Tendência de crescimento facial em Ortodontia e Ortopedia Funcional dos Maxilares



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REVISÃO REVIEW Tendência de crescimento facial em Ortodontia e Ortopedia Funcional dos Maxilares Type of facial growth trend in orthodontics and dentofacial orthopedics Tatiana Banzatto KREIA 1 Aristeu Corrêa de BITTENCOURT NETO 2 Luciana Borges RETAMOSO 2 Ary dos SANTOS-PINTO 1 Orlando TANAKA 3 RESUMO A maneira pela qual a face cresce é muito importante para o diagnóstico, planejamento e tratamento ortodôntico. Avaliando essa forma de crescimento, pode-se ter o conhecimento das possibilidades e limitações do caso e precisar a melhor época para o início do tratamento e até mesmo o tipo e o tempo de contenção necessária. Durante o período de crescimento craniofacial, observa-se que existe estreita correlação entre a base anterior do crânio, ossos maxilares, dentes, tecido muscular, língua e tecido tegumentar circundante. A tendência de crescimento facial pode ser classificada em tipo A, B e C, de acordo com padrão genético, considerando-se a parte média e inferior da face e tendo como referência o ângulo ANB, em um determinado espaço de tempo. O conhecimento de tais tendências de crescimento facial poderá facilitar a seleção do sistema de forças ortodôntica mais favorável no tratamento das maloclusões, pois nem sempre o tipo C favorece o tratamento ortodôntico, conforme o caso clínico apresentado. Termos de indexação: Circunferência craniana. Crescimento. Prognóstico. ABSTRACT The knowledge of the facial growth trend is very important in orthodontic treatment. A lateral headfilm is recommended in all young patients undergoing a preorthodontic guidance program to anticipate the best time to begin any mechanical procedures and the possibilities to determine the type of facial growth trend. In type A it will be observed that the middle and lower face are growing forward and downward in unison, with no change in ANB angle. Type B growth trends reveals that growth is downward and forward, with the middle face growing forward more rapidly than the lower and in type C the lower face is growing downward and forward more rapidly than the middle face revealing a decrease in the size of the ANB angle. Indexing terms: Cephalometry. Growth. Prognosis. INTRODUÇÃO O desenvolvimento de um indivíduo engloba uma sucessão de mudanças que ocorrem entre o nascimento e a maturidade. O crescimento aparece como um fator essencial desse processo, representando o aspecto quantitativo do desenvolvimento, seja por atividade biológica ou por divisão celular 1. O crescimento craniofacial é altamente diferenciado. A estrutura facial média e a cavidade nasal crescem em uma razão que seja proporcional as necessidades do oxigênio, visto que a maxila e a mandíbula crescem em uma taxa comparativamente elevada para prosseguir com o aumento do metabolismo que continua até a idade adulta. A base do crânio é a divisória entre o cérebro e a estrutura facial. A expansão da caixa craniana durante a infância é seguida por um período de desenvolvimento formativo durante a adolescência 2. Cada parte do complexo craniofacial tem seu próprio padrão de maturação e sua própria taxa de crescimento 3. Diante desta situação, para a obtenção de uma face harmônica e equilibrada é necessário que haja um crescimento sincronizado entre os ossos que fazem parte do complexo craniofacial, principalmente nas dimensões com orientação semelhante 4. 1 Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Odontologia, Departamento de Clínica Infantil. Rua Humaitá, 1680, 14801-903, Araraquara, SP, Brasil. Correspondência para / Correspondence to: TB KREIA. E-mail: <tatianabk@gmail.com>. 2 Universidade Estadual de Londrina, Faculdade de Odontologia. Londrina, PR, Brasil. 3 Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curso de Odontologia. Curitiba, PR, Brasil.

TB KREIA et al. O crescimento vertical e horizontal da mandíbula varia de acordo com a direção de crescimento do côndilo. A componente vertical de crescimento do côndilo mandibular e o abaixamento da fossa cranial medial e em consequência o osso temporal, determinará a extensão que a mandíbula se deslocará para baixo no padrão facial 1. O deslocamento para inferior e a extensão da maxila no padrão facial são determinados pelo crescimento sutural, acompanhado por um crescimento periosteal simultâneo dos arcos alveolar na altura, no comprimento e na largura. O crescimento dos ossos formando a face e a maxila está associado com crescimento e desenvolvimento tanto da base do crânio como da mandíbula 1. O crescimento normal contínuo inicia no período pré-natal e continua no pós-natal, podendo ser afetado pela genética e meio ambiente. Esses fatores atuam em locais do tecido neuromuscular, ósseo, cartilaginoso e dentes, e o resultado final desta alteração resulta na oclusão dentária 2. Portanto, os conhecimentos básicos com relação ao crescimento e desenvolvimento craniofacial são fundamentais para o diagnóstico, planejamento, tratamento e avaliação dos resultados obtidos do tratamento ortodôntico. A correção e a manutenção da oclusão normal nas discrepâncias esqueléticas, dentárias e faciais constituem num dos objetivos mais importantes do tratamento ortodôntico 5, responde por dois terços dos pacientes ortodônticos. No tratamento ortodôntico, deve-se analisar o tipo facial e o seu padrão de crescimento craniofacial para projetar o tratamento na direção correta conciliando os aparelhos com a biologia do sistema estomatognático. Durante o período de crescimento facial, observa- -se uma estreita relação entre a base anterior do crânio, ossos maxilares, dentes e o tecido tegumentar envolvente, e tal crescimento geralmente processa-se para baixo e para frente de maneira e intensidade diferentes, de acordo com o padrão herdado 3. Portanto, o tratamento ortodôntico utilizando recursos da Ortodontia e Ortopedia Funcional dos Maxilares tem no crescimento facial, seu principal meio de ação, sendo primordial o conhecimento sobre os mecanismos e tipos de crescimento dentofaciais. As maloclusões, muitas vezes, são consequências de alterações esqueléticas localizadas em regiões afastadas das arcadas dentárias. O ortodontista deve ter um detalhado conhecimento do crescimento craniofacial para um perfeito diagnóstico, correto prognóstico e acertado plano de tratamento para a correção das maloclusões 5-7. A partir do estudo da oclusão, verifica-se que ela depende do padrão de irrupção dos dentes e, principalmente, do padrão de crescimento dos ossos componentes do esqueleto facial e base do crânio. Durante a fase de crescimento espera-se uma alteração harmoniosa de suas dimensões e não apenas um simples aumento de volume dos ossos. Todavia esta inter-relação maxilomandibular é variável e deve-se ao aumento de volume diferencial, caracterizado por alterações progressivas de forma e proporções ósseas. Esta diversidade morfológica resulta das diferentes velocidades e direções de crescimento 7. O estágio de maturidade do indivíduo permite determinar o tempo ideal para a realização de determinados tratamentos ortodônticos 8, e o período pré-puberal, representa a melhor época para a correção da maloclusão de Classe II em um período relativamente curto de tempo 9. O ortodontista deve entender as mudanças que ocorrem na face desde a infância até a idade adulta. É necessário compreender como, quanto, quando e em que direção ocorrerá o crescimento remanescente em um indivíduo que necessita de tratamento ortodôntico. Entender que papel os fatores genéticos e embrionários exerceram no crescimento facial e, por último, o profissional deve saber associar tais fatores com o seu tratamento, a fim de obter bons resultados explorando o potencial individual de cada paciente 9. Buscando avaliar a tendência de crescimento facial, Tweed 10, considerou a parte média e inferior da face, tomando como referência o ângulo ANB em um determinado espaço de tempo. Nas Classes III, além do ângulo ANB, considerou ainda o ângulo FMA, que indica a altura angular da face 3,10. O ângulo ANB 11 é determinado pela interseção das linhas NA e NB 12 ou a diferença entre os ângulos SNA e SNB 13. Expressa a relação maxila-mandíbula no sentido ântero-posterior, facilitando a interpretação do padrão esquelético 11. A variação normal para este ângulo é de 0º a 4,5º. Este valor expressa uma relação favorável da maxila com a mandíbula. As maloclusões de Classe II tornam- -se mais difíceis com ângulos ANB maiores. Um caso com um ângulo acima de 10º, geralmente necessitará de uma cirurgia como auxiliar no tratamento. Um ângulo ANB negativo indica uma desproporção horizontal da face, com maloclusão Classe III. Um ângulo ANB de - 3º ou acima disso, quando a mandíbula está em sua oclusão habitual, indica ser possível a necessidade de cirurgia ortognática na correção da maloclusão de Classe III 5. Para a aplicação do método proposto por Tweed 10, utilizam-se duas telerradiografias da cabeça em norma lateral. Uma inicial e outra após 12 a 18 meses. Esse intervalo de tempo é suficiente para que ocorra crescimento. Após a análise individual das duas telerradiografias, deve-se superpô- 98

TENDÊNCIA DE CRESCIMENTO CRANIOFACIAL las, utilizando como referência o plano SN, com registro em S, observando o terço médio e inferior da face, para que se possa visualizar o sentido e a intensidade do crescimento 3,10. Classificação da tendência de crescimento facial Tipo A: a maxila e a mandíbula se deslocam para baixo e para frente, harmoniosamente. O crescimento é aproximadamente igual tanto no sentido vertical quanto no horizontal. O ângulo ANB não apresenta mudanças, permanecendo constante (Figura 1). Aproximadamente 25% dos pacientes que procuram tratamento ortodôntico apresentam este tipo de crescimento. Os indivíduos normalmente apresentam relação molar de Classe I; podem ter maloclusão Classe I, protrusão maxilo-mandibular, ou ainda uma maloclusão Classe II 3,10. Se o caso é uma maloclusão Classe I com um ANB que não excede 4,5º, nenhum tratamento ortodôntico é indicado até que a dentição permanente esteja completa. Nesses casos pode-se preconizar a extração seriada 10. Se o paciente apresentar maloclusão Classe II e ANB maior que 4,5º, um bom procedimento é utilizar um aparelho extrabucal com tração cervical 14. O objetivo é restringir o crescimento maxilar 7,10. Tipo B: a maxila e a mandíbula se deslocam para baixo e para frente com resultante para posterior, porém é predominantemente vertical. A velocidade é maior na maxila do que na mandíbula. O ângulo ANB varia de 4º à 12º (Figura 2). Cerca de 15% dos indivíduos possuem esse tipo de tendência de crescimento e apresentam relação molar de Classe II; com maloclusão Classe II,1, Classe II,2 ou uma protrusão maxilo-mandibular e ainda uma displasia mandibular 3,10. Pacientes que possuem esse tipo de tendência de crescimento facial são os casos mais difíceis de tratar e com o prognóstico pobre. Quase sempre se faz necessária a extração de dentes. Requer ainda mais a colaboração do paciente e demanda um maior tempo para a finalização do caso 10. Tipo C: a maxila e a mandíbula se deslocam para baixo e para frente com resultante anterior, porém é predominantemente horizontal. A mandíbula cresce em velocidade maior que a maxila. Cerca de 60% dos indivíduos apresentam esse tipo de tendência de crescimento (Figura 3). O ângulo ANB varia de -1º à -10º e o FMA é normalmente menor que 20º. Os indivíduos podem apresentar mordida cruzada (anterior, posterior, uni ou bilaterais), também chamada falsa ou pseudo Classe III; possuem faces horizontais, mandíbula avançando anteriormente e queixo proeminente 3,10. Figura 1. Ângulos ANB= 2º aos 8,5; 11,1 anos de idade e superposição dos traçados cefalométricos na linha S-N com registro em S. Figura 2. Ângulos ANB= 6º aos 10,3 e 7º aos 11,4 anos de idade e superposição dos traçados cefalométricos na linha S-N com registro em S. Figura 3. Ângulos ANB= -1º aos 10,6 e -2º aos 12,2 anos de idade e superposição dos traçados cefalométricos na linha S-N com registro em S. 99

TB KREIA et al. Figura 4. Imagens intra-bucais nas fases: A) inicial com a mordida cruzada posterior direita; B) após o descruzamento com disjunção palatal; C;D) inicial e final do tratamento ortodôntico corretivo com aparelho fixo total. Figura 5. Telerradiografias: A) inicial; B) após a disjunção palatal; C) evolução da dentição e da oclusão; D) final do tratamento ortodôntico; E) superposição na linha S-N, com registro em S revelando o crescimento ântero-posterior maior que o vertical. Tabela de valores cefalométricos com ênfase no ângulo ANB que diminuiu gradativamente de 2º (9,9 anos) a - 2º (17,7 anos de idade). DISCUSSÃO O processo de crescimento do complexo craniofacial, base do crânio, complexo nasomaxilar e mandíbula, envolve uma série de variáveis. A possibilidade de prever os acontecimentos que coordenam o crescimento facial está baseada no conhecimento científico do crescimento e desenvolvimento esquelético e facial 1. Embora os eventos do crescimento normalmente ocorram em uma sequência razoavelmente previsível, o momento em que ocorrem é um tanto variável entre os indivíduos 15-16. A época em que o evento ocorre difere entre indivíduos, dessa forma, o entendimento do crescimento e desenvolvimento craniofacial é fundamental para o diagnóstico, planejamento, tratamento e avaliação dos resultados do tratamento ortodôntico propriamente dito. O conhecimento do potencial de crescimento do indivíduo pode influenciar a escolha do aparelho, o curso do tratamento e o tipo de contenção após o tratamento. Decisões clínicas a respeito do uso de forças extrabucais, tratamento com ou sem extrações ou cirurgia ortognática são parcialmente baseadas em considerações sobre o crescimento e desenvolvimento craniofacial 16. O aspecto favorável do ponto de vista de prognóstico ou desfavorável considerando-se o tratamento ortodôntico é que de acordo com Brodie 17, o padrão morfogenético, uma vez estabelecido, não se modifica. Assim, a maloclusão Classe II, 1 ou Classe II, 2 após a irrupção do 1º molar permanente, na fase da dentição mista, raramente ou nunca se autocorrige 18 em indivíduos sem tratamento ortodôntico 2. Isto ocorre, apesar da tendência do plano mandibular girar no sentido anti- -horário. A diferenciação da tendência de crescimento facial para se iniciar o tratamento ortodôntico deve ser prudente em não vincular que o tipo A ou C possa trazer benefícios para se atingir os objetivos de oclusão, função e estabilidade. Devem servir de parâmetros, pois embora médias estatísticas sejam úteis e sirvam de guias, predições de crescimento individual são muito mais complexas e problemáticas na clínica ortodôntica. Os tipos faciais são determinados pela relação dos crescimentos nos sentidos vertical e horizontal. Um vetor de crescimento maior no sentido ântero-posterior posiciona o pogônio para frente enquanto o vertical o faz para baixo. A resultante de um crescimento natural ou consequência de uma resposta maxilar e/ou mandibular nos sentidos vertical e/ou horizontal pode conduzir a um prognatismo, ou retrognatismo em diferentes tipos faciais. Nos indivíduos do gênero masculino, a mandíbula apresenta uma tendência de crescimento mais horizontal em relação à maxila 19-20. Neste caso, a convexidade do perfil facial tenderá a diminuir pela redução do ângulo SNB 100

TENDÊNCIA DE CRESCIMENTO CRANIOFACIAL e ANB 21. Em contrapartida, o aumento do SNB com um aumento do ANB, tenderá a tornar o perfil mais convexo, pela resultante vertical do crescimento da face. O método para a observação do tipo de crescimento dos indivíduos proposto por Tweed 10 é baseado em valores numéricos do ângulo ANB, sem desconsiderar a avaliação clínica, pois em alguns casos, o valor do ANB indica um tipo de crescimento quando na realidade, clinicamente percebese aspectos estéticos favoráveis e funcionais. O ortodontista não deve basear-se somente em números, mas sim procurar avaliar o paciente como um todo e individualmente, pois nenhum indivíduo é igual ao outro. Para a ilustração e discussão deste artigo, o caso clínico (Figuras 4 e 5) apresenta as seguintes características: paciente na fase da dentição mista Classe I esquelética e dentária, desvio da linha mediana para a direita, tamanho do corpo mandibular maior que o ramo, característicos de Classe III esquelética, incisivos superiores e inferiores protruídos, perfil convexo com lábio inferior à frente do superior. O tratamento instituído foi a Ortodontia corretiva com cooperação do paciente. Entretanto, o resultado obtido manteve os incisivos inferiores protruídos. Este fato pode ser explicado, pela resposta mandibular desfavorável, com o aumento da discrepância entre as bases óssea maxilar e mandibular. Portanto, em Ortodontia, mesmo que o indivíduo apresente tendência de crescimento A, B ou C, não é indicativo certeiro de que o tratamento ortodôntico será facilitado. O bom senso, o discernimento e a antecipação de dificuldades devem ser exercitados e praticados. Um indivíduo com o tipo B em que o crescimento vertical é predominante pode ser desejável em indivíduos com maloclusão Classe III e prognatismo mandibular. O crescimento no sentido horário da mandíbula favorecerá a correção e poderá camuflar a discrepância ântero-posterior nos tratamentos somente ortodônticos. Por outro lado, este mesmo tipo de crescimento seria desfavorável a um paciente com maloclusão Classe II. Em suma, os valores cefalométricos do paciente da Figura 5, embora o tipo C de crescimento tenha se manifestado, dificultou a mecânica ortodôntica e poderá tornar a estabilidade dos resultados obtida duvidosa. Portanto, mesmo que determinada tendência de crescimento desfavorável seja diagnosticada, há a possibilidade de definir o prognóstico, o tempo de tratamento estimado e as despesas pertinentes 10. Assim, as arcadas e dentes apresentam padrões geneticamente definidos que podem ser alterados por fatores locais. Desta forma, alterará a oclusão dos indivíduos de forma diferente. Isto é, cada indivíduo tem suas características peculiares e estes leves desvios não são anormalidades e sim aspectos desfavoráveis que devem ser minimizados por meio da Ortodontia e Ortopedia Facial. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os indivíduos possuem características individuais e, portanto, não há arcadas a serem corrigidas, mas sim maloclusões que requerem tratamentos individualizados. Colaboradores TB KREIA, AC BITTENCOURT NETO, LB RETAMOSO, A SANTOS PINTO e O TANAKA contribuíram desde a introdução, revisão, descrição e análise do caso, discussão e conclusão. REFERÊNCIAS 1. Enlow DH. Handbook of facial growth. 3rd ed. St Louis: Mosby; 1990. 2. Björk A. Facial growth in man, studied with the aid of metallic implants. Acta Odontol Scand. 1955;13(1):9-34. 3. Araújo MCM. Ortodontia para clínicos: programa préortodôntico. 4ª ed. São Paulo: Santos; 1988. 4. Lewis AB, Roche AF, Wagner B. Puberal spurts in cranial base and mandible. Comparisons within individuals. Angle Orthod. 1985;55(1):17-30. 5. Graber TM. Current orthodontic concepts and techniques. Philadelphia: W. B. Saunders Co.; 1969. 6. Moyers RE. Ortodontia. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanaba Koogan; 1991. 7. Proffit W, Fields H. Contemporary orthodontics. 3rd ed. St. Louis: Mosby Company; 2000. 8. Bishara SE, Peterson LC, Bishara EC. Changes in facial dimensions and relationships between the ages of 5 and 25 years. Am J Orthod. 1984;85(3):238-52. 101

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