Monitoramento da sensibilidade miceliana in vitro de Drechslera siccans, isolados do trigo a fungicidas
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- Ana Beatriz Pinheiro
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1 Monitoramento da sensibilidade miceliana in vitro de Drechslera siccans, isolados do trigo a fungicidas Rosane B. Tonin 1, Erlei Melo Reis 2 1 Eng. Agrôn., Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Agronomia Universidade de Passo Fundo. rosanetonin@yahoo.com.br. 2 Eng. Agrôn., professor do Programa de Pós- Graduação em Agronomia - Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo,RS. erleireis@upf.br O trigo (Triticum aestivum L.) é uma cultura de grande importância no cenário mundial, sendo a principal fonte energética na alimentação da população de muitos países e a segunda em produção de grãos, sendo sobrepujada apenas pelo milho. No Brasil, o trigo é cultivado, principalmente, na região Sul que é responsável por aproximadamente 90% da produção brasileira, sendo que o estado do Paraná apresenta a maior área plantada seguindo-se do Rio Grande do Sul (Zylbersztajn et al., 2004). No sul do Brasil, o trigo é a principal cultura da estação de inverno em área ocupada, volume de produção e importância econômica (Welter et al., 2005). Entre os fatores que afetam a produção de trigo estão às doenças causadas principalmente por fungos, entre eles os causadores de manchas foliares, alvo de preocupação dos produtores e também dos pesquisadores devido aos danos que podem causar à cultura se não forem devidamente controlados. A mancha amarela do trigo, cujos agentes causais são os fungos Drechslera tritici-repentis e D. siccans, é uma doença foliar de expressão econômica em diversas áreas produtoras de trigo conduzidas em monocultura e sistema de plantio direto no Brasil. De acordo com Forcelini (2005), nos últimos anos principalmente no Rio Grande do Sul, verificou-se o aumento na ocorrência de manchas foliares, podendo causar danos de 38 a 80 %. A doença é cosmopolita, encontrando-se em mais de 21 países (Metha, 1993). Fato novo verificado na safra tritícola de 2008 em amostras foliares de trigo analisadas na Universidade de Passo Fundo, foi a constatação da presença de uma nova espécie, D. siccans, como agente causal da mancha-amarela da folha do trigo (Tonin & Reis, 2009). O controle químico, a produção e uso de sementes sadias, o tratamento de sementes com produtos e doses eficientes e a rotação de culturas são medidas que, associadas, visam reduzir o inóculo primário, retardando o aparecimento dos fungos causadores das manchas foliares na lavoura (Indicações, 2005). O uso de fungicidas é um dos principais métodos de controle de doenças de plantas, porém seu uso constante pode promover a seleção de fungos resistentes colocando em risco a eficiência do método (Ghini & Kimati, 2000). Tem sido observado nas últimas safras dificuldade de controle em inúmeras lavouras no Sul do País. Mesmo com três ou quatro aplicações de misturas de fungicidas o controle não tem sido satisfatório. A hipótese de resistência ou redução/perda de sensibilidade de fungos causadores de manchas foliares em trigo gerou a necessidade da realização de trabalho para esclarecer essa suspeita. 1
2 Com este objetivo conduziu-se estudo in vitro visando determinar a sensibilidade miceliana de D. siccans, isolados do trigo aos fungicidas IDMs e IQes. O trabalho foi conduzido no Laboratório de Fitopatologia da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo/UPF. A partir de amostras foliares de trigo com sintomas da doença foram feitos isolamentos e conservadas as culturas. Para a avaliação do crescimento miceliano quanto à sensibilidade de isolados de D. siccans, utilizou-se cinco fungicidas pertencentes ao grupo químico dos triazóis ou inibidores da desmetilação (IDM) epoxiconazol (Opus 125 SC), protioconazol (Proline 250 EC), tebuconazol (Folicur 200 EC), propiconazol (Tilt 250 EC) e ciproconazol (Alto 100 SC) e quatro fungicidas do grupo químico das estrobilurinas, ou inibidores da quinona externa na mitocôndria (IQe) azoxistrobina (Priori 250 SC), picoxistrobina (Acapela 250 SC), piraclostrobina (Comet 250 CE) e trifloxistrobina (Twist 500 SC), testados para cinco isolados do fungo. Nos ensaios foram testadas sete concentrações dos fungicidas: 0,0; 0,01; 0,1; 1; 10; 20 e 40 mg.l -1 de ingrediente ativo de cada fungicida. A concentração 0,0 mg.l -1, ou ausência de fungicida representou a testemunha de cada experimento. Para o preparo de soluções os fungicidas foram transferidos com o auxílio de um micropipetador para balão volumétrico contendo água destilada e esterilizada (ADE), resultando em um volume final de 100 ml. Desta primeira solução fungicida transferiu-se 1 ml para 99,0 ml de ADE para outro balão volumétrico, constituíndo a segunda solução. Após o preparo das soluções acrescentou-se os volumes necessários ao meio de cultura PDA pronto/39 g/l (Potato-Dextrose-Ágar) para que as concentrações desejadas fossem satisfeitas. Os frascos foram cuidadosamente agitados e vertidos em placas de petri. Discos de micélio de cada isolado de D. siccans, com 5 mm de diâmetro, retirados de colônias com sete dias de crescimento, foram colocados no centro de cada placa de petri contendo substrato suplementado com as concentrações do fungicida testado. As placas foram incubadas em câmara de crescimento com temperatura de 25 ± 2 ºC, fotoperíodo de 12 horas, proporcionado por três lâmpadas fluorescentes, 40 W, posicionados a 50 cm acima das placas. A avaliação foi realizada com o auxílio de um paquímetro digital, medindo o diâmetro das colônias, quando o crescimento do fungo no tratamento testemunha atingiu à borda da placa. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, constituído de sete tratamentos e quatro repetições, cada unidade experimental representada por uma placa de petri. Os resultados da porcentagem de inibição do crescimento miceliano foram submetidos à análise de regressão logarítmica e calculada a concentração que inibe 50% do crescimento miceliano (CI 50 ) utilizando-se o programa estatístico Costat. A concentração inibitória capaz de inibir 50% (CI 50 ) do crescimento miceliano foi calculada pela equação gerada. Cada experimento foi repetido duas vezes. A fungitoxicidade dos diferentes fungicidas, encontra-se representada nas Tabelas 1 e 2. Conforme a Tabela 1, todos os isolados mostraram-se sensíveis, apresentando valores de CI 50 menores que 1 mg.l -1, de acordo com a classificação de Edgington et al. (1971). Os valores de CI 50 situaram-se entre 0,1 a 0.65mg.L -1. A menor CI 50 foi observada para o isolado 02/RZ quando utilizado o ingrediente ativo protioconazol. Na média, os ingredientes ativos epoxiconazol, ciproconazol e propiconazol apresentaram comportamento semelhante de fungitoxicidade. Por outro lado, nota-se que, maiores valores de CI 50 foram observados para o tebuconazol e menores valores para o protioconazol. Stolte, 2009, em trabalho conduzido com D. tritici- 2
3 repentis encontrou valores de CI 50 0,1mg.L -1 para os fungicidas propiconazol, epoxiconazol e ciproconazol. Para os fungicidas do grupo químico dos IDMs, não se verificou redução da sensibilidade dos isolados avaliados. Conforme a Tabela 2 observou-se redução da sensibilidade dos isolados para as estrobilurinas. Os valores de CI 50 situaram-se entre 0,84 a 40mg.L -1. Os fungicidas azoxistrobina e picoxistrobina mostraram-se atóxicos para os isolados testados, o mesmo observando-se para os isolados 01/F30, 02/RZ, 03SF, 05/VQ para trifloxistrobina. Dentre os quatro fungicidas testados in vitro, piraclostrobina apresentou maior potência. Na média das duas vezes que os experimentos foram repetidos, maiores valores de CI 50 foram obtidos para a azoxistrobina e picoxistrobina, mostrando-se menos potentes no controle do patógeno em estudo. Na Figura 1 e 2 estão representados graficamente os valores de CI 50 do crescimento miceliano do fungo. Nota-se que para o ingrediente ativo protioconazol, valores de CI 50 foram abaixo de 1mg.L -1, já para azoxistrobina foram encontrados valores de CI 50 superiores a 40mg.L -1. Tabela 1. Valores de CI 50 do crescimento miceliano de Drechslera siccans a fungicidas IDMs Isolados (CI 50 mg.l -1 ) Fungicidas 01/F30 02/RZ 03/SF 04/F52 05/VQ Médias Epoxiconazol 0,28 0,28 0,40 0,32 0,40 0,336 Ciproconazol 0,36 0,47 0,32 0,44 0,29 0,376 Tebuconazol 0,66 0,49 0,65 0,61 0,44 0,570 Protioconazol 0,22 <0,1 0,26 0,25 0,14 0,2175 Propiconazol 0,32 0,51 0,30 0,30 0,30 0,346 Médias 0,368 0,370 0,386 0,384 0,314 *Médias de dois experimentos. 3
4 Crescimento miceliano (%) (oncentração em mg.l -1 Tabela 2. Valores de CI 50 do crescimento miceliano de Drechslera siccans a fungicidas IQes. Isolados (CI 50 mg.l -1 ) Fungicidas 01/F30 02/RZ 03/SF 04/F52 05/VQ Médias Azoxistrobina >40 >40 >40 >40 >40 >40 Trifloxistrobina > 40 >40 > 40 5,31 28,31 30,72 Piraclostrobina 1,17 1,94 1,50 0,84 1,26 1,34 Picoxistrobina > 40 >40 > 40 >40 >40 >40 Médias 30,29 30,48 30,37 21,53 27,39 *Médias de dois experimentos ,12 85,78 Y = -3,26Ln(x) + 85,66 R 2 = 0,99 CI 50 = >40 78,84 74,34 74, ,01 0, Concentração em mg.l -1 Figura 1. Relação entre o crescimento miceliano do isolado 02/RZ de Drechslera siccans e de concentrações de azoxistrobina. 4
5 Crescimento miceliano (%) (oncentração em mg.l ,36 57,41 Y = -10,6Ln(x) + 34,16 R 2 = 0,90 CI 50 = 0, ,72 6,13 6,13 6,13 0 0,01 0, Concentração em mg.l -1 Figura 2. Relação entre o crescimento miceliano do isolado 01/F30 de Drechslera siccans e de concentrações de protioconazol. Referências EDGINGTON, L. V.; Khew, K. L.; Barrow, G. L. Fungitoxic spectrum of benzimidazole compounds. Phytopathology: vol. 61, p , FORCELINI, C. A. Doenças Fúngicas do Trigo: resgatando os princípios do controle. In: Tecnologia de Produção Para a Cultura do Trigo Atualidades Técnicas 1. Passo Fundo: Aldeia Norte, 2005, p GHINI, R.; KIMATI, H. Resistência de fungos a fungicidas. Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente, 2000, 78 p. INDICAÇÕES TÉCNICAS DA COMISSÃO SUL-BRASILEIRA DE PESQUISA DE TRIGO TRIGO E TRITICALE ª Reunião da Comissão Sul-Brasileira de Pesquisa de Trigo. Cruz Alta METHA, Y.R. Manejo integrado de enfermedades del trigo. Imprenta Landivar, Santa Cruz de la Sierra, Bolívia, 319 p., STOLTE, R.E. Sensibilidade de Bipolaris sorokiniana e de Drechslera tritici-repentis a fungicidas in vitro. Dissertação (Mestrado em Agronomia)-Universidade de Passo Fundo/UPF. PassoFundo/RS, TONIN, R.B.; REIS, E.M. Incidência de Drechslera sp. em folhas de trigo. In: XLII Congresso Brasileiro de Fitopatologia. Tropical Plant Patology 34 (Suplemento), Resumo 490 (Epidemiologia),
6 WELTER, B. Tecnologias de produção para a cultura do trigo. Passo Fundo: Plantio Direto Eventos, ZYLBERSZTAJN, D.; NEVES (Coord.), M. F.; ROSSI, R. M. (Coord.); FERRAZ, R. M. M.; CASTRO, L. T. ; MARINO, M. K.; MIZUMOTO, F. M.; CONEJERO, M. A.; FERREIRA, T. F.; ORATI, R. A. Estratégias para o trigo no Brasil. São Paulo: Atlas, 2004, 224 p. 6
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