A Interpretacão dos Sonhos



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Transcrição:

A Interpretacão dos Sonhos LEONARDO DELLA PASQUA Psicólogo, psicanalista com formação no Spazio Psicoanalitico di Roma, diretor da Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul, sócio-fundador do Laboratorio Psicoanalitico di Roma. Introdução Este material foi produzido para os participantes do curso Introdução a Interpretação dos Sonhos. Neste texto utilizo somente o livro A interpretação dos Sonhos como referencial, apresentando os conceitos capítulo por capítulo, procurando acompanhar o desenvolvimento das idéias freudianas contidas no texto. O livro começa com uma citação do Clássico Eneida, de Virgílio, que fala das aventuras de Eneas, troiano fugido da guerra de Tróia: Flectere si nequeo superos, Acheronta Movebo Virgílio, Eneida, livro II (Se não puder dobrar os deuses de cima, comoverei o Aqueronte) Aqueronte, para quem não sabe, é um dos principais rios do reino de Hades, a terra dos mortos para o povo grego. A frase nos apresenta o que irá surgir no texto: um mergulho nas profundezas da mente humana, com o objetivo de clarear os fenômenos que fazem parte dos sonhos e do funcionamento mental. Acompanhemos agora a construção do pensamento freudiano sobre os sonhos e suas hipóteses em relação ao aparelho psíquico, características da sua 1ª tópica:

A literatura científica que trata dos problemas dos sonhos No 1 capítulo da Interpretação dos Sonhos, para dar importância à novidade da sua teoria onírica, Freud discute minuciosamente as teorias sobre os sonhos dos estudiosos que o precederam e percorre conosco todos os problemas e enigmas do sonho, com base na literatura científica da época. Sobre o problema da relação entre sonhos e vigília, os autores tinham opiniões diversas: alguns sustentavam a idéia que os sonhos eram completamente destacados da consciência; outros pensavam que fosse ligado a ela por uma continua co-penetração e dependência recíproca. Atividades especiais eram atribuídas à memória onírica, que para alguns autores é potencializada na vigília: nos sonhos temos recordações que fogem à vida de vigília, como os sonhos hiperminésicos. Para a maioria dos autores, as três características da memória onírica são: acolher lembranças infantis, registrar fatos recentes e reproduzir impressões insignificantes que na vigília não chamaram a atenção particularmente. O problema fundamental dos autores em relação à vida onírica estava em responder as seguintes perguntas: por que se sonha? O que provoca o sonho? De quais estímulos surgem as imagens oníricas? Consideravam-se quatro fontes de estímulos: 1. Excitação sensorial externa estímulos externos que atingiriam os órgãos durante o sono e provocariam os sonhos; 2. Excitação sensorial interna(subjetiva) seriam os estímulos que agem sobre os órgãos dos sentidos a partir do interno do corpo, como acontece com as alucinações hipnagógicas, que são semelhantes as imagens oníricas; 3. Estimulação orgânica durante o sono existiria uma maior consciência sensorial do corpo, uma percepção aumentada os órgãos do corpo. Isto seria uma das fontes do sonho. Os doentes de coração e pulmão têm sonhos de angústia; os tuberculosos têm

sonhos de sufocamento; a excitação sexual provoca sonhos de conteúdo erótico; 4. Fontes de estímulo psíquico os interesses, as preocupações da vida de vigília continuariam durante o sono, provocando sonhos, mas os produtos da atividade onírica perderiam todas as qualidades psíquicas, reduzindo-se a representações reproduzidas mecanicamente, reguladas somente pelas leias associativas. Os autores que davam importância a estas quatro fontes de estimulação nos sonhos sustentavam a idéia de que o sonho fosse uma perturbação do sono. Geralmente os autores médicos fisiologista, psiquiatras afirmavam que o sonho era um fenômeno somático, de origem orgânica vegetativa. Freud questiona essas teorias, pois afirma que nenhuma das fontes de estímulos observada isoladamente pode bastar para explicar o conteúdo onírico. Nenhum estudioso conseguiu esclarecer a fundamental relação entre o estímulo e a imagem onírica. A grande lacuna entre as teorias era a origem do material imaginativo-representativo que é típico do sonho. Nenhum autor, com exceção de G.T. Fechner, tinha compreendido o fundamental modo heterogêneo de ser do sonho. Considerando o sonho como um prolongamento degenerativo da vigília, os outros autores das teorias dominantes falavam de sono parcial do cérebro, do fenômeno do progressivo acordar, do flutuar da mente sem meta e sem sentido. Examinando os motivos do esquecimento dos sonhos ao acordar, Freud indaga sobre as peculiaridades psicológicas do sonho nos diversos autores. Todos eles colocam em evidência algumas características: o sonho pensa por imagens, não por conceitos; o sonho alucina; o sonho dramatiza uma idéia. No sonho não parece que pensamos, mas que vivemos as situações; o sonho é destacado do mundo externo. No sonho existe uma reviravolta da lógica, onde não predomina o princípio de causalidade; o sonho é loucura! Valem somente as leis associativas, que dão lugar a séries automáticas de representações. No sonho se conserva a memória, para alguns autores conserva-se também a vida afetiva, mas em maneira desordenada. Num certo sentido, se mantêm também a consciência (do contrário não saberíamos nada do sonho). Porém, todas essas funções seriam diminuídas, até mesmo abolidas. Para quase

todos os autores, não aparecem sentimentos morais, pelo contrário, predomina a imoralidade e a anarquia sentimental. O sonho é incoerência, caos intelectual, um fenômeno inútil. Concluindo este capítulo, todos os autores consideravam o sonho um fenômeno somático, não um fenômeno psíquico. A única exceção seria a teoria de Scherner, onde na fantasia onírica era reconhecida uma atividade psíquica. Em relação às semelhanças entre sonho e as doenças mentais, em alguns casos, certos autores consideravam os sonhos como causa de certas formas psicóticas, porque encontraram casos em que os sonhos teriam acionado os sintomas em sujeitos paranóicos e delirantes. Freud objeta contra essa hipótese, pois afirma que raciocinando deste modo, troca-se a causa pelo efeito. Reconhecendo uma concordância entre a estrutura psíquica onírica e a estrutura psicótica, Freud pensa que precisa-se partir do enigma do sonho para se compreender as perturbações mentais. O método de Interpretação dos Sonhos: análise de um sonho modelo No 2 capítulo, acompanhamos Freud na exposição do método de interpretação do sonhos. Freud o contrapõe aos métodos de interpretação - o simbólico e o cifrado seja às teorias dos teóricos que o precederam, que não se preocupavam com interpretação. Podemos ver que o interesse de Freud pelos sonhos nasce das suas experiências terapêuticas. Na psicanálise dos neuróticos o sonho se apresentava como um sintoma e era necessário que se aplicasse um método de interpretação elaborado para ele. Este método constituía-se em analisar o material constituído por todos os pensamentos dos pacientes relatados ao analista sem exclusão. Era importante também não exercer crítica alguma sobre o material. Esta análise permitia chegarmos à origem da perturbação. Assim, para encontrar o significado do sonho, para chegar a sua origem, as suas motivações, é necessário utilizar os pensamentos que surgem espontaneamente na mente de quem sonhou, depois de acordar.

O sonho será decomposto nos seus elementos. Para cada fragmento, o paciente fornecerá preciosas associações de idéias pelas quais será possível o sentido do sonho em sua totalidade. Para demonstrar que o sonho é um fenômeno psíquico que se apresenta seja em neuróticos como em pessoas sãs, com as mesmas modalidades e seguindo leis psíquicas universalmente válidas, Freud precisava fornecer exemplos que não proviam somente das análises terapêuticas, mas também, e sobretudo, da experiência cotidiana. Porém, os sonhos contados por pessoas sãs, ou citados pela literatura onírica não poderiam desfrutar de uma análise, que permite chegar ao significado do sonho. Freud decide então expor seus próprios sonhos. Esta auto-análise pode suscitar dúvidas sobre a sua validade e a imparcialidade do intérprete, diz Freud, mas ele atesta que quando se verificam as condições para uma serena auto-observação, uma pessoa que se pode considerar normal tem condições de perceber os seus processos psíquicos, talvez até melhor que uma outra pessoa. Para ilustrar com um exemplo o seu método de interpretação, ele relata um sonho seu, analisando cada detalhe. A análise do sonho da Injeção de Irma demonstrou que o sonho tem um significado e não são produto de uma atividade cerebral reduzida ou fragmentada, como afirmavam os autores precedentes. Terminado o trabalho de interpretação, o resultado é que o sonho é um ato psíquico que tem por movente um desejo e por objetivo a realização alucinatória desse desejo. Observação: 1. A técnica da pressão e de fechar os olhos ao doente é abandonada em seguida por Freud; 2. Sabemos como o desenvolvimento do pensamento psicanalítico levou os psicanalistas a considerarem a auto-análise uma operação geralmente impossível.

O sonho é a Realização de um Desejo Sabemos agora que o sonho é um fenômeno psíquico e não puramente somático. Sabemos também que é a realização de um desejo. O sonho tem que ser inserido no conteúdo psíquico da vigília, fruto de uma atividade mental muito complexa. Surgem logo algumas questões: Por que a satisfação de um desejo se exprime de forma tão complexa? Quais mudanças tiveram os pensamentos do sonho para formar um conteúdo onírico como nos recordamos ao despertar? De onde provém o material que foi elaborado em forma de sonho? Qual a relação do sonho com os processos psíquicos da vigília? Antes de responder a essas perguntas, Freud coloca-se outro quesito: a realização de um desejo é uma característica geral do sonho ou o conteúdo de um sonho em particular (sonho da Injeção de Irma )? Não seria possível que outros sonhos tenham como conteúdo um temor, uma reflexão, uma lembrança? Sonhos de conveniência Muitos sonhos revelam seu caráter de realização de desejos. Existem os sonhos provocados por necessidades orgânicas. O estímulo da sede, por exemplo, pode fazer com que sonhemos de beber água. Neste caso o sonho, realizando o desejo de beber, tem a função de fazer com que continuemos a dormir. São sonhos de conveniência, que servem para proteger o sono. Freud diz de ter tido ele mesmo sonhos de sede satisfeita. Quando era mais jovem, tinha claros sonhos de conveniência, quando ficava trabalhando até tarde e era difícil acordar no dia seguinte. Sonhava de estar já em pé, pouco depois acordando realmente. Porém, neste meio tempo, tinha dormido ainda mais um pouco.

Anúncio de gravidez Em outros sonhos é fácil descobrir a realização de um desejo. Uma jovem mulher casada, que sabia que Freud interessava-se pelos sonhos, encarregou o marido de perguntar-lhe o significado de um sonho: tinha sonhado de estar menstruada. Se sonhou isso pensou Freud as menstruações não chegaram, mas ela gostaria que tivesse acontecido, temendo estar grávida. Era na verdade, um modo desta mulher inteligente comunicar ao marido que estava grávida pela primeira vez. Os sonhos das crianças Os sonhos de crianças pequenas são, muitas vezes, simples realizações de desejos. Os sonhos de seus próprios filhos fornecem a Freud numerosos exemplos. Após um passeio ao qual queria chegar ao topo do monte Dachstein, mas teve que contentar-se em subir somente modestas colinas e de ver somente com o binóculo o desejado refúgio Simony, o filho de cinco anos de Freud contou no dia seguinte: Esta noite sonhei que fomos ao refúgio Simony. Conteúdo Manifesto e Conteúdo Latente no sonho Muitos sonhos demonstram o seu significado de realização de um desejo, mas se poderia objetar: como podem ter esse mesmo significado os sonhos de conteúdo penoso, em particular modo os sonhos de angústia? Exatamente nas crianças, que tem sonhos de realização de desejos, não se verificam sonhos assustadores, cheios de angústia e de pesadelos? Precisa-se distinguir conteúdo manifesto e conteúdo latente do sonho. O conteúdo manifesto é o sonho como nos lembramos ao acordar, assim como o

reconstruímos quando nos esforçamos a usar a memória. Porém, existe um significado escondido: são os pensamentos que o trabalho de interpretação reconhece por detrás do sonho, subjacentes aquilo que está na superfície, ao que aparece evidente no sonho. Bem, é claro que o conteúdo manifesto de muitos sonhos é penoso, mas o que existe no seu conteúdo latente? Foram interpretados esses sonhos penosos? Foram submetidos à análise? Até quando se ignorar o significado fundamental do sonho, é natural que não se preocupe com o que se esconde atrás da angústia, em relação a o que poderia ser o significado de um pesadelo. Se não se faz está indagação, não se pode excluir a hipótese que mesmo os sonhos penosos e angustiosos se revelem como realização de desejos. A Distorção Onírica Nos 3 e 4 capítulos, Freud desenvolve seu pensamento depois da fundamental descoberta que os sonhos são realizações de desejos. Ele perguntase se essa descoberta tem um valor universal, isto é, se em todos os sonhos pode-se encontrar um desejo como motivador ou objetivo do próprio sonho. Diferenciando o conteúdo onírico manifesto do conteúdo onírico latente, pergunta-se Freud: por que esses pensamentos estão escondidos? Por que os sonhos deformam os seus pensamentos a tal ponto que no conteúdo manifesto freqüentemente aparecem algumas coisas que é tão distante do seu verdadeiro significado? Através da análise de um sonho ( o tio com a barba amarela ), ele explica o fenômeno da deformação onírica: onde existe uma defesa contra um desejo, este não pode exprimir-se senão em modo deformado. A função psíquica que impede o desejo de exprimir-se na sua forma genuína é chamada por Freud de censura. Pode-se agora supor que agem como causas da deformação do sonho duas forças (ou instâncias, ou sistemas), uma que satisfaz o desejo e outra que exercita a censura. A censura é aquela função que permite que a consciência aceite, seja em modo deformado, os pensamentos latentes dos sonho, onde se encontra anelado o desejo. A deformação onírica é a serviço da censura psíquica.

A esta altura pode-se explicar a aparente contradição dos sonhos penosos: eles contém algum desprazer para a segunda instância, mas que satisfaz um desejo da primeira instância. O conteúdo manifesto é penoso, mas no conteúdo latente existe uma realização de um desejo. O conteúdo manifesto é deformado em relação ao conteúdo latente, porque existe a repugnância, uma resistência em relação a uma certa coisa que inclusive desejamos. A deformação serve para não fazer com que nos demos conta do fato que queremos satisfazer um desejo reprovável. No decorrer de sua psicanálise, Freud se debateu também em sonhos que ele denomina de sonhos de contra-desejo, os quais parecem desmentir a sua hipótese, pois contêm fracassos, renúncias, insucessos, etc. ele descobriu que seguidamente esses sonhos têm a origem no desejo dos pacientes em contrariar Freud, de desmentirem com os sonhos a sua teoria. Outras vezes nascem de tendências masoquistas: neste caso quer-se realizar o desejo de auto-punição, de humilhação, de infligir-se sofrimentos morais. O Material e a Fonte dos Sonhos No 5 capítulo Freud examina o problema do material e fonte dos sonhos a partir do ponto de vista de suas fundamentais descobertas. Ele considera as três características da memória onírica: preferência por impressões recentes, por aquelas indiferentes e por lembranças infantis. Embasado na sua experiência, ele afirma que os acontecimentos tenham relação exclusivamente por impressões do dia anterior (ou mesmo do dia do sonho, se sonhamos de dia). O sonho pode escolher seu material de qualquer momento da vida, desde que exista uma relação entre as experiências do dia anterior com o passado mais distante. De onde provêm esta preferência pelas impressões recentes e indiferentes? Com a análise do sonho da monografia de botânica, Freud nos mostra que a cada dia, juntamente com as impressões recentes e indiferentes, existe sempre um elemento de outro valor psíquico que emerge da interpretação.

O sonho se preocupa com os principais interesses da pessoa que sonha, não desperdiça atividade psíquica para material irrelevante. Por que no conteúdo manifesto aparecem impressões indiferentes, se o sonho foi provocado por uma impressão significativa? A explicação é que o elemento significativo chega a ser representado na consciência somente através de impressões indiferentes, pelo fato que a sua manifestação na forma verdadeira é inibida pela censura. Acontece um deslocamento da acentuação psíquica, onde as representações inicialmente pouco intensas, assumem o lugar de outras originalmente mais intensas, chegando a uma força que permite o seu acesso à consciência. Em geral, por que existem impressões do dia anterior? Ao efetuar o deslocamento, o trabalho onírico sofre uma verdadeira constrição e começa a fazer ligações com impressões do dia anterior, mesmo se elas são indiferentes. Se existem duas ou mais experiências do dia anterior idôneas a provocarem sonhos, o sonho se refere a todas conjuntamente e todas como sendo uma só, unifica as fontes de estímulos existentes. Além de ser uma experiência recente, psiquicamente significativa, a fonte do sonho pode ser uma experiência íntima (lembrança de um evento psiquicamente significativo ou uma sucessão de idéias). Este material íntimo transformou-se em recente através do trabalho mental diurno. Como se explicam as impressões indiferentes, pertencentes ao passado, que se encontram no sonho? Não são verdadeiramente indiferentes, pois neste caso o deslocamento aconteceu no passado e permaneceu fixado na memória a partir daquele momento. Não existem estímulos indiferentes e Freud demonstra com alguns exemplos que diversos sonhos aparentemente indiferentes revelamse à interpretação como sonhos maliciosos. Em relação a terceira característica da memória onírica o aparecimento de lembranças infantis Freud demonstra o surgimento dessas lembranças com numerosos exemplos, entre eles o sonho revolucionário, que contém duas cenas infantis de especial importância para compreender o desenvolvimento psíquico do adulto.

As referências à primeira infância aparecem em tantos sonhos, que Freud se pergunta se esta não é uma condição essencial do sonhar. Seguidamente os sonhos podem ter diversos significados; atrás de diversas realizações de desejos, encontra-se uma realização de um desejo da primeira infância. Freud esclarece a sua posição em relação às teorias que sustentavam que os sonhos eram provocados por estímulos somáticos. O sonho é a reação a tudo que existe de atual na psique na pessoa que dorme. Se aos traços mnêmicos que tem a característica de atualidade psíquica adiciona-se material fresco sob forma de sensações, essas excitações também são elaboradas para servir de realização de um desejo. Freud dá vários exemplos em relação a isso. Porém, os estímulos somáticos podem não ter relação com outros elementos do sonho (as atualidades psíquicas) porque durante o sono são possíveis outros tipos de reação aos estímulos corpóreos que dão lugar aos sonhos. No caso dos sonhos de conveniência, o estímulo somático sozinho consegue formar um desejo. O sonho de conveniência revela um dos enigmas do sonho em geral: num certo sentido, todos os sonhos são sonhos de conveniência, pois têm como objetivo fazer continuar o sono. O sonho é o guardião, não o perturbador do sono. Freud aplica sua técnica de interpretação aos sonhos típicos, isto é, aqueles sonhos em que a interpretação pareceria menos aplicável, porque nestes sonhos surgindo em todas as pessoas, com as mesmas modalidades as associações livres de cada indivíduo perdem valor e importância. Mesmo assim, exatamente na explicação dos sonhos típicos, Freud faz descobertas fundamentais para compreender algumas características universais da vida psíquica humana. Ele explica os sonhos embaraçosos de estar despido como um sonho de exibição. Reproduz-se uma situação infantil: a criança não conhece vergonha até o adulto não intervém e proíbe o desnudamento. Com o sonho de estar despido, quer-se voltar ao paraíso da infância, quando não existia ainda a vergonha e a angústia, quando ainda não tinha começado a vida sexual e a vida civil. O sonho sobre a morte de pessoas queridas é interpretado como um real desejo de morte, não sendo sempre um desejo atual, mas um prolongamento no tempo de um desejo infantil. No caso dos irmãos e irmãs, esse desejo deve-se ao egoísmo da criança que vê nos irmãos um rival do amor dos pais em relação a

eles. No caso da mãe e do pai, Freud descobriu uma rivalidade sexual da criança em relação ao genitor do mesmo sexo e um desejo que ele morra. Os sonhos das crianças mostram essa verdade. Confirmam isso o mito do Édipo e a tragédia de Hamlet (duas tragédias que nos comovem profundamente porque tocam as cordas da nossa psicologia infantil). São testemunhos desse fenômeno os sonhos dos adultos e os desejos inconscientes dos pacientes. Tudo isso sem considerar a rivalidade e a hostilidade consciente dos filhos em relação aos pais. Nos sonhos sobre a morte de pessoas queridas, um desejo inconsciente passa diretamente para o conteúdo onírico manifesto, superando a censura (que é surpreendida, desarmada em relação à enormidade daquele desejo). Se mesmo nos sonhos de angústia a censura é globalmente ou parcialmente superada, essa superação é facilitada quando a angústia é sentida como uma sensação atual, proveniente de fontes somáticas. Como resultado, o objetivo da censura é evitar o desenvolvimento da angústia. Como nas crianças, que têm sonhos de angústia, os adultos também conservam a mesma característica: em todos os sonhos, predomina o EU do sonhador. Outros sonhos típicos, como voar com alegria, cair com angústia, de sentir vertigens, são interpretados como repetição de brincadeiras infantis. O sonho com exames é explicado como um desejo de consolação e autocrítica em relação a um teste sexual que nos espera e nos provoca angústia; por isso sonha-se que tudo dará certo (o exame já superado). O Trabalho do Sonho No 6º capítulo, Freud pergunta-se: quais operações intervêm na transformação dos pensamentos do sonho, do conteúdo latente em conteúdo manifesto? Problema ignorado pelos estudiosos precedentes que conheciam somente o conteúdo manifesto. Freud entra no coração da sua teoria onírica. Ele examina em todos os seus aspectos o trabalho do sonho.

Quatro são os fatores fundamentais do trabalho do sonho: a condensação, o deslocamento, as considerações sobre a representabilidade, a elaboração secundária. A condensação substitui diversas representações contidas nos pensamentos dos sonhos por uma que está no lugar de muitas outras representações, porque tem algum elemento comum também a elas. Essas representações que contêm muitas outras se encontram no conteúdo manifesto. O sonho apresenta-se pobre em elementos representativos porque cada um desses elementos está no lugar de muitos outros. A condensação não acontece por omissão ou por compêndio, mas os elementos do conteúdo onírico são formados a partir de uma massa de pensamentos do sonho e cada elemento do conteúdo manifesto é sobre-determinado, isto é, representado mais vezes nos pensamentos do sonho. Por outro lado, os pensamentos dos sonhos também são representados mais vezes nos diversos elementos do conteúdo manifesto. Outra operação fundamental é o deslocamento da intensidade psíquica de alguns elementos representativos que se chocariam com o obstáculo da censura. Um elemento psiquicamente importante que pode ser representado diretamente no sonho é representado por outro elemento do conteúdo manifesto que, referindo-se a outro pensamento, alude àquele elemento psiquicamente importante. Portanto, a censura é a força psíquica pela qual o trabalho onírico é obrigado a efetuar o deslocamento. Antes de iniciar a tratar da terceira condição da formação do sonho, Freud examina os meios que o trabalho onírico tem a disposição para representar os pensamentos do sonho. Nos pensamentos do sonho ou seja, no conteúdo latente existem relações lógicas que governam as relações entre um pensamento e outro. O que acontece com estas relações lógicas quando o trabalho do sonho submete o material a uma obra de compressão, deslocamento, fragmentação, redução aos termos mínimos? Conservam-se as relações lógicas? O sonho não dispõe de nenhum meio de representar as relações lógicas. É a interpretação que deve restabelecer as conexões. O nexo lógico na sua generalidade é expresso no sonho como simultaneidade. As relações causais se exprimem com uma sucessão de fragmentos do sonho, ou como uma transformação de uma imagem em outra. A

relação ou-ou não pode ser exprimida. O contraste e a contradição (o não) podem ser representados como uma sensação de inibição motora, com a inversão da relação material entre pensamentos e conteúdo e, nos sonhos absurdos, com o absurdo do conteúdo manifesto. Somente a relação de semelhança, de concordância, o como se, tem vantagem na representação onírica através da condensação. Os meios pelos quais se serve o trabalho do sonho são: a identificação (que pode acontecer entre pessoas e também entre coisas) e a formação mista (que se aplica a objetos). No sonho o Eu pode ser representado diretamente ou com a identificação com outras pessoas. Quando se está indeciso onde esteja escondido o Eu, é importante ater-se a uma regra: o Eu está escondido por detrás da pessoa que no sonho vai o nosso afeto. A terceira condição da formação do sonho é a consideração à representabilidade. Nos pensamentos do sonho acontece outro tipo de deslocamento, uma transformação da linguagem, do abstrato ao concreto, da idéia ao símbolo. Freud descreve os principais símbolos descobertos pela psicanálise. Ele examina o significado dos números, dos cálculos, dos discursos no sonho. O trabalho dos sonhos não faz cálculos e não faz discursos. Aquilo que encontramos nos sonhos são pensamentos oníricos, mas não existe no sonho uma atividade de reflexão. O sonho não pensa, representa coisas já pensadas. Os sonhos tem sempre um significado. Não existem sonhos absurdos. O que acontece com os estados afetivos no sonho? Os afetos são destacados dos conteúdos representativos, diferente do que acontece na vigília, quando estão sempre juntos; no sonho os afetos são desligados de suas representações correspondentes. Os afetos perdem a intensidade nos sonhos; podem ser eliminados ou por causa da censura serem invertidos no seu contrário. Por fim, Freud considera a quarta condição da formação do sonho. O trabalho do sonho insere sentimentos críticos nos sonhos e julgamentos sobre os próprios sonhos que não pertencem diretamente aos pensamentos do sonho, mas da atividade de reflexão sobre o sonho que é a mesma atividade do pensamento de vigília. O material onírico é submetido a uma elaboração secundária, que tende a fazer com que o sonho perca a aparência de absurdo e se aproxime a um modelo de experiência compreensível.

A instância que promove a elaboração secundária é o pensamento de vigília (pré-consciente). Esta instância se comporta com o material onírico do mesmo modo que outro material perceptivo da vigília, ou seja, dá ordem, estabelece relações, deixa coerente e inteligível o que arrisca se apresentar como absurdo e desordenado. Psicologia dos Processos Oníricos O 7º capítulo do livro é muito importante teoricamente, porque Freud levanta hipóteses dos processos psíquicos fundamentais que agem nos sonhos e nas psiconeuroses. Para explicar esse pensar normal presente no sonho e na neurose, ele é induzido a comparar esse pensamento consciente normal e passa a descrever uma completa descrição do aparelho psíquico e das suas funções. Este capítulo marca uma data importante no progresso da teoria psicanalítica. Freud utiliza um sonho-padrão para desenvolve suas hipóteses. Um pai que após a morte de seu filho, fora ao quarto ao lado para descansar, deixando a porta aberta, de modo a poder enxergar o quarto onde jazia o corpo do filho, iluminado por velas altas sonhou que seu filho estava de pé junto a sua cama, que o tomou pelo braço e lhe sussurrou em tom de censura: Pai, não vês que estou queimando? Ele acordou, correu ao quarto ao lado, pois viu um clarão vindo de lá, e viu que uma mortalha e um dos braços do filho tinham sido queimados por uma vela que havia caído. O sonho sugere ter acontecido em função do ocorrido ao quarto ao lado. O clarão chegou até o pai dormindo provocando nele a sensação de um incêndio. Por que esse homem não acordou e, ao invés disso, preferiu continuar a dormir e a sonhar? Porque ao imaginar o filho ainda vivo, o pai realizou o desejo de prolongar-lhe a existência, mesmo que por poucos momentos. Porém, mesmo que esse tenha sido o motivo que originou o sonho, este sonho introduz alguns problemas. Onde está o profundo motivo inconsciente que seria contrastado pela censura? Tudo é claro, simples, se diria até que é transparente. Pareceria um

sonho muito perto da vigília, quase uma fantasia semi-consciente. Porém, é inegável a sua característica de irrealidade que é própria a todos os sonhos: o pai vê, no sonho, seu filho vivo, isto é, reproduz a alucinação onírica que acontece em todos os sonhos. Além disso, o homem lembra todo o sonho com clareza. Onde está a deformação onírica? Como aqui a resistência não entrou em ação, impedindo ao sonhador de lembrar todo o sonho? O Esquecimento dos Sonhos Quando um sonho é lembrado? Daquilo que lembramos, não existe uma parte que acrescentamos na nossa reconstrução consciente? É claro que deformamos o sonho, mas essa deformação parte da elaboração secundária, imposta pela censura onírica. A deformação na vigília não é arbitrária, obedecendo a regras que devem ser analisadas como é analisada a deformação do conteúdo onírico. Nos fenômenos psíquicos não existe nada de arbitrário. O mecanismo do sonho é governado pelo determinismo que governa a nossa vida dia e noite. Não se pode falar em esquecimento dos sonhos, pois não se lembra os sonhos que não se quer lembrar. Se a reconstrução dos sonhos é devidamente estimulada, descobre-se que se lembram todos os sonhos, em todas as suas partes. Naturalmente existe para os sonhos um esquecimento fisiológico com o passar do tempo, assim como acontece em todas as nossas impressões. As Associações Livres Ao interpretar os sonhos, assim como na análise dos pacientes, a regra áurea é convidar o paciente à livre associação de idéias. Em função do determinismo psíquico, as idéias que remetem a um núcleo profundo recalcado são todas interligadas entre elas. Precisa-se percorrer o curso dessas associações e o fio associativo conduzirá ao pensamento profundo, tendo em

mente que qualquer coisa que interrompa o progresso do trabalho analítico é uma resistência. As associações devem ser verdadeiramente livres. O paciente ou o sonhador deve dizer tudo o que lhe vem à mente a partir de uma idéia, de uma impressão por ele mesmo expressa. Não deve exercitar nenhum controle sobre o que diz, não deve refletir nem escolher uma idéia no lugar de outra. Não deve descartar uma idéia porque é inconveniente, incongruente, absurda, pueril, etc. Os críticos de Freud objetam: como pode uma associação de idéias sem objetivo, sem intenção, levar aos pensamentos do sonho? Deve-se concluir que os nexos psíquicos já estão estabelecidos antes da reconstrução analítica: pensamentos conscientes e inconscientes estão ligados entre eles por nexos que não dependem da vontade ou da memorização consciente desses pensamentos. Se comparamos as associações livres de quem tem um sonho com as pessoas que apresentam sintomas histéricos, vê-se que nos histéricos, o curso da livre associações de idéias leva a um núcleo ideativo, que uma vez conseguido e transformado consciente, faz desaparecer os sintomas. O Aparelho Psíquico Voltemos agora ao sonho da criança que queima. O pensamento inspirador do sonho era esse: Vejo um clarão proveniente do quarto onde jaz meu filho morto. Talvez uma vela caiu e meu filho pode se queimar. Essa reflexão foi representada como uma cena visiva, foi vivida no sonho. No sonho, o pai vê o filho ainda vivo no tempo presente, que é o tempo dos sonhos. Em relação a isso, os sonhos se parecem às fantasias de olhos abertos, mas a diferença está no fato que nos sonhos noturnos os pensamentos são transformados em imagens sensoriais que parecem ser vividas pelo sonhador como alucinações. Qual função psíquica transforma os pensamentos do sonho em imagens sensoriais? Onde acontece essa transformação? Em qual parte (lugar) o aparelho psíquico? Freud diz que a idéia de localidade psíquica não deve ser entendida no sentido anatômico, pois é preciso pensar num nível funcional. Ele sugere que

imaginemos o instrumento que executa nossas funções psíquicas como um microscópio composto ou um aparelho fotográfico. A localidade psíquica corresponde a um ponto ao interno do aparelho onde aparecem os estados preliminares de uma imagem, isto é, para que se produza uma imagem-sonho, é preciso que se desenvolvam certas funções nos vários elementos que compõem o aparelho psíquico. Assim, Freud desenvolve uma sua teoria. O aparelho psíquico é composto por instancias ou sistemas que mantêm entre si uma relação espacial constante, mas não é necessário levantar a hipótese que os sistemas sejam efetivamente dispostos numa ordem espacial. É suficiente estabelecer uma ordem fixa, de modo que em um processo psíquico específico, a excitação passa através dos sistemas, numa específica sucessão temporal. O aparelho psíquico tem um sentido e uma direção. Toda a nossa atividade psíquica tem origem em estímulos (internos e externos) e termina em inervações. Pode-se atribuir ao aparelho uma extremidade sensória e uma extremidade motora. Na extremidade sensória existe um sistema que recebe as percepções (sistema Pcpt). Na extremidade motora existe um outro sistema que abre comportas da atividade motora (sistema M). A figura abaixo exemplifica o que estamos afirmando. Os processos psíquicos partem da extremidade perceptiva àquela motora, isto é, o aparelho psíquico se constitui como um arco reflexo e este modelo serve para todas as funções psíquicas. As percepções não se limitam em serem recebidas pelo sistema Pcpt e a transmitir, por reflexo, as excitações para o sistema M. No aparelho psíquico restam traços de percepções que agem sobre

ele. Podemos descrevê-los como traços mnêmicos e a função que se relaciona com eles chamamos de memória. Os traços mnêmicos são modificações permanentes dos elementos do sistema perceptivo. O mesmo sistema Pcpt não poderia conservar as modificações dos seus elementos e continuar aberto a receber novas percepções. Essas duas funções pertencem a dois sistemas diferentes: existe um sistema perceptivo que está na parte frontal da superfície do aparelho, sistema esse que recebe os estímulos, mas não preserva nenhum traço deles; e existe um segundo sistema que está por trás dele, mais internamente, que transforma as excitações do primeiro sistema em traços mnêmicos permanentes, conforme a figura abaixo. As nossas percepções são colegadas na nossa memória, antes de mais nada, pela simultaneidade da aparição (fenômeno da associação). Como se forma a associação? É claro que o sistema Pcpt não tem memória. Temos que presumir que o fundamento da associação esteja no sistema mnêmico. A associação consistiria no fato que, após a redução da resistência e abertura de novas vias de acesso, a excitação de um traço mnêmico se transmite a outro. Por trás de um sistema Pcpt, existe um sistema mnêmico. O sistema Pcpt é diretamente ligado à consciência. Por outro lado, as nossas lembranças são inconscientes. Pode-se transformar conscientes, mas sem dúvida podem produzir todos os seus efeitos em um estado inconsciente. O nosso caráter é baseado em nossas impressões. As impressões que mais provocam efeito sobre nós são aquelas da primeira infância e são exatamente elas que quase nunca tornam-se conscientes. Porém, quando as lembranças tornam-se novamente conscientes, não exibem nenhuma qualidade sensorial, ou mostram uma qualidade sensorial ínfima se a comparamos com as percepções.

Haveria um esclarecimento extremamente promissor sobre as condições que regem as excitações dos neurônios se fosse possível confirmar que, nos sistemas-ψ, a memória e a qualidade que caracteriza a consciência são mutuamente exclusivas. (Freud, 1900; p.570) Até aqui, Freud descreve a construção do aparelho psíquico na sua extremidade sensorial. Se tentamos iserir o sonho nas estruturas do aparelho, temos que nos focar na outra parte do aparelho, ou seja, temos que nos pensar sobre a atividade motora. Sabemos que para a formação dos sonhos duas instâncias agem no aparelho: a censura submete a atividade da outra instância a uma crítica, da qual deriva a excusão da consciência. A instância crítica tem uma relação próxima com a consciência. Pode-se dizer que está entre a consciência e a instância criticada, como uma tela; dissemos anteriormente que a instância crítica é a mesma que guia a nossa vida de vigília e decide sobre as nossas ações conscientes e voluntárias. Se substituímos essas instâncias por sistemas, temos que situar o sistema crítico na extremidade motora do aparelho, próximo à consciência, e o chamaremos de Pré-consciente. Os processos de excitação que se desenvolvem podem atingir a consciência sem nenhum impedimento, desde que sejam respeitadas certas condições, como por exemplo, que eles atinjam certo grau de intensidade da mesma excitação, onde a função definida como atenção esteja distribuída de certa maneira. O Pré-consciente governa a mobilidade voluntária. O sistema que encontra-se atrás dele é chamado de Inconsciente porque tem acesso à consciência através do Pré-consciente. Durante essa passagem, o processo de excitação é obrigado a sofrer modificações. Podemos representar todo o aparelho psíquico segundo o esquema abaixo.

Neste esquema, onde os sistemas estão colocados numa sucessão linear, o sistema que se encontra além do Pré-consciente é a Consciência. Sabemos que o sistema perceptivo (Pcpt) conflui diretamente na consciência; podemos identificá-lo com a própria consciência: Pcpt = Cs. Em outras palavras, consciência é percepção. Inconsciente é memorizar, recordar. A regressão onírica Em qual desse sistemas devemos colocar o impulso da formação dos sonhos? No sistema inconsciente (Ics). Deste sistema parte o desejo que é a força motriz do sonho. Para formar o sonho, o desejo é obrigado a coligar-se aos pensamentos do sonho que pertencem ao sistema Pré-consciente. Nasce uma estrutura de pensamento inconsciente (um pensamento que contém um desejo) que fará força para avançar no Pré-consciente, para obter acesso à Consciência. A via que leva a consciência é impedida por pensamentos inconscientes proibidos. Durante o dia esse impedimento ocorre pelo comportamento rígido da censura imposta pela resistência. Durante no sono, os pensamentos do sonho podem chegar a consciência modificando-se através da deformação onírica. O que acontece para que se tenha acesso à consciência? Se isso dependesse do fato que existe um afrouxamento da resistência que vigia o limite entre o pré-consciente e o inconsciente, então os pensamentos do sonho passariam para a consciência como reflexões, juízos críticos, desejos pensados, isto é, nossos sonhos seriam feitos de idéias e pensamentos.

Para levantarmos a hipótese da alucinação dos sonhos, é preciso pensarmos que a excitação neurônica, nos sonhos, mova-se para trás: ao invés de ser transmitida para a extremidade motora do aparelho psíquico, a excitação regride até a extremidade sensorial, até chegar ao sistema perceptivo. Enquanto que na vida de vigília a direção dos processos psíquicos inconscientes é progressiva, nos sonhos eles tem um caráter regressivo. Com a regressão, a estrutura dos pensamentos do sonho é desmembrada de sua matéria prima (percepções, visões, imagens, etc). Isto explica porque nos sonhos perdemos as relações lógicas pertencentes aos pensamentos oníricos. A regressão também ocorre em estados patológicos da vigília. Podem exister visões que são efetivamente regressões, pensamentos transformados em imagens, mas os pensamentos que sofrem essa transformação são aqueles ligados a lembranças que foram recalcadas ou que permaneceram inconscientes. Precisam-se distinguir três tipos de regressão: uma regressão topográfica; uma regressão temporal; e uma regressão formal, onde os métodos de expressão primitivos substituem aqueles habituais. Realização de desejos Um desejo consciente pode provocar um sonho somente se consegue acionar im desejo inconsciente do mesmo teor, obtendo do mesmo um reforço. Existem sonhos estimulados por preocupações do dia anterior, de reflexões dolorosas, de conclusões penosas, onde a realização de um desejo exprime-se diretamente, substituindo as representações penosas com outras contrárias. Porém, há casos em que as representações penosas entram no conteúdo manifesto enquanto tais. Por que sonhos desse tipo são realizações de desejos? Porque nesses sonhos existe um abismo entre o inconsciente e o consciente: a satisfação pela realização de um desejo reprimido é escondida e contrabalançada por sensações penosas que provém dos restos diurnos do dia anterior. Esses sonhos podem ser sonhos de punição, onde o sonhador deseja punir-se por um impulso não aprovado; nesses sonhos o Eu tem uma participação

mais ampla na formação do sonho, onde o desejo inconsciente preenche parte do Eu. Os Pensamentos do Sonho Falamos em pensamentos inconscientes. Os sonhos demonstram que elaborações de pensamento complicadas são possíveis sem a intervenção da consciência. Esta descoberta já tinha sido feita pela psicanálise no tratamento de pacientes histéricos e obsessivos. Vamos ver agora como um pensamento transforma-se consciente. Este fato tem conexão com uma função psíquica específica, a atenção, função que é possível somente em determinada quantidade e que pode ser retirada por um grupo de pensamentos e dirigida a outros objetivos. Se apresenta-se uma representação que não suporta a crítica, a atenção é desinvestida, isto é, deixa cair a carga energética que investe a função da atenção. Porém, os pensamentos que foram abandonados podem continuar a se desenvolver sem que a atenção volte-se novamente a eles. Se uma série de pensamentos é recusada inicialmente (talvez conscientemente) por um julgamento que a considera errada ou inútil para os objetivos intelectuais imediatos, esta série pode continuar a avançar até o início do sonho, sem ser observada pela consciência. Este processo de pensamento é pré-consciente, perfeitamente racional; foi simplesmente descuidado pela atenção, interrompido ou recalcado. Vejamos agora como se manifestam as séries de representações. A partir de uma representação (idéia) intencional, uma certa quantidade de excitação (energia de investimento) é colocada através das vias associativas escolhidas por aquela idéia. Um processo de pensamento descuidado não recebeu investimento por parte da atenção; um processo de pensamentos recalcado ou rejeitado é um processo que o investimento foi retirado da atenção.

Um processo de pensamento que foi ativado pelo pré-consciente pode cessar espontaneamente ou persistir. No caso em que ele cesse, a energia coligada a um processo de pensamento se difundi através de todas as vias associativas que delas provém; essa energia põe toda a rede de pensamentos num estado de excitação que dura por um tempo determinado e depois se extingue, porque a excitação a procura de descarga transforma-se num investimento tranqüilo. Neste primeiro caso, o processo não tem nenhum valor para a formação do sonho. No segundo caso, o processo de pensamento colocado em ato pelo pré-consciente persiste. Tratam-se de idéias intencionais escondidas no pré-consciente que provém de fontes inconscientes e de desejos sempre ativos. Pode acontecer que um processo de pensamento pré-consciente seja coligado ao desejo inconsciente desde o início e por esta razão tenha sido rejeitado pelo investimento intencional dominante. O resultado permanece o mesmo: nasce no pré-consciente um processo de pensamento eu não tem um investimento pré-consciente, mas recebeu um investimento a partir de um desejo inconsciente. A partir deste momento, o processo de pensamento sofre uma série de transformações que não podemos mais considerar como processos psíquicos normais, mas como uma estrutura psicopatológica. Quais são essas transformações? 1. A intensidade de energia passa de uma idéia para outra em modo que determinadas idéias adquirem uma grande intensidade; toda uma série de pensamentos pode, em um certo momento, concentrar-se sobre um único elemento representativo: é o fenômeno da condensação ou compressão. 2. Formam-se representações intermediárias, como compromissos sobre o domínio da condensação, isto é, uma representação pode ter as características de duas diferentes representações. 3. As representações que transferem a intensidade de energia de uma representação para outra, são ligadas por reações recíprocas muito fracas: associações que são jogos de palavras, semelhanças verbais.

4. Pensamentos contraditórios reciprocamente não se eliminam mutuamente, mas continuam a existir um ao lado do outro; freqüentemente formam condensações, como se não fossem contradições, ou formam compromissos que são intoleráveis para os nossos pensamentos conscientes. Esses são alguns dos processos anormais que são submetidos os pensamentos do sonho pelo trabalho onírico. Tem-se a impressão que na formação dos sonhos ajam dois processos psíquicos: um deles produz pensamentos do sonho perfeitamente racionais, enquanto o outro trata os pensamentos do sonho de maneira estranha e irracional. Freud também descobriu os mesmos processos psíquicos irracionais na produção de sintomas histéricos. Na histeria encontramos pensamentos racionais que foram submetidos a um tratamento anormal: transformaram-se em sintomas mediante a condensação e a formação de compromisso, através de associações superficiais, ignorando as contradições e, também, através de um caminho regressivo. É necessário estender aos sonhos suas conclusões em relação a sua teoria da histeria e das neuroses em geral: um pensamento normal é submetido a um tratamento psíquico anormal se foi transferido sobre ele um desejo inconsciente infantil e esse é em um estado de recalcamento. Porém, para explicar o que ele entende por recalcamento, Freud pensa ser necessário retornar aos processos que se desenvolvem no aparelho psíquico. Processo primário e Processo Secundário A principal atividade do aparelho psíquico é a de evitar o acúmulo de excitações, que é sentido como desprazer. A descarga de energia é sentida como prazer. O aparelho tende a repetir a experiência de satisfação para a diminuição da excitação. O desejo é uma corrente de energia psíquica que parte do desprazer e tende ao prazer; somente um desejo consegue colocar em função o aparelho psíquico. O primeiro desejo é um investimento alucinatório da lembrança de satisfação.

A atividade do Inconsciente é dirigida a assegurar a livre descarga das quantidades de excitação. Freud chama tal atividade de processo primário. A atividade do Pré-consciente procura impedir a descarga imediata e procura transformar as quantidades de energia, deixando-as mais tranqüilas, com um simultâneo aumento de seu potencial. A isso Freud denomina como processo secundário. Quando esse sistema conclui a sua atividade de pensamento explorativa, deixa as inibições e o barramento das excitações e concede as mesmas excitações a descarga na atividade motora. O processo secundário tem a função de diferir, diminuir e modificar a descarga de energia imposta pelo processo primário. O sistema primário é incapaz de acolher pensamentos que são desagradáveis. Este sistema não pode fazer nada além de desejar. Este ponto é para Freud a chave da teoria do recalcamento: o segundo sistema pode investir uma idéia somente se é capaz de impedir qualquer desenvolvimento de desprazer que provenha dessa idéia. Qualquer estímulo doloroso que fuja a tal inibição, seria inacessível ao primeiro e ao segundo sistema, pois seria abandonado, obedecendo o princípio de desprazer. Com a descarga da excitação, o processo primário tende a estabelecer uma identidade perceptiva, isto é, um estado onde todas as percepções sejam aceitáveis e não provoquem desprazer. Já o processo secundário, mediante investimento das lembranças, tende a estabelecer uma identidade de pensamento, ou seja, um estado em que todas as lembranças que formam os pensamentos sejam aceitáveis e não conturbadas. Freud pergunta: o que é um pensamento? Uma via indireta que parte da lembrança de satisfação a um investimento idêntico da mesma lembrança, isto é, um tornar a mesma idéia gratificante através de um estado intermediário de outras representações. O pensamento consiste no investimento dos modos de coligação entre as representações. Os sonhos demonstram que o recalcado continua a existir na pessoas normais e permanece capaz de atividades psíquicas. Os próprios sonhos são uma manifestação do material recalcado. Durante a vigília o material recalcado não pode se exprimir e é isolado da percepção interna, pelo fato que as contradições presentes nele são eliminadas pela elaboração secundária. Porém, durante a

noite, o material recalcado consegue penetrar na consciência, governado por um ímpeto para a formação de compromisso. Por isso, a interpretação dos sonhos é a via régia que leva ao conhecimento das atividades inconscientes da mente. O Inconsciente e a Consciência Os dois sistemas pertos à extremidade motora do aparelho psíquico (Inconsciente e Pré-consciente) podem ser considerados como dois tipos de processos de excitação ou modos de descarga. O modo topográfico de representar os dois sistemas psíquicos deve ser integrado por uma representação dinâmica que coloque em evidência a atividade e as relações de força entre as duas instâncias psíquicas. O que fica evidente, a partir da Interpretação dos Sonhos, é que o sonho é um fenômeno psíquico, qualidade que antes de Freud era atribuída somente à Consciência. Diz Freud: (...) o inconsciente é a base geral da vida psíquica. O inconsciente é a esfera mais ampla, que inclui em si mesma a esfera menor do consciente. Tudo o que é consciente tem um estágio preliminar inconsciente, ao passo que aquilo que é inconsciente pode permanecer nesse estágio e, não obstante, reclamar que lhe seja atribuído o valor pleno de um processo psíquico. O inconsciente é a verdadeira realidade psíquica; em sua natureza mais íntima, ele nos é tão desconhecido quanto a realidade do mundo externo, e é tão incompletamente apresentado pelos dados da consciência quanto o é o mundo externo pelas comunicações de nossos órgãos sensoriais (Freud, 1899; p.637). O Inconsciente descoberto por Freud diferencia-se claramente daquilo que os filósofos e cientistas entendiam por inconsciente, antes dele. Freud pensa que, a afirmação de Lipps, em 1897, de que tudo aquilo que é psíquico existe inconscientemente, onde uma parte disso é também consciente, é uma observação que qualquer um pode fazer observando a vida normal da vigília; equivale a dizer que a consciência humana afunda em raízes biológicas inconscientes, de onde emerge com suas específicas e exclusivas funções.