Título: Produção autônoma e história do espaço cotidiano: o caso da Vila das Antenas Proponente: Silke Kapp

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1 Edital MCT/CNPq N º 12/ Título: Produção autônoma e história do espaço cotidiano: o caso da Vila das Antenas Proponente: Silke Kapp 1. Sumário da linha de pesquisa no qual o projeto se insere A linha visa a investigar, critica e prospositivamente, o processo de produção da moradia, do seu ambiente urbano e de outros espaços privados, coletivos ou públicos de finalidade potencialmente aberta. Parte-se da consideração de que há autonomia na produção desses espaços quando indivíduos e grupos primários podem engendrar iniciativas locais, estabelecendo, por si mesmos, as regras e a estrutura do processo, em congruência com diretrizes urbanísticas e ambientais de alcance mais amplo e com livre acesso ao conhecimento técnico. Inversamente, a produção do espaço cotidiano determinada por especialistas, a partir de finalidades e meios dados a priori, significa heteronomia ou tutela da própria vida cotidiana, interditando possibilidades de emancipação social. Nesse sentido, são temas centrais: economia política da produção do espaço cotidiano; formas legitimadas e marginalizadas dessa produção; heteronomia e possibilidades de participação e autonomia; processos de planjamento, construção e uso, e de articulação entre esses três aspectos, convencionalmente apartados entre si. A pesquisa na qual a presente proposta se insere tem, nessa linha, os objetivos específicos de: - Aprofundar o estudo de práticas de autoprodução com especial atenção ao contexto de ocupações informais em áreas ambientalmente frágeis. - Identificar e sistematizar, por meio de um estudo de caso, problemas recorrentes na ocupação informal em área ambientalmente frágil, considerando o ambiente urbano local e sua interação com a habitação. - Elaborar proposições de instrumentos de planejamento que favoreçam a articulação entre políticas urbanas municipais (com planos urbanísticos de caráter abrangente) e a autonomia na produção do espaço cotidiano em áreas de ocupação informal e ambientalmente frágeis. - Desenvolver interfaces físicas ou digitais que facilitem a aplicação desses instrumentos de planejamento. 2. Resumo do projeto de pesquisa de iniciação científica Na década de 1980, Belo Horizonte teve um papel pioneiro na criação de políticas públicas de regularização de assentamentos precários com o Programa Profavela (1983). Na década de 1990, instituiu diversas políticas habitacionais participativas, tais como o Orçamento Participativo (1992), o Conselho Municipal de

2 Edital MCT/CNPq N º 12/ Habitação (1994), os Planos Globais Específicos (1995) e os empreendimentos autogestionários (1996). No entanto, as soluções urbanísticas e habitacionais adotadas nos últimos anos no âmbito das chamadas intervenções estruturantes (tal como o Programa Vila Viva no Aglomerado da Serra) têm sido cada vez mais padronizadas e definidas por rotinas técnico-administrativas e não pelos moradores. A participação popular nessas intervenções não avançou, mas, pelo contrário, retrocedeu a um caráter meramente cooptativo. Por outro lado, para que áreas de ocupação informal possam se desenvolver também para além dos momentos de intervenção do poder público, é imprescindível que se instaurem processos sociais contínuos de construção, uso, transformação e melhoria das moradias e de seu ambiente urbano. É imprescindível também que haja autonomia dos moradores nesses processos, isto é, que indíviduos e grupos primários possam engendrar iniciativas locais, estabelecendo, por si mesmos, as regras e estruturas das ações, em congruência diretrizes urbanísticas e ambientais de alcance mais amplo e com apoio do poder público. A construção desse tipo de autonomia inclui, entre outras coisas, a conscientização das populações locais acerca das qualidades e do valor das práticas espaciais adotadas ali antes da intervenção pública. Trata-se de articular, com os moradores, a história do seu espaço cotidiano, evidenciando seus usos e interações, sua construção material, suas qualidades simbólicas, suas negociações e conflitos, suas normas explícitas ou implícitas e sua transformações. Objetivo da presente proposta é a investigação dessa história do espaço cotidiano na Vila das Antenas, no Morro das Pedras, uma favela da Zona Sul de Belo Horizonte. O Grupo de Pesquisa MOM (Morar de Outras Maneiras) tem tido contato regular com os moradores dessa Vila desde que ali se iniciaram as intervenções do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e se estabeleceu uma resistência organizada contra a sua forma de execução. A investigação será realizada por meio de entrevistas semi-estruturadas com moradores, acompanhamento e participação nas reuniões das associações locais, levantamentos de campo e análise documental (projetos de intervenções atuais e anteriores, fotografias de acervos pessoais ou públicos, acervo das associações locais etc.). Seus resultados deverão ser disponibilizados online (no website do grupo - com uma interface interativa, de modo que os próprios moradores da Vila das Antenas possam utilizá-la para acrescentar ou alterar informações ao longo do tempo.

3 Edital MCT/CNPq N º 12/ Plano de atividades do bolsista de iniciação científica 3.1 Objetivos pedagógicos Familiarizar o estudante com técnicas de pesquisa bibliográfica, pesquisa documental, levantamento de campo e entrevistas semi-estruturadas; Inserir o estudante no grupo de pesquisa e na prática colaborativa de investigação, discussão e crítica; Aproximar o estudante da realidade social da produção espontânea e forma de moradias em Belo Horizonte; Familiarizar o estudante com experiências nacionais e internacionais de recuperação de assentamentos precários; Familiarizar o estudante com a utilização de softwares gráficos e de websites; Disseminar o interesse pela pesquisa acadêmica e pela atuação profissional na área de habitação entre futuros arquitetos urbanistas. 3.2 Metodologia O estudante se integrará à equipe do Grupo de Pesquisa MOM ( e, além do acompanhamento pela orientadora, participará das reuniões semanais do grupo. Trabalhará no laboratório do grupo e terá à sua disposição um computador i-mac G5 e outros equipamentos (câmaras de foto e video digitais, gravador digital, impressora, scanner, material de consumo). Tais recursos fazem parte dos projetos de pesquisa e extensão em andamento ao qual este projeto está vinculado. O acervo bibliográfico a ser consultado está disponível em parte na Biblioteca da EA-UFMG e em parte no Laboratório MOM. As atividades estão estruturadas para potencializar iniciativa, criatividade, espírito investigativo e raciocínio crítico dos bolsistas. Deverão ser introduzidos às seguintes práticas: Levantamento bibliográfico, seleção, sistematização e fichamento da literatura elaboração de resumos e resenhas; Pesquisa documental, incluindo seleção, sistematização, registro e avaliação; Levantamento de campo, incluindo levantamento fotográfico e arquitetônico; Entrevistas semi-estruturadas, incluindo elaboração de roteiro, execução, registro e avaliação; Discussão, problematização e construção de hipoteses em equipe;

4 Edital MCT/CNPq N º 12/ Utilização de softwares gráficos e para website (Sketch up, Coreldraw, Dreamweaver); Elaboração de textos científicos e relatórios técnicos. Apresentação de trabalho em seminários e similares. 3.3 Cronograma Meses Atividades 1 e 2 Seleção, leitura, fichamento e discussão de bibliografia sobre processos espontâneos de produção do espaços cotidiano, assentamentos precários e políticas de intervenção. 3 e 4 Início do trabalho de campo com visitas de reconhecimento, primeiros contatos e levantamento fotográfico; complementação da revisão bibliográfica. 5 e 6 Início da estruturação do website; levantamento de projetos e cadastros junto à Urbel. 7 e 8 Elaboração de roteiros para as entrevistas semi-estruturadas com moradores; entrevistaspiloto; transcrição e avaliação preliminar das entrevistas-piloto; revisão dos roteiros. 9 e 10 Levantamento físico com ajuda dos projetos existentes; entrevistas com moradores. 11 e 12 Inserção de base georeferenciada no website; entrevistas com moradores. 13 e 14 Levantamento de documentos nos arquivos das associações locais; entrevistas com moradores. 15 e 16 Sistematização e registro do material levantado em campo; reconstituição gráfica das alterações ao longo do tempo; avaliação do trabalho de campo. 17 e 18 Entrevistas com técnicos da Urbel e outros profissionais envolvidos nas intervenções; transcrição e avaliação preliminar das entrevistas. 19 e 20 Nova revisão bibliográfica com foco em situações similares, nacionais e internacionais; análise comparativa; alimentação do website. 21 e 22 Reunião e discussão do material, conclusões, levantamento de novas hipóteses, complementação de dados se necessário. 23 e 24 Elaboração de relatório final de atividades e finalização do website.

5 Edital MCT/CNPq N º 12/ Perfil do bolsista O bolsista deve ser estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFMG, tendo concluído pelo menos dois períodos. Deve ter interesse pelos temas relacionados ao projeto e pelos métodos de pesquisa propostos, em especial a pesquisa de campo em assentamentos precários. Além disso, deve ter interesse pela leitura, alguma habilidade para a redação e conhecimentos básicos de ferramentas digitais de elaboração de websites (conhecimento esse, oferecido pelas disciplinas obrigatórias do primeiro ano do curso de Arquitetura e Urbanismo e aferível pelo histórico escolar). 4. Projetos financiados, relacionados com a proposta Produção autônoma: uma via de recuperação sócio-ambiental do espaço cotidiano, Edital CNPq, Produtividade em Pesquisa, Coordenação (bolsa de produtividade): Silke Kapp Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana de Belo Horizonte (PPDI- RMBH), financiado pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana de Minas Gerais. Coordenação geral: Roberto Luís de Melo Monte-Mór; coordenação da área temática Habitação, Vida Cotidiana e Qualidade de Vida: Silke Kapp.