CORRELAÇÃO ENTRE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE DO ALGODOEIRO EM SISTEMA DE PLANTIO DIRETO EM MONTIVIDIU, GO (*)
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- João Guilherme Coelho Meneses
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1 CORRELAÇÃO ENTRE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE DO ALGODOEIRO EM SISTEMA DE PLANTIO DIRETO EM MONTIVIDIU, GO (*) Patrícia Pinheiro da Cunha (UFG / ppcunhafeliz@hotmail.com), Vladia Correchel (UFG), Wilson Mozena Leandro (UFG), Liliana Grigoletto (UFG), Ananda Helena Nunes Cunha (UFG), Júlio César da Cunha Gobo (UFG). RESUMO - Este trabalho teve como objetivo analisar alguns indicadores de sustentabilidade do sistema de produção do algodoeiro em áreas comerciais de produção de algodão, no município de Montividiu, GO. A área foi cultivada em sistema de plantio direto a mais de seis anos empregando-se rotação de culturas com soja, milho e integração agricultura pecuária. O algodão foi plantado sob palhada de milheto. O solo da área selecionada para o presente estudo foi classificado como um Latossolo Vermelho. A área foi dividida em glebas nas quais foram avaliados diversos parâmetros. Todas avaliações foram realizadas em março de 2005 (safra 2004/2005) durante a fase de máximo desenvolvimento da cultura do algodão. Para analisar a sustentabilidade dos sistemas de rotação e sucessão de culturas com o algodoeiro alguns parâmetros como o número e altura de plantas, área foliar, cobertura vegetal, ataque de pragas, doenças e plantas invasoras foram analisados, usando um sistema de notas. Além desses parâmetros, também foram determinados alguns parâmetros: físicos (textura e resistência do solo à penetração mecânica) e químicos (teores de macronutrientes primários e secundários, teor de matéria orgânica, CTC e ph). Na busca da sustentabilidade de sistemas agrícolas o uso de indicadores no monitoramento constitui-se numa importante ferramenta para a tomada de decisões na condução da cultura do algodoeiro. Palavras-chave: semeadura direta, sucessão de culturas, rotação de culturas. CORRELATION BETWEEN SUSTAINABILITY INDEXES AND COTTON CROPPED TO A NO- TILLAGE SYSTEM IN MONTIVIDIU, GO, BRAZIL ABSTRACT - This study aimed to assess some soil sustainability indices (SSI) of cotton cropped to a no-tillage on a commercial farm in Montividiu, GO, Brazil on a Savannah Oxisol. The area has been submitted to a no-till system for over six years with soybeans, corn and integrated agriculture and cattle breeding. Cotton has been cultivated on millet crop residues. All measurements were performed at March 2005 (2004/2005 crop) during the phase of maximum development of crop. In order to evaluate of the sustainability of the rotations and succession crop with cotton some attributes, like number of plants and height, leaf area, crop covering, attacks of plagues, diseases and weeds have been analyzed, using a system of grades. Physical (texture and soil resistance to penetration) and chemical (macronutrients, organic matter, CEC, and ph) SSI s related to cotton yield were analyzed. The obtained data show that the use of the evaluated sustainability indicators may be an important complementary tool for decision making on the cotton production system. Key words: no-tillage, crop rotation, crop succession system.
2 INTRODUÇÃO O estado Goiás está entre os três maiores produtores de algodão do país. A melhoria da qualidade de fibra e o aumento na produtividade têm sido um diferencial importante para a comercialização do algodão goiano. Estudos estão sendo realizados na visão de melhorar ou manter uma alta produtividade preservando o meio ambiente. A resistência do solo à penetração das raízes é um dos atributos físicos que influenciam diretamente o crescimento das raízes e conseqüentemente, a parte aérea das plantas. Considerando esses fatores, é importante que sejam adotados sistemas de rotação de culturas com espécies, que além de produzirem grandes quantidades de fitomassa, possuam sistema radicular agressivo e profundo, capazes de explorar diferentes camadas no perfil do solo e que, ao se decomporem, sirvam como substrato aos organismos do solo. Peña (1991) sugere um coquetel ou a mistura de várias espécies e famílias vegetais, que reproduz uma situação de pousio melhorado. No SPD o solo é mobilizado apenas nas linhas de cultivo por ocasião da semeadura e o restante da área é mantido sem revolvimento e protegido por resíduos vegetais comumente chamados de palhada. Com o acúmulo da mesma sobre o solo a reciclagem dos nutrientes advindos desse material em decomposição caminha para a sustentabilidade do sistema. Sistemas de rotações/sucessões de culturas são essenciais, pois no Cerrado apresentam condições que limitam a utilização de espécies de inverno utilizadas no Sul do país, bem como o uso quase exclusivo de uma só espécie já adaptada à região, como é o caso do milheto que ocupa cerca de 80% da área de plantio direto no cerrado (SÁ, 2001). Neste contexto, o objetivo do presente trabalho foi o de correlacionar alguns parâmetros indicadores da sustentabilidade da produção do algodoeiro em um sistema de produção comercial do algodoeiro na região de Motividiu, GO. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado em áreas comerciais de produção de algodão, no município de Montividiu, GO. A área foi cultivada em sistema de plantio direto a mais de seis anos empregando-se rotação de culturas com soja, milho e integração agricultura pecuária. O algodão foi plantado sob palhada de milheto. O solo da área selecionada para o presente estudo foi classificado como um Latossolo Vermelho. Nesta área foi dividida em glebas nas quais foram avaliados diversos parâmetros. Todas avaliações foram realizadas em março de 2005 (safra 2004/2005) durante a fase de máximo desenvolvimento da cultura do algodão. Este foi semeado sobre a palhada de milheto. Para analisar a sustentabilidade dos sistemas de rotação e sucessão de culturas com o algodoeiro alguns parâmetros como o número e altura de plantas, área foliar, cobertura vegetal, ataque de pragas, doenças e espécies invasoras foram analisados, utilizando-se um sistema de notas cujos critérios são descritos a seguir: a) área foliar: 5=ótimo desenvolvimento, 4=bom desenvolvimento, 3=regular desenvolvimento, 2=baixo desenvolvimento, 1=péssimo desenvolvimento, 0=sem desenvolvimento; b) ataque de pragas: 5=ataque muito alto, 4=ataque alto, 3=ataque regular, 2=baixo ataque, 1=muito baixo ataque, 0=sem ataque; c) ataque doença: 5=ataque muito alto, 4=ataque alto, 3=ataque regular, 2=baixo ataque, 1=muito baixo ataque, 0=sem ataque; d) ataque de plantas invasoras: 5=competição muito alta, 4=competição alta, 3=competição regular, 2=competição ataque, 1=competição muito baixa, 0=sem competição; e) cobertura do solo: 5=ótima cobertura, 4=boa cobertura, 3=regular cobertura, 2=baixa cobertura, 1=péssima cobertura, 0=sem cobertura. Em cada gleba analisada, as notas foram inferidas por dois avaliadores para três pontos tomados nas parcelas. Além desses parâmetros, também foram
3 determinados alguns parâmetros: físicos (textura, resistência do solo à penetração mecânica (RP, Mpa) e o teor de umidade do solo) e químicos (teores de macronutrientes primários e secundários, teor de matéria orgânica, CTC e ph). A resistência à penetração vertical foi obtida usando-se um penetrômetro de impacto modelo IAA/PLANALSUCAR (STOLF) de ponta fina, no final do período chuvoso, com o solo visualmente seco. Os dados de campo foram obtidos em números de impactos dm -1 (N) sendo estes transformados para kgf cm -2 através da equação RP= 5,6 + 6,98 N (STOLF et al. 1983), obtendose assim uma estimativa da resistência do solo à penetração. Esses valores foram multiplicados pela constante 0,098 para transformação das unidades em MPa conforme Arshad et al. (1996). Os resultados de penetrometria foram interpretados seguindo-se os critérios descritos por Soil Survey Staff (1993) citados por Arshad et al. (1996) e descritos a seguir: classe de baixa RP 1 MPa; classe moderada = 1 a 2 MPa; classe alta = 2 a 4 MPa; classe muito alta = 4 a 8 MPa e extremamente alta 8,0 MPa. A análise de variância dos dados foi realizada utilizando-se o pacote estatístico SAS (STATISTICAL ANALYSIS SYSTEM INSTITUTE, 1991). O teor de umidade do solo bem como as determinações analíticas das variáveis químicas do solo foram realizadas conforme a metodologia descrita em Embrapa (1997). RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1 são apresentados, os valores de mínimos, máximos, médios e desvios padrões para cada variável analisada. Observa-se que segundo as classes de interpretação propostas por Sousa e Lobato (2004) os valores médios dos nutrientes P e K enquadram-se na classe de interpretação alta; ph, Ca, Mg e MO enquadram-se na classe de interpretação adequada. Tabela 1. Valores mínimos, máximos, médios e desvio padrão dos indicadores de sustentabilidade do sistema de produção do algodoeiro em Montividiu, GO. Variável 1 Mínimo Máxima Média Desvio Padrão ph 5,0 5,5 5,2 0,2 Ca (cmol c dm -3 ) 4,2 5,6 4,8 0,7 Mg (cmol c dm -3 ) 0,90 1,28 1,13 0,14 Al (cmol c dm -3 ) 0,00 0,00 0,00 0,00 K (mg dm -3 ) 110,0 172,0 139,0 24,2 P (mg dm -3 ) 10,0 22,0 14,4 4,6 MO (g kg -1 ) 41, ,8 1,6 Argila (g kg -1 ) Silte (g kg -1 ) Areia (g kg -1 ) RP (Mpa) 2,3 3,7 3,1 0,6 HP 79,0 102,0 90,8 10,1 NP AF AP AD PI COB
4 1. RP = resistência do solo à penetração média na camada de 0-60 cm (Mpa); Umidade do solo; HP = altura de plantas (cm); NP = número de plantas; AF = nota de área foliar; AP = nota de ataque de pragas; AD = nota de ataque de doenças; PI = nota de ataque de plantas invasoras e COB = grau de cobertura do solo proporcionado pela palhada. Observa-se nas glebas avaliadas, que os valores médios das notas dos indicadores de sustentabilidade (Tab. 2) indicaram um baixo ataque de pragas, um muito baixo ataque de doenças, a não competição da cultura de algodão pelas plantas daninhas. Mesmo com o experimento em áreas com seis anos de plantio direto, observou uma péssima cobertura vegetal do solo, tal fato pode estar relacionado à acelerada decomposição da MO em regiões de climas quentes. Segundo Lal (1994), a perda de MO do solo é medida da degradação do ecossistema, podendo ser utilizada como critério para a avaliação da sustentabilidade. Os resultados da Tabela 2 indicaram uma correlação negativa entre P x Areia. Lopes (1977) utilizando correlação entre adsorção máxima de P e areias em amostras superficiais de solos sob cerrado, também encontrou resultado semelhante. Segundo Lopes (1983) sob o aspecto prático agronômico as percentagens de argilas ou areias podem também ser usadas para estimar parâmetros de fixação de fósforo para solos do cerrado. Solos com menor capacidade de fixação necessitam menores doses de aplicação de fertilizantes fosfatados, um componente muito importante para a redução dos custos de produção, para o desenvolvimento agrícola da região dos cerrados. Tabela 2. Matriz de correlações entre os indicadores de sustentabilidade do sistema de produção do algodoeiro em Montividiu, GO. Indicadores 1 ph Ca Mg Al K P MO Arg Sil Are RP HP NP AF AP AD PI COB ph 1 ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns Ns Ca (cmolc dm -3 ) - 1 ns ns ns ns ns ns 0,88* ns ns ns ns ns ns ns ns Ns Mg (cmolc dm -3 ) ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns Ns Al (cmolc dm -3 ) ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns Ns K (mg dm -3 ) ns 0,88* ns ns ns ns ns ns ns ns ns ns Ns P (mg dm -3 ) ns ns ns -0,93** ns ns ns ns ns ns ns Ns MO (g kg -1 ) ns ns ns ns -0,93** ns ns ns ns ns -0,87* Argila (g kg -1 ) ,92** ns ns ns ns ns ns ns ns Ns Silte (g kg -1 ) ,93** ns ns ns ns ns ns ns Ns Areia (g kg -1 ) ns ns ns ns ns ns ns Ns RP (Mpa) ns ns ns ns ns ns Ns HP ns ns ns ns ns Ns NP ns ns ns ns Ns AF ns ns ns Ns AP ns ns Ns AD ns Ns PI Ns COB Arg = argila; Sil = silte; Are = areia; RP = resistência do solo à penetração (Mpa); θ = Umidade do solo; HP = altura de plantas (cm); NP = número de plantas; AF = nota de área foliar; AP = nota de ataque de pragas; AD = nota de ataque de doenças; PI = nota de ataque de plantas invasoras e COB = grau de cobertura do solo proporcionado pela palhada. Nível de
5 significância para rejeição da hipótese do coeficiente de correlação igual a zero: ns = não significativo; * = significativo a 5% e ** = significativo a 1%. Correlações negativas foram obtidas entre o teor de MO e COB (-0,87); MO e HP (-0,93). Tais resultados demonstram que o indicador matéria orgânica do solo é de extrema importância na sustentabilidade de sistemas agrícolas e juntamente com outros indicadores podem ser utilizados no monitoramento para tomada de decisões na condução da cultura do algodoeiro. CONCLUSÃO Na busca da sustentabilidade de sistemas agrícolas o uso de indicadores no monitoramento constitui-se numa importante ferramenta para a tomada de decisões na condução da cultura do algodoeiro. (*) Projeto financiado pela FIALGO e Fundação GO. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARSHAD, M. A.; LOWERY, B.; GROSSMAN, B. Physical tests for monitoring soil quality, In: DORAN, J. W.; JONES, A. J., (Eds.). Methods for assessing soil quality. Madison: Soil Science Society, EMBRAPA CNPS. Manual de Métodos de Análise de Solos. 2 ed. Rio de Janeiro: Embrapa CNPS, LAL, R. Mothods and guidelines for assessing sustainable use of soil and water resources in the tropics. Columbus: Ohio State University, p. (SMSS. Technical Monograph, 21). LOPES, A. S. Available water, phosphorus fixation, and zinc levels in Brasilian cerrado soils in relation to their physical, chemical and mineralogical properties. (Tese de PhD) Department of soil Science, North Carolina State University, Raleigh, NC, USA. 189p LOPES, A. S. Solos sob Cerrado. Características, propriedades e manejo. Piracicaba:Instituto da Patassa & Fosfato:Instituto Internacional da Potassa, PEÑA, R. P. Contribuição ao desenvolvimento de novos métodos para adubação verde. Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural, Botucatu, 1991, 5p. SÁ, J.C. M. Manejo da Fertilidade do Solo no Plantio Direto. Castro: Fundação ABC, p. STATISTICAL. ANALISYS SYSTEM INSTITUTE, Inc. SAS/STAT procedure guide for personal computers, Version 5. SAS Institute.,Cary, NC, USA
6 SOUZA, D. M. G.; LOBATO, E. Cerrado: correção do solo e adubação. 2 ed. Brasília:Embrapa cerrados, p. STOLF, R.; FERNANDES, J.; FURLANI NETO,V. L. Penetrômetro de impacto, IAA/Planalsucar-Stolf. Recomendações para o seu uso. R. STAB, Piracicaba, v.1,n.3, p.18-23, 1983.
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