Cox, a teoria crítica das Relações Internacionais, feminismo e gênero: uma análise da literatura

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1 Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho Faculdade de Filosofia e Ciências de Marília Departamento de Ciências Políticas e Econômicas Cox, a teoria crítica das Relações Internacionais, feminismo e gênero: uma análise da literatura Orientador: Rodrigo Duarte Fernandes dos Passos Candidata: Ana Ligia Alcaras Tipo: PIBIC Iniciação Científica Área: Ciência Política e Relações Internacionais Projeto de Pesquisa a ser submetido ao edital 14/2015 PROPe-Unesp PIBIC-PIBIT

2 1. Introdução O objeto específico deste projeto é o estudo da literatura referente a gênero e feminismo nas contribuições de Robert W. Cox no âmbito da teoria crítica e de autores filiados a sua perspectiva em matriz gramsciana. Conforme Cox (1981), tal teoria se diferencia daquelas por ele criticadas (chamadas de problem-solving) na medida em que a primeira identifica historicidade, perspectiva transformadora e de mudança, a identificação de propósito em todas as abordagens teóricas, uma perspectiva da totalidade social com infinitas variáveis com uma delimitação apenas de caráter metodológico. Seria crucial para a abordagem da teoria crítica a interação entre capacidades materiais, ideias e instituições. Por sua vez, as perspectivas problemsolving se pautariam, por oposição, por abordagem ahistórica (na medida em que identificam o sistema internacional sempre anárquico e marcado pelo equilíbrio de poder sem sua particularização histórica), uma pretensa abordagem objetiva e distanciada, de manutenção do status quo e com número delimitado de variáveis como questão princípua. Compatível com a mesma perspectiva histórica e de totalidade da teoria crítica, a construção da realidade internacional em sentido material, social, cultural também se coadunaria com a categoria de gênero. Gênero vai muito além da questão dos cromossomos, hormônios, psicologia ou sexo biológico. Diz respeito à construção em caráter dinâmico de natureza histórica, cultural, material, social e até mesmo multirrelacional da associação às imagens masculina e feminina (MEADE & WIESNER-HANKS, 2004: p. 1-3) 1. Por sua vez, de modo geral, o feminismo diz respeito a todos os aspectos de lutas das mulheres e de seus movimentos por seus direitos e por sua emancipação. A matriz originária de Antonio Gramsci no tocante à abordagem de gênero e de feminismo remete às suas formulações carcerárias sobre a nascente e incompleta hegemonia norte-americana nos anos 1920 e 1930 no contexto da expansão do fordismo não somente como um modelo de gestão e produção, mas também como uma verdadeira concepção de mundo em expansão com consequências para as relações internacionais e para as relações sociais fundamentais. Ao invés de usar a palavra gênero, Gramsci tratou o tema como questão sexual. Em suma, fazia um exame crítico de algumas concepções ditas feministas que não contribuíam para a emancipação feminina e 1 A categoria gênero surge em meados dos anos Um texto clássico que mapeia o debate inicial em torno do surgimento de tal categoria refletindo, inclusive, sobre seu uso inicial nas Relações Internacionais é o de SCOTT (1991).

3 enxergava um papel submisso reservado à mulher nas tarefas domésticas e reprodutoras, com um padrão de beleza que a reduzia à condição de objeto. Via também a prescrição de Ford da vida regrada na vida sexual somente para os operários como mais um aspecto da disciplina do novo modo de vida com consequências mórbidas para a emancipação feminina (GRAMSCI, 1975: p e ) 2. Cox (1996: p. 293) não trata deste aspecto na sua obra, apenas cita superficialmente a existência da análise gramsciana sobre o fordismo. Aparentemente, Cox refletiu muitíssimo pouco sobre os temas do feminismo e do gênero ao longo de sua obra (COX, 1996: 26 e 1999: p. 9, 15 e 18). Não se ignora o fato de que existem inúmeras outras vertentes teóricas no contexto do assim chamado Terceiro Debate teórico em Relações Internacionais e de distintas abordagens sobre feminismo e gênero que partilham os pressupostos teóricos da teoria crítica acima enunciados. Foi exatamente a partir das críticas ao realismo estrutural de Waltz a partir dos anos 1970 que começaram a ser enunciadas formulações teóricas no temário internacionalista no tocante a feminismo e gênero. É exatamente por este motivo que se enuncia como objeto específico deste projeto o estudo de apenas uma parte da literatura referente às contribuições de Robert W. Cox: aquelas sobre feminismo e gênero e as formulações filiadas a tal autor em perspectiva gramsciana. Inicialmente, constata-se poucos trabalhos com tal perfil, em vista de que, embora a proposta de Cox seja bem recebida nos estudos de gênero e feminismo nas relações internacionais, ela recebe críticas em maior ou em menor grau 3, não tendo necessariamente uma filiação aos seus termos de abordagem 4. Isto posto, passar-se-á à enunciação do problema de pesquisa. 2. Objetivos O presente projeto tem dois objetivos. O primeiro é responder à seguinte questão: como classificar a literatura de Robert W. Cox referente ao gênero e ao feminismo, bem como aquela literatura que lhe é filiada a partir de uma abordagem internacionalista focada em matriz gramsciana? 2 Os intervalos de páginas aqui citados referem-se, respectivamente aos textos A e C da edição crítica dos cadernos carcerários gramscianos. Por outras palavras, trata-se de textos de primeira e segunda redação escritos no cárcere fascista sobre um mesmo tema, de acordo com a classificação e organização integral de tais formulações na edição crítica italiana organizada pela equipe de pesquisadores coordenada por Valentino Gerratana (GRAMSCI, 1975). 3 A título de exemplificação, ver a respeito SHIP, Neste sentido, o trabalho de WHITWORTH (2001) é uma exceção.

4 O segundo objetivo é testar a seguinte hipótese: as formulações de Robert W. Cox referidas são superficiais e incipientes, sendo a literatura que lhe é filiada em matriz gramsciana também pouco desenvolvida, desdobrando com pouca desenvoltura os aspectos formulados referentes ao gênero e ao feminismo em termos de análises e novas elaborações. Passemos às questões metodológicas. 3. Metodologia Esta parte se subdivide em duas. A primeira remete às técnicas de pesquisa. A segunda diz respeito às consequências teóricas referentes às opções da hipótese da pesquisa. No tocante às técnicas de pesquisa, buscar-se-á essencialmente trabalhar com levantamento bibliográfico e sua classificação referente aos trabalhos de Cox e a bibliografia identificada com sua linha nos termos já referidos. No que diz respeito às consequências teóricas para o objeto proposto, há dois momentos a serem considerados. O primeiro: trabalhar-se-á no sentido de identificar aspectos comuns e distintos na literatura levantada e analisada no que refere à caracterização e diferenciação entre a teoria crítica e a teoria problem-solving em termos de teorização das relações internacionais. Este procedimento é atinente à literatura secundária e não aos textos de Cox. O segundo refere tanto aos trabalhos de Cox como à literatura secundária: verificar proximidades e diferenças no âmbito epistemológico no tocante às formulações de Gramsci 5. 5 Para maiores detalhes sobre estes dois procedimentos metodológicos referentes às consequências teóricas para o objeto, consultar PASSOS, 2013.

5 4. Plano de Atividades do Aluno e Cronograma de Execução O plano abaixo será executado em contexto coletivo também, além da dimensão do contato individualizado do estudante com o orientador. O orientador é um dos líderes do Grupo de Pesquisa Interinstitucional Unicamp/Unesp Marxismo e Pensamento Político (cadastrado no CNPq) e coordena, como parte das atividades do mesmo, Grupo de Estudos sobre Gramsci e Relações Internacionais no âmbito da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp de Marília. O trabalho de pesquisa do estudante terá esta interface de estudo e interlocução no âmbito de tais iniciativas. Ademais, como resultados finais deste trabalho, pretende-se a apresentação de comunicação em dois eventos científicos e uma publicação em um periódico acadêmico. Atividades Seminário com o orientador Escrita de Relatórios Científicos Leituras seletivas; Seleção de bibliografia Esboço de comunicação oral e texto a ser publicado Entrega do Relatório Parcial Término das leituras de textos de Cox Versão prévia do relatório final/versão final artigo e Comunicação Elaboração do Relatório Final Leitura e compilação de informações de pontos selecionados da bibliografia secundária e das fontes primárias Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X

6 5. Referências bibliográficas COX, R. W. Approaches to world order. Cambridge: Cambridge University, Civil society at the turn of the millenium: prospects for an alternative world order. In: Review of international studies, v. 25, n. 01, p. 3-28, Social forces, states and world orders: beyond international relations theory. In: Millennium: journal of international studies, v. 10, n. 2, p , GRAMSCI, A. Quaderni del Carcere, Torino: Einaudi, MEADE, T. A. & WIESNER-HANKS, M. E. Introduction In: (ed.). A Companion to Gender History, Malden: Blackwell, 2004, p PASSOS, Rodrigo Duarte Fernandes dos. Gramsci e a teoria crítica das relações internacionais. In:Revista Novos Rumos, p , SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. In: Educação e realidade, v. 20, n. 2, SHIP, S. J. And What About Gender? Feminism and International Relations Theory s Third Debate. In: COX, W. S. (ed.) & SJOLANDER C. T. (ed.) Beyond Positivism: Critical International Relations Theory, Boulder: Westview, p , WHITWORTH, S. The practice, and praxis, of feminist research in international relations. In: JONES, Richard Wyn (Ed.). Critical theory and world politics, Boulder: Lynne Rienner, p , 2001.