso. O tempo empreendido não é de dias, mas de horas. Retrocesso? O setor de trabalhadores recrutados na condição de exército industrial de reserva alargou-se consideravelmente na ALUMAR. Agora são jovens saudáveis para a exploração e dispostos a trabalharem por salário em condições de trabalho inferiores aos de vínculos empregatícios e a perderem direitos historicamente conquistados pelo movimento sindical. O encaminhamento é parar ou não parar por horas! Se parar, é necessário fechar a estrada da empresa, sinalizando a ocorrência de uma paralisação; caso contrário, nenhum trabalhador pára, dado o alto índice de desemprego no mercado. Ainda assim, um número substantivo de funcionários entra para trabalhar, alguns ignorando, outros criticando a manifestação. Mas há os que ouvem! E a empresa, mesmo tendo seu aparato produtivo intocável com o desenrolar da manifestação, vê-se forçada a amenizar e até a sanar determinados confrontos. Mesmo porque confrontos podem pôr em xeque os requisitos participação e negociação previstos em sua própria política organizacional, podendo constatar rastros de uma política que não cumpre com o que apregoa, manifestando a ineficácia de sua concretude. Segundo um entrevistado: Hoje o pessoal desce do ônibus, faz parada, passeata, mas depois de está sabendo que o sindicato já fez várias tentativas de negociação. Você tem que negociar e usar isso como trunfo de último recurso. Agora se não há acordo, a questão é reportada para pressionar o empresariado: ou vem negociar, ou está tudo parado ; no real o patronato só entende a voz do trabalhador parado. (entrevistado 12). Greve ou não greve? Só para ilustrar, da totalidade dos 25 entrevistados, 11 mencionaram nunca ter existido greve e sim manifestações reivindicatórias e de protestos, entre outras denominações de manifestações que acontecem na porta externa da fábrica, o que muitos denominam de paradas. Por sua vez, 14 enfatizaram já ter havido greve na empresa, citando A Greve dos Encapuzados em Movimento cuja referência parte da demissão de trabalhadores que participaram da manifestação realizada durante uma greve geral no país em Há quem diga que os trabalhadores da ALUMAR pararam em mais de 90% na portaria. A manifestação manteve-se durante 24 horas. A produção, por sua vez, permaneceu intocada

112 111 em suas atividades rotineiras. Como a ALUMAR trabalha com cinco turnos, que se revezam entre o exercício e a folga, não havia como parar os trabalhadores que estavam dentro da fábrica e eram obrigados a permanecer produzindo até o movimento encerrar e entrar o grupo seguinte. A questão é que, durante a greve, um veículo de comunicação local - O Jornal Mirante - esteve presente na manifestação, filmou e depois cedeu a fita da greve para ALUMAR, que fez uma demissão seletiva dos presentes no movimento. Já sabendo que o mesmo jornal estaria na greve em 1994, os trabalhadores, pretendendo não ser identificados, participaram do movimento com o rosto envolto por algo que lembrava capuz. As fotografias é um movimento com todo mundo com a camisa na cara, aparecendo só os olhos, aí os jornais destacaram: A Greve dos Encapuzados, observa um sindicalista. Apesar da grande mobilização, a empresa não fez acordo, tendo o sindicato que se deslocar para o dissídio coletivo, conseguindo cerca de 4% de reajuste de salário. Hoje, a realidade é outra. Há quem observe o não greve pela forma da lei, porque realizá-la pressupõe legalizá-la, avisar a empresa, publicar em edital. É necessário haver uma notificação com previsão do quadro de trabalhadores que durante a manifestação estarão produzindo dentro da fábrica para manter ininterruptamente a produção. Nos termos de um entrevistado: A gente estipula parar algumas horas, 1 h, 2h justamente para não caracterizar greve. Porque greve é quando você programa o pessoal parar 1 dia, 2 dias, 3 dias, e nunca houve uma paralisação assim. Não houve ainda a necessidade de a gente parar por um ou dois dias. Houve sim, paralisações setoriais de horas bastante acirradas em que o sindicato enfrentou, além da segurança da ALUMAR, o aparato da polícia militar, da polícia civil, da polícia rodoviária federal. (entrevistado 25). Em empresas de ponta como ALUMAR que oferece vantajosas condições de trabalho e salário, além do investimento no fator tecnológico que a faz peculiar no mercado local, a greve não mais se apresenta viável como no inicio dos anos de O quadro é de acirramento da terceirização, precarização e desemprego, que se tornou estrutural. Pesa na consciência do trabalhador a política de redução de custos: significa, sobretudo, cortes no setor de pessoal. Greve nesse contexto implica demissão. A alternativa é a parada de horas na porta da fábrica, com capacidade de repercussões no âmbito interno da empresa em algo que lembre uma operação tartaruga, a exemplo do trabalho executado lentamente. Até porque se trata de um trabalhador que está substituindo o do turno seguinte que se encontra impossibilitado de entrar no setor com a manifestação, vendo acrescidas, às suas

113 112 singularidades trabalhistas, sobrecarga e estafa da obrigação de ter que permanecer no serviço até o movimento parar. Os dados apontam a inexistência de algumas condições concretas para que uma manifestação como greve se realize, a começar pela ausência de organização interna dos trabalhadores dentro da fábrica. No horizonte, a proposta de o movimento viabilizar uma participação maciça dos trabalhadores em sua processualidade, contrapondo-se com o ambiente onde é generalizado o medo de fazer greve. A proposta é que determinados setores se organizem no interior da empresa, inclusive, para parar a fábrica internamente. Daí o argumento sobre a necessidade da inserção de lideranças e diretores do sindicato nas diversas áreas da empresa, como: Refinaria, Manutenção e Redução, especialmente, na Sala de Cubas e Lingotamento. A intenção é ter um ambiente de base solidificada capaz de causar receio ao empresariado ameaçado por manifestações reivindicatórias e de protesto, o que requer prevenir a fábrica, organizar os trabalhadores, organizar os turnos, mesmo que só manter o funcionamento da produção. No contraponto, a questão: em se tratando de uma manifestação que se realiza sob o aviso da empresa seria adequado denominá-la de greve? Há quem argumente que o aviso de uma parada indicando dia, hora e estratégia, destoa o princípio greve. Já houve casos em que a empresa, de posse da informação, preparou-se para a mobilização, indo buscar, até de táxi, os trabalhadores de folga em seu domicílio, não havendo como dizer não ao que se apresentava como obrigação. E aí a reflexão sobre a viabilidade de um número restrito de trabalhadores parados nas manifestações organizadas pelo sindicato na porta da fábrica, enquanto um número considerável de trabalhadores, simultaneamente, mantém a produção inalterável com o movimento Entre novas e clássicas estratégias: a potencialidade sindical Mobilização na porta da fábrica, manifestações reivindicatórias e de protestos, paralisação parcial, paralisação setorial, paralisação de advertência, paralisação temporária e contínua, parada estratégica, parada de fora para dentro, ou parada como muitos chamam, entre outras denominações, é uma estratégia de paralisação dos ônibus na portaria, no sentido de atrasar a entrada dos trabalhadores na fábrica. O objetivo principal é forçar a empresa a repassar o percentual salarial acima da inflação (anexo 6).

114 113 A paralisação acontece na porta externa da empresa, local onde se forma um maior fluxo de funcionários, inclusive os de empreiteiras (anexo 7). O horário é geralmente pela manhã, no momento de troca dos turnos. A causa principal dessa manifestação é justificada pela não aceitação por parte da empresa das reivindicações salariais dos trabalhadores, como o aumento real acima da inflação. Segue a reivindicação por melhores condições de trabalho, a exemplo do aumento de 4 para 5 do número dos turnos de revezamento. Em média são declaradas de 2 a 3 paradas por ano, mas já aconteceram casos de 4,5 e até 6. O tempo é uma questão de horas. No geral, dá-se aproximadamente em 1, 2, 3 e até 4 horas, chegando a casos de 6, 8 e até de 12 horas, o que alguns denominam de paradas prolongadas ou paradas longas. Nos termos dos entrevistados sincalizados: A paralisação acontece no canteiro da fábrica, quando o sindicato consegue furar todos os bloqueios impostos pela empresa com a ajuda da polícia militar, rodoviária e federal. Param todos os carros e pedem para os trabalhadores descerem e prosseguirem andando em passeata, com o objetivo de atrasarem a entrada dos trabalhadores na empresa e assim pressionarem a empresa a assegurar aumento de salário. (entrevistado5). A estratégia é bloquear a passagem do ônibus com os trabalhadores através de meios como emboscadas: prepara-se o horário, chega de surpresa e fecha a BR. Um carro fecha um lado, o outro fecha o outro lado. Você bloqueia as estradas da fábrica, os operários descem para passeatas, pequenas assembléias, ato público. (entrevistado 6). O objetivo é parar por horas os ônibus na portaria como forma de impedir a entrada dos funcionários na fábrica e alertar o patronato sobre a correlação de forças configurada (anexo 8). A intenção é fazer pressão. Caso contrário, não há repasse do reajuste devido, observa um entrevistado. Só no diálogo e na negociação não funciona, tem que ir pra luta. Até porque, a empresa tem o encaminhamento de seus motoristas não abrirem a porta do ônibus para o pessoal descer. Então é parar e fechar, não passa ninguém! Os dados apontam relatos de que fazer manifestação, como por melhorias salariais, é um direito assegurado na Constituição Federal da República. Também foi observado uma postura empresarial que, ao deparar-se com o sindicato reivindicando na porta da fábrica e um número grande de funcionários parados ouvindo, termina por tentar negociar com o sindicato. Este argumenta que a empresa não quer negociar. A empresa, por sua vez, diz evitar confronto, o corpo a corpo empresa/funcionário/sindicato, argumentando não se recusar a negociar, tem proposta e quer fazer, mas o sindicato não quer aceitar. No contraponto, o

115 114 argumento do trabalhador que enfatiza a postura de não negociação empresarial, embora em épocas de paralisação apareça com o slogan: a ALUMAR não parou ainda a negociação, continua negociando. Além da hora, tempo e o próprio processo, outra peculiaridade da estratégia parada na porta da fábrica é a produção que não pára. A questão é a dinâmica da produção da ALUMAR, que é direta e não pode parar. Quando há parada: quem está dentro não pára, e quem está fora não tem como entrar. Não dá para atingir o foco da produção. Há pontos estratégicos cujos equipamentos não podem deixar de funcionar, imprescindindo de quem opere ininterruptamente. O exemplo é o forno que tem que ficar permanentemente aquecido e efetivado por trabalhadores de turnos diversificados. Parar ou não parar 100% da fábrica? Uns consideram necessário a inserção de todos trabalhadores na manifestação; outros não, justificando os limites do trabalho de revezamento de turno, considerado fator de enfraquecimento do movimento. Os dados são de uma realidade que declarava greve pela manhã, às 7 horas, por exemplo, mas antes desse horário a empresa já detinha o pessoal do turno anterior que era obrigado a permanecer trabalhando até o movimento de fora terminar. Greve combina com manutenção de produção? Rodrigues (2002), utilizando os dados da OIT (Organização Internacional do Trabalho), considera como greve os dias perdidos em razão das paralisações provocadas pelos sindicatos e empregados 53. Cardoso (1998), que recorre a Cattani (1997), caracteriza greve como a cessação temporária do trabalho, decidida por um grupo de trabalhadores com o objetivo de ver atendidas suas reivindicações, específicas ou gerais, em certa parte imprevisíveis, expressando possibilidades de mudanças nas relações de produção e na estrutura de poder. É o momento em que o conflito capital/trabalho é acirrado e os trabalhadores partem para uma ação mais combativa. 53 Rodrigues denomina greve como manifestação de conflitos de interesses que pode ser mais aguda ou menos aguda, sem pressupor, inevitavelmente, uma oposição irreconciliável entre o capital e o trabalho. Para o autor, a intensidade do conflito é uma dimensão da ordem social e política contemporânea que varia histórica e geograficamente, reforçando o fato que, empiricamente, são comprovadas significativas diferenças nos índices de greves entre países capitalistas. Na Suíça, por exemplo, as estatísticas mostram anos sem nenhuma ocorrência de greve, o que poderia significar inexistência de conflitos entre o capital e o trabalho, a situação em que os interesses não são irreconciliáveis, mas dependentes também de uma dada cultura e de muitas outras variáveis. A interpretação da greve, como sendo essencialmente a expressão do antagonismo entre proprietários dos meios de produção e trabalhadores forçados a "vender" (mais adequado seria "alugar") a sua força de trabalho, tornou-se problemática nos últimos decênios. A justificativa é a expansão das paralisações no setor público em que os funcionários não se opõem ao capital, mas ao Estado que, nas democracias de massas, está muito longe de ser o "comitê executivo da burguesia. (2002, p ).

116 115 Segundo Cardoso, as causas desse movimento são as mais variadas: questões salariais, lutas por redução da jornada de trabalho, readmissão de trabalhadores, terceirização, mão-de-obra temporária, estabilidade, greves de solidariedade, entre outras. (1998, p.144-5). O real é que parar a totalidade da produção supõe demissão: se parar toda produção da ALUMAR, não será só um ou dez demitidos, mas todos, observa um entrevistado. A questão é manter a fábrica funcionando de forma a não pará-la completamente. Nesse sentido, parada difere de greve, primeiro porque aquela se dá fora e não dentro da fábrica. O movimento pode vir a ocorrer de fora para dentro. A questão crucial é criar obstáculos para os trabalhadores não chegarem ao trabalho. No contraponto, o comentário sobre a dificuldade de o trabalhador participar de uma parada de produção nos horários administrativos, dado a vigilância da chefia, além das ameaças de repressão ao que a empresa considera infração. O argumento é de que fora da área da empresa é mais fácil angariar trabalhadores para o movimento. Em outras palavras, os dados indicam haver paralisações na entrada da empresa, com uma peculiaridade: o processo produtivo não pára. O sindicato fica na porta da fábrica esperando os trabalhadores, sobretudo, os que chegam para trocar o turno na tentativa de fazêlos parar, mas a empresa continua produzindo, enfatiza um entrevistado. Por esse motivo, há quem diga não se tratar de parada, mas mobilização em forma de protesto. Há também quem diga que essa perspectiva de manifestação possa facilitar certa paralisação interna dos trabalhadores dentro da fábrica, quando das orientações para diminuição da produção no momento da manifestação. E há quem diga que possa facilitar certa operação tartaruga. Pois, embora haja produção com a parada, o trabalhador que a mantém vê acrescida, às suas singularidades trabalhistas, sobrecarga e estafa da obrigação de ter que permanecer no serviço até o movimento parar. Segundo um entrevistado: Não é a mesma coisa de uma pessoa que passa 8h trabalhando, para depois dá continuidade a mais 8h, com o corpo estafado. Então deu 8h, os trabalhadores começam a amolecer o serviço, diminuir o ritmo da produção, começam a fazer aquela operação tartaruga, claro que vão trabalhar porque são empregados e dependem de lá, mas cai a produtividade. (entrevistado 10). Agora, há controvérsias sobre o direcionamento dessa manifestação em forma de parada na porta da fábrica. Dentre os entrevistados, uns concordam, outros não. Quem concorda compromete-se em comparecer, participar e acompanhar a parada até o final. Só

117 116 entra na fábrica quando o sindicato libera. Entende serem poucos os funcionários convictos da necessidade de o sindicato insistir mais com suas reivindicações, uma vez que a maioria consente com o acordo feito no sindicato. Os que não concordam, e nem mesmo se dizem intimidados com as situações de confronto postas no movimento, justificam a luta por um reajuste significativo para os trabalhadores, contrariando a aceitação de deliberações impostas pela administração organizacional. Porque se de repente a gente vai pra uma negociação, onde a empresa começa a resistir e a gente, simplesmente, acata então conseqüentemente não tem sentido negociar, comenta um entrevistado. Os dados também atentam para controvérsias entre a proposta de parada da direção do sindicato e a proposta encaminhada pela base. Diga-se de passagem, uma situação que remonta à campanha salarial no início dos anos de 1990, quando o sindicato coordenou a conclusão de uma parada na porta da fábrica a contragosto dos trabalhadores que queriam prosseguir com o pique do movimento. Como observa um entrevistado representativo da oposição sindical: Nós paramos por um dia e os trabalhadores queriam continuar mais dias na porta da fábrica em greve para aproveitar o pique do movimento, mas a direção majoritária do sindicato, considerada minoria na classe, haja vista não ter vínculos com a empresa, não permitiu continuidade do movimento, entendendo melhor ser encerrado ali perante a maioria dos trabalhadores considerados favoráveis. (entrevistado 20). O argumento do sindicato é que se trata de paralisação de advertência com horas estipuladas que não podem ser extrapoladas; caso contrário, será multado. Além do mais, sempre que indica término de manifestação, a diretoria já tem uma posição da empresa se comprometendo em reunir determinada hora e até dar um parecer favorável. No bojo dessa movimentação, há comentários de que o sindicato leva tal situação para apreciação e votação em uma mini-assembléia, cujos resultados asseveram uma maioria não querendo prolongar a paralisação. No contra-senso, o posicionamento dos trabalhadores que se consideram maioria e dizem discordar do resultado da votação, retirando-se indignados. Dentre os entrevistados que manifestaram discordâncias com a condução das paradas na entrada da fábrica pelo SINDMETAL, alguns mencionaram não mais participar de manifestações dessa natureza, embora já tenham participado. Como observado, os dados revelam casos de entrada significativa de funcionários na empresa para cumprir disciplinarmente suas atividades rotineiras, enquanto a parada acontece na entrada da fábrica.

118 117 Algo que, sob a ótica institucional sindical, pode ser resultado da metodologia fica quem quer na paralisação. Mas, há quem fure o bloqueio do sindicato e entre por outra parte na empresa, uma minoria que outros chamam de maioria. E há quem enfatize o caráter obrigatório da parada, dizendo-se forçado a vivenciá-la quando se dirige à empresa em seu horário de trabalho. Com esse perfil, o trabalhador que se diz obrigado a permanecer na paralisação, enfatiza o posicionamento de evitar atritos com a empresa, almejando que tal manifestação aconteça na sua folga ou quando estiver trabalhando. As observações sobre a prioridade do SINDMTAL pela parada na porta da fábrica, em vez de greve, aludem também para o cenário que Jorge Mattoso (1995) chama de insegurança mercadológica das condições de emprego, em um quadro de relevante índice de desemprego, terceirização e precarização, não conduzindo para ocorrência de tal manifestação no contexto. Além da consciência dos trabalhadores não ser considerada adequada para fazer greve no período. Nas palavras de um entrevistado: Sendo a ALUMAR uma empresa capitalista, esse tipo de greve só tem a prejudicar os trabalhadores com demissões, suspensões. Caso alguém fosse demitido, como é que o sindicato ia conseguir o emprego desse pessoal aqui fora. (entrevistado 10). Sob o ponto de vista de um diretor do sindicato: O sindicato sempre se posiciona contra qualquer demissão de trabalhadores, mas no momento fica de mãos atadas porque ele vai para a justiça e sempre a empresa vai ganhar, porque é serviço privado, então ela chega e diz realmente eu vou querer enxugar o quadro aqui. Demissão é uma questão interna à política da empresa. (entrevistado13). Há dados que assinalam descrédito com o sindicato por parte de uma parcela dos entrevistados, por considerá-lo impotente diante das requisições da ALUMAR. As paralisações na portaria são vistas como manifestações voltadas para demarcar espaços. A compreensão é de o SINDMETAL não ter força para lidar com a empresa e nem peso para fazer valer as solicitudes das reivindicações e protestos dos trabalhadores. Nas palavras dos entrevistados representativos da categoria não associada em oposição ao sindicato: O sindicato vai lá para a portaria, faz paralisação, mas a empresa é muito forte e o sindicato é fraco e não resolve nada. São as deliberações empresariais, inclusive de aumento e reajuste, que permanecem mesmo sob pressão de paralisações. A porcentagem que ela define é a que fica. (entrevistado 15). Se os dirigentes ao se depararem com o verticalismo da empresa disserem que não aceitam a proposta e que, por isso, vai acontecer uma assembléia geral com deliberação de greve, os caras vão rir deles! A luta de classes, no caso, específico da ALUMAR, hoje é totalmente favorável pra ela. (entrevistado 19).

119 118 Então as paradas não resultam em ganhos para os trabalhadores? Do universo pesquisado, alguns entrevistados sinalizam ganhos reais pela negociação empreendida com a manifestação; outros não. Os que observam ganhos justificam tratar-se de um momento em que a empresa apresenta-se mais flexível, inclusive, a avançar o processo de negociação. Mas há quem enfatiza ganhos como resultado de uma correlação de força cindida por luta de classes e nunca por compatibilidade de interesses. No geral, os entrevistados observam ganhos com reajustes salariais, não o valor inicial previsto pelo sindicato que faz suas mediações, mas um valor aceitável para todos os funcionários. No bojo das tentativas de negociação por reajuste, o sindicato parte com um índice acima do que pretende alcançar, para aí ter uma margem de discussão sobre um reajuste favorável. Nos termos dos diretores do sindicato: No concreto, depois de muitas rodadas de negociações na maioria das vezes a gente cede um pouco até chegar a uma proposta que seja mais favorável para gente. Exemplo: salário na data base, geralmente se pede um índice bem acima para aí termos uma margem de discussão e decisão. (entrevistado 2). A proposta sindical sempre visa beneficiar o trabalhador e nunca a proposta empresarial que só visa o lucro. Principalmente em matéria de salário, a gente pede uma quantidade x que a gente considera que o trabalhador deva receber. Dificilmente a gente pode conseguir acima da inflação, mas nunca o objetivo realmente pretendido. Quando a gente vai pra uma negociação a gente sabe que não vai receber aquilo que a gente pede, porque são duas forças puxando cada uma para um lado. [...] Não é que o sindicato aceita o que a empresa quer e nem a empresa aceita o que o sindicato quer, mas chegam a um denominador comum. (entrevistado 13). Entre as considerações que atribuem ganhos com a manifestação, destaque para casos de marcos, a parada que marcou. O exemplo é a luta pela reposição salarial durante o período de 1997 e 2003 e pelo aumento de 4 para 5 do número de turnos de revezamento em Segundo relato, a parada em 1997 interrompeu o trânsito de 07h30min até ao meiodia com a empresa tentando furar o bloqueio do sindicato, inclusive indo pegar em casa trabalhadores em folga, além de chamar a polícia. Com a manifestação, fechou a negociação. A parada de 2003 durou 4 horas com o resultado de reposição da inflação. Além disso, trouxe à cena o episódio em que os trabalhadores ficaram na frente do ônibus, ameaçando permanecer em greve na empresa durante à noite até a manhã seguinte do outro turno, caso o colega detido por entregar material da manifestação não fosse liberado. Em meia-hora o dirigente foi liberado. A manifestação pelo aumento do número de turnos deu-se em um revezamento de 23:30 às 7:30, estando o sindicato posicionado a parar todos os ônibus com itinerário para a empresa, recorrendo à tática furar pneus de ônibus, enfrentando a

120 119 segurança da ALUMAR e da polícia acionada para intimidar o movimento, inclusive com prisão de dirigentes. A notícia foi veiculada nos jornais. Os argumentos que assinalam não ganhos com a parada justificam a incompatibilidade de interesses dos envolvidos no processo, contrastando com os dados que apontam compatibilidades. Por exemplo, dos 25 entrevistados, 9 apontaram compatibilidades e 16 não compatibilidades entre a proposta empresarial e o anseio dos trabalhadores. Os demais entrevistados perfizeram a totalidade dos trabalhadores que não lembraram da questão indagada. Houve quem observasse casos de incompatibilidade entre as perspectivas da empresa e do sindicato, considerando tratar-se de classes sociais opostas, interesses opostos. Entende tratar-se de forças contrárias, com percepções e anseios, que no caso dos trabalhadores, são diferentes da empresa, cuja tendência é explorar mais a classe trabalhadora, embora eventualmente divulgue preocupações sociais, o interesse final está relacionado ao lucro. Agora, há discussão que radicaliza observando discrepâncias entre uma proposta do sindicato com 10% de reajuste salarial e a empresa com a proposta de 1,5. Segundo os trabalhadores não associados e vinculados à oposição sindical: Sempre existiram incompatibilidades. Sempre a proposta de uma parte era diferente da proposta da outra, dificilmente chegava-se a um consenso, pois havia algum tipo de divergência. O sindicato colocava uma determinada proposta que, lógico, não era aceita pela empresa. E assim sucessivamente. Às vezes a empresa também colocava uma proposta que também não era concernente ao que os trabalhadores pediam. Então ficava uma divergência, mas em determinado tempo de negociação isso chegava a um consenso. E geralmente o sindicato tinha que aceitar mais alguma coisa que era imposta pela empresa, porque senão não saia o acordo que a empresa praticamente obrigava a parte sindical a aceitar. (entrevistado 18). As perspectivas da empresa e do sindicato são absolutamente incompatíveis, por serem de classes sociais opostas, interesses opostos. É o capitalista que pode eventualmente até ter preocupações sociais, mas sem dúvida alguma, o interesse final está relacionando ao lucro. Se houver algum ganho, nunca é por compatibilidade de interesses, sempre por correlação de força nessa luta de classes. Então, a visão da empresa sempre será a de produzir o mais rápido possível com o mínimo de custos. (entrevistado19). Os dados apontados por Rodrigues (2002) sinalizam uma concepção de sindicato enquanto organização permanente de trabalhadores assalariados formalmente destinada a tentar obter vantagens para seus associados, ou para o conjunto dos trabalhadores mediante negociações com as empresas e com o Estado, pressões políticas e outros meios de atuação. O autor propõe exclusão de algumas alternativas de mudança para que o termo "sindicato" continue válido. Entende que a metamorfose dos sindicatos atuais

121 120 em cooperativas, em sociedades de auxílio mútuo, ou mesmo em company unians, descaracteriza o sindicalismo tal como existe atualmente em qualquer de suas formas. Sinaliza que embora o sindicalismo possa ter várias faces, o abandono definitivo da face oposicionista e revindicatória significa uma mutação tão profunda que não mais se poderia falar em sindicalismo. Em suas palavras: Parece difícil que, sem alguma dose de movimento social, de oposição, de potencial conflitivo - que pode ser mais forte ou mais fraca o sindicalismo, tal como o estivemos analisando, possa sobreviver. Entendemos que, a fim de que uma associação possa ser classificada como um sindicato, é essencial algum componente de oposição aos que estão em situação de comando numa relação de emprego, mesmo que as características desse componente possam variar nacionalmente, que o coeficiente oposicionista seja fraco, que o conteúdo e a dimensão da oposição sejam nacionalmente diferentes e que estejam sujeitos a variação, inclusive dentro de correntes sindicais no interior de um mesmo país. Está suposta aqui a idéia de que existe alguma divergência de interesses entre de um lado a administração das empresas e de outro os empregados. (RODRIGUES, p.2002, p.297). Diga-se de passagem, Rodrigues (2002, p.297) não trabalha a tese da incompatibilidade total e irreversível entre o capital/trabalho, assim como não exclui a possibilidade de aparecimento de novas estratégias, táticas e objetivos. Mas considera que essas alterações estratégico-táticas devam ser fixadas visando à obtenção de vantagens para os trabalhadores em uma relação de conflito e cooperação com os empregadores, mesmo que esse objetivo, na relação empregatícia, não consiga ser alcançado ou se revele equivocado, observa o autor. Uma questão parece-me central nesse debate: a impossibilidade de integrar trabalho com capital. Mészáros (2002), ao discutir essa questão, aponta que o trabalho ou é antagonista estrutural e a alternativa sistêmica do capital, ou permanece à parte estruturalmente, subordinado e ameaçado pelo processo de auto-reprodução ampliada do capital, destituído de poder. A idéia de uma greve política é apontada como proposta radicalmente diferente para Mészáros, pois entende que seu sucesso deva ter em vista uma mudança fundamental na própria ordem sócio-reprodutiva; de outro modo, seu impacto, como nas greves gerais do passado, será em seguida anulado. O autor de Para Além do Capital adverte para o fato de o exercício da força negativa do trabalho existente, mesmo na sua parcialidade, ser insustentável a longo prazo. A sustentabilidade estaria na força potencialmente positiva, dada a sua própria natureza não se limitar à busca de objetivos parciais. Daí entendê-la como alternativa sistemática ao modo de controle do capital, que deve considerar a si próprio como o princípio estrutural radical do sócio-metabolismo como um todo. Nos termos do autor:

122 121 Qualquer que seja a maneira com que o olhamos - quer em sua negatividade parcialmente contestadora, quer como a potencialidade positiva da completa transformação socialista, torna-se claro que sob nenhuma circunstância pode alguém pensar no poder do trabalho compartilhado com o capital (ou ao contrário), apesar das ilusões tão bem conhecidas das resultantes e derrotas do reformismo parlamentar. (MÉSZÁROS, 2002, p.838). Em um outro recorte e realidade, Alves (1992) tratando dos desafios do sindicalismo em Marx e Engels, observa que a existência de um sindicato, seja qual for o grau de colaboracionismo dos líderes sindicais, reafirma a intransponível diferença entre o capital e o trabalho, fato por demais perturbador para os capitalistas e defensores da ordem do capital. De Engels, diante dos sindicatos em 1881, Alves enfatiza: enquanto durar o sistema de trabalho assalariado, só a existência dos sindicatos já é uma prova suficiente da luta dos operários contra o capital, da existência de duas grandes classes antagônicas. E interrogou: Se não lutassem contra as arbitrariedades do capital, para que serviriam?. Alves aborda a perspectiva para os sindicatos (e as greves) em Marx e Engels: servir para construir o proletariado como classe que luta pelo poder político, como meio de abolição do regime capitalista (ALVES, 1992, p.79). Em sua análise: Marx pôs como referência ontológica do próprio modo de ser do operário, a luta de classes. A própria concepção de sindicatos e sindicalismo, enquanto organizações operárias, vinculava-se à perspectiva da greve contra o capitalista, personificação do capital. [...] a greve, a insatisfação, a rebeldia eram, para Marx, intrínsecas ao modo de ser do proletariado, a classe cujo movimento tendia a abolir o sistema capitalista. (ALVES, 1992, p.209). Em um outro trecho: Além de reconhecer o valor das lutas sindicais, Marx não deixou de destacar a necessidade estrutural delas. As lutas econômicas faziam parte da própria condição operária, eram intrínsecas à própria condição de mercadorias da força de trabalho. A perspectiva de Marx (e Engels) sobre o fato de que o sindicalismo e os sindicatos eram uma condição própria do mundo industrial capitalista demonstrou ser correta. Eles acreditavam que enquanto houver capital, haverá resistência dos operários e os sindicatos eram a forma principal de resistência cotidiana dos trabalhadores assalariados. (ALVES, 1992, p. 210). A proposta de colaboração sob coação e pressão, o crescimento da produção industrial e seus certificados de qualidade, acompanhados de sobrecarga de trabalho e de uma política de redução de custo, com destaque para o aspecto pessoal, entre outras, nos lembram também a perspectiva de incompatibilidade do capital com o trabalho na indústria

123 122 metalúrgica. O âmbito do trabalhador que vivencia a contemporaneidade no processo produtivo, como no chão de fábrica, por exemplo, recorda a situação citada. Por aqui, metas requisitam empenho: capital para empresa e intensificação de trabalho para o operário. Diria tratar-se de uma convivência norteada por emulativos coativos. A coação é modelada pela dominação por parte dos que exercem posição hierárquica superior, o que, por sua vez, já tem engendrado um perfil de subordinação. Não há negociação e nem parcerias, menos ainda trocas pelos resultados alcançados. Os trabalhadores se entrelaçam na posição de meros receptores de objetivos, metas e cronogramas previamente estabelecidos para assegurar a rentabilidade requisitada. É a imposição se fortalecendo na coação, que se alimenta nas estratégias de pressão. Comprometimento por metas sob coação! Talvez seja esse o fator propulsor de produtividade nos últimos anos. Se os trabalhadores têm ganhos com a parada na porta da fábrica, as respostas são variadas. O fato é que, se já parece regressão a prioridade do SINDMETAL por parada de horas em vez de greve, qual denominação equivaleria à observação que nem mesmo essas paradas acontecem na entrada da fábrica? Há quem diga que, desde 1993, época do racha na diretoria do sindicato e da demissão de lideranças engajadas na luta pelos direitos dos trabalhadores, o sindicato não coordena paralisações. A justificativa são os jornais locais que desse período para cá não têm veiculado notícia sobre paralisação de trabalhadores na ALUMAR. A manifestação pode até parar a maioria vinculada ao sindicato, mas não a totalidade dos trabalhadores e, tampouco, traz impactos para o itinerário produtivo, que não pára, mesmo com o bloqueio do sindicato na BR e, em alguns casos, em bairros considerados estratégicos para o trajeto da empresa. Muito menos traz impactos em termos de organização interna dos trabalhadores dentro da fábrica, até por conta de mecanismos como pressão, controle e vigilância, partícipes da gestão organizacional. Segundo um entrevistado: Trabalhador parar? Existiu isso no passado, não depois de Daqui não existiu nenhuma parada mais. Eles vão pra lá, param aqueles do sindicato, mas os trabalhadores da ALUMAR não param. Agora, há quem diga que quando o sindicato tinha credibilidade suas manifestações envolviam um significativo número de trabalhadores que participavam com força. Dentro da fábrica permanecia só a minoria, a maioria aderia às paradas de protesto. (Operador da Sala de Cubas). É possível que o movimento regrida no fato de não ser precedido por uma organização interna dos trabalhadores dentro da fábrica? Na esteira do debate, a perspectiva de ser desencadeada uma organização interna dos trabalhadores dentro da fábrica capaz de repercutir um movimento de massas com horizontes fincados em um trabalho de base. No

124 123 contraponto, o argumento enfatizando que a chamada de trabalhadores para adesão maciça em uma greve sempre se faz acompanhar pela justificativa: medo de perder emprego. O trabalhador teme participar de greves, porque ali já está em jogo a sua estabilidade empregatícia. Enfim, considerando os limites postos pelo quadro mercadológico, inclusive, local onde a ALUMAR desponta como empreendimento de ponta que oferece melhores condições de trabalho e salário, a parada se apresenta como alternativa viável de atuação sindical. O que importa é fazer pressão, até mesmo no sentido de chocar a política de participação e negociação prevista pela política organizacional da empresa. O que importa são os resultados concretos em termos de ganhos, sobretudo, salariais. Dos limites de uma manifestação com o tempo determinado à potencialidade da luta sindical: a parada na porta da fábrica! Ademais, a realidade vem apontando que a proposta de paralisação de horas e não de dias, característica que Leôncio Rodrigues (2002) considera necessária para conceituar greve, não se constitui entrave para o trajeto do SINDMETAL. Pelo contrário, é vista como manifestação viável de ser consolidada no campo possível do capital. As tendências de análises apontam mudanças na prioridade estratégico-tática do SINDMETAL, além de requisitar outras estratégias e táticas. Os dados são de que hoje, reivindica-se substituição da estratégia confronto sindical com o capital por uma estratégia que propõe proposição/negociação/participação entre partes; no contraponto, a compreensão de uma proposta regida pelo capital e distante dos movimentos autônomos da classe. As novas tendências apontam mudanças na forma de administrar o conflito. Antes de furar pneus de ônibus, práticas de negociação com a empresa. A intenção é esgotar todos os recursos disponíveis na mesa de negociação antes que o início do movimento seja deliberado. Em vez da greve, como principal instrumento de pressão dos trabalhadores, paralisação na entrada da fábrica e com produção intocável. A tendência é evitar manifestações prolongadas: prioriza-se movimentos de curta duração, com a perspectiva de trabalhar o possível dentro da ordem do capital. O perigo é sobrevalorizar o exercício de uma atuação ao dispor do empresariado, dado o quadro intransponível das relações capital/trabalho, quando a meta por intensificação de trabalho e lucro conjuga com desemprego, terceirização e exército de trabalhadores em reserva.

125 124 CONSIDERAÇÕES FINAIS Possibilidades de questões com a indicação de aprofundamentos ulteriores. Com esse intento, apresento as considerações alusivas a uma pesquisa e análise no âmbito das estratégias sindicais no quadro da sociabilidade do capital. A intenção é esboçar o debate sobre os desafios que a contemporaneidade aponta para a atuação estratégico-tática sindical, captando as possibilidades da luta de classes, especificamente na organização à qual se vincula a metalurgia de ponta localizada no solo maranhense. A referência inicial partiu do encaminhamento das reivindicações e conquistas do SINDMETAL, pretendendo esboçar uma panorâmica do potencial de luta empreendido durante as duas últimas gestões concretizadas nos períodos de e Dois são os veios analíticos problematizados em uma mesma abordagem: O discurso da direção sindical e sua concretização interpretada em forma de contradiscurso, o outro lado da moeda. Do discurso apologético a uma perspectiva de classe, e entendendo a relevância das questões estruturais para a análise do objeto, o trato dos resultados da pesquisa sintetizado nesta tese inicialmente apresenta o capítulo da apologia à crítica: o sindicalismo no tempo. O entendimento é que a realidade vivenciada pelo SINDMETAL não é peculiaridade desse sindicato, mas partícipe de uma tendência mundial do capitalismo contemporâneo: uma tendência que incentiva recordes de produção, perdas de postos de trabalho e aprofundamento da situação de desemprego. O trato do capítulo destaca o processo de produção ampliada do capital, os aspectos relativos à apologia e à crítica a esta, considerada retrocesso. Em vez de sindicalismo propositivo e negociador, a não ser que destaque o aspecto subordinação à lógica do capital, as considerações são de um neocorporativismo ou defensivismo. Do discurso ao debate: a realidade. As conclusões sinalizam o âmbito estratégicotático para além das requisições fabris. São diversos os encaminhamentos do SINDMETAL: empenho por melhoria salarial; condições de trabalho, a exemplo da luta permanente pela manutenção dos cinco turnos ininterruptos de revezamento; comunicação e informação via Rádio Capital e Jornal Marreta Neles; auxílio educação através de convênios com faculdades particulares; serviços médico-odontológicos e jurídicos; lazer mediatizado nos serviços de infra-estrutura na área recreativa do sindicato; sindicalização; articulação sindicato/sociedade; negociação representação patronal e sindical e paralisação na entrada da fábrica.

126 125 Desses encaminhamentos dois destaques. Um que diz respeito à ênfase à proposta de negociação, assinalando o discurso empresarial apregoado e a crítica a esse discurso, abordado como perspectiva falaciosa de negociação. Uma perspectiva em que sindicato se posiciona como mero receptor de metas verticalmente estabelecidas pelo plano operacional da ALUMAR. Não há negociação, menos ainda trocas pelos resultados alcançados. Antes, incompatibilidade entre os interesses da empresa e do sindicato, considerando tratar-se de classes sociais opostas. Os dados sinalizam o aspecto imposição se fortalecendo na coação, que se alimenta nas estratégias de pressão. Comprometimento por metas sob coação! Esse vem sendo um fator propulsor de produtividade nos últimos anos. O horizonte é fazer com que as negociações locais sejam integradas ou respaldadas por negociações nacionais e de âmbito inclusive internacional. A dificuldade talvez resida na consecução de uma rede mais ampla de unidades locais de trabalho em lugar de lideranças isoladas. Outro destaque refere-se à ênfase à pressão psicológica aí gestada. Pesa a condição de ponta da empresa no circuito industrial mundial e local, sobretudo, considerando a situação de estimulo à instabilidade de emprego, terceirização e acirramento do desemprego no mercado. Pesa o setor de recrutamento instalado na empresa, jovens dispostos a trabalhar sob condições inferiores que os da ativa e a perder direitos historicamente conquistados pela organização sindical. Diga-se de passagem, o medo de pôr em xeque sua suposta segurança no emprego é um sentimento que tem condicionado o trabalhador a agir em conformidade com as exigências de produção apresentadas pela empresa. As ameaças de represálias, não promoção e até demissão, caso o trabalhador participe de movimentos coordenados pelo sindicato, ou até mesmo se sindicalize, nem se fala. Na mira do debate, o auge do medo em forma de temor do trabalhador à possibilidade de engrossar o quadro de acidentados, não pelo dano físico daí decorrente, mas por possíveis impactos no cronograma previsto para a produção, pela possibilidade de ser considerado infrator da política de segurança da empresa, o que pode levá-lo à demissão. Com o capítulo O SINDMETAL e o campo das reivindicações e conquistas, o escopo inicial foi esboçar a proposta de organização dos trabalhadores em âmbito internacional no quadro contemporâneo das relações capital/trabalho, e com horizontes de estratégias direcionadas para além das requisições empresariais e de âmbito internacional. Seguem as considerações sobre a dinâmica estratégico-tática do SINDMETAL no trato das reivindicações, destacando melhoria salarial e condições de trabalho, como a luta permanente

127 126 pela manutenção dos cinco turnos ininterruptos de revezamento. O desafio é partir do trato das estratégias para o âmbito das relações sindicais. Tempos modernos em um novo tempo: o tempo do SINDMETAL, novas e clássicas estratégias. Enfim, os dados também observam mudanças de estratégias e táticas. Mudanças que acontecem em um contexto determinado e em consonância com a processualidade da organização sindical. O percurso marx-engelsiano, por exemplo, apresenta diferenciais no trato das estratégias e táticas sindicais. As referências são os momentos históricos distintos aos quais se alude o debate sobre coligações operárias, movimento luddista, ditadura do proletariado, sufrágio e agitação eleitoral. É oportuno lembrar as observações relativas aos avanços conquistados pelo movimento em sua processualidade histórica. As requisições de organização em âmbito nacional, como previam as coligações operárias permanentes, estendem-se para uma proposta de organização internacional, enfatizando a necessidade de um centro de comunicação e cooperação entre as sociedades operárias de diversos países, tal como observam os Estatutos da Associação Operária (1977b). Com o tempo do SINDMETAL: um novo tempo, apesar dos perigos, o aspecto mudança, enquanto partícipe da história do SINDMETAL, percorre do período de clandestinidade vivenciada - pelos primeiros sindicalizados - até em função do confronto da ALUMAR com o sindicato, à proposta de negociação entre representação patronal e sindical. Sob a outra face da moeda, as considerações são de uma proposta de colaboração ou conciliação com interesses da empresa. Vale dizer, uma diretoria que vivencia divergências internas, culminando com uma ruptura de grupos no início dos anos noventa. São, por um lado, trabalhadores vinculados ao processo produtivo e à base; por outro, dirigentes representativos do sindicato, alguns desprovidos de vínculos empregatícios com a empresa. O período posterior a essa ruptura, segundo a direção, é de avanços no trajeto do SINDMETAL, tanto na negociação entre a representação patronal e representação sindical, a exemplo da gestão de 1997 a 2000, quanto em termos de alta no tocante à sindicalização, como na gestão de No contraponto, o argumento sobre a diminuição dos associados vinculados à ALUMAR, o que já sofre conseqüências da gestão anterior em termos de baixa, asseverando queda no índice de sindicalização, sobretudo, na primeira gestão. Outras táticas, novas táticas e um projeto de classe delineado! Ao lado do clássico encaminhamento greve que deixa de ser o principal instrumento de pressão do sindicato, as conclusões enfatizam ganhar espaço na dinâmica contemporânea táticas, como denúncia

128 127 pública, manifestações de rua, bloqueio de estradas e vias públicas, trabalho formiga, bocaboca, entre outras. Em vez de furar pneus de ônibus, prioriza-se o discurso de conscientização do trabalhador, mesmo que se trate de uma perspectiva subserviente às determinações da política empresarial. Uma peculiaridade do contexto: evitar conflitos prolongados, preferemse movimentos de curta duração. Detalhe: desde que esgotadas todas as possibilidades de negociação, acordos e desacordos com o patronato, com a manifestação se apresentando como último recurso possível. Em vez de greve - até pela ausência de uma organização interna dentro da fábrica - manifestações reivindicatórias e de protestos com tempo determinado na entrada da fábrica. A estratégia inicia paralisando os ônibus na portaria, com fins de atrasar a entrada dos trabalhadores na empresa, constituindo-se em uma situação de alerta para o patronato. Mas, a produção não pára. Além da hora, tempo e a própria singularidade do processo, comparada à dinâmica da greve, a manifestação segue os requisitos de uma produção direta que não pode parar. Agora, há quem diga que essa perspectiva de paralisação possa facilitar uma certa operação tartaruga com o trabalhador cansado de sua jornada sendo obrigado a permanecer no serviço até o movimento parar. Novas táticas, apesar dos perigos engendrados no quadro das relações capital/trabalho, quando a meta lucro significa intensificação de trabalho, terceirização, além de pressão diante do exército de indivíduos recrutados como reserva no setor de recrutamento da empresa. Ora, se a prioridade é por paralisação de horas e não de dias, qual denominação equivaleria à observação de que nem mesmo essas paradas acontecem com a intensidade divulgada na entrada da fábrica? As evidências são de uma significativa entrada de funcionários na empresa, enquanto a manifestação acontece. Há quem enfatize o caráter obrigatório da parada e torça para que ocorra no momento de sua folga, ou quando estiver trabalhando. Os dados são de uma manifestação com possibilidades de parar a maioria vinculada ao sindicato, mas não a totalidade dos trabalhadores. Tampouco traz impactos no itinerário produtivo da ALUMAR, que não pára, mesmo com o bloqueio do sindicato na BR que dá acesso à empresa e nos bairros por onde transitam seus ônibus. As conclusões destacam a terminologia novas táticas e um projeto de classe delineado, enfatizando o componente oposicionista e reivindicatório como vital no processo de atuação sindical. Tese que possibilita diferenciar o sindicalismo de uma sociedade de auxílio mútuo, cooperativa. O sindicato pode até contemplar essa peculiaridade de atuação, mas tendo como arranque a convicção de que, enquanto houver capital, haverá resistência dos

129 128 operários; e os sindicatos, a forma principal de resistência cotidiana dos trabalhadores assalariados. Com essa panorâmica, o que posso assinalar em termos de desafios para o SINDMETAL? Trabalhar com a perspectiva de que há mudanças na forma de tratar divergências entre partes, entendendo o confronto como importante estratégia, é uma possibilidade. Antes, novas táticas e um projeto de classe delineado! Um projeto que prevê outras, além das estratégias encaminhadas pelo SINDMETAL. Considero relevante o desempenho de atividades parciais ou defensivas, desde que articulado a um horizonte além do quadro empresarial requisitado, até no sentido de reverter as demandas do capital ao dispor dos trabalhadores. A perspectiva é reforçar a articulação de necessidades imediatas como salários, direitos, condições de trabalho a um projeto além do capital. É extrapolar o espaço da produção generalizando para um movimento de contestação e confronto à lógica do capital. De já, duas questões: diante do atual quadro mercadológico em que transita a empresa metalúrgica, qual o papel do SINDMETAL? Que estratégias poderiam direcioná-lo a posicionar-se para além do possível requisitado pelo monopólio industrial? Considero pertinentes as paralisações de horas que acontecem na porta da ALUMAR, até como arranque de organização. Agora, observando as deliberações do capital internacional, necessário se faz avaliar as condições de concretização de manifestações que possam obstaculizar o acesso completo à produção. A proposta de greve, para além das paradas, apresenta-se como valioso instrumento de pressão e organização. Até pela radicalidade de parar a produção da mais-valia e, com ela, o processo produtivo que se requisita ininterrupto. A questão é como ter assegurado respaldo e legitimidade da base, compreendendo a necessidade de uma intervenção política junto à massa recrutada como reserva. No calor do debate, a expectativa de ser desencadeada uma organização interna dos trabalhadores dentro da fábrica com capacidade de repercussões em um movimento de massa fincado em um trabalho de base e de âmbito internacional. E aí relevante o trabalho educativo que pode ser desencadeado pelos diretores do sindicato que trabalham na fábrica. O boca a boca no refeitório, banheiro, caminho até o ponto do ônibus, entre outros espaços, pode concretizar essa perspectiva de trabalho de base, bem como estimular o aparecimento de novos sócios e líderes. A sugestão é de que o SINDMETAL intermedeie um trabalho de formação que dê acesso a um conhecimento teórico na perspectiva da classe trabalhadora.

130 129 Urge trabalhar quadros de dirigentes revolucionários para a classe. Na mira, o horizonte de que galo gaulês ainda há de cantar em seu despertar, divulgando o predomínio de uma luta sindical além das requisições do capital.

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137 ANEXOS 136

138 ANEXO 1 137

139 ANEXO 2 138

140 139

141 ANEXO 4 140

142 ANEXO 5 141

143 ANEXO 6 142

144 ANEXO 7 143

145 ANEXO 8 144

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