ASSEMBLEIA DE ARANHAS EM POMARES DE PESSEGUEIRO ORGÂNICO E CONVENCIONAL, NO SUL DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
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- Luiz Gustavo Santos Rodrigues
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1 ASSEMBLEIA DE ARANHAS EM POMARES DE PESSEGUEIRO ORGÂNICO E CONVENCIONAL, NO SUL DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL Adriano Menna Alves 1 Lenon Morales Albeijon 2 Mayara Ferreira Mendes 3 Antônio Brescovit 4 Adrise Medeiros Nunes 5 Flávio Roberto Mello Garcia 6(*) RESUMO: As aranhas são um dos principais grupos da fauna de artrópodes dos sistemas agrícolas, podendo alimentar-se de 40 a 50% da biomassa disponível de insetos. Por serem predadores representam um papel indispensável no controle biológico conservativo de espécies pragas. Neste sentido, objetivo do presente trabalho foi caracterizar e identificar as Araneae associadas ao solo, em pomares de pessegueiro e mata nativa do entorno no sul do estado do Rio Grande do Sul, Brasil. As coletas foram realizadas com armadilhas do tipo pitfall (340 amostras) na safra do pêssego, de setembro a dezembro de 2013, em dois agroecossistemas manejados de forma convencional e orgânica de Morro Redondo e do 8º distrito de Pelotas, respectivamente. Foram amostrados um total de espécimes. Deste total, 885 machos, 337 fêmeas e 643 jovens, distribuídos em 25 famílias (22 em cada área). As famílias mais abundantes foram Linyphiidae (48%), Lycosidae (26%), Theriididae (7%), Corinnidae (6%), Ochyroceratidae (6%) e Hahniidae (5%), as demais famílias somaram cerca de 2%. Os valores de cobertura amostral foram altos para a abundância e incidência nas duas áreas (acima de 0.99), indicando que a maioria das famílias de cada área foi detectada. Palavras chave: Araneae, agroecossistema, controle biológico conservativo, diversidade. ASSEMBLY OF SPIDERS IN ORGANIC AND CONVENTIONAL PEACH ORCHARDS IN THE SOUTH OF RIO GRANDE DO SUL, BRAZIL ABSTRACT: Spiders are one of the main groups of the arthropod fauna of the agricultural systems. They can feed from 40 to 50% of the available biomass of insects. Because spiders are, predators play an indispensable role in the biological control of pests. The objective of the present work was to characterize and identify the soil associated Araneae in peach orchards and native forest in the south of the state of Rio Grande do Sul, Brazil. The samples were collected with pitfall traps (340 samples) in the peach harvest, from September to December 2013, in two agroecosystems managed in conventional and organic form of Morro Redondo and the 8th district of Pelotas, respectively. A total of specimens were sampled. Of this total, 885 males, 337 females and 643 young individuals, distributed in 25 families (22 in each area). The most abundant families were Linyphiidae (48%), Lycosidae (26%), Theriididae (7%), Corinnidae (6%), Ochyroceratidae (6%) and Hahniidae (5%). The other families accounted for about 2%. Sampling coverage values were high for abundance and incidence in both areas (above 0.99), indicating that most families in each area were detected. Keywords: Araneae, agroecosystem, conservative biological control, diversity. 1. Biólogo, Universidade Federal de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. adrianomenaalves@gmail.com 2. Biólogo; Mestre em Entomologia; Universidade Federal de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. lenon.bio@gmail.com 3. Bióloga; Doutoranda em Biologia Animal; Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil. mayaramendes1993@hotmail.com 4. Biólogo; Doutor em Zoologia; Pesquisador Científico no Instituto Butantan; Laboratório Especial de Coleções Zoológicas - Seção de Artrópodes Peçonhentos, São Paulo, São Paulo, Brasil. antonio.brescovit@butantan.gov.br 5. Bióloga; Pós-Doutorado em Fitossanidade; Universidade Federal de Pelotas; Rio Grande do Sul, Brasil. adrisenunes@gmail.com 6. Biólogo; Doutor em Zoologia; Professor Adjunto na Universidade Federal de Pelotas; Rio Grande do Sul, Brasil. flaviormg@hotmail.com (*) Autor para correspondência. Biodiversidade - V.17, N2, pág. 2
2 INTRODUÇÃO As aranhas (Arachnida: Araneae) são um dos grupos de artrópodes mais conhecidos atualmente, com 112 famílias em gêneros distribuídos em espécies descritas (World Spider Catalog, 2018). São caracterizadas por serem predadoras, generalistas e encontradas em quase todos os locais terrestres, sendo 70 famílias atualmente registradas no Brasil (FOELIX, 1996; CARVALHO et al., 2007). Consomem cerca de 40 a 50% dos insetos disponíveis em sistemas agrícolas, apresentando importante papel no controle de insetospraga de diversas culturas, de modo que essa eficiência na predação passou a ser avaliada como potencial para emprego de técnicas de controle biológico (HANNA et al., 2003; OTT et al., 2007; WISE 2006). A preservação da biodiversidade no interior e no entorno dos agroecossistemas é de extrema importância, pois ela atua na regulação dos inimigos naturais, bem como no monitoramento das dinâmicas populacionais das espécies pragas, uma vez que a vegetação nativa pode servir de refúgio e sustentação aos predadores provendo alimentação alternativa, enquanto as populações pragas estão em um nível populacional baixo (ALTIERI, 1994). Neste sentido, o objetivo deste estudo foi caracterizar e identificar a araneofauna associada ao solo, em pomares de pessegueiro e mata nativa do entorno de Morro Redondo e 8 Distrito de Pelotas, respectivamente no sul do estado do Rio Grande do Sul, Brasil. MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo e amostragem As coletas foram realizadas em pomares de pessegueiro (Prunus persica (L.) Batsch), de duas propriedades rurais com manejo convencional e orgânico, e equidistantes 17,5km, nos períodos de floração e frutificação das cultivares. As propriedades rurais avaliadas situam-se na região fisiográfica denominada Serra do Sudeste, a qual apresenta cobertura vegetal natural classificada como área de Formação Pioneira com Influência Fluvial e Mata Estacional Semidecidual (IBGE, 1992). A área de estudo está localizada no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, em pomares com manejo convencional no município de Morro Redondo (31º33 38 S; 52º38 93 O) e com manejo orgânico localizado no 8º distrito do município de Pelotas (31º26 00 S; 52º33 26 O) (Figura 1). O clima é do tipo Cfa segundo a classificação climática, com clima temperado quente, super úmido e não há estação seca distinta (Alvares et al., 2014; IBGE, Biodiversidade - V.17, N2, pág. 3
3 1997; Kottek et al., 2006). As médias normais de temperatura e precipitação pluviométrica, são de 23,2 C e 125mm no verão, 18,5 C e 100mm no outono, 13 C e 123mm no inverno e 17 C e 108mm na primavera (Estação Agroclimatológica de Pelotas, 1988). FIGURA 1 - Área de estudo. A) Mapa da América do Sul com destaque para o Brasil e B) para o estado do Rio Grande do Sul que compreende a; C) Área com sistema de manejo convencional, no município de Morro Redondo; D) Área com sistema de manejo orgânico, no 8 Distrito de Pelotas. Fonte: ALVES, A.M. (2017) Para captura das aranhas, foram utilizadas armadilhas do tipo pitfall no período de safra do pêssego, de setembro a dezembro de No total, foram 13 coletas realizadas no período, totalizando 430 amostras (240 no 8 distrito de Pelotas, e 190 em Morro Redondo). As armadilhas foram instaladas previamente no campo, com repouso de três dias após a abertura das trincheiras (AQUINO et al., 2006). Cada armadilha permaneceu no campo por 7 dias, sendo que os aracnídeos foram amostrados em três transectos de 100m em cada área. Logo após as coletas, as aranhas foram acondicionadas em recipientes plásticos com álcool 70%, para proceder a triagem, identificação e conservação dos espécimes. Análises estatísticas Para caracterizar a assembleia, foi construída uma tabela com as abundâncias absolutas (ni) e a riqueza de espécies (S). Assim, utilizamos a composição de armadilhas individuais como a unidade estatística para curva de abundância para as famílias (gráfico de Biodiversidade - V.17, N2, pág. 4
4 Whittaker) e análises subsequentes. Os dados foram submetidos à análise faunística com utilização dos índices de constância e dominância, baseado no método utilizado por Palma (1975) apud Abreu e Nogueira (1989). O índice de constância das famílias foi obtido pela fórmula: C (%) = (naf*100)/ na, sendo que: naf = número de amostragens com a presença da família; na = número total de amostragens realizadas. As famílias foram agrupadas nas seguintes categorias: C = >50% constantes; C = 50% - 25% acessórias e C = < 25% acidentais. O índice de dominância foi calculado pela fórmula: D (%) = (f*100)/ n, sendo que: f = número de indivíduos de uma família; e n = número total de indivíduos. Após a aplicação do índice os foram classificados da seguinte forma: Assim: D = 5,1-100% dominante; D = 2,6-5,0% acessória e D = < 2,5 acidental. Com a combinação dos índices de constância e dominância obtivemos a classificação geral das famílias em: família comum (constante + dominante) [C], família intermediária (acidental + dominante; acidental + acessória; acessória + acessória; acessória + dominante) [I] e família rara (acidental+ acidental) [R]. Por fim, geramos curvas de rarefação e extrapolação baseadas em incidência e abundância em cada área a fim de comparar as áreas e verificar suficiência amostral (999 aleatorizações; Bootstraps) com 0,95 de intervalo de confiança. O estimador de riqueza utilizado foi Chao 1 (Chao e Jost, 2012) e as análises foram feitas no software inext Online v (HSIEH et al., 2013). RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram amostrados um total de espécimes (Tabela 1). Deste total, 885 machos, 337 fêmeas e 643 jovens, distribuídos em 25 famílias (22 em cada propriedade). As famílias mais abundantes no estudo foram Linyphiidae (48%), Lycosidae (26%), Theriididae (7%), Corinnidae (6%), Ochyroceratidae (6%) e Hahniidae (5%), as demais famílias somaram cerca de 2% (Figura 2). Além disso, Ochyroceratidae foi registrada pela primeira vez em agroecossistemas na América do Sul. Biodiversidade - V.17, N2, pág. 5
5 TABELA 1 - Ocorrência de famílias (com morfoespécies) em pomares de pessegueiro, com manejo orgânico e convencional, nos municípios de Pelotas e Morro Redondo respectivamente, RS, Brasil. Família Morfoespécies Orgânico Convencional Total (ni) Anyphaenidae Aysha sp Araneidae Alpaida sp Eustala sp Caponiidae Corinnidae Ctenidae Isoctenus sp Gnaphosidae Hahniidae Hahniidae sp Linyphiidae Agyneta sp Dubiaranea sp Scolecura sp Erigone sp Moyosi prativaga Keyserling, Neomaso sp Sphecozone sp Lepthyphantes sp Lycosidae Lycosidae sp Lycosa sp Miturgidae Mysmenidae Mysmena sp Nesticidae *Ochyroceratidae Ochyrocera sp Oonopidae Oxyopidae Palpimanidae Pholcidae Phrurolithidae Orthobula sp Salticidae Salticidae sp Salticidae sp Tetragnathidae Theraphosidae Theridiidae Dipoena sp Guaraniella sp Twaithesia sp Theridiosamatidae Thomisidae Biodiversidade - V.17, N2, pág. 6
6 Zodariidae Epicratinus sp Epicratinus sp Cybaeodamus meridionalis Lise, Ott e Rodrigues, 2009 Total FIGURA 2 - Ranque de abudância absoluta observada (gráfico de Whittaker) nas áreas do 8 Distrito de Pelotas e Morro Redondo, Rio Grande do Sul, RS, Brasil. Fonte: ALVES, A.M. (2017) As famílias Linyphiidae e Lycosidae apresentaram maior abundância na área orgânica, seguidas por Hahniidae, Ochyroceratidae e Tetragnathidae, respectivamente. No Biodiversidade - V.17, N2, pág. 7
7 agroecossistema convencional Linyphiidae também apresentou a maior abundância seguida por Lycosidae, Corinnidae e Theridiidae. Foram constatadas 6 famílias exclusivas, sendo Palpimanidae, Phrurolithidae e Zodariidae na área orgânica e Anyphaenidae, Oonopidae e Pholcidae na área convencional. TABELA 2 - Constância, dominância e classificação dos status das famílias em pomares com manejo Convencional e Orgânico, Rio Grande do Sul, RS, Brasil. Famílias Área Orgânica Área Convencional Ca. D. S. Ca. D. S. Anyphaenidae ,4 0,3 R Araneidae 15,4 0,25 R 23,1 0,44 R Caponiidae 15,4 0,34 R 15,4 0,3 R Corinnidae 100 3,78 C 84,6 9,32 C Ctenidae 23,1 0,34 R 38,5 1,04 I Gnaphosidae 46,2 0,76 I 30,8 0,74 I Hahniidae 100 6,06 C 76,9 3,11 I Linyphiidae ,7 C ,2 C Lycosidae 92,3 19,9 C ,4 C Miturgidae 15,4 0,34 I 15,4 0,3 R Mysmenidae 46,2 0,59 I 15,4 0,59 R Nesticidae 7,69 0,17 R 30,8 0,89 I Ochyroceratidae 100 8,33 C 23,1 0,44 R Oonopidae ,69 0,15 R Oxyopidae 23,1 0,5 R 15,4 0,44 R Palpimanidae 7,69 0,08 R Pholcidae ,69 0,15 R Phrurolithidae 30,8 0,5 I Salticidae 30,8 0,42 I 30,8 1,33 I Tetragnathidae 15,4 0,34 I 7,81 0,09 R Theraphosidae 15,4 0,17 R 7,69 0,15 R Theridiidae 100 7,49 C 53,8 4,73 I Theridiosamatidae 7,69 0,08 R 7,69 0,15 R Thomisidae 46,2 0,76 I 15,4 0,12 R Zodariidae 15,4 0,34 R Os resultados dos índices classificaram a dominância e a constância das famílias, nas duas áreas (Tabela 2). Em ambos os ambientes as famílias com maior dominância e constância foram Linyphiidae e Lycosidae, consideradas com os status de comum. Na área de manejo orgânico representantes de outras quatro famílias foram consideradas comuns: Corinnidae, Hahniidae, Ochyroceratidae e Theridiidae, enquanto na área de manejo convencional apenas Corinnidae foi considerada comum, além de Linyphiidae e Lycosidae. Biodiversidade - V.17, N2, pág. 8
8 As demais famílias foram classificadas como intermediárias ou raras, sendo que as famílias exclusivas de ambas as áreas foram todas classificadas com status de rara. Os valores de cobertura amostral foram altos para a abundância e incidência nas duas áreas (acima de 0.99), indicando que a maioria das famílias de cada área foi detectada (Figura 2). A sobreposição dos intervalos de confiança nas curvas de rarefação e extrapolação indicam que não há diferença significativa na riqueza de famílias entre as duas áreas (Figura 3). FIGURA 3 - Curvas de rarefação e extrapolação baseadas em abundância e incidência respectivamente, nos pomares com manejo convencional (Morro Redondo - bolinha) e orgânico (8 Distrito de Pelotas - triângulo), estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Fonte: ALVES, A.M. (2017) A riqueza total de famílias no trabalho (25 famílias), foi elevada em comparação com outros trabalhos, tanto na região Sul quanto em outras localidades e culturas (ANDRADE et al., 2007; OTT et al., 2007; RICALDE et al., 2016; RODRIGUES et al., 2008; ORELLANA et al., 2012; SILVA et al., 2014). O trabalho de Lopes, Santos e Medri (2006) em pastagens se destaca por uma riqueza alta, em comparação ao total de espécimes. Comparando os dois agroecossistemas estudados, os tipos de manejo não apresentaram grande influência na riqueza da araneofauna de solo, ambas as áreas Biodiversidade - V.17, N2, pág. 9
9 apresentaram 22 famílias. As maiores diferenças se dão na composição dos ambientes, visto que houveram famílias exclusivas entre as duas áreas. Essas famílias exclusivas foram classificadas com o status de raras, segundo os resultados dos índices faunísticos propostos por Palma (1975) apud Abreu e Nogueira (1989), pois apresentaram com baixíssimas densidades. O agroecossistema orgânico apresentou seis famílias comuns (Corinnidae, Hahniidae, Linyphiidae, Theriididae, Lycosidae e Ochyroceratidae), seis intermediárias e 10 raras, enquanto o pomar convencional apresentou três famílias comuns, seis intermediárias e 13 raras. A abundância de espécimes observada foi superior a vários trabalhos realizados em agroecossistemas no Brasil, que também utilizaram armadilhas do tipo pitfall (LOPES et al., 2006; SILVA et al., 2014; RINALDI, 2005). O mesmo foi constatado em trabalhos realizados por Armendano e González (2009) e Avalos et al. (2013), os quais amostraram uma grande quantidade de espécimes utilizando o mesmo método de coleta. A menor abundância em ambientes de manejo convencional, pode estar relacionado a perturbação antrópica, principalmente devido ao manuseio periódico do solo por máquinas e manejo de plantas espontâneas. Ott et al. (2007) em trabalho realizado em pomares de laranjeira verificaram que a retirada de gramíneas, acaba eliminando o abrigo das aranhas. Assim como a abundância, a riqueza de ambas as áreas foi elevada, quando comparada com outros trabalhos, tanto na região Sul quanto em outras localidades e culturas (Andrade et al., 2007; Ott et al., 2007; Rodrigues et al., 2008; Orellana et al., 2012; Silva et al., 2014). O trabalho de Lopes et al. (2006) em pastagens, se destaca por uma riqueza alta, em comparação ao total de espécimes. Linyphiidae foi a mais abundante em ambos agroecossistemas, e segundo os índices faunísticos foi considerada dominante, constante e comum nas duas áreas. Segundo Thorbek et al. (2004) os espécimes dessa família podem viver em vários tipos de ambientes perturbados, incluindo ambientes agrícolas. Esta é uma família constituída e caracterizada por aranhas construtoras de teias em lençol horizontal, sem fios adesivos (Wise, 1993), possuindo hábitos alimentares de captura de dípteros, himenópteros e hemípteros, raramente capturando insetos maiores devido a delicadeza de suas teias (NYFFELER e STERLING, 1994). Nos trabalhos de Ott et al. (2007) em pomares de citros e Silva et al. (2014) em lavouras de milho verificaram a predominância de Linyphiidae. Discordando de Morais et al. (2007) onde foi encontrada em baixa densidade da família em pomares de tangerina, e por Rodrigues et al. (2008, 2009) em lavouras de arroz. Lopes et al. (2006) referenciaram esta Biodiversidade - V.17, N2, pág. 10
10 família como a mais numerosa em levantamentos realizados em pastagens e ressaltam que esses indivíduos apresentam potencial para colonizar áreas antropizadas. Lycosidae também apresentou grande abundância nos dois agroecossistemas estudados, sendo considerada como dominante, constante e comum nas duas áreas. A família apresenta aranhas de grande porte, corredoras de solo com hábitos geralmente noturnos que vivem no solo e serrapilheira, capturando suas presas por emboscadas (Wise, 1993). Já foram encontradas em agroecossistemas do Rio Grande do Sul por Rodrigues et al. (2008), no estado do Paraná por Lopes et al. (2006), no Chile por Alcayaga (2013) em fazendas e por Avalos et al. (2006) em pomares de citros, sendo a família mais representativa nestes trabalhos. As espécies que constituem a família Theridiidae são construtoras de teias tridimensionais, em arbustos, árvores e até mesmo em rochas (Wise, 1993). Esta família apresentou uma discrepância entre as duas áreas, sendo que na área orgânica foi considerada comum, enquanto na área convencional foi considerada intermediária. Esta família ocorreu em cerca de 50% das coletas e obteve um baixo coeficiente de dominância na área convencional. O trabalho de Morais et al. (2007) obteve uma elevada quantidade de espécimes desta família em pomar cultivado com tangerina, sugerindo que sua ocorrência foi devido à grande disponibilidade de ácaros fitófagos, tripes e outras possíveis presas na área de estudo. A família Hahniidae foi considerada comum na área orgânica e intermediária na área convencional. São aranhas noturnas que, predominantemente, habitam a serrapilheira, caçam sob rochas e madeira decomposta e utilizam suas teias para construção de abrigos tubulares (UBICK et al., 2005). Essa família foi constatada em baixas densidades nas pesquisas realizadas por Armendano e González (2009) em cultivos de alfafa e por Avalos et al. (2013) em pomares de citros. Ochyroceratidae também foi considerada comum na área orgânica, porém rara na área convencional. Esta família tece teias irregulares e habita lugares úmidos e escuros (Shear, 1986), e é considerada cosmopolita sendo encontrada nos trópicos, em locais com vegetação florestal e em cavernas (Saaristo, 1998). Esse é o primeiro registro dessa família em agroecossistemas na América do Sul, uma vez que apresentam preferência por áreas escuras (grutas, cavernas, serrapilheira com alto volume, etc..) com acúmulo de matéria vegetal, ou seja, condições discrepantes às encontradas em pomares, porém Buckup et al. (2010) afirmam que espécimes dessa famílias já foram encontrados no Rio Grande do Sul, porém não foram identificados e registrados, assim como Hahniidae. Biodiversidade - V.17, N2, pág. 11
11 A família Corinnidae é constituída de aranhas caçadoras ativas de solo, habitando troncos de árvores ou folhas secas (Ubick et al., 2005), mas também são frequentemente encontradas em serrapilheira de florestas (Jocqué e Dippenaar-Schoeman, 2006). Esta família, foi a única que se apresentou superior no ambiente convencional, com uma maior abundância, porém ela foi considerada comum nos dois ambientes. Este resultado corrobora outros trabalhos em áreas de pastagens, pomares de citros e em lavouras de milho, por exemplo (LOPES et al., 2006; OTT et al., 2007; SILVA et al., 2014). CONCLUSÕES Constatamos que o método de coleta com armadilhas tipo pitfall é adequado para o inventariamento de aranhas, visto que os diferentes tipos de manejo influenciam na abundância da araneofauna. Neste sentido, verificamos que o pomar orgânico favorece a presença de um maior número desses predadores. Ainda, reforçamos a importância de novas investigações sobre a fauna na região sul, visto que novas famílias e espécies possam ser amostradas. AGRADECIMENTOS Agradecemos a MSc. Luana Amaral dos Santos pelo auxílio com a formatação das figuras. Nós agradecemos também aos dois revisores anônimos da Revista Ambiência por suas valiosas sugestões para aprimorar o artigo. O trabalho foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) sob concessão do processo PQ /2004-0) para ADB. Biodiversidade - V.17, N2, pág. 12
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