UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA - UFU INSTITUTO DE LETRAS E LINGUÍSTICA
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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA - UFU INSTITUTO DE LETRAS E LINGUÍSTICA VARIAÇÃO FONÉTICA EM REGIÕES DE MINAS GERAIS Plano de Trabalho Bolsa de Iniciação Científica (PIBIC) UBERLÂNDIA Setembro,
2 INTRODUÇÃO A Sociolinguística é o ramo da Linguística que estuda a variação em diferentes níveis da língua, seja léxico, fonético-fonológico ou gramatical. O estudo é feito com base na divisão de variantes, e a verificação das ocorrências do uso de cada uma. É também denominada Teoria da Variação. Sobre essa teoria, Mollica (2003, p. 10) afirma que "ela parte do pressuposto de que toda variação é motivada, isto é, controlada por fatores de maneira tal que a heterogeneidade se delineia sistemática e previsível. Cezario e Votre (2013, p.147), em seu Manual de Linguística, apontam que não há como verificar modificações e\ou variações na língua sem levar em conta aspectos extralinguísticos, de uma comunidade de fala, pois a língua sofre constantes pressões sociais. O objeto de estudo da variação geralmente é uma situação espontânea de fala da língua em uso, em que os falantes não muito se preocupam com o modo de dizer, mas sim com o conteúdo puro da mensagem. O foco desta pesquisa é a análise da variação no nível fonético da língua. A Fonética é a ciência que apresenta os métodos para a descrição, classificação e transcrição dos sons da fala (SILVA, 2005, p.23). Esta estuda a produção de quaisquer sons que o ser humano consegue emitir, e caracteriza cada um desses chamados fones através de símbolos, que estão organizados em uma tabela chamada Alfabeto Fonético Internacional, elaborada por vários linguistas. Este trabalho tem por finalidade investigar a variação linguística observada a partir da fala de jovens de mesma faixa etária, porém, de cidades diferentes, fazendo um estudo comparativo entre duas variedades e investigar quais características são particulares de cada região investigada na pesquisa de campo. JUSTIFICATIVA Dermeval da Hora, em seu trabalho Estudos Sociolinguísticos: perfil de uma comunidade (2004),discorre sobre a importância de se compreender o fenômeno da variação linguística: Concebendo a língua como instrumento social e sujeita a variações e mudanças, é de suma importância o conhecimento da realidade local, sem 2
3 perder de vista o geral, para que dele sejam feitas reflexões que contribuam para algum posicionamento diante do que é dito, quando é dito e como é dito. (HORA, p.9) A variação e a mudança são processos inerentes em qualquer língua. Por isso, ao fazer uma análise, é necessário levar em conta esses dois aspectos. Considera-se relevante fazer um estudo comparativo foneticamente entre jovens de mesma faixa etária, porém, de regiões diferentes, ainda que no mesmo Estado. Além disso, acredita-se ser relevante também a escolha deste tema com jovens para mostrar que a variação não ocorre apenas com pessoas de idades distintas, mas também com pessoas de mesma idade, e considera-se importante colher dados sobre esses jovens para mostrar que o fenômeno da variação pode ocorrer a distâncias muito mais próximas. Especificando o caso de pesquisas como esta, ZÁGARI (1998) afirma: [...]um belorizontino, um januarense e um uberlandense se sabem brasileiros e mineiros pela língua que falam, mas se sabem, também, participantes de uma variedade, de uma diferente norma de fala. Qualquer observador atento notará serem eles oriundos de espaços diferentes das Minas Gerais. (p.35) Para Sá (2007, p.50), a rotulação de um dialeto como pertencente a determinada região pode ocorrer simplesmente por necessidade prática, pois uma variação geográfica é gradativa e não tem por regra considerar fronteiras políticas. Desta maneira, considera-se pertinente uma análise comparativa para compreender o funcionamento da língua nessas diferentes cidades. Inclusive, esta pesquisa, assim como outras relacionadas à variação linguística, pode contribuir para a diminuição do preconceito linguístico acerca do Estado de Minas Gerais, que costuma ocorrer em todo o país, mostrando a multiplicidade de falares que o Estado contém, além dos fatores e influências que essas e outras regiões possuem. Na realização desse Projeto será mostrado, através de estudiosos da questão, o que é a variação linguística e o objeto de estudo da fonética. Sobre variação linguística, SÁ (2007) afirma que: Quando percebemos a existência da variação da língua, estamos diante de sua realidade material. A variação é uma propriedade inerente a qualquer língua e pode ser observada em qualquer período histórico, manifestando-se no âmbito da sociolinguística, quando procura explicar as variedades dialetais, e no estudo da mudança linguística, ocasionado pelos processos sincrônicos da língua. (p.45) 3
4 Ainda de acordo com Sá (2007, p.49), a variação linguística pode ser ocasionada por quatro fatores: histórico (ou diacrônico), geográfico (ou espacial), social e estilístico. O tipo de variação escolhida nesta pesquisa é a variação geográfica. Este tipo de variação é encontrado com facilidade no Português Brasileiro, em razão da grande quantidade de regiões e da extensão territorial que o país possui. As diferenças regionais no nível fonético da língua ocorrem não apenas na pronúncia, como também no timbre, a altura e a intensidade do som, características fisiológicas da fala. Quanto ao estudo da Fonética, CALLOU e LEITE (2005) fazem uma comparação entre esta e a Fonologia, por serem comumente confundidas, mas se complementarem na função de estudar os sons de uma Língua: Enquanto a Fonética estuda os sons como entidades físico-articulatórias isoladas, a Fonologia irá estudar os sons do ponto de vista funcional como elementos que integram o sistema linguístico determinado. Assim, à Fonética cabe descrever os sons da linguagem e analisar suas particularidades articulatórias, acústicas e perceptivas. À Fonologia cabe estudar as diferenças fônicas intencionais, distintivas, isto é, que se vinculam às diferenças de significação, estabelecer como se relacionam entre si os elementos de diferenciação e quais as condições em que se combinam uns com os outros para formar morfemas, palavras e frases. [...] A unidade da Fonética é o som da fala, ou o fone, enquanto a unidade da Fonologia é o fonema. (p.11) Por esta pesquisa objetivar uma descrição e transcrição de segmentos consonantais e vocálicos típicos de distintas regiões de Minas Gerais, a Fonética se enquadra como a base teórica que norteará todo este trabalho. A Fonética é subdivida em três ramos: Fonética Articulatória, Fonética Auditiva e Fonética Acústica. Esta pesquisa terá enfoque na Fonética Articulatória, que tendo como ponto de vista de análise os aspectos fisiológicos e articulatórios da produção da fala,[...] se encarrega da observação, descrição, classificação e transcrição dos sons produzidos (SILVA, 2009). O objeto de estudo na Fonética Articulatória são os fones, ou segmentos, sendo eles vocálicos, consonantais ou semivocálicos (também conhecidos como glides). Para a realização de pesquisas de variação linguística como esta, BRANDÃO (1991) estabelece pressupostos básicos:... torna-se imperativo incluir, entre os critérios de escolha dos indivíduos que servirão de informantes para a formação do corpus de um Atlas lingüístico, variáveis como idade, sexo, nível de instrução, ou mesmo situação socioeconômica, a fim de que se revelem ao máximo as peculiaridades do 4
5 sistema dialetal focalizado e se possam melhor conhecer os condicionamentos socioculturais que presidem à distribuição geográfica dos fenômenos linguísticos. (p.26) Como base teórica para este trabalho, também será utilizada a classificação dos falares mineiros, como consiste no Atlas Linguístico de Minas Gerais, elaborado em 1977 por ZÁGARI e outros professores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). De acordo com o mesmo, o Estado pode se dividir linguisticamente em 3 zonas dialetais: um dialeto baiano, que ocorre em cidades da região norte de Minas; um dialeto paulista, falado nas regiões do Triângulo Mineiro, e vai até o sul do Estado; e um dialeto mineiro, falado a partir da região metropolitana de Belo Horizonte, se estendendo até a Zona da Mata. Este trabalho terá seu foco nas zonas de dialetos paulista (uberlandense) e mineiro (juiz-forano). OBJETIVOS: Geral: Este trabalho tem por finalidade pesquisar e analisar a variação dialetal de jovens com mesma faixa etária nas cidades mineiras de Uberlândia e Juiz de Fora. Específico: Descrever a variação linguística geográfica, observando casos relacionados à pronúncia específica de situações como a pronúncia do r em posição de coda, a pronúncia de vogais médias em posição pretônica, o uso de fricativas em posição final de sílaba e outros casos. Transcrever foneticamente as variantes pesquisadas; Verificar e sistematizar as variantes encontradas no dialeto juiz-forano; Verificar e sistematizar as variantes encontradas no dialeto uberlandense; Comparar de forma qualitativa e quantitativa as ocorrências de determinados segmentos consonantais e vocálicos em cada região. Encontrar os contextos em que cada variante fonética é utilizada. METODOLOGIA: Para a realização desta pesquisa, será necessária primeiramente uma pesquisa bibliográfica mais aprofundada que envolva os seguintes temas: 1. Sociolinguística; 1.1. Variação linguística; 5
6 2. Fonética do Português; 2.1 Fonética dos dialetos de Minas Gerais; 3. Fonética Articulatória. 4. Inventário Fonético e Fonêmico do Português Brasileiro. Os mesmos serão trabalhados durante as pesquisas. Em seguida, serão realizadas pesquisas de campo com jovens do seguinte perfil: faixa etária de 18 a 25 anos, com grau de escolaridade ensino superior incompleto e/ou completo. Serão selecionadas 20 pessoas, sendo 10 homens e 10 mulheres, contudo, quantidade que será dividida em cidades diferentes. As pesquisas de campo serão feitas nos municípios de Uberlândia e Juiz de Fora, ambas do Estado de Minas Gerais. Será utilizado um gravador de voz para coletar os dados. Sendo assim, haverá a gravação de uma entrevista informal em situação espontânea, sobre assuntos de interesse jovem, tais como: a) Música; b) Literatura; c) Vestibular. d) Outros. Estes temas foram selecionados propositalmente para que os entrevistados sintam-se confortáveis no momento da entrevista, consequentemente, não havendo interferência na coleta dos dados (falas). Em seguida será feita uma transcrição fonética dos casos específicos relacionados a particularidades da fala dos indivíduos de cada região e, em seguida, se fará uma comparação entre as falas desses jovens, verificando as semelhanças e diferenças a partir da variação fonética apresentada entre eles. A análise será produzida de modo quantitativo, verificando a frequência em que determinadas variantes ocorrem; e de modo qualitativo, tomando como base as teorias citadas acima e os estudos já feitos, presentes no Atlas Linguístico de Minas Gerais. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO: De acordo com o Edital de Convocação de Projetos de Pesquisa para Bolsas de Iniciação Científica, o tempo estimado para a realização da pesquisa é de 12 meses, tendo início em Março de 2017 e final em Fevereiro de Portanto, as atividades serão organizadas a partir do seguinte cronograma: 6
7 Março Abril Pesquisa bibliográfica sobre Fonética e Variação Linguística; Solicitação para o Comitê de Ética para autorização para pesquisas de campo Maio Pesquisa bibliográfica Junho Pesquisa de Campo no município de Uberlândia (MG) Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Pesquisa de Campo no município de Juiz de Fora (MG) Transcrição Fonética dos Dados Coletados; apontamento dos casos específicos encontrados em cada variedade Análise Comparativa dos dois dialetos Relatório Final com os resultados obtidos; Fevereiro Publicação da Pesquisa Obs: O cronograma poderá sofrer algumas alterações devido a autorização do Comitê de Ética para a realização de pesquisas com seres humanos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BRANDÃO, Silva Figueiredo (1991). A Geografia Lingüística no Brasil. Série Princípios: Editor Ática: São Paulo, p CALLOU, Dinah; LEITE, Yonne (2005). Introdução à fonética e à fonologia Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p.11. 7
8 CEZARIO, Maria Maura; VOTRE, Sebastião (2013). Sociolinguística. In: MARTELOTTA, Mário Eduardo (org). Manual de Linguística - São Paulo: Contexto, p HORA, Dermeval da (2004). Estudos Sociolinguísticos: perfil de uma comunidade. João Pessoa: Ed. Universitária, p MOLLICA, Cecília (2003). Fundamentação teórica: conceituação e delimitação. In.: MOLLICA, Cecília; BRAGA, Maria Luiza (orgs.). Introdução à Sociolinguística: o tratamento da variação. São Paulo: Contexto, p SÁ, Edmilson José de (2007). Estudos de Variação Linguística: o que é preciso saber e por onde começar. São Paulo: Textonovo, p SILVA, Thais Cristófaro (2005). Fonética e Fonologia do português. 8ª Ed. São Paulo: Contexto, p SILVA, Thaïs Cristófaro; YEHIA, Hani Camille (2009). Sonoridade em Artes, Saúde e Tecnologia. Belo Horizonte: Faculdade de Letras. Disponível em ISBN ZÁGARI, Mario Roberto L. (1998). Os falares mineiros. In: AGUILERA, Vanderci Andrade. A Geografia Lingüística no Brasil: caminhos e perspectivas. Londrina: UEL. Pg. 35. SITES CONSULTADOS: Atlas Linguístico do Brasil. (acesso em: 01/07/16) BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR (será consultada durante o período de pesquisa): BAGNO, Marcos (1999). Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Ed Loyola. CALVET, Louis-Jean (2002). Sociolinguística: uma introdução crítica. São Paulo: Parábola. 8
9 CÂMARA JÚNIOR, J. M. Estrutura da Língua Portuguesa. Petrópolis: Vozes, MAIA, Eleonora Motta. No reino da fala. 3. ed. São Paulo: Ática, MARCHAL, Alain; REIS, César. Produção da fala. Belo Horizonte: Editora UFMG, MARTINS, Edson Ferreira. Atlas lingüístico do Estado de Minas Gerais: o princípio da uniformidade da mudança lingüística nas características fonéticas do português mineiro. Revista Virtual de Estudos da Linguagem ReVEL. V. 4, n. 7, agosto de ISSN [ MOLLICA, Maria Cecília (2004). Introdução à sociolinguística: o tratamento da variação. São Paulo, Contexto. SEARA, Izabel Christine et al (Orgs.). Para conhecer fonética e fonologia do português brasileiro. São Paulo: Contexto, P
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