DO AGENTE CAUSAL DA ANTRACNOSE DO PIMENTÃO

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1 ÓLEO ESSENCIAL DE Lippia sidoides NO CONTROLE in vitro DO AGENTE CAUSAL DA ANTRACNOSE DO PIMENTÃO Emmanuelle Rodrigues Araújo¹, Rejane Rodrigues da Costa e Carvalho¹, Cristina dos Santos Ribeiro Martins¹, Aldemo Adriane Duarte de Santana¹, Maria Geane Fontes¹, Arie Fitzgerald Blank², Delson Laranjeira¹ ¹Universidade Federal Rural de Pernambuco, Departamento de Agronomia - DEPA, Programa de Pós- Graduação em Fitopatologia, CEP , Recife, PE, manucg@gmail.com; rejanercosta@yahoo.com.br; crisriibeiro@hotmail.com; adelmoadriane@ig.com.br; geane_fontes@yahoo.com; delson@depa.ufrpe.br; ²Universidade Federal de Sergipe, Departamento de Fitotecnia, CEP , Aracaju-SE, arie.blank@gmail.com RESUMO Dentre as doenças do pimentão (Capsicum annuum L.) a antracnose é considerada uma das mais importantes, a nível mundial. O agente patogênico responsável por esta doença é o fungo pertencente ao gênero Colletotrichum. No controle da antracnose, uma série de medidas de controle pode ser tomada, entretanto a aplicação de produtos químicos continua sendo o método mais difundido. Por este motivo, os níveis de resíduos de agrotóxicos em pimentão in natura, atualmente, é um dos mais elevados. Como alternativa ao uso dos compostos químicos, os produtos alternativos, como óleos vegetais, estão sendo cada dia mais pesquisados e utilizados. Este trabalho teve como objetivo avaliar a ação de óleo essencial de Lippia sidoides nas concentrações de 0,1; 0,2; 0,3; 0,4 e 0,5 µl/ml no controle de Colletotrichum sp. in vitro. O experimento foi realizado em delineamento inteiramente casualizado com seis tratamentos (cinco concentrações e testemunha) e três repetições cada. Após dez dias de incubação em câmara a 25ºC e fotoperíodo de 12 horas, procedeu-se a avaliação através da medição dos diâmetros das colônias e percentual de inibição em relação à testemunha. As médias foram comparadas pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade. Os resultados demonstraram que a partir da concentração de 0,3 µl/ml o óleo essencial de L. sidoides inibiu 100% o crescimento micelial de Colletotrichum sp. De acordo com os resultados obtidos, pode-se inferir que a espécie Lippia sidoides é uma alternativa para o controle da antracnose do pimentão. PALAVRAS-CHAVE: Colletotrichum sp., alecrim-pimenta, controle alternativo ABSTRACT Essential oil of Lippia sidoides in vitro control of causal agent of pepper anthracnose Among the diseases of pepper (Capsicum annuum L.) anthracnose is considered one of the most important worldwide. The pathogen responsible for this disease is the fungus of the genus Colletotrichum. For anthracnose control, a series of measures control can be taken, however the application of chemicals products is the most common method. For this reason, the levels of pesticide residues in fresh peppers, is currently one of the highest. As an alternative to the use of chemical compounds, alternative products, such as vegetable oils, which are being increasingly studied and used. This study aimed to evaluate the effect of Lippia sidoides essential oil at concentrations of 0.1, 0.2, 0.3, 0.4 and 0.5 µl/ml in the control of Colletotrichum sp. in vitro. The experiment was conducted in a completely randomized design with six treatments (five concentrations Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2127

2 and control) and three replicates each. After ten days of incubation at 25 C and photoperiod of 12 hours, it was proceeded to evaluate by measuring the diameters of colonies and percentage of inhibition compared to control. Means were compared by Scott-Knott test at 5% probability. The results showed that at concentrations of 0.3 µl/ml, the essential oil of L. sidoides inhibited 100% the mycelial growth of Colletotrichum sp. According to the results obtained, it can be inferred that the species Lippia sidoides could be used as a natural fungicide for control of anthracnose of pepper. Keywords: Colletotrichum sp., alecrim-pimenta, alternative control Capsicum L. é o gênero botânico pertencente a família Solanaceae, que abrange as pimentas e os pimentões, hortícolas que apresentam como centro de origem as Américas e o México Central, onde são cultivadas desde, aproximadamente, 7000 anos a.c. (Bianchetti, 1996). O pimentão (Capsicum annuum L.) apresenta extensa diversidade, tanto em formas, sabores, bem como uma grande variedade de cores, o que demonstra ampla variabilidade genética. É uma planta de clima tropical, desenvolvendo-se e produzindo mais sob temperaturas relativamente elevadas ou amenas, sendo intolerante a baixas temperaturas e a geadas (Filgueira, 2005). O pimentão (Capisucum annuum L.) é uma das mais importantes hortaliças cultivadas no Brasil. Os frutos são consumidos no ponto de maturação comercial, como também são utilizados na indústria alimentícia para produção de pigmentos (Reifschneider & Ribeiro, 2004). As variedades mais conhecidas são o pimentão verde, o amarelo e o vermelho, que são ótimas fontes de vitamina A e C, cálcio, fósforo, ferro e sódio e possui poucas calorias (ABH, 2010). Essa cultura é bastante afetada por fitopatógenos, os quais são conhecidos por acarretar sérios danos econômicos ao cultivo. Uma das doenças mais limitantes ao sistema de produção de pimentões é a antracnose. As antracnoses são descritas como lesões necróticas profundas e delimitadas nos tecidos (Bailey & Jeger, 1992). A doença é favorecida pela suscetibilidade do hospedeiro bem como às condições climáticas, como alta temperatura e umidade. Nos frutos de pimentão, as lesões da antracnose geralmente apresentam coloração alaranjada, que corresponde a uma massa de conídios produzidos juntos a uma mucilagem solúvel em água, por esta razão a doença torna-se mais destrutiva em períodos de chuva e alta umidade (Viana et al., 2007). Em sementeiras ocorre o tombamento das plântulas; em folhas, manchas circulares escuras; necrose no caule e lesões circulares nos frutos. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2128

3 Como já mencionado, apesar de causar doença em toda a planta, o que é mais comum se de verificar e mais importante a níveis econômicos, é a antracnose nos frutos, na forma de lesões circulares, deprimidas e de coloração escura, que podem atingir diferentes diâmetros e de onde emerge a massa de esporos de coloração alaranjada, muitas vezes com a formação de anéis concêntricos típicos (Lopes & Ávila, 2003; Pernezny et al., 2003). Os frutos de pimentão colhidos doentes tornam-se imprestáveis para comercialização e consumo e, ainda que não apresentem sintomas, estes ainda podem se manifestar na pós-colheita, causando grandes percentuais de perdas. No controle da antracnose, uma série de medidas de controle pode ser tomada, entretanto a aplicação de produtos químicos continua sendo o método mais difundido. Por este motivo, os níveis de resíduos de agrotóxicos em pimentão in natura, atualmente, é um dos mais elevados. Em pesquisa realizada pela Avisa, no Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (ANVISA, 2009), avaliando os níveis de resíduos de agrotóxicos em 17 alimentos in natura, verificou que o pimentão foi o que apresentou maiores níveis de resíduos. Pensando nestes índices cada vez maiores de produtos químicos que estão sendo lançados tanto no ambiente, como entrando diretamente em contato com o homem, algumas medidas de controle alternativas devem ser utilizadas, visando o controle dos fitopatógenos. Com base na necessidade da utilização de métodos mais seguros, eficientes, econômicos e que não sejam poluentes têm-se estimulado e intensificado a busca por métodos alternativos de controle de doenças de plantas cultivadas, como é o caso do uso de óleos vegetais (Stangarlin et al., 1999). Os produtos naturais, como os óleos essenciais vem sendo cada vez mais utilizados como uma alternativa ao uso de produtos químicos (Souza et al., 2007). Apesar destes produtos naturais, originados de plantas, serem conhecidos há séculos, as pesquisas nesta área só tomaram maiores proporções nos últimos vinte anos. Considerando que existe uma ampla diversidade de substâncias presentes nas plantas, existem grandes possibilidades de se encontrar metabólitos que apresentem potencial contra fitopatógenos, que no futuro possam servir de base para síntese de novos fungicidas. A exploração da atividade antimicrobiana e/ou elicitora de defesa utilizando compostos secundários presentes nos extratos ou óleos essenciais de plantas, constitui-se em mais Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2129

4 uma forma potencial para controle de doenças em plantas cultivadas (Schwan-Estrada & Stangarlin, 2005). O gênero Lippia pertence à família Verbenaceae e apresenta aproximadamente 200 espécies de ervas e arbustos (Terblanché & Kornelius, 1996). Entre as espécies nativas do nordeste brasileiro e de importância econômica, destaca-se a Lippia sidoides, popularmente conhecida como alecrim-pimenta, alecrim-do-nordeste, alecrim-bravo e estrepa-cavalo (Innecco et al., 2000; Matos, 2002). As folhas e flores constituem as partes mais utilizadas na medicina. Segundo Matos (2000), seu óleo essencial apresenta valor comercial elevado pelo fato de possuir timol ou uma mistura de timol e carvacrol, que são dois terpenos fenólicos com fortíssima propriedade antimicrobiana e antiséptica. Desta forma, este trabalho objetivou realizar investigação do uso de diferentes concentrações de óleo de Lippia sidoides no controle alternativo in vitro do crescimento micelial do agente causal da antracnose em pimentão. MATERIAL E MÉTODOS Os isolados de Colletotrichum spp. foram isolados de frutos de pimentão com sintomas de antracnose oriundos de pontos de comercialização de produtos orgânicos da cidade de Recife-PE. As amostras foram conduzidas e processadas no Laboratório de Patógenos Radiculares, Programa de Pós-Graduação em Fitopatologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco. O tecido vegetal sintomático, foi desinfestado em NaClO (1:3) por 60 segundos e em seguida lavados 2x em água destilada esterilizada (ADE), seguindo de posterior transferência para placas de Petri contendo meio batata-dextrose-ágar (BDA). Os isolados foram incubados durante dez dias em temperatura de 28 C. Obtenção do óleo essencial de Lippia sidoides O óleo foi extraído de plantas de L. sidoides, obtidas do Banco de Germoplasma da Universidade Federal de Sergipe (UFS). As folhas foram secas em estufa de secagem com ar forçado até massa constante. Posteriormente foi adicionado 1L de água destilada em 100g das folhas previamente secas, de onde o óleo essencial foi extraído pelo método de hidrodestilação com destilador tipo Clevenger (Guenther, 1972), acoplado a um balão de vidro (3L), durante 160 minutos. O óleo essencial foi retirado com o Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2130

5 auxílio de uma micropipeta e acondicionado em frasco de vidro âmbar envolto com papel alumínio, mantendo-o sobre refrigeração. Potencial antifúngico dos óleos essenciais Foram utilizadas as concentrações de 0,1; 0,2; 0,3; 0,4 e 0,5 µl/ml do óleo essencial de L. sidoides em meio de cultura Batata-dextrose-ágar (BDA). A testemunha consistiu do disco do fungo cultivado em meio BDA. Para cada tratamento foram empregadas três repetições. O óleo essencial foi adicionado ao meio BDA fundente com temperatura máxima de 45ºC, e em seguida vertido em placas de Petri de 9cm de diâmetro. Cada placa foi inoculada, no centro, com um disco de meio de 5mm de diâmetro, contendo crescimento do fitopatógeno. As placas foram incubadas à temperatura de 25ºC sob fotoperíodo de 12h. As avaliações foram realizadas diariamente, através de medições do diâmetro das colônias em dois eixos ortogonais (média das duas medições diametricamente opostas), iniciando-se 24h após o preparo das placas e sempre no mesmo horário, até que um dos tratamentos atingisse o diâmetro total da placa de Petri. Foram realizadas avaliações, calculando-se a porcentagem de inibição do crescimento do fungo dos tratamentos em relação à testemunha, utilizando-se a fórmula: PIC = (diâmetro da testemunha diâmetro do tratamento) x 100 diâmetro da testemunha Os dados obtidos nesse estudo foram submetidos à análise de variância, e as médias comparadas pelo teste de Scott-Knott a 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos demonstram que houve diferença significativa no efeito das diferentes concentrações do óleo essencial de L. sidoides. Na Tabela 1 pode-se observar que as concentrações 0,3; 0,4 e 0,5 µl/ml inibiram completamente o desenvolvimento de Colletotrichum sp., correspondendo a uma porcentagem de inibição do crescimento micelial de 100%. Costa-Carvalho (2011) também avaliando óleo essencial de L. sidoides contra Thielaviopsis paradoxa, verificou que todas as concentrações utilizadas (0,2; 0,5; 1,0 e 3,0µL m -1 ) inibiram completamente o crescimento micelial de T. paradoxa isolados de coqueiro. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2131

6 Souza Júnior (2009) em trabalho realizado visando o controle de Colletotrichum gloeosporioides isolado de maracujazeiro amarelo, através do uso de óleos essenciais, verificou que o óleo de L. sidoides inibiu 100% o crescimento micelial e conseqüente germinação de esporos do patógeno, em todas as concentrações do óleo utilizadas (1µL/mL, 3µL/mL 5µL/mL e 10µL/mL). Utilizando o óleo essencial de alecrim-pimenta a 10%, Pessoa et al. (1996), já haviam observado a inibição do crescimento micelial dos fungos Fusarium oxysporum, Macrophomina phaseolina, Rhizopus sp., como também Colletotrichum gloesporioides em testes in vitro. Oliveira et al. (2008) verificaram que o óleo de L. sidoides inibiram o crescimento micelial de Aspergillus niger, Penicillium sp., Fusarium sp. e Fusarium oxysporum f. sp. cubenses na concentração 3 x 10-1 µl ml, assemelhando-se ao controle do crescimento micelial promovido pelo fungicida Carbendazin, também testado do trabalho. De acordo com Goodman & Gilman (1978) os resultados devem ser influenciados, provavelmente, pelos vários compostos de ação antimicrobiana presentes no óleo essencial de L. sidoides, como é o caso do timol (60%) que já tem conhecida ação antimicótica e bactericida. Analisando os resultados obtidos no presente trabalho, pode-se inferir que a espécie L. sidoides é uma alternativa que pode ser utilizada para o controle da antracnose do pimentão. REFERÊNCIAS ABH. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE HORTICULTURA Disponível em: abhorticultura.com.br/dicas/default.asp?id=1735. Acesso: Fevereiro ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA). Nota Técnica para divulgação dos resultados do PARA de Gerência Geral de Toxicologia, BAILEY JA; JEGER M J (Eds) Colletotrichum: Biology, Pathology and Control. England, CAB Internacional Wallingford. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2132

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