Registro: ACÓRDÃO

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1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação / Reexame Necessário nº , da Comarca de Descalvado, em que é apelante/apelado PREFEITURA MUNICIPAL DE DESCALVADO e Apelante JUIZO EX OFFICIO, são apelados/apelantes JOÃO BENEDICTO PRESCINOTTI e NEIRY DO NASCIMENTO FREGONEZI. ACORDAM, em 3ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "RECURSO DOS ARRENDATÁRIOS PROVIDO E NÃO PROVIDO OS RECURSOS OFICIAL E DA PREFEITURA DE DESCALVADO", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ANTONIO CARLOS MALHEIROS (Presidente) e CAMARGO PEREIRA. São Paulo, 25 de junho de Marrey Uint RELATOR Assinatura Eletrônica

2 2 Voto nº Apelação Cível nº Comarca: DESCALVADO Recorrente: JUÍZO EX OFFICIO Apelante(s) e Apelado(s): PREFEITURA MUNICIPAL DE DESCALVADO e JOÃO BENEDITO PRESCINOTTI e OUTRA Desapropriação Direito dos arrendatários no recebimento de indenização Valor incontroverso reconhecido pelas partes e pela sentença Adoção do valor venal para fixação do valor indenizatório - Possibilidade in casu em razão de valor irrisório adotado pela perícia judicial Indenização fixada na sentença mantida - Recurso dos arrendatários provido e não provido os recursos oficial e da Prefeitura de Descalvado. Trata-se de ação de desapropriação proposta por Município de Descalvado visando desapropriação de imóvel declarada de utilidade, interesse e necessidade pública pelo Decreto nº 3.321/2009 para fins de instalação de empresas e vias públicas objetivando a expansão industrial da área, com geração de empregos e aumento na arrecadação de tributos. Oferece o valor para fins de imissão na posse de R$62.347,044. Depositado o valor ofertado, foi deferida a

3 3 imissão na posse das áreas D1 e D2 (fls. 93/95). A imissão na posse em relação à área D3 foi deferida mediante complementação do valor de R$5.539,17. A sentença de fls. 889/898 prolatada pelo Juiz Rodrigo Octávio Tristão de Almeida julgou procedente a ação declarando incorporado o imóvel descrito na inicial ao patrimônio da Expropriante mediante indenização no total de R$ ,90, sendo a área D1 de R$66.755,24, área D2 de R$ ,00 e área D3A de R$ ,77, com juros compensatórios de 12% ao ano a partir da imissão na posse e para a área remanescente, R$ ,80. Condenou a Expropriante ao pagamento de custas, despesas processuais e honorários advocatícios fixados em 5% da diferença entre o valor inicialmente ofertado e o valor definitivo fixado na sentença. Soma-se à remessa oficial a apelação da Prefeitura de Descalvado (fls. 908/954) alegando que, ao adotar o valor venal do imóvel para fixação da indenização, o Magistrado a quo adotou critério equivocado, pois a área não era tributada pelo IPTU mas sim pelo ITR. Afirma que a perita judicial adotou o valor de R$8,127 por metro quadrado a título de indenização, não podendo ser usado como parâmetro o valor venal. Apelam João Benedicto Prescinotti e outros (fls /1.022) afirmando que foi reconhecido o direito dos

4 4 arrendatários à indenização de R$17.728,19, mas a parte dispositiva da sentença se omitiu afirmando que não são parte no processo. Alegam que seu direito é autônomo, devendo ser indenizados diretamente pela Prefeitura de Descalvado. É o relatório. Em relação à apelação dos arrendatários, verifica-se que a sentença reconheceu como certo o valor de R$17.728,19 como indenização pelo plantio da cana de açúcar em parcela da área desapropriada. Inexistiu impugnação acerca do valor determinado pela perícia judicial. Não existe qualquer óbice para o pagamento da indenização aos arrendatários, constituindo excesso de rigor formal não dar interpretação extensiva à condição de parte interessada, negando a prestação jurisdicional já reconhecida pela sentença e não impugnada pelas partes. Assim, cabe à Prefeitura o pagamento da indenização de R$17.728,19 aos arrendatários, valor válido para janeiro de 2012, corrigidos a partir de então, pela Tabela Prática do TJSP e com juros legais a partir da citação. Em relação à apelação da Prefeitura de Descalvado, o Magistrado agiu corretamente ao adotar o

5 5 valor venal para fins de cobrança de IPTU, neste caso, para definir o valor do metro quadrado do imóvel expropriado. Como bem observado pelo Magistrado a quo, a base de cálculo do IPTU é medida com esteio nos valores imobiliários vigentes. Se para apurar a base de cálculo do IPTU o município aferiu o valor venal das áreas vizinhas (que possuem as mesmas características do imóvel que se pretende desapropriar) em R$25,47 por metro quadrado, e se o valor venal do imóvel é apurado conforme os valores imobiliários vigentes (art. 226, 3º da Lei Orgânica Municipal), conclui-se que o valor imobiliário das áreas dos réus também é de R$25,47 por metro quadrado. A Secretaria de Finanças do Município informou que a Lei Municipal nº 3.406/2011 retificou o valor venal do metro quadrado do ano de 2011 para R$12,74 relativos aos imóveis localizados no Setor 5 (fls. 857/863). No entanto, não demonstrou a Municipalidade ter devolvido o quantum arrecadado a maior. E se não devolveu ao contribuinte o valor indevido, justo é que indenize com base no quantum que estipulou e arrecadou. Aliás, a avaliação de imóvel vizinho foi baseada em valor venal com R$25,47, valor esse certificado pela Seção de Tributação da Prefeitura de Descalvado às fls. 853/856.

6 6 Mostra-se correta e razoável a postura do Magistrado a quo em adotar o valor venal para fins de IPTU em áreas contíguas à expropriada e não o valor adotado pela perita judicial que não corresponde a fator que induza a uma justa indenização. Sobre o valor da justa indenização, incidirão juros compensatórios, no patamar de 12% ao ano desde a imissão na posse até a data da expedição do precatório, na forma descrita na sentença. Já no tocante aos juros moratórios, não há razão para que a Expropriante arque com juros de mora desde a data do trânsito em julgado da sentença, porque o pagamento se dará por meio de precatórios judiciais. Portanto, ainda que quisesse, a Prefeitura não poderia quitar a mora logo após o trânsito em julgado, devendo-se respeitar o disposto no art. 100 da CF. Nesse sentido aponta a jurisprudência majoritária do Superior Tribunal de Justiça: ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. DESAPROPRIAÇÃO DIRETA. JUROS MORATÓRIOS. TERMO INICIAL. ART. 15-B DO DECRETO-LEI 3.365/41. ENTENDIMENTO REAFIRMADO POR ESTA CORTE NO JULGAMENTO DO REsp /SP, SUBMETIDO AO REGIME DO ART. 543-C DO CPC. 1. Os juros moratórios, nas desapropriações, são devidos a partir de 1º de janeiro do exercício seguinte àquele em que o pagamento deveria ser feito. (g.n.) 2. Recurso especial provido. REsp /SP, Relator(a) Ministra ELIANA CALMON, Órgão Julgador SEGUNDA TURMA, Data do Julgamento 23/03/2010, Data da Publicação/Fonte DJe 08/04/2010.

7 7 A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça já não mais aplica sua própria súmula nº 70 no que tange aos juros, a saber: Ementa: ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA. JUROS COMPENSATÓRIOS. CRITÉRIOS. PERITO. REAPRECIAÇÃO. CIRCUNSTÂNCIA FÁTICA. SÚMULA N. 7 DO STJ. JUROS MORATÓRIOS. 1. É irrelevante o fato de o imóvel ser ou não produtivo para a fixação dos juros compensatórios na desapropriação. 2. A reapreciação dos critérios utilizados por perito oficial para fixar a indenização devida em ação de desapropriação implica necessariamente o revolvimento do contexto fáticoprobatório dos autos, o que é vedado em sede de recurso especial, a teor do disposto na Súmula n. 7 do STJ. 3. Os juros moratórios serão devidos a partir de 1º de janeiro do exercício seguinte àquele em que o pagamento deveria ser feito, nos termos do art. 100 da CF, e não mais nos termos da Súmula n. 70/STJ ("Os juros moratórios, na desapropriação direta ou indireta, contam-se desde o trânsito em julgado da sentença.") (g. n) 4. Recurso especial parcialmente conhecido e provido em parte. REsp /RN, Relator(a) Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Órgão Julgador SEGUNDA TURMA, Data do Julgamento 13/02/2007, Data da Publicação/Fonte DJ 05/03/2007 p Esse também o ensinamento de Maria Sylvia Zanella di Pietro (Direito Administrativo, 19ª. Ed. Atlas, 2006, p. 185): Os juros moratórios também incidentes sobre a mesma base de cálculo, no montante de 6% ao ano, a partir de 1º de janeiro do exercício seguinte àquele em que o pagamento deveria ser feito, nos termos do artigo 100 da Constituição Federal; é o que determina o art. 15-B, acrescentado ao Decreto-Lei nº pela Medida Provisória nº 2.183, de 2011, ficando revogada a súmula nº 70, do STJ, que previa o cálculo a partir do trânsito em julgado da sentença; (grifo nosso). Assim, os juros moratórios fluem a partir de 1º

8 8 de janeiro do exercício seguinte àquele em que o pagamento deveria ser feito, nos termos do artigo 100 da Constituição Federal. Os honorários de advogado nas ações expropriatórias devem se submeter ao art. 27, 1º do Decreto-lei nº 3.365/41, determinando sua fixação em entre 0,5% e 5% do valor da diferença entre a oferta inicial e a indenização. E na base dos honorários de advogado consideram-se os juros de ambas as espécies, pois integrando tais parcelas o conceito amplo de reparação, há nas espécies uma unidade valorativa, como observa YUSSEF SAID CAHALI ( Honorários Advocatícios, 2ª ed., pág. 679, e RJTJESP 143/77, 135/233, 132/150, 129/154 e 125/90). Vale ressaltar que a complementação do depósito não se equipara a oferta inicial, não se adicionando a parcela complementar para cálculo da diferença sobre a qual deve incidir a verba honorária. de Justiça, verbis Esse é o posicionamento do Superior Tribunal DESAPROPRIAÇÃO DIRETA. PROCEDÊNCIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. FIXAÇÃO. EXCLUSÃO DO DEPÓSITO COMPLEMENTAR DO CÁLCULO. VALOR DA DIFERENÇA ENTRE O PREÇO OFERECIDO (OFERTA) E O VALOR DA INDENIZAÇÃO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 141 DESTA CORTE. RECURSO PROVIDO. No cálculo dos honorários advocatícios, deverá ser considerado o valor da diferença entre a oferta e a indenização, ambas corrigidas monetariamente, não se incluindo o valor do depósito complementar. Recurso

9 9 conhecido e provido. Decisão unânime. REsp n /SP, rel. Min. Franciulli Netto, j , DJ , p. 83. DESAPROPRIAÇÃO DIRETA. HONORARIOS ADVOCATÍCIOS. CÁLCULO. "OS HONORÁRIOS DE ADVOGADO EM DESAPROPRIAÇÃO DIRETA SÃO CALCULADOS SOBRE A DIFERENÇA ENTRE A INDENIZAÇÃO E A OFERTA, CORRIGIDOS MONETARIAMENTE" (STJ - SUM. 141); O DEPÓSITO COMPLEMENTAR PARA EFEITOS DE IMISSÃO NA POSSE NÃO FAZ PARTE DA OFERTA PARA CÁLCULO DA VERBA HONORÁRIA. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO. REsp /SP, Relator Ministro ARI PARGENDLER, Órgão Julgador SEGUNDA TURMA, Data do Julgamento 02/12/1996, Data da Publicação/Fonte DJ 16/12/1996 p JBCC vol. 180 p No mesmo sentido: APELAÇÃO E REEXAME NECESSÁRIO. Desapropriação. Justa Indenização. Laudo pericial solidamente fundamentado. Insurgências genéricas, já respondidas durante a instrução. Valor da indenização mantido. (...) HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Verba honorária fixada de acordo com os limites previstos no Decreto-lei 3.365/1941. Depósito complementar não integra a oferta inicial, para fins de base de cálculo da verba honorária. SENTENÇA REFORMADA. Recurso provido em parte e reexame necessário acolhido em parte. Apelação nº , Comarca de São Paulo, 9ª Câmara de Direito Público, Relator Sérgio Gomes, julgado em 25 de julho de Dessa maneira, a verba honorária fixada observou os limites previstos no Decreto-lei nº 3.365/41, mostrando-se correta. Em face do exposto, dá-se provimento ao recurso dos arrendatários e nega-se provimento aos recursos oficial e ao da Prefeitura de Descalvado.

10 10 MARREY UINT Relator