LEGISLAÇÃO SST avanços e recuos
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- Lavínia Bentes Chaplin
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1 LEGISLAÇÃO SST avanços e recuos O Novo Enquadramento Legal da SST /2009: Marca a adopção de nova legislação enquadradora da SST: Novo Código do Trabalho (Lei 7/2009, de 12 de Fevereiro); Lei 102/2009, de 10 de Setembro (enquadramento SST); Lei nº 59/2008, de 11 de Setembro (legislação reguladora do trabalho na Administração Pública).
2 1991: Arranque das Políticas de SST 3 Ano de 1991 marca decisivamente no nosso país o arranque das políticas públicas na área da segurança e saúde do trabalho: Celebração entre o Governo e os Parceiros Sociais do primeiro Acordo Social na área da SST; Primeira versão da transposição da Directiva- Quadro da SST: DL 441/91, de 14 de Novembro. DL 441/91, 14 Novembro 4 Este diploma legal regulava globalmente a segurança e saúde do trabalho: Ao nível das políticas públicas (acção a desenvolver pelo Estado), assumindo aqui os princípios da OIT; Ao nível das políticas de empresa (acção a desenvolver pelas organizações produtivas), transpondo neste âmbito os princípios da legislação comunitária.
3 DL 441/91, 14 Novembro 5 Esta legislação definia o enquadramento da SST a nível global: Todos os tipos de organizações, todos os sectores de actividade (públicos e privados) e todos os tipos de trabalhadores. A partir deste tronco comum, desenvolveu-se legislação especial nas vertentes seguintes: Determinados riscos específicos e actividades produtivas; Interacção dos actores sociais nas organizações produtivas (informação, consulta, participação); Actividades de SST nas organizações. 6 Código do Trabalho de 2003 O Código do Trabalho de 2003 (e sua legislação complementar) instala a confusão no enquadramento da SST: Assume o enquadramento da SST ao nível das políticas de empresa e instala a dúvida sobre a vigência do DL 441/91; Não identifica que legislação revoga e que direito comunitário transpõe no domínio do enquadramento da SST; Deixa a dúvida sobre que legislação se aplica à Administração Pública. Face a este emaranhado jurídico, tinha de se considerar que o DL 441/91 se mantinha em vigor, mas só quanto às políticas públicas.
4 7 Código do Trabalho de 2003 O Código de 2003 incorreu em vários equívocos: O âmbito da SST reporta-se a todas as situações de trabalho, não se confinando à mera relação de emprego, pelo que extravasa o campo daquele Código; O direito à SST respeita a todos os trabalhadores, independentemente da sua condição de emprego privado ou público; O Código de 2003 posicionou-se em desalinhamento face: Constituição da República Portuguesa (a SST tem enquadramento nos direitos e deveres económicos e sociais fundamentais); Convenção 155 da OIT (artigo 3º); Directiva comunitária 89/391/CEE (artigos 2º e 3º). Código do Trabalho de O novo Código do Trabalho (de 2009) - A confusão do enquadramento legal da SST agravouse: A Lei 102/2009, de 10 de Setembro regulamenta aquele Código do Trabalho na vertente da SST, mas, na verdade, vai para além disso, pois assume-se como uma lei geral de enquadramento da segurança e saúde do trabalho, não só ao nível das políticas das organizações, mas, também, ao nível das políticas púbicas.
5 9 Código do Trabalho de 2009 Não foi ainda desta vez que se percebeu que a SST deve ser regulada em diploma próprio desenquadrado da regulamentação do Código do Trabalho, porque é matéria que extravasa o âmbito daquele Código. Exs: As políticas públicas de SST; A aplicação à Administração Pública; A intersecção da SST com a segurança de produtos; A intersecção da SST com a subcontratação e diversos outros aspectos da dinâmica da gestão da empresa. Aquele Código deveria limitar-se a consagrar a aplicação dos princípios daquele normativo geral ao domínio específico dos contratos de trabalho e contratos equiparados. Regime de Contrato de Trabalho em Funções Públicas 10 Ao mesmo tempo que se elaborava o novo Código do Trabalho, foi publicada a Lei 59/2008, de 11 de Setembro (regime do contrato de trabalho em funções públicas) que: Regulamenta todo o enquadramento da SST para a Administração Pública, sendo aplicável a todos os Funcionários (regime de contrato e modalidade de nomeação). A descoordenação legislativa é, então, notória!
6 A Discriminação dos Funcionários Públicos 11 Todos os funcionários públicos deixaram, então, de estar abrangidos pelo regime geral da SST. Porquê? Que coerência tem esta solução face à aproximação de regimes contratuais entre sectores privado e público? Que alinhamento tem esta solução com o direito internacional e comunitário e a própria Constituição? Será que se pretende para a Administração Pública uma prática de SST mais avançada?! 12 Desvio à Política Comunitária Os Princípios Gerais de Prevenção 1ºprincípio de prevenção: A Directiva comunitária estabelece a obrigação de, em primeiro ligar, se procurar evitar o risco ; A Lei nacional limita-se a referir que se deve proceder à identificação dos riscos previsíveis com vista à sua eliminação ou redução dos seus efeitos. É muito diferente o alcance das duas formulações : Evitar os riscos é procurar utilizar soluções, a qualquer nível da actividade da empresa, que sejam isentas de risco. É uma atitude preliminar que deve ter expressão concreta nas mais diversas decisões da empresa. Identificar os riscos integra a dinâmica da avaliação dos riscos, o que constitui o segundo (e não o primeiro) princípio geral de prevenção.
7 13 Desvio à Política Comunitária Os Princípios Gerais de Prevenção 2º princípio de prevenção: A Lei nacional refere que o Empregador deve integrar a avaliação dos riscos profissionais no conjunto das actividades da empresa, omitindo uma estatuição expressa da obrigatoriedade da avaliação de riscos como se preceitua na Directiva. Refere ainda que, na sequência daquela integração da avaliação de riscos, o Empregador deve adoptar as medidas adequadas de protecção, omitindo-se a referência ao conceito de prevenção e, obviamente, estabelecendo-se a confusão entre os conceitos de prevenção e de protecção e subvertendo-se a lógica da prioridade das abordagens de prevenção face às abordagens de protecção. 14 Desvio à Política Comunitária Os Princípios Gerais de Prevenção 4º princípio de prevenção: A lei nacional refere assegurar, nos locais de trabalho, que as exposições aos agentes químicos, físicos e biológicos e aos factores de risco psicossociais não constituem risco para a segurança e saúde do trabalhador, o que não é um princípio geral de prevenção, mas uma obrigação de resultado da actividade a desenvolver pelo Empregador.
8 15 Desvio à Política Comunitária Os Princípios Gerais de Prevenção 7º princípio de prevenção: O 7º princípio geral de prevenção da Directiva Quadro planificar a prevenção como um sistema coerente que integre a técnica, a organização do trabalho, as condições de trabalho, as relações sociais e a influência dos factores ambientais no trabalho está totalmente omisso na Lei nacional. A Protecção do Património Genético 16 O estranho conceito de risco para o património genético foi, em má hora, introduzido pelo Código do Trabalho de 2003: Sendo delimitado por uma lista de agentes que nunca foi publicada; Nunca se percebeu o alcance, pois já havia legislação bastante sobre agentes físicos, químicos e biológicos; Na legislação actual os equívocos em torno deste conceito mantêm-se. Veja-se, p. ex.: A obrigação que é estabelecida de avaliação trimestral de todos estes riscos. Quem vai cumprir? A insistência na formulação de uma lista indicativa de agentes agressores do património genético fará sentido quando esse desiderato já é alcançado pelos regulamentos europeus de registo, avaliação e autorização de químicos REACH e de classificação, rotulagem e embalagem de substâncias e misturas químicas?!
9 A Descoordenação entre Ministérios 17 A nova legislação veio estabelecer a autonomização do sistema de autorização de funcionamento dos Serviços Externos de SST entre o Ministério do Trabalho (para Serviços de Segurança do Trabalho) e o Ministério da Saúde (para Serviços de Medicina do Trabalho). Inconvenientes desta solução: Desintegra o processo de licenciamento destes serviços; Alimenta uma visão de desarticulação entre vertentes da abordagem preventiva que deve ser eminentemente holística; Alimenta a burocracia, obrigando os utentes a articular com dois interlocutores do lado da Administração do Estado. Esta medida é ainda um sinal de enfraquecimento da liderança do Ministério do Trabalho na área da segurança e saúde do trabalho, apesar de, no plano formal, a lei lhe reservar um papel de coordenação.
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